*KATIE-

Eu estava tentando ler um livro (pensando nele, na verdade), deitada em minha cama, quando ele pulou a janela com uma cara de poucos amigos. Mesmo assim, meu coração deu uma cambalhota no peito e eu me levantei.

-Você esteve com Travis? – ele surpreendeu-me com um tom enojado.

-Não...

-Eu sei que sim.

-Mas é claro que não.

-Travis me contou! – ele começou a andar de um lado para o outro.

Essa era a minha chance de provocá-lo.

-E o que você tem a ver com isso? – falei.

-Então você ficou mesmo com ele? Então era ele no diário, e não eu? – fiquei novamente surpresa com o seu tom de voz.

-Ora, Connor, por que você não para de me encher?

-POR QUE? – ele gritou – NÃO É ÓBVIO?

-Não. – abaixei a cabeça, porque não era nada, absolutamente nada óbvio.

-Porque eu gosto de você, só por isso. – falou suavemente tocando meu queixo com a ponta dos dedos e afastando a mão bruscamente.

Ergui os olhos, para vê-lo. Seu cabelos castanhos caíam-lhe pelos olhos azuis, e a expressão de descrença em seu rosto era tão intensa que me fazia ficar tonta.

Ele pareceu surpreso quando eu fui até ele e segurei seu rosto entre as minhas mãos. Pensei em beijá-lo, mas isso não era uma coisa que eu faria.

-Dois campistas de sexos diferentes, que não sejam irmãos não podem ficar dentro do mesmo chalé. – falei.

Ele levantou as sobrancelhas, travesso.

-Aposta que eu fico?

Eu suspirei e virei as costas para ele, mas antes que eu pudesse deitar-me novamente ele agarrou meu braço.

-Não dá mais pra fingir que nada aconteceu. – falou antes de pular a janela novamente e sair andando normalmente.

Sentei-me na cama por um instante, e depois, sem saber bem o que eu ia fazer, pulei a janela eu fui ao chalé de Hermes.

Abri a porta devagar e me arrependi no mesmo instante, porque, bem, digamos que a coisa estava bem quente entre Travis e Jen lá dentro. Dei alguns passos pra trás, sem fazer barulho, fechando a porta do chalé. Eu podia sentir minhas bochechas queimando quando cruzei com uma campista de Hermes.

-Ahn, para o seu próprio bem, e da sua sanidade, não entre lá dentro! – falei.

Ela sorriu e continuou seu caminho, escancarando a porta do chalé, voltando assim como eu fiz e batendo a porta com força logo depois. Não pude deixar de sorrir, ainda corada.

Olhando pra baixo e ainda sorrindo, alguém tapou a minha boca e me puxou para dentro da floresta, eu me debatia e tentava gritar, mas a pessoa tinha as mãos firmes, alguns instantes depois, me soltou tão de repente que eu quase caí.

-Quem você pensa que... – comecei, mas quando me virei, vi que o sequestrador era Jake Mason, do chalé de Hefesto, pele morena, olhos verdes, cabelos lisos, parei de me mover imediatamente.

-Assustei você? – perguntou.

-O que você estava tentando fazer?

-Ah, desculpe. É só que... eu queria perguntar se você quer ir aos fogos comigo.

-E é preciso me puxar para o mato pra falar isso Jake? – perguntei incrédula.

Ele deu de ombros sorrindo.

-Desculpe.

Pensei em Connor, e se ele ficaria com ciúmes se eu fosse aos fogos com Jake. Sei que não é certo brincar com o sentimento dos outros, de qualquer forma acho que Jake não me está me convidando porque realmente sente algo por mim. Mas eu iria me sentir realmente mal se recusasse o convite dele.

-Ahn, se você não quiser por favor, não se sinta obrigada a ir, e eu também não vou questionar se você negar o convite.

Sorri. As vezes Jake era tão fofo.

-Tem certeza de que quer ir com uma garota tão sem sal como eu?

-Você só pode estar brincando! Katie você é... – ele olha nos meus olhos por um tempo que parece infinito, fico constrangida e desvio o olhar – linda!

Corei com o elogio.

-Eu vou com você Jake. – falo forçando um sorriso. – só pelo amor de Zeus não me assuste mais desse jeito!

Nós rimos. Quem sabe, Jake não se mostra um cara legal, mais legal que Connor? Percebi que esses minutos com ele me fizeram esquecer totalmente do filho de Hermes.

Lá estava Connor, de novo na minha mente.

Droga Connor, sai daí!

-Então – disse Jake mexendo nervosamente nos cabelos. – Vou deixar você seguir seu caminho pra onde quer que fosse. Até... amanhã?

-Até amanhã. – falei.

-Tchau.

-Tchau. – digo.

Jake se foi andando, e eu fiquei ali plantada pensando porque eu aceitei ir aos fogos com ele. O doce toque no meu braço me arranca dos meus pensamentos. Dessa vez, olho para Will Solace que segurava o meu braço levemente.

-Ahn, oi. – diz ele mexendo nervosamente nos cabelos. Uma vez conversei com Thalia Grace, ela disse que Apolo era quente. Obviamente, seus filhos herdaram isso dele. Will é um cara esbelto, seus cabelos são dourados e ele tem um brilho misterioso no olhar, um brilho que nunca se apaga, não importa onde ele esteja, é como se ele tivesse miniaturas do sol nos olhos. Não sei, é como se ele transpirasse confiança e uma luz interior, é de tirar o fôlego.

-Oi – falo, tímida.

-Eu escutei sua conversa com Jake. Você vai mesmo aos fogos com ele?

-Ah... – por um momento um rosto passou pela minha cabeça, cabelos castanhos e olhos azuis. – vou, é.

-Que pena. Bem, eu ia convidar você, mas imagino que não dê pra ir com dois, certo?- ele sorriu.

-Certo – eu ri.

-Ah, meu convite foi recusado – ele fez uma pose dramática colocando as costas da mão na testa e jogando a cabeça pra trás. O que me fez rir muito. – Então, já que eu fui dispensado, quero que vá à praia comigo amanhã, eu sei um lugar bem legal aqui no acampamento, poucos sabem que existe. É um paraíso natural, uma benção de Pã. – ele levanta as sobrancelhas como se perguntasse “o que me diz?”.

-Eu adoraria. – nesse momento a trombeta de recolher toca.

-Então Katie, até amanhã.

Ele me dá um beijo na bochecha , acena e se vai. Eu esqueci totalmente que estava procurando Connor, mas agora eu tinha dois “encontros” marcados. Droga. Jake é um fofo, e Will é irresistível mas...

-Katie, eu acho que você não deveria estar fora do seu chalé à essa hora, já foi dado o toque de recolher– a voz de Quíron me tira dos pensamentos. – Um dracma por seus pensamentos.

-Nada. Ah, me desculpe, eu só estou cansada Quíron, tive um dia cheio hoje. Diga que não vou ser punida, por favor diga!

-Apenas vá para o seu chalé. Boa noite. Ah, você ganhou mais uma irmã. – o velho centauro coloca a mão no meu ombro, pisca aqueles olhos cansados e sai, trotando.

Entro no chalé depois de um dia cheio, e vejo que a maioria dos campistas já está se enroscando nos beliches. Uma garotinha de mais ou menos seis anos, estava sentada em uma cama inferior de um dos beliches desocupados.

-Ei, quem é você meu anjo? – pergunto.

-Helena. Meu nome é He-le-na. – diz ela, sílaba por sílaba.

-Tudo bem Helena, e como é que você veio parar aqui?

-Um garoto-cabra. Ele me trouxe.

Rio.

Poderia ser legal ter uma irmãzinha.