E Eu Vos Declaro... escrita por mulleriana, Nina Guglielmelli


Capítulo 28
O felizes para sempre




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BPOV

A primeira coisa que vi ao abrir os olhos foi a porta aberta, e nem precisei esticar a mão para saber que era a única pessoa na cama. Com esse pensamento, apenas suspirei e virei no colchão, ocupando o lado de Edward. Poucos minutos depois, antes que eu pudesse adormecer, senti o peso ao meu lado. Ele não disse nada. Com o rosto contra o travesseiro, subi minha mão e encontrei seu cabelo, mantendo meus dedos confortavelmente ali.

- Você sabe que dia é hoje? – Sua voz rouca perguntou.

Eu forcei meu corpo a girar outra vez para ficar com a barriga para cima. Edward sorriu ao encontrar meus olhos, deitado ao meu lado com o rosto ainda sonolento.

- Me conte... – Eu resmunguei com os olhos fechados, deitando de lado e abraçando seu pescoço.

- 13 de setembro.

Eu abri os olhos imediatamente para encontrar seu rosto divertido. Ele pareceu ficar mais ainda contente com minha expressão desesperada. Sem me afastar, entortei os lábios devagar, demorando para responder.

- Não... Não é. – Sussurrei.

- Bom, como eu já conheço seu problema com aniversários eu estive treinando meu discurso no espelho nas últimas semanas. – Ele começou a dizer, me calando com sua própria boca quando eu ameacei retrucar. – Então, que tal esse argumento: Ano passado eu estava ocupado demais brigando com você. Eu tenho que compensar por dois anos!

- Desculpe, os Swan não comemoram aniversários. – Respondi, séria.

- Isso é ótimo, porque você é uma Masen agora.

Eu bufei, me afastando dele e evitando olhar para seu contentamento por achar que estava ganhando aquela conversa. Eu quase podia sentir seu olhar na minha bunda nua enquanto eu saía debaixo do lençol e ia direto para o armário. – Eu tinha esquecido que ainda estamos no século 18 e eu precisei ficar com o seu sobrenome. – Reclamei enquanto começava a me vestir.

- Qual é o problema, afinal? – Ouvi a voz dele atrás de mim. – É alguma coisa com as mulheres da sua família não aceitarem que estão envelhecendo e se encherem de plástica? – Edward não podia perder a oportunidade de zombar da minha mãe, é claro.

- Eu só me irrito com aniversários. Toda essa atenção, presentes que não gosto e a felicidade forçada. Eu gosto da minha rotina e quero passar meu “dia especial” nela. – Prendi meu sutiã com habilidade antes de virar de frente pra ele. – Eu juro, se alguém aparecer aqui com um bolo e presentes eu chuto todo mundo pra fora.

- Tem certeza que não liga pro fato de estar ficando velha? – Ele ignorou meu breve discurso, apoiando os braços atrás da cabeça confortavelmente. – 27 anos, Bella. Já está meio rabugenta. E algumas coisas aí não são mais como antes...

Eu ergui as sobrancelhas para ele, me divertindo com aquela piada tão forçada. Olhei para baixo rapidamente, fingindo analisar meu corpo semi-nu. Em seguida, dei as costas para ele outra vez com uma risada desdenhosa. – Mesmo assim, você anda muito interessado, não é?

Sorri sozinha, vestindo minha calça de costas para ele. Eu sabia que era uma questão de segundos até ele pular da cama e vir até mim com aquela provocação. Mesmo ciente disso, eu me sobressaltei quando sua mão subiu decididamente por minha coxa e seu quadril se encaixou por trás do meu. Sua boca encontrou meu pescoço e eu o tombei na direção contrária, expondo melhor minha pele para sentir o carinho.

- Muito. – Ele confirmou perto da minha orelha.

Eu esqueci completamente o que estava fazendo, que havia acabado de acordar e que provavelmente já estava um pouco atrasada. Virei de frente para Edward e, com sua mão ainda oscilando entre minha coxa e minha bunda, beijei sua boca com vontade. Pude ouvir sua respiração profunda quando minhas mãos alcançaram sua nuca e ele automaticamente me puxou mais perto.

Cedo demais, a porta aberta nos permitiu ouvir o choro fraco no outro quarto. Eu sorri contra sua boca ao identificar o som, aproveitando seu gosto por mais alguns segundos antes de afastar minha língua devagar e olhar para ele, ainda com nossos lábios muito próximos. Edward pareceu contrariado com o fim do beijo, mas então sorriu com um resmungo mais alto de Anthony, entendendo o chamado.

