Você Me Faz Sorrir escrita por Chrysanthemum


Capítulo 1
Coincidências que ele não acredita


Notas iniciais do capítulo

Essa fic seria uma oneshot, porém a achei muito grande e dividi em dois capítulos. Se tudo correr bem, amanhã posto o próximo. Dito isso lhes desejo uma boa leitura. ^^



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Na vida de todos existem pequenos momentos, muitas vezes, vistos como coincidências, e que poucos tem percepção. Yuu não era alguém que acreditava em coincidências ou que, ao menos, prestasse atenção a esse tipo de coisa, ele só levava a vida como um fluxo que corre a cada dia, mas talvez, até ele, achasse que foi muito ao acaso que tudo aquilo aconteceu.



Era quinta-feira de um dia insuportavelmente quente, em pleno verão. Todo o pátio da faculdade parecia brilhar incandescente sob a forte luz solar e, ao longe, a imagem parecia até mesmo um pouco distorcida pelo calor. Com o cenho franzido em incômodo o moreno avistou seus amigos ao longe e, com um sorriso enviesado, se pôs a caminhar até eles.



Os fios negros e lisos batiam a altura do ombro e eram suavemente levados pela brisa efêmera que soprava ali, seus passos naturalmente largos e graciosos chamavam clara atenção, mas Yuu não se importava com isso, até porque era uma pessoa simples e de hábitos tão normais quanto de qualquer jovem de sua idade. Era incapaz de entender o encanto que causava nos outros.



Bem, talvez Yuu só tivesse certa falta de percepção quanto a si mesmo.



Em todo o caso, o moreno cortou o pátio até alcançar a grande árvore onde Kazuki e Hiroto se abrigavam do sol. Os dois eram seus amigos desde que entrou na faculdade, cursavam música juntos, e foi fácil se apegar a eles, os dois eram tão diferentes de si mesmo que lhe completavam de certa maneira, além de serem pessoas divertidas que gostavam de si gratuitamente.



Sorriu ao contemplar a imagem dos dois atirados na grama verde, Kazuki com um violão no colo escorado no tronco da árvore, dedilhando qualquer coisa, e Hiroto, deitado, olhava sonhador para o céu. Essa era uma imagem que já se tornara familiar e que, hoje, só era completa quando o próprio moreno se sentava de frente para os dois, com aquele sorriso pequeno que dizia claramente o quanto Yuu estava satisfeito de estar ali.



— Olha só quem chegou… — Kazuki soou divertido. — Muitos elogios do professor hoje, nii-san?



Yuu negou em um trejeito leve, se ajeitando ao lado de Hiroto. — Nunca são muitos.



Os dois riram e Hiroto desviou o olhar para si. — É claro, para o grande Yuu nunca é demais, não é? — Brincou e Yuu só pôde rir. — Algum dia a sua presunção vai ser maior do que você.



— Impossível. — Pontuou o moreno e com um sorriso se esticou pegando o violão de Kazuki.



Assim, de forma debochada, começou a dedilhar uma música qualquer que estivesse em sua mente fazendo os outros dois rirem mais antes que só se silenciassem para ouvir a melodia, esta que se sobrepunha, ao menos para eles, ao burburinho de conversas que os cercavam. Ficaram assim durante todo o intervalo, em meio a músicas antigas que cada um se dispunha a tocar, e depois foram para suas aulas.



***



Yuu morava em um bairro pouco movimentado, onde muitas casas tradicionais podiam ser vistas e a vizinhança era extremamente pacata. Ao contrário do que muitos poderiam achar Yuu gostava daquilo, já que, quando estava em casa, tinha paz garantida. Ainda morava com os pais, seus irmãos mais velhos já eram casados, mas sua irmã ao menos duas vezes por semana deixava a filha ali para ficar um tempo com a avó e Yuu amava a menina.



Naquele dia, quando chegou em casa, encontrou a mãe e sua sobrinha tomando sorvete na sala com um pequeno ventilador ligado na potência máxima. Sorriu da cena e as cumprimentou de longe enquanto passava para subir as escadas, mas, antes que alcançasse o primeiro degrau, um barulho alto de batida de carro fez com que retornasse. Jogou a mochila no sofá e, junto das duas, foi olhar pela janela o que tinha acontecido.



Sua surpresa foi ver o carro de seu pai com a frente enterrada no muro do vizinho da frente. Com uma careta Yuu se apressou em seguir até lá para ver o que tinha acontecido e grunhiu quando viu que, além do muro, seu pai ainda havia atropelado alguém. Atravessou a rua correndo para socorrer o que parecia ser um homem, na rua já começava a se formar uma pequena aglomeração e seu pai parecia um pouco perdido entre pedir desculpas e lhe ajudar com o rapaz.



