E Eu Vos Declaro... escrita por mulleriana, Nina Guglielmelli


Capítulo 9
A mudança




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EPOV

Eu estava realmente frustrado com nossa volta para casa. Chicago parecia o pior lugar do mundo depois que descobrimos as maravilhas que o Rio de Janeiro podia oferecer. E vocês sabem exatamente do que eu estou falando.

A maior parte das histórias que contaríamos a nossos familiares seria mentira. Sim, eu aproveitei a semana ao máximo, fazendo todos os passeios turísticos clichês que a cidade podia oferecer – mas bem longe de Bella. Poucas vezes fizemos um esforço e visitamos os principais pontos do Rio juntos para tirar fotos. E então, era cada para um canto. Nós saíamos, conhecíamos pessoas, experimentávamos comidas e bebidas diferentes que os brasileiros nos ofereciam. Só bem tarde, já cansados, nos reencontrávamos no quarto para transar como se simplesmente estivéssemos assistindo televisão juntos.

Quando todo o plano me veio à mente, eu pensei que aceitar transar sem o menor compromisso era pré-requisito na garota escolhida. Eu nunca achei que conseguiria isso com Bella, apesar de todos os outros pontos positivos de seu péssimo caráter, mas foi ali que a sorte me atingiu. E eu nem precisei fazer muita coisa! Uma noite mal pensada e poucos argumentos além disso foram suficientes.

- Eu disse para Charlie nos encontrar aqui. O que diabos ele está fazendo? – Ela reclamou ao meu lado, segurando o celular em uma mão enquanto se apoiava no carrinho das malas.

- Bella, de novo, por que não podemos pegar um táxi? – Perguntei calmamente.


- Porque ele insistiu. – Ela rebateu, digitando algo no aparelho. – Agora que eu casei e “tomei jeito na vida” – ela indicou as aspas com os dedos – ele deve estar tentando compensar alguma coisa.

- Ou se certificar de que voltou inteira.

Eu mal havia terminado a frase quando meu sogro andou apressado até nós, sorrindo através do bigode esbranquiçado. Ele se aproximou primeiramente de Bella e a ergueu em um abraço apertado, para então olhar para mim sem a menor vontade de me cumprimentar. Mesmo assim, o fez, apertando minha mão com uma força desnecessária.

- E então, querida, pronta para conhecer sua nova casa? – Charlie perguntou enquanto puxava o carrinho para o estacionamento do aeroporto. É claro que ele não perguntaria sobre a viagem, evitando pensar em sua filhinha puritana sendo desvirginada no meio de uma praia carioca. – Eu vi o lugar com sua mãe, e é lindo. Você vai adorar.

Bella encarou seu pai, surpresa, e então cerrou os olhos para mim. Ela definitivamente não confiava no meu gosto.

- Estou realmente animada, pai. – Rebateu.

Nós andamos até o enorme carro em silêncio. Charlie não era do tipo que falava muito. Eu sentei na frente, no banco do passageiro, e minha esposa precisou se ajeitar atrás – relutante, é claro. Trocamos poucas palavras no caminho até o prédio, a maioria obviamente sobre meu futuro emprego, e eu precisei mentir e dizer que pretendia começar o quanto antes.

Nosso apartamento ficava próximo ao lago Michigan, e era possível vê-lo pela janela do andar bastante alto. Também dava pra ver o apartamento de Emmett no prédio da frente. Eu não tinha ideia de como ele pagava para morar sozinho num lugar como aquele, sem emprego ou qualquer atividade útil na vida, mas o importante era que eu mal via a hora de ser seu vizinho, animado como um garoto de 12 anos com seu melhor amigo.

Charlie entrou na garagem do prédio e ocupou nossa vaga, já que nenhum de nós dois tínhamos um carro – por enquanto. Bella praticamente pulou do banco e foi em direção ao elevador, sem esperar enquanto eu e seu pai descarregávamos o porta-malas. Trazendo duas comigo, eu subi e encontrei minha esposa parada na porta, boquiaberta.