Eu ri baixinho quando ele disparou para o quarto do nosso bebê sem precisar dizer nada. Aproveitando aqueles poucos minutos sozinha, coloquei uma blusa e tive meus minutos no banheiro. Com meu rosto bem mais apresentável, voltei para o quarto, abaixando na outra parte do armário para procurar um sapato.

- Olha só quem veio te desejar feliz aniversário! - A voz atrás de mim me fez levantar e virar com um sorriso.

Anthony me encarou com uma expressão desnorteada que combinava perfeitamente com seu cabelo em pé. Para minha infelicidade, somente seus olhos eram do pai, e ele estava começando a ganhar meus cachos. Eu sempre o achava incrivelmente fofo, mas ele ficava irresistível quando acabava de acordar. Após um longo bocejo, ele praticamente se jogou para o meu colo. Eu enchi seu rosto de beijos, fazendo-o rir enquanto nós o acompanhávamos.

- Ah, querido, a mamãe queria muito passar o dia com você, mas ela precisa trabalhar... - Eu fiz um bico para o bebê que analisava meu pingente de pincel em sua mão gordinha. Eu tirei cuidadosamente dele antes que puxasse com força demais. Assim que entendeu aquilo como uma bronca, ele ergueu os olhos curiosos para mim. - Você vai ter que ficar aqui com o papai e ajudar ele a preparar o jantar.

Semanas atrás, quando Edward disse numa atitude completamente impulsiva que ia largar seu emprego, ele estava falando sério. Enquanto se empenhava em encontrar uma nova vocação, ele aproveitava para passar o tempo da maneira que mais gostava: Com Anthony. Além disso, ele estava tentando melhorar nossa alimentação, como nós concordamos que era necessário. Junto com nossa empregada, Leah, ele assistia vários programas de culinária, que aos poucos faziam efeito.

Talvez me incomodasse um pouco que Anthony estivesse cada vez mais grudado com o pai. Eu não queria ser a mãe "ausente" e ocupada demais. Mesmo assim, eles ficavam tão adoráveis juntos...

- Ok, eu cuido do seu café da manhã hoje! - Edward falou para Anthony, que pareceu prestar atenção em cada palavra. Eu sorri para ele ao lhe entregar o bebê outra vez. - Eu não tenho seios, desculpe, mas eu faço uma papinha ótima, não é? - Ele falou enquanto saía do quarto.

Eu terminei de me arrumar rapidamente e então segui Edward até a cozinha. Preparei nosso café enquanto meu marido, com todas as caretas possíveis que eu nem sabia que seu rosto era capaz de fazer, alimentava nosso filho com "aviõezinhos". Anthony raramente relutava para comer, ainda bem. Ele ria o tempo todo enquanto olhava para Edward. Nos dias em que eu fazia o café, a noite ele se ocupava com o jantar e eu podia aproveitar meu filho depois de ter sentido sua falta o dia todo. E então, quando o bebê dormia, era a hora de aproveitar seu pai...

- Esme ligou ontem. – Edward disse, cortando meus pensamentos impróprios. Eu balancei discretamente a cabeça, só então percebendo meu prato já quase vazio a minha frente. A camisa branca que usava não me ajudava nem um pouco a me concentrar no que fazia. Droga, ele ficava tão sexy de branco. – Ela nos chamou pra almoçar no domingo.

- Sem problemas. – Disse antes de tomar o último gole de café. Ele ainda tinha seu prato quase cheio quando eu levantei. – Você conhece o meu lema.

- Sem trabalho no fim de semana. – Edward sorriu e só me olhou quando eu ergui seu queixo e colei nossos lábios rapidamente.

- Caso contrário você morreria de saudades de mim. – Ele estava rindo quando eu me afastei para beijar Anthony em seu carrinho e pegar minha bolsa. – Vejo vocês mais tarde!

- Estaremos esperando. Completamente angustiados. – Ele zombou, afastando Xerxes quando o gato folgado subiu na mesa.

Nossos olhares se encontraram uma última vez e ele me mandou um beijo no ar, divertido. Eu sorri e tomei coragem para sair do apartamento, mal prestando atenção no caminho até o carro. Entrei e rapidamente respondi uma mensagem animada de Alice no celular antes de começar a dirigir. Nós conversávamos sobre coisas aleatórias o tempo todo e, naquele momento em especial, ela estranhamente não me respondeu mais.

O caminho até o ateliê já era quase automático para mim. Só quando estava quase lá encontrei uma música decente tocando no rádio, e a maior parte do tempo levei amaldiçoando o trânsito na metrópole cada vez maior. Finalmente, cheguei ao meu destino e estacionei, quase correndo ao olhar a hora no painel do carro.

