Ao contrário do que muitos acreditam, eu não odeio Athena. Pasmos? É, devem estar. Irei falar um pouco a respeito da minha delicada relação com essa pequena deusa. Apesar das nossas constantes guerras, discussões, desentendimentos, mortes, tapas, gritos, e todo sangue, suor e lágrimas derramados em diversas ocasiões, eu tenho que admitir: Não saberia viver sem ela.

Antes que alguém comece a pensar o que não deve, digo logo que Athena está mais para uma irmãzinha do que para uma esposa em potencial (Além do mais, Perséfone cuida muito bem de mim.) Ah! Lembro-me da primeira vez em que a vi. Tão pequena, mas já tão audaciosa... E atrevida! Uma vez, ela cismou em usar meu Elmo da invisibilidade. Óbvio que não deixei. Ela esperneou, gritou e chegou inclusive a me bater. Foi totalmente inesperado e me surpreendeu. Desde então, ela se tornou aquele inferno na minha vida!

É. Nem mesmo os deuses estão imunes a ironia.

Estava sempre atrás de mim, com aquele rostinho emburrado e determinada a conseguir o que desejava. A garota tinha e ainda tem um gênio bastante difícil. Uma personalidade tão forte que me dava nos nervos, invariavelmente me desafiando em silêncio e provocando. Sim, ela já era bastante esperta e corajosa. Ah, e gostava de me pregar peças. (Má influência de Hermes, talvez?) Acreditem, quem mais sofreu nas mãos dessa pequena deusa, fui eu! No começo, nem por todas as romãs do mundo eu dividiria o mesmo recinto que ela. Tinha vontade de prendê-la no Tártaro como castigo por ousar a me tocar. Entretanto, percebi algo intrigante. Aquele olhar determinado, aquele semblante, aquela energia, valentia e inteligência eram e são necessárias para mim. Alguma coisa nela me atraía de um jeito absurdo. Eu precisava da presença dela, precisava discutir, debater, aborrecer, insultar, criticar e provocar aquela menina! Ela me completa e não faz a menor idéia disso. E eu não pretendo contar, tenho meu orgulho besta.

Com o passar do tempo, Palas Athena cresceu e tornou-se uma bela e casta jovem. E os atritos entre nós tornaram-se mais frequentes. Motivo? Vocês, humanos idiotas. Confesso que ainda não entendo o porquê dela gostar tanto de vocês. Melhor dizendo, eu não entendo o fato de ela preferir vocês a mim. Eu necessito dela, não compreendem? É ela quem dá o ar da graça em minha entediante vida. Eu, que vivo cercado de morte, dor, sofrimento e trevas finalmente encontrei uma alegria e não quero dividi-la com ninguém. Mas vocês tinham que existir...

Parabéns descobriram que o grande motivo do Imperador do mundo dos mortos odiá-los é o mais puro e simples ciúmes.

Ah, Athena! Como você me dá nos nervos e ao mesmo tempo me cativa. Quantas vezes eu já quis te puxar pelos cabelos e em seguida dar-te um bom afago na cabeça? Quantas vezes já te ofendi, para depois te elogiar? Quantas vezes mais eu vou precisar chamar a sua atenção para você entender a verdade? Que eu gosto mesmo é de implicar com você, sua pestinha. Que você quando raivosa me anima. Que sua teimosia é tão forte quanto a minha.

Por outro lado, eu tenho um imenso orgulho de você. Posso dizer isso por ter-te confrontado muitas e muitas vezes. Você cresceu, amadureceu e aprendeu. Já não é mais aquela garotinha que andava atrás de mim chutando minhas canelas. Agora a senhorita aponta sua arma para mim, frente a frente. Me desafia, me ilude, me alegra, me decepciona, me comove, me aborrece, me ensina e me suporta. É a luz do meu mundo de sombras. Você, minha cara, me diverte. Estamos em um interminável jogo que sempre finda com sua vitória nas rodadas. (Segredo: Eu perco de propósito. O dia que eu jogar sério... Ah! Espere e verá.)

Para encerrar, gostaria de dizer que... Bom, Athena. Eu não sou tão cruel assim. Só sou carente.

Então que tal trazer algumas romãs frescas para o seu pobre, velho e querido tio?