- Você gostou, querida? – Charlie perguntou, vindo atrás de mim.

Eu esperei que Bella entrasse definitivamente para então me aproximar e a apoiar o corpo no batente da porta. Cruzei os braços e comecei a rir sozinho, pensando na quantidade de desculpas que ela estava me devendo.

O apartamento não era enorme, mas era definitivamente luxuoso. À esquerda, perto da gigantesca janela, estava a maior TV que eu encontrei à venda, junto com um sofá que implorava para que sentássemos. O tapete combinava com a cortina clara. O viveiro de Mimosa também estava ali, quase no corredor. À direita, estava a copa muito bem organizada (por enquanto), e atrás o comprido corredor.

Ela andou de um lado para o outro, e então virou arregalando os olhos para mim.

- Isso é... Lindo. – Sussurrou. – Você escolheu isso sozinho?

- Eu tenho um ótimo gosto, ou o quê? – Zombei.

Ela só não respondeu o que queria por causa de seu pai ali. Nós levamos as malas para dentro e fechamos a porta, e então eu mostrei a ela os outros cômodos. Nosso quarto tinha móveis tão bonitos quanto a sala – uma cama realmente grande, um armário ainda maior e dois abajures. Eu sempre gostei de abajures.

O banheiro tinha o tamanho perfeito para que ela guardasse todas as suas tranqueiras, e ainda havia um quarto extra para seus artigos de pintura. Eu fazia questão de que meu espaço ali fosse apenas meu, longe de suas coisas.

- Eu não acredito! – Bella se animou, andando pela cozinha e abrindo todas as gavetas para verificar o que havia lá dentro. – Eu me sinto numa loja de móveis, com aqueles cômodos decorados, e...

De repente, parou a frase, fechando os olhos e soltando um longo espirro. Lentamente, virou para mim, cerrando os olhos.

- Ele está aqui, não está? – Murmurou.


- Onde mais ele iria, Bella? – Eu me apoiei no sofá, ao lado de Charlie, e cruzei os braços.

Ela abaixou o rosto para soltar outro espirro, no exato instante em que Xerxes avançou pelo corredor e pulou para cima do balcão. Ele se espreguiçou até perto dela, sem a menor preocupação, e eu precisei segurar o riso quando vi os olhos e o nariz da garota ficando vermelhos.

- Tira ele de perto de mim! – Gritou, e eu imediatamente peguei meu animal no colo. – Eu quero ele fora daqui, Edward!

- O que? Nem pensar! – Eu gritei de volta, sem me incomodar se Charlie acharia aquilo estranho.

Bella ergueu uma sobrancelha para mim e soltou com a voz anasalada. – Ele vai embora daqui, Edward.

Eu quase ri na cara dela quando percebi que aquilo era uma ordem, mas então me lembrei de sua ameaça. Segurei Xerxes mais perto de mim, olhando para ela como se implorasse para que voltasse atrás, mas ela não mudou sua expressão. Eu estava de mãos atadas.

Eu não estava realmente acreditando que ela colocaria sua vingança ridícula em prática, mas quando atingiu uma das coisas que mais importavam para mim, eu percebi que não estávamos mais juntos naquele plano.

- Charlie, - eu chamei – você podia levar Xerxes para sua casa, por enquanto? – Eu olhei para ele. – Ele faz mal a Bella aqui. – Eu me forcei a dizer, como se me importasse.

- É claro. – Ele pegou o gato no colo sem relutar. Acho que gostava de animais.

- Eu prometo que vou encontrar outro lugar para ele ficar. É só por enquanto. – Eu engoli seco, e agradeci.

Charlie assentiu, educado, enquanto eu me recusava a olhar para o sorriso vitorioso de sua filha.

(...)

Na semana em que estivemos fora, Esme e Renée levaram todas as nossas coisas para o novo apartamento e as colocaram em seus devidos lugares. Acho que elas nos conheciam bem para saber que, se ficasse por nossa conta, as bagagens permaneceriam semanas jogadas pela sala.