Assim que abri a porta já pude ouvir algumas pessoas falando dentro do ateliê. Aquilo não era normal. O silêncio (antes das crianças chegarem) era uma das partes que eu mais gostava naquele lugar. Mais alguns passos e as vozes ficaram mais claras, e eu percebi que havia muito mais gente do que eu imaginava. Edward. Ele havia feito isso. Ele não sabia a bronca que estava prestes a levar. Decididamente, arrumei a bolsa no meu ombro com uma bufada e entrei na próxima sala, procurando exclusivamente por seu rosto no meio da multidão.

Cedo demais, notei algo realmente importante: Eu não conhecia aquelas pessoas. O lugar estava lotado de desconhecidos. Eu parei, confusa, sem reagir quando uma mulher bateu no meu ombro e pediu desculpa. Eu não estava mais brava e sim completamente atordoada. Acho que demorei muito tempo ali, paralisada, tentando entender o que estava acontecendo. Aquilo definitivamente não tinha nada a ver com o meu aniversário. Quando resolvi me mexer, a primeira coisa que me passou pela cabeça foi procurar Angela.

Antes que eu a alcançasse, no entanto, outro fato ainda mais importante chamou minha atenção: Aquelas pessoas não estavam ali simplesmente ocupando espaço. Elas andavam devagar, dando a volta naquela sala e pelos corredores, observando as paredes. Observando as minhas pinturas nas paredes.

Eu senti meu coração escapar uma batida quando meus olhos se prenderam a um senhor analisando o rosto de Edward desenhado na tela. Eu parei outra vez e, antes que pudesse ir ao chão, senti as mãozinhas magrelas segurando meus cotovelos por trás de mim.

- Eu disse pra ele que você entraria em pânico. – Alice estava com os olhos arregalados quando eu virei para encará-la. – Mas você nunca tomava a iniciativa, não é?

- Alice... O que... Por que... – Eu ofeguei, levando uma mão até a minha testa. – Como vocês fazem uma coisa dessas comigo? – Quase gritei após tomar fôlego suficiente. – Isso é... Meu trabalho, é íntimo e... Eu me sinto pelada na frente de todas essas pessoas! Se eu estivesse pelada agora, não seria tão constrangedor!

- Eu não vejo nada de constrangedor nas suas pinturas! São lindas! – Ela me olhou, incrédula, e alguma coisa na minha expressão a fez completar a frase imediatamente. – Tudo bem, vamos conversar num lugar mais calmo.

Eu senti como se estivesse flutuando enquanto Alice me guiava pelo corredor, mas a sensação não foi boa como parece. Tentei me concentrar na minha respiração irregular para não desmaiar. Ela finalmente parou de me puxar e fechou a porta, olhando rapidamente ao redor da sala vazia antes de me encarar com preocupação.

- Acho que prefiro ouvir uma bronca do que precisar te socorrer. - Ela entortou os lábios ao fazer uma careta.

- Diga que foi ideia só dele e você está livre. - Eu apontei um dedo para ela, chegando ao estágio da raiva.

- Se eu estou aqui é porque eu concordei, não acha? Mas, sim, ele pensou em tudo sozinho. Ele mesmo falou com Angela para fecharem a escola essa semana e convidou todo mundo que conhece. - Alice explicou. - Eu apenas sugeri alguns salgadinhos leves, só pra animar o pessoal. Estão lá no fundo e são uma delícia! Você já experimentou?

- Eu não estou preocupada com a comida! - Comecei a gritar, mas consegui diminuir minha voz após respirar fundo.

- Olha, Bella, essa vai ser uma oportunidade de ouro pra você. Alguém que realmente entende de arte pode estar aqui agora! Você quer ser descoberta e ficar famosa, ou quer se sujar de tinta com crianças de 3 anos de idade pro resto da vida?

- Eu amo meu trabalho. - Franzi a testa para ela.

- Claro que ama! Mas se alguém super importante aparecesse aqui agora, e dissesse que ama seus quadros e quer te levar pra... Itália! Você continuaria aqui? - Ela ergueu uma sobrancelha, segurando meus ombros.

Demorei alguns segundos encarando seu rosto, realmente pensando no assunto, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa a porta abriu outra vez. Edward colocou o rosto para dentro, aliviado ao nos ver ali.

- Eu estava procurando vocês! - Ele disse ao entrar e fechar a porta atrás de si.

Eu me afastei de Alice e andei decididamente até ele, erguendo as mãos para seu peito. Antes que pudesse socá-la como queria, apenas bufei e relaxei as mãos ali, olhando seriamente para seus olhos alegres.

- Como você pôde fazer isso? Sem me consultar!