Rapaz, porque ele não parecia ter mais que a sua própria idade.



— Hey, você está bem? — Yuu perguntou enquanto ajudava o loiro a se sentar.



O homem grunhiu e afirmou com um maneio leve. — Eu me joguei pro lado antes que ele me acertasse…



Yuu assentiu e correu os olhos pelo corpo do outro procurando algum machucado, mas foi ao chegar ao rosto que se surpreendeu com aqueles fantásticos orbes castanhos. A cor era linda e havia tanta profundidade que o moreno se perdeu durante alguns segundos, mas o que mais lhe surpreendeu foi o quanto aqueles olhos eram destoantes de todo o resto. O homem tinha um rosto lindo e talvez até um pouco delicado, mas aqueles olhos eram incrivelmente duros.



Mas Yuu recuperou a respiração e sorriu para o loiro enquanto o ajudava a se erguer, não teve retorno do sorriso, mas percebeu que o olhar que veio a seguir foi diferente do anterior e isso alargou um pouco mais o seu sorriso.



— Você está realmente bem? — Quis ter certeza e o maior finalmente abriu um pequeno sorriso.



— Estou sim, o muro foi que levou a pior. — Yuu riu sendo acompanhado por uma simples sobrancelha erguida em divertimento da parte do outro.



Mas Yuu se controlou antes que voltasse o olhar para o pai. — Otto-san o que aconteceu? — Perguntou alto ganhando atenção do mais velho.



Este que parecia muito envergonhado ao se desculpar com os vizinhos.



— Yuu… — O senhor balbuciou e se aproximou do filho que o apoiou pelo braço. — Um gato, Yuu! Um gato atravessou na frente do meu carro e para não atropelá-lo eu… eu…



— Tudo bem. — Acalmou ao mais velho e se voltou para os vizinhos. — Minhas mais profundas desculpas. — Pediu antes que fizesse uma reverência. — E peço que fiquem tranquilos, vamos pagar pelo concerto do muro.



— É claro. — Amiko-san, a vizinha, soou petulante. — Espero que também paguem por qualquer dano que possam ter causado ao meu sobrinho. — Pontuou apontando para o rapaz loiro.



— Eu estou bem, tia. — O loiro respondeu se aproximando dela, mas assim ficou nítido que estava mancando.



— Kouyou, se você estivesse bem não estaria mancando. — Ela soou em genuína preocupação fazendo o loiro girar os olhos.



— Isso melhora com uma compressa de água quente, então sem estresse.



— Mas… — Yuu começou receoso. — Se for preciso nós também pagamos por isso.



Kouyou fixou seus olhos no moreno e negou enfaticamente. — Eu estou bem, então pode ficar tranquilo.



Talvez fosse o modo como o maior falava, mas Yuu quase se sentiu obrigado a ficar tranquilo depois disso e sorriu, e aquela já era a segunda vez que aquele loiro sério lhe fazia sorrir sem que fizesse nada.



***



Aquele dia talvez tenha sido uma grande coincidência na vida de Yuu, ainda que ele não acreditasse nisso. Mas depois de todo o ocorrido Yuu descobriu que Kouyou havia vindo morar com a tia há poucos dias e que havia pedido transferência para a mesma faculdade que a sua, ainda que o loiro cursasse enfermagem. Assim não era raro ver Kouyou na rua ou no campus, mas isso fazia com que, intimamente, Yuu ficasse com uma ansiedade boba.



Kazuki e Hiroto percebiam quando o moreno simplesmente deixava o olhar seguir os passos apressados do loiro, mas não diziam nada, só deixavam, porque queriam ver o que iria acontecer. O próprio Yuu não parecia se dar conta de suas ações quando o loiro aparecia, mas era um tanto irrelevante para eles.



Claro, já que assim poderiam tirar muito da cara do “Grande Yuu” mais tarde.




Uma semana depois, aquela era uma quinta-feira mais amena que a anterior, o clima continuava abafado, mas o sol havia dado uma trégua. Yuu já havia se despedido dos amigos quando cruzou o portão e assim foi surpreendido por um Kouyou que parecia esperar alguém do lado de fora. O olhou com receio ao notar que os olhos castanhos estavam fixos em si e, quando o maior se aproximou, foi um tanto automático, não pôde impedir um sorriso pequeno de se desenhar em seus lábios fartos.



— Oi. — Cumprimentou baixo e o loiro assentiu.