Já era um pouco tarde quando chegamos e, sem nenhuma preocupação em arrumar as malas que trouxemos do Rio, nos entregamos ao ócio. Assim que Charlie foi embora, tivemos tempo apenas para pedir uma pizza e devorá-la juntos, sem trocar uma única palavra. Eu estava exausto e só queria me afundar naquela cama gigantesca. Com as costas apoiadas no travesseiro, liguei o notebook, navegando em sites aleatórios.

A porta do quarto estava aberta enquanto Bella escovava os dentes no banheiro bem em frente. Ela andou até o quarto e se apoiou no batente, me olhando com a boca cheia de espuma.

- Por que essa cara, Edward? – Perguntou, sarcástica, com uma voz estranha. – Falta alguma coisa na sua casa nova?

- Vai se foder. – Respondi sem olhar para ela.

- Você é uma bichinha.

- Você não precisava ter feito isso! – Eu finalmente a encarei, irritado. – Essa briga passou dos limites!

Ela voltou ao banheiro para lavar a boca, e então provocou novamente. – Bom, eu avisei. E então, qual é a sensação de ter alguém te controlando assim? – Sorriu, olhando seu próprio rosto no espelho.

Eu não respondi, irritado, e ela soltou uma risadinha quando eu me concentrei novamente na tela do notebook. Ao ouvir um barulho algum tempo depois, automaticamente ergui os olhos em sua direção, vendo-a passar pelo corredor apenas em suas roupas íntimas. Bom, não é porque eu odiava sua personalidade podre que não podia apreciar seu corpo. Eu tombei para o lado, tentando acompanhá-la com o olhar, mas ela desapareceu do meu campo de visão rapidamente.

Ela andaria praticamente pelada pela nossa casa? Isso estava no plano?

Despreocupadamente, a garota voltou, rebolando em sua calcinha roxa até a cama. Eu mantive os olhos na tela, como se não notasse sua presença. Ela apagou a luz do quarto e deitou de costas para mim. A luz vinha apenas dos abajures e do notebook. Quando apagou o dela e definitivamente se ajeitou para dormir, eu abaixei meu olhar, analisando sua bunda mal coberta pelo tecido fino.

Ela cobriu o corpo com o lençol e eu bufei em silêncio. Eu conhecia sua mente diabólica o suficiente para saber que certamente havia um plano por trás disso, mas demorei para entender. O que ela pretendia com isso? O que ela queria deitando ao meu lado vestida assim, como se quisesse seduzir seu marido ou algo do tipo?

Só se... Ela quisesse que acontecesse alguma coisa.

Certamente, se ela tivesse desistido do trato de “transar apenas no Rio”, era orgulhosa demais para assumir. A maneira mais fácil de demonstrar que estava a fim era me provocar com lingeries minúsculas. E eu falo sério quanto ao tamanho.

Eu fechei o notebook e o coloquei no criado-mudo, ainda olhando para ela. Apaguei a luz do meu lado também e deitei com um suspiro audível, ainda um pouco longe de seu corpo. Certo de que havia entendido o recado, me aproximei aos poucos. Meus lábios foram para seu pescoço e minha mão deslizou por dentro de sua calcinha. Porém, antes que eu pudesse tocar qualquer coisa interessante, ela reagiu. A única coisa que senti com clareza foi sua perna levantando e atingindo minhas bolas.

Eu levei as mãos ao local automaticamente e girei na cama, sem conseguir gritar. Continuei girando no escuro, até que a cama desapareceu e eu fui ao chão, ganhando mais uma dor – dessa vez no ombro.

- Sua desgraçada! – Berrei quando a luz do quarto acendeu.

- O que foi que eu disse sobre tocar em mim, hein? – Ela rebateu.

Eu fiquei algum tempo em silêncio, de bruços, me concentrando em fazer a dor passar. Alguns grunhidos e gemidos depois, consegui responder.

- Eu pensei que você quisesse!