- Você teria dito não. - Ele respondeu tranquilamente, olhando para minha melhor amiga atrás de mim. - Seu afilhado está lá fora com Esme e Carlisle.

Ela mal respondeu, sorrindo e saltitando para fora da sala para ver Anthony. Eles mal se encontravam e, além disso, não era segredo que Alice morria de ciúmes de Emmett com o bebê o tempo todo. Ela sempre fazia de tudo para compensar - e isso não demoraria para criar um garoto mimado demais.

- Carlisle está aqui? - Arregalei os olhos para ele quando estávamos sozinhos.

- Ele pediu uma folga hoje desde que eu comecei a planejar tudo. Ele está muito orgulhoso. E... Outra pessoa também.

- Charlie? - Eu murmurei, mas não era exatamente uma pergunta.

- Ainda não falei com ele. Mas ele está aqui, não é? - Edward ergueu uma sobrancelha, mexendo numa mecha do meu cabelo enquanto analisava meu rosto. - Você disse que ele não ligava, mas ele veio.

Assenti e respirei fundo, sentindo seu abraço ao redor da minha cintura por um breve minuto. - Tudo bem. Eu posso fazer isso. Eu sou a artista. Eu vou sair daqui de cabeça erguida e deixar que todos vejam meu trabalho do qual eu me orgulho.

Edward sorriu largamente antes de se afastar e abrir a porta para mim. Nós atravessemos o corredor de mãos dadas até a sala lotada outra vez. Quando pude ver todas as pessoas, paralisei, e ele percebeu isso. Ficou parado bem ao meu lado, analisando minha expressão.

Quando eu estava prestes a dar um passo a frente e me juntar a multidão, nossa visão foi atrapalhada pelo grandalhão afobado correndo até nós. Emmett respirou fundo antes de falar, apoiando uma mão no ombro de Edward.

- Eu estou atrasado. Desculpe! Tentei vir o mais rápido que pude, eu esqueci que não precisaria ficar com o Anthony hoje e aí fui pra sua casa, ninguém estava lá, eu achei estranho e só depois eu lembrei...

- Eu tentei te ligar pra lembrar. Você não atendeu. - Edward franziu a testa para ele.

- Eu sei, eu trabalhei a noite, estou exausto! - Emmett reclamou, cansado demais para notar a frase estranha que acabara de pronunciar.

Eu e Edward não deixamos passar, arregalando os olhos ao mesmo tempo para ele. - Trabalhou? - Perguntamos em uníssono. - Emmett, eu não sabia que você tinha um emprego. - Edward completou.

Nós observamos sua reação lenta, enquanto ele respirava fundo e pensava numa resposta. Finalmente, grunhiu, nos empurrando de volta para o corredor. Nós ficamos ali, em silêncio, esperando enquanto ele se atrapalhava com as palavras.

- Tudo bem, isso... Isso não pode sair daqui! - Ele murmurou.

- Por que eu estou com medo disso? - Edward fez uma careta ao pensar no "emprego noturno" de seu melhor amigo.

- Não é nada do que você está pensando! - Ele logo se defendeu, demorando mais um pouco para completar e finalmente falar. - Eu sou... Eu... Droga, eu sou babá, tá legal?

- Sim. Do Anthony. - Eu franzi a testa, realmente sem entender.

- Não. - Ele grunhiu. - Eu sou babá mesmo. Eu cuidava de algumas crianças quando era adolescente, e quando mudei pra Chicago, foi o primeiro trabalho que me ocorreu. Qual é, vocês achavam que eu pagava minhas contas como? Eu nunca quis dizer porque é estranho demais. Foi estranho ajudar o Edward quando o Anthony estava pra nascer, e ele desconfiando de tudo o que eu falava... Mas no fim eu acabei como babá dele e eu adoro. É um dos bebês mais bonzinhos. - Ele sorriu. - O de ontem a noite acabou comigo. Ele está aprendendo a andar e não para quieto!

Emmett parou de falar quando percebeu nossas bocas abertas e nossos rostos espantados. Ele diminuiu o sorriso, encolhendo um pouco os ombros.

- O que? Pelo menos é um trabalho honesto!

- Quando você pretendia contar o que faz pra viver pro seu melhor amigo, hein? - Edward reclamou. - Quando sugerisse que abríssemos uma creche juntos!?

- Bom, eu sempre encarei como um trabalho temporário. Mas já está durando demais... Isso é uma opção? - Emmett franziu a testa, e Edward apenas bufou ao invés de responder.

Apesar de estar igualmente surpresa, eu sabia que aquilo era mais uma discussão para os dois sozinhos. Além do mais, Edward logo passaria para a fase em que começaria a rir da cara de Emmett, e eu não queria estar presente para vê-lo irritado com a brincadeira do amigo.