— Sabe… — Ele começou um pouco incerto. — Eu estava pensando e me parece um pouco bobo que nós dois, bem, não tenhamos tentado conversar depois do acidente…



E Yuu sorriu com aquela fala sem jeito, era um pouco engraçado ver alguém tão sério assim, tímido. Mas ao desviar seus olhos percebeu que muitos dos que estavam saindo paravam pra olhar os dois e, desconcertado, puxou o maior pelo braço para lhe seguir até o ponto de ônibus.



— Eu acho ótimo que você, sabe, tenha essa vontade de conversar comigo. — Começou igualmente tímido. — Vamos pra casa juntos?



— Parece que sim… — O loiro voltava ao seu tom usual. — Mas eu tenho moto, então não seria melhor ir até o estacionamento?



Yuu parou de andar e soltou Kouyou para que pudesse assentir, assim foram até o estacionamento.



***


Depois disso Yuu e Kouyou iniciaram no que seria uma nova e singular amizade. Kouyou era definitivamente diferente de qualquer um de seus amigos e totalmente oposto dos loucos do curso de música, não era bem o que Yuu estava acostumado, mas, ainda assim, estava empolgado de descobrir como lidar com esse novo amigo.



Já para Kouyou, Yuu era algo que não se deixava ter há muito tempo e havia admitido isso para o moreno. Fazia mais de dois anos que Kouyou era alguém solitário, não por exclusão, mas porque se fez assim. Resultado de uma época que toda a amizade que conseguia terminava em fofoca e mágoa. Mas havia gostado do jeito de Yuu, por ele sorrir mais facilmente do que jamais conseguiria, por ele tocar violão como sempre quis e nunca teve coragem, e por alguns outros motivos…



Mas os dois iam bem e com alguns meses Kouyou também se enturmou com os outros dois amigos de Yuu, mas o loiro ainda tinha o privilégio de morar de frente para a casa do moreno e quase sempre estava lá para fazerem qualquer coisa juntos. E era interessante observar a interação dos dois, Kouyou era sempre muito sério, dificilmente sorria e esse era seu jeito de ser, já Yuu tinha um sorriso fácil e quase sempre ria do que o mais novo falava. Ainda assim os dois se davam muito bem juntos.



E assim se passou aquele ano de descobertas e agora Kouyou fazia definitivamente parte daquele grupo de amigos.



***


Outono era, de longe, a estação mais agradável no Japão e isso Yuu não precisava ao menos ter crescido ali para dizer. Agasalhado como tanto gostava, esperava Kouyou na calçada de casa. O vento assobiava em seus ouvidos e o sol era tão brando quanto uma carícia, as folhas amareladas voavam em todas as direções e impregnavam o ar daquele cheiro tão próprio. Era infinitamente agradável.



Mas foi desperto de seu transe quando o som do portão da casa de Kouyou retiniu na rua deserta. Voltou os olhos só para ver aquele homem alto com seu agasalho branco, cor que lhe caía tão bem, atravessar a rua ao seu encontro.



— Bom dia, Yuu. — Cumprimentou com um tom brando que encaixava bem com a voz grave.



E Yuu sorriu. — Bom dia.



Aquilo já era rotina para os dois, depois disso iriam para a faculdade, de ônibus, porque assim tinham mais tempo para conversar, e quando chegassem encontrariam os outros dois para ficarem um tempo juntos antes das aulas. E tudo corria bem assim.



***



—… acho incrível que pessoas com esse tipo de atitude ainda se achem melhor do que as outras. — Kouyou esbravejava enquanto limpava uma ferida na sobrancelha de Yuu.



Naquele intervalo alguns brutamontes do time de futebol decidiram que seria engraçado bater em Yuu, só porque, segundo eles, o moreno era só uma “bichinha excêntrica”. Quando Kouyou soube ficou com tanta raiva que Kazuki e Hiroto tiveram que segurá-lo para que não procurasse confusão.



E agora, olhando para o rosto ferido do mais velho, sentia ainda mais raiva. Era inadmissível que alguém fizesse algo assim com alguém tão bom quanto Yuu, e isso só fazia com que o sempre ponderado Kouyou bufasse de raiva.



— Calma, Kouyou… — Yuu pediu quando o maior usou força demais limpando a ferida. — Eles nem me bateram tanto e eu mesmo nem estou ligando pra isso.



E Kouyou iria esbravejar qualquer coisa, mas parou e respirou fundo olhando dentro dos orbes negros que, mesmo agora, eram tão dóceis para si. Nesses momentos Kouyou queria realmente descobrir qual era o segredo por trás do negror, por trás do riso e da fala despreocupada, mas só concluía que era impossível para si. Não, não era capaz de entender a sutileza e complexidade daquele homem, exatamente por ser muito oposto do que era.