- O quê!?

- Você fica andando por aí quase pelada! – Eu a olhei pela primeira vez; estava em pé, em cima da cama, com os braços cruzados no peito. – Pensei que quisesse transar de novo!

- Eu ando assim porque eu gosto de dormir assim! – Ela arregalou os olhos.

- Ah, é mesmo? – Eu fiquei em pé com um pouco de dificuldade, bufando quando a dor desapareceu do meu saco e pareceu subir para minha barriga. Filha de uma puta do inferno! – Pois eu também vou dormir como eu gosto, então.

Eu tirei a camiseta que usava e a joguei no canto do quarto. Ela deu os ombros e cruzou os braços. Quando abaixei a minha samba-canção e a retirei também, ela apenas ergueu as sobrancelhas em silêncio, olhando meu corpo nu de cima a baixo.

- Você não vai dormir comigo assim. – Disse, séria.

- Não é nada que você não esteja acostumada.

- Edward, você quer levar outro chute? É isso? – Perguntou em um tom de ameaça.

- Encoste mais um dedo em mim e você acorda careca amanhã! Eu juro! – Rebati enquanto voltava para a cama e deitava outra vez, me cobrindo até a barriga.

- Eu não vou dormir com você assim! – Ela gritou, de pé ao meu lado.

- Então vá para o sofá. – Respondi calmamente, com os olhos fechados.

Alguns segundos depois ouvi a garota bufar e cair na cama. A luz foi apagada novamente, e ela demorou para arrumar uma posição confortável, se remexendo ao meu lado. Na terceira vez que ela mudou de posição, eu bufei, reclamando para que parasse. Ela não disse nada e começou a se mexer mais ainda.

- Isabella, eu juro! – Gritei.

- Se está incomodado, você que vá para o sofá!

Eu puxei o lençol todo para mim ao virar de lado, e a senti puxar de volta com um grunhido. Nós ficamos nesse jogo infantil por mais alguns minutos, até que eu joguei a peça no chão, deixando ambos descobertos.

- Eu vou ficar com frio. – Ela grunhiu no escuro.

- Você que vá para o sofá! – Tentei imitar sua voz.

- Seu merda! Custava ter escolhido um apartamento com um quarto de hóspedes? Agora vamos ter que dividir essa droga de cama!

- Você não reclamou disso no Rio. – Franzi a testa.

- No Rio era diferente.

- O que? Por que a gente transava?

- Porque você bebia tanto que praticamente desmaiava. – Ela explicou.

- Eu posso facilmente voltar à essa rotina.

- Não pode, não! – Bella reclamou. – Você vai trabalhar com Esme. Para manter as aparências. Não adianta nada casar e continuar um vagabundo. – Ela retrucou, e eu desejei poder ver seu rosto no escuro.

- E você? Vai ficar coçando o saco o dia todo?

- Eu sou uma artista, Edward. Eu já tenho um trabalho.

Eu soltei uma gargalhada estrondosa, chacoalhando todo o corpo na cama. O único som que ouvimos em seguida no escuro foi o tapa que levei.

- Sua cota de violência já estourou por hoje! – Reclamei.

Ela riu antes de responder. – Bem vindo ao casamento.


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Notas finais do capítulo

Antes de mais nada, um muito obrigada pra Bina pela recomendação!
Agora sim Edward e Bella estão aprendendo o que é conviver juntos! E ele tá realmente comendo na mão na esposa, pra se livrar do gato que tanto adora...
O teaser de hoje é apenas um diálogo do Edward, mas achei que resume bem o próximo capítulo.
"- O que? Você achava que eu me divertia com as nossas briguinhas? Eu só cansei, Bella! Cansei das suas maluquices! Eu não sei mais se vale a pena continuar nesse plano, ou se eu vou pirar junto com você! Tipo, você acha mesmo algo normal pintar no meio da sala e sujar tudo? Ou... Ou... Ter uma cobra? Que porra de pessoa no mundo tem uma cobra?"
Até semana que vem!