Eles mal perceberam quando eu me afastei e voltei para a sala lotada, entretidos com sua discussão e com as perguntas infinitas de Edward. Parei e analisei tudo ao meu redor; parecia que mais pessoas haviam chegado. Eu encontrei Carlisle, Esme, Anthony e Alice num canto da sala, todos prestando atenção no bebê no colo da madrinha. Perto dali, Rosalie, mais duas garotas loiras e Jasper conversavam animados, analisando uma das pinturas. Meus olhos continuaram a passar pelas pessoas, até que encontrei quem realmente queria ver.

Em poucos segundos de coragem, eu consegui andar devagar até Renée e Charlie, mantendo minha cabeça um pouco baixa. Eles pareciam extremamente desconfortáveis ali. Parei a sua frente e encarei seus rostos rapidamente antes de pensar em algo para dizer.

- Eu não planejei nada disso. - Murmurei.

- Edward disse. - Charlie respondeu antes de soltar um pigarro, alisando a própria gravata. - São... Muito bonitas. As suas pinturas.

- Você achou? Mesmo? - Eu arregalei um pouco os olhos, surpresa com o elogio.

- Eu gosto do bebê que parece o Anthony. - Renée disse timidamente, sorrindo para mim em seguida.

Eu virei um pouco o rosto para ela, sorrindo de volta. - Não era pra ser ele no início, mas... Você sabe. - Dei os ombros.

- Mas o desenho de Edward era. - Ela sorriu um pouco mais, erguendo as sobrancelhas sugestivamente.

Eu fiz uma espécie de bico ao sorrir um pouco, tão tímida quanto ela agora. Acho que estava corando quando dei os ombros e segurei uma mão na outra.

- Você está feliz. - Charlie disse, sério, cortando um pouco o clima entre nós.

- Estou. - Eu assenti no mesmo tom que ele. - Eu lido com o que eu amo todos os dias. Mesmo que seja nas mãos de crianças que não tem nenhuma técnica. - Ri baixinho, sozinha. - Mas é lindo e puro. Eu nasci pra arte. - Esperei um pouco antes de completar, pensando se devia realmente dizer a próxima frase. - Sinto muito por isso. - Soltei, encarando o chão.

- Eu só queria garantir um futuro para minha única filha, Bella. - Charlie disse.

- Mas então ela armou o próprio casamento com um cara podre de rico e você não precisou mais se preocupar? - Rebati, suspirando ao me arrepender logo em seguida. - Tudo bem, eu não quero discutir.

- E eu não vim aqui pra isso. - Ele concordou. - Eu só quero pedir desculpa. Isso é... - Ele olhou em volta das paredes antes de continuar. - Você. E eu amo você.

- Então não está mais bravo com a minha mentira? - Eu abaixei um pouco o rosto outra vez ao murmurar.

- Se eu tivesse um sonho e um pai cabeça-dura como eu atrapalhando tudo, também cometeria alguma loucura.

Nós sorrimos um para o outro rapidamente antes que eu, com os olhos úmidos, praticamente pulasse para frente para abraçá-lo. Eu senti a mão de Renée acariciando minhas costas enquanto eu molhava o terno de Charlie.

- Nós sempre tivemos orgulho de você, querida. - Renée murmurou.

- Se você não fosse tão teimosa e persistente, estaria infeliz agora e eu me culparia pro resto da vida. - Meu pai completou quando eu me afastei e olhei seu rosto outra vez.

Estava claro que ele segurava o choro. Eu ri baixinho, secando os olhos discretamente. Apenas uma olhada para o lado foi suficiente para ver Alice sorrindo para mim, satisfeita por ver todos bem outra vez. Quando vi Anthony em seu colo, virei outra vez para meus pais, lembrando de algo um pouco inacabado em nossa última discussão.

- Eu sei que vocês pensam que ter um filho foi parte do plano, mas eu juro que...

- Nós sabemos. - Renée franziu a testa. - Agora sabemos, quer dizer... Você se apaixonou. Você se meteu nisso e o tiro saiu pela culatra.

- Eu não estava apaixonada quando engravidei.

- Exatamente. - Ela riu, tocando meu ombro. Eu sorri de volta ao entender. - Tudo isso sempre esteve pronto para ser seu. Você só tem que aproveitar a sua família agora. E... Não cometer os mesmos erros que nós.

Havia muitas coisas que eu queria dizer, mas fui impedida quando comecei a chorar outra vez. Simplesmente me joguei novamente, abraçando os dois ao mesmo tempo. Eu não me importava se alguém estava assistindo - e, caso houvesse até mesmo uma platéia, eu queria que todos vissem aquela reconciliação. Eu não acreditava em erros e por isso os perdoava. Qualquer coisa que me levou até Edward não podia ser um erro.