Quando, em toda a vida, Kouyou havia sido tão suave assim? A resposta era: nunca.



Mas, ainda assim, suspirou tentando trazer aquela docilidade do moreno para dentro de seu coração, mesmo sabendo que nunca conseguiria… E, talvez, fosse exatamente por isso que lhe encantava tanto todo o quadro tão único que Yuu era. Para Kouyou, seu amigo era como uma jóia e era digno de ser tratado com tal – e foi pensando nisso que Kouyou sentiu o peito pequeno, uma estranha e fina angustia ao pensar na agressão que seu mais precioso amigo havia sofrido, e, com outro grande suspiro, abraçou o corpo menor.



Yuu se sobressaltou com a surpresa daquele contato tão repentino, mas, de maneira alguma, afastaria um gesto tão carinhoso, ao invés disso passou os braços pela cintura esguia de Kouyou o abraçando mais forte, sentindo o corpo magro contra o seu, a mão quente que se enredava por seus fios soltos e o cheiro amadeirado de loção pós-barba.



— Você… é tão morno. — Yuu disse apoiando o queixo no ombro largo do maior. — Eu poderia ficar assim o dia inteiro.



E Kouyou inalou fundo do cheiro bom que vinha do menor, um estremecimento estranho cortando seu corpo ao som daquelas palavras e isso fez com que se afastasse um pouco olhando naqueles olhos de ébano.



— Você sabe que isso é estranho, não sabe? — Perguntou tentando manter a voz tão séria quanto sempre.



Mas Yuu só sorriu, como tantas vezes, e deu de ombros. — Se te incomoda não digo mais. — Assim ergueu-se ajeitando a roupa no corpo. — Agora não seria melhor que fôssemos pra nossas aulas?



Dizendo isso se afastou de Kouyou, este que teve que impedir o forte impulso que sentiu de puxar Yuu novamente para seus braços. Assim ambos voltaram para suas respectivas aulas.



***



E o tempo passava para os quatro amigos, dia-a-dia as coisas se desenrolavam em um desfecho um tanto estranho, mas era um curso impossível de ser quebrado. Yuu parecia muito mais notável à Kouyou, cada detalhe do corpo e personalidade, havia decorado trejeitos e falas típicas do mais velho e piorava a cada dia. Assim como para o moreno que sempre se sentia atraído a estar mais próximo de Kouyou, ansiava por cada toque mais efêmero, por sentir o cheiro de colônia que o loiro tinha, por resvalar os dedos nos fios loiros quando possível.



Mas tudo piorou quando em outubro daquele ano Kazuki e Hiroto decidiram engatar um estranho romance muitíssimo inesperado.



— Bem, eu mesmo não esperava por isso… — Comentou Kazuki no dia em que revelaram aos outros dois. Estavam sentados na grama sob a sombra da árvore. — Só aconteceu.



Hiroto riu, mas Yuu e Kouyou ainda estavam muito surpresos para esboçarem qualquer outra reação que não fosse os lábios entreabertos do moreno e o cenho erguido do loiro.



— Foi naquela sexta que vocês dois não quiseram sair com a gente… Nós estávamos jogando e de repente nos beijamos. Não é como se agora fossemos diferentes de antes, não é? Só estamos namorando. — Hiroto tentou conseguir qualquer outra reação, mas ainda demorou alguns minutos para que eles se pronunciassem.



— Bem — Kouyou começou incerto. — Estou feliz por vocês, mas, sei lá, não sei o que dizer sobre isso.



Os dois assentiram e Kazuki se voltou para Yuu. — Nii-san?



O moreno piscou algumas vezes e então, como se isso resolvesse todas as coisas, sorriu tranquilizando aos amigos. — Poxa! Vocês me deixaram surpresos agora, mas mesmo assim eu acho o máximo. — Com isso o casal riu e Yuu se ergueu. — Vou buscar um refrigerante pra comemorar.



Com isso se afastou, mas dentro de si algumas questões começaram a ser levantadas, não que Yuu fosse admitir isso a qualquer um, não gostava muito de dividir preocupações, mas era um fato que a partir dali podia ser muito significativo.




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Notas finais do capítulo

Fim dessa primeira parte! Bem, e se houver uma boa resposta dos leitores posto o próximo capitulo amanhã, então já sabem: reviews!
Mas isso, é claro, somente se a fic tiver agradado.
No mais, muito obrigada por terem lido :3