Assim que consegui me recompor, deixei meus pais sozinhos para olharem as telas também. Eles estavam mais à vontade para fazer isso agora. Eu sentia meu coração bater mais forte toda vez que analisava algum rosto animado analisando minhas pinturas. Enqunto andava pelo ateliê, recebendo elogios e cumprimentando todos que conhecia, me arrependi de nunca ter feito aquilo antes. Mais uma vez, Edward foi o motivo de outra mudança na minha vida.

Angela me apresentou o dono de uma escola de artes em Manhattan que insistiu para falar comigo. Ele não era italiano, como Alice sonhou alto, mas eu estava quase flutuando ao ouvir seus elogios e suas propostas sobre o meu trabalho. É claro que com um bebê que mal havia chegado direito no mundo, eu não podia dar uma resposta imediata, então apenas garanti que manteríamos contato.

Mas a maior surpresa de todas não foi ver meu trabalho estampado nas paredes, como eu achava que morreria de vergonha. Eu realmente me emocionei quando alguns alunos meus (que, mesmo pequenos demais para entender o real significado disso para minha carreira, fizeram questão de estar ali) pegaram minhas mãos e me arrastaram para a sala onde normalmente teriam aula. Naquelas paredes estavam dezenas de desenhos infantis, onde eu reconheci estar meu rosto e de cada um deles, todos com os nomes indicados acima da cabeça. Eu simplesmente comecei a rir e abaixei para beijar cada um deles, agradecendo o presente.

As horas passaram rápido demais enquanto eu tentava dar atenção a todos. Anthony demorou para me ver mas, assim que eu finalmente parei para falar com Alice, ele choramingou e pediu para ir no meu colo. Eu fiquei com ele enquanto as pessoas iam embora aos poucos, inclusive nossos familiares. Quando o local estava quase vazio, vi Edward do outro lado da sala. Ele sorriu e andou até mim, beijando meus lábios com o bebê entre nós. Só então eu percebi que mal havia ficado com ele no meio de tanta confusão.

- É agora que você me agradece? - Ele ergueu uma sobrancelha, divertido.

- Tudo bem, eu não posso mentir. Obrigada. - Revirei os olhos ao arrumar Anthony sentado em meus braços, mas então ri. - Você sabe que chegou muito perto de apanhar por isso.

- Eu sei, mas já estou acostumado. - Deu os ombros. - Vamos pra casa?

- Acho que Angela vai precisar de ajuda por aqui... - Comecei a dizer, procurando por ela rapidamente.

- O que? Você não tem que trabalhar essa semana, Bella, você é a artista! A criadora! - Ele ergueu uma mão dramaticamente, cerrando os olhos para mim.

- Certo, mas se eu vou ter folga do trabalho, quero folga em casa também. - Ergui uma sobrancelha ao analisar sua reação. - Sem cozinhar e nem trocar fraldas. Acha que você consegue lidar com isso sozinho?

- Eu não sei, acho que vou estar meio ocupado daqui pra frente com a faculdade e tudo mais... - Ele disse, acabando com minha expressão divertida imediatamente.

Eu o encarei, perplexa com a notícia tão repentina. Ele riu conforme eu arregalava cada vez mais os olhos. - A.. O que? Edward!

- Ah, desculpe, eu não tinha contado? - Ele olhou para algo atrás de mim, fingindo desinteresse no assunto. - Eu devia ter mencionado que você é casada com o futuro melhor advogado de Chicago... Ou do mundo! - Eu arregalou os olhos de volta teatralmente, rindo da minha cara patética em seguida.

- Você não pode... Ah! - Eu estaria agarrada nele se não fosse pelo bebê no meu colo. Apenas comecei a rir, mal aguentando o quanto estava feliz por ele. - Eu não acredito que você não me contou! De onde saiu isso?

- Nós conversamos sobre isso, e eu acho que você estava certa, eu realmente sei convencer as pessoas. Eu estava pensando em me candidatar para presidente, mas é melhor começar por baixo...

Eu ri alto de sua piada ridícula, pulando no lugar. - Você será ótimo. - Eu elogiei antes que ele sorrisse e me beijasse outra vez.

- Eu sei. - Respondeu simplesmente, dando as costas para mim antes de sair do ateliê.

Ainda rindo, me despedi de Angela rapidamente e fui atrás dele. Edward esperou enquanto eu colocava Anthony em sua cadeirinha, no banco de trás de seu carro, e então fui para o meu. Ele disparou pela rua a minha frente, e eu o xinguei sozinha pela mania de correr tanto enquanto dirigia.

Eu mal estava prestando atenção em seu carro durante o caminho que conhecia muito bem. Porém, quando estávamos quase na rua do nosso prédio, ele virou para o lado contrário. Eu percebi aquilo imediatamente e minha reação imediata foi segui-lo. Poucos metros a frente, estávamos no lago Michigan, e eu via pouca coisa apesar do parque ser iluminado durante a noite.

Edward estacionou e eu fiz o mesmo. Quando ele saiu do carro e pegou Anthony no colo, eu abaixei o vidro ao meu lado, colocando a cabeça pra fora.

- O que está fazendo? - Gritei. - Pensei que fôssemos pra casa!

- Vamos dar uma volta! - Ele respondeu. - Anthony vai adorar um passeio.

- Não vai, não, Edward! Está ficando tarde, daqui a pouco ele vai ficar com sono e fazer manha... Amor, vamos pra casa! - Eu tentei dizer, mas ele já estava de costas para mim, andando para longe.

Bufei e desliguei meu carro, batendo a porta ao sair. Senti o vento do início do outono vir diretamente contra mim e puxei meu casaco mais fechado imediatamente. Com passos firmes, eu o segui, começando a quase correr conforme ele acelerava o passo. Parecia que estava fugindo de mim, e eu comecei a ficar cada vez mais irritada com esse pensamento.

Em certo momento, ele realmente saiu do meu campo de visão. Eu contornei algumas árvores, prestes a xingá-lo, quando finalmente o encontrei no que seria a maior surpresa de todo aquele dia.

Um pouco escondido do resto das pessoas no parque, estava um arco cheio de flores, semelhante ao do nosso casamento. Felizmente algumas luzes delicadas estavam acesas ao redor, me permitindo ver tudo com mais clareza. Nossas famílias estavam ali e apenas os amigos mais íntimos - Emmett, Alice, Kate, Garrett e a pequena Vanessa. Eles eram praticamente família, é claro. Um homem que eu nunca havia visto estava debaixo do arco, me olhando tranquilamente. Todos me olharam também quando eu parei e encarei tudo, realmente confusa.

Edward se afastou de seu tio, que segurava Anthony, e veio até mim. Ele falou antes que eu soltasse alguma merda e estragasse tudo.

- Surpresas demais para um dia só? - Ele fez uma careta, sorrindo um pouco.

- O que é tudo isso? - Eu consegui sussurrar, deixando que ele pegasse minhas mãos.

- Isso sou eu. Pedindo para casar com você. - Ele respondeu no mesmo tom. - Eu achei que preparando tudo assim você teria menos chances de dizer "não".

- Edward... - Eu ri, erguendo uma mão para seu rosto. - Nós somos casados, lembra?

- Não. - Ele franziu a testa. - Eu me casei com uma mulher insuportável, que havia acabado de me ameaçar quando subimos no altar. Eu disse "sim" planejando como a mataria na noite de núpcias. - Eu cerrei os olhos para ele, divertida, fazendo seu sorriso aumentar. - Eu quero dizer sim para a mãe do meu filho agora.

Eu achava que meu estoque de lágrimas havia acabado naquele dia, mas eu consegui chorar outra vez com suas palavras. Segurando a mão de Edward, nós andamos pelo pequeno corredor entre aquelas pessoas, parando um de frente para o outro perto do arco enfeitado. O homem começou a falar, mas eu não estava realmente ouvindo. Eu só conseguia prestar atenção ao seu rosto, seu sorriso orgulhoso e a sensação de suas mãos nas minhas. Acho que estava tremendo um pouco, mas ele não soltou.

Minhas bochechas já doíam um pouco, mas eu não conseguia diminuir meu sorriso. Eu só desviei o olhar dele para observar nosso filho, perto de nós, sorrindo com a pequena mão na boca como se estivesse entendendo o que estava assistindo.

Eu não estava com a roupa apropriada, e não foi nem de perto a cerimônia exagerada que tivemos no outro ano, mas foi muito melhor. Eu senti vontade de jogar isso na cara de Esme e Renée. Nenhum vestido caro ou bolo com vários andares se comparava a me unir com Edward daquela forma, simples porém sincera.

Quando chegou a hora, o "sim" saiu da minha boca de uma maneira deliciosa. Ele sorriu ao ouvir a palavra, esperando ansiosamente para repetir. Então, ele estava chorando também, enquanto nós ignorávamos qualquer presença a nossa volta que não fosse um do outro.

- E eu vos declaro... - Eu ouvi as palavras ecoarem em meus ouvidos e, antes mesmo que ele terminasse, eu já estava com os lábios de Edward nos meus.

Nosso beijo ficou animado rápido demais, e eu ainda podia ouvi-lo dizendo alguma coisa enquanto a cerimônia acabava, mas eu e Edward já estávamos em outro lugar só nosso. O som dos aplausos que veio a seguir a nossa volta era digno de uma multidão, mas aquela pequena família bastou para comemorar com a mesma alegria. Edward abraçou minha cintura, me fazendo rir quando me tirou do chão com facilidade.

Eu abaixei meu rosto para perto do dele outra vez, sorrindo contra sua boca enquanto ele repetia algumas vezes que me amava. Quando estava prestes a responder, ele me calou com outro beijo. Eu precisei lembrar que não estávamos sozinhos para resistir a envolver minhas pernas em seu quadril e agarrá-lo como realmente queria.

Mas, foda-se, nossa reputação não era mesmo das melhores.

Após um beijo longo - e incoveniente demais - nós nos afastamos e cumprimentamos todos. Esme e Rosalie estavam emocionadas com o casamento surpresa, é claro. Eu falei com todos o mais rápido possível para voltar para perto de Edward. Nós deixamos Anthony com os avós e andamos tranquilamente até mais perto do lago, sozinhos finalmente.

- Sabe de uma coisa? A tradição de pegar o buquê deve mesmo funcionar. - Edward sussurrou perto do meu ouvido.

Eu olhei para um pouco longe dali, procurando o que ele estava vendo. Não demorei para enxergar Rosalie e Emmett abraçados, sem se importar em mostrar que estavam juntos. Ela havia pegado o buquê no nosso "casamento". Eu pensei no assunto um instante, começando a rir em seguida.

- Quem sabe ela não quer meu vestido emprestado? Ela insistiu tanto naquele maldito modelo. Vamos ver se vai gostar daquela merda tão apertada. - Reclamei.

- Seu estoque de veneno é infinito, não é, sua viborazinha? - Eu soltei um grito agudo quando ele me deu uma rasteira, me segurando a poucos centímetros do chão.

Edward se abaixou por cima de mim e me beijou antes de me puxar em pé outra vez.

- Bom, alguém precisa ficar com aquele vestido, não é? - Dei os ombros. - Que seja para ela sofrer tudo o que me fez passar, então.

- Acho que ela ia se divertir demais. Seu plano não vai funcionar. - Nós rimos juntos. - Ou, que tal isso: Nós temos uma filha e o vestido pode virar uma herança de família.

- Uma filha? - Eu zombei, resistindo a rir alto dele. - E você acha que aguentaria mais 9 meses comigo grávida e estressada?

Edward deu um pequeno passo para trás, analisando minha expressão divertida e meus braços cruzados, quase como se o desafiasse. Finalmente, voltou para perto de mim, mal precisando se esforçar para que eu saísse daquela posição e abraçasse seu pescoço. - Acho que eu posso fazer um esforço. - Ele sussurrou, abrindo aquele sorriso incrível.

Eu fiz uma rápida careta para ele, tentando zombar de sua expressão orgulhosa. Ele riu, ignorando minha reação como se pudesse ler meus pensamentos. É claro que eu queria mais um filho de Edward – eu queria todas as crianças lindas de olhos verdes que pudéssemos aguentar. E, se nossa rotina ficasse calma demais, então faríamos mais. Porque, bom, de qualquer maneira, não pararíamos de praticar tão cedo.

 Meus dedos puxaram seu rosto delicadamente para mais perto do meu, e então nos beijamos outra vez, me fazendo esquecer completamente que não éramos as duas únicas pessoas no mundo.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pela recomendação, Kristen Love!
Tá aí, tudo o que vocês pediram pra consertar até o fim da história! Bella mostrando seu trabalho pra todo mundo e se ajeitando com os pais, Emmett contando sobre seu trabalho e ficando com Rosalie, Edward encontrando sua vocação e fazendo algumas (ou várias) surpresas pra esposa...
E pra não ficar climão no próximo, vou adiantar aqui mesmo que por enquanto NÃO vai ter fic nova, porque eu preciso me focar no cursinho e etc. Eu amo cada "posta mais" que recebo, sério, mas eles me fazem correr pro word! Eu não posso ter esse tipo de compromisso esse ano, gente, prefiro parar de postar do que atualizar de vez em nunca. Mas relaxem que eu jamais vou parar de escrever, eu tenho a ideia pronta na cabeça e quem sabe próximo semestre com ela pronta eu consigo mostrar pra vocês :D
Mas acabou ainda não, minha gente! Despedidas só no epílogo!
Até quarta!