Toc toc

– Entra – Annie disse de dentro do quarto.

– Oi – falei entrando – chegamos... Ou melhor, cheguei.

– Onde está Peeta?

– Conversando, quer dizer, ajudando minha mãe.

– Você acha que ele vai demorar?

– Não sei, por quê?

– Precisamos conversar.

Se eu não conhecesse Annie eu realmente teria ficado assustada. Ela não só falou séria, mas se levantou e trancou a porta.

– Está tudo bem Annie?

– Tudo, só vamos ter uma conversa – ela disse simpaticamente.

– Deveria me preocupar? – eu disse brincando.

– Acho que não. Katniss eu estou preocupada com você.

– Comigo? Por quê? - Annie fez uma cara de que sabia que eu tinha dito a coisa errada.

– Katniss não importa o que aconteça, lembre-se sempre que Peeta te ama que ele te ama mesmo! E independente de qual seja sua escolha ele vai entender, pois ele te ama, e sabe que é esperta e sabe muito bem o que faz.

– O que você quer dizer com isso?

– Na hora certa...

Toc toc

– Katniss você esta ai? – uma voz perguntou do outro lado da porta.

– Já abro – mas antes que eu pudesse perguntar mais algo a Annie, ela já havia aberto a porta e Peeta já estava no quarto.

– Então Annie, do que precisa?

Eu me surpreendi pelo fato de Peeta não ter perguntado sobre o que conversávamos, ou porque a porta estava fechada. Simplesmente agiu como se nada tivesse acontecido e eu não me atrevi a perguntar o que minha mãe queria.

Em uma hora Peeta terminou tudo que Annie precisava. Tirou umas coisas da estante de cima, carregou umas malas para a sala e continuou fingindo que não tinha conversado com a minha mãe. Tudo que Peeta fez, os funcionários da capital poderiam ter feito, mas eu não questionei e Peeta fez com o maior gosto.

– Olha a hora! – Annie exclamou depois que alguns funcionários da Capital levaram todas as malas nos carros. – Temos dez minutos para chegar a estação!

– Peeta vai com eles, não vai caber todo mundo no carro e se elas precisarem de alguma coisa pode ajudá-las melhor do que eu.

– Certeza Kats?

– Aham.

Depois de me despedir de Annie e minha mãe peguei Flin no colo. Ele estava dormindo, mas fiquei o olhando por um tempo. Depois o abracei, e segurei para que as lágrimas que pareciam estar presas em minha garganta continuassem por lá. Não foi bem uma despedida, pareceu mais... Como se elas tivessem saído de um jantar na minha casa.

Quando eu estava pegando o elevador para ir ao décimo segundo andar encontrei Gale.

– Você vai à estação? – ele me perguntou.

– Não, vou ficar por aqui.

Não consegui ler a expressão de Gale. Acho que ele estava indiferente e eu não me surpreendi com a pergunta que ele fez depois.

– Peeta... Ele está aqui?

– Não, ele foi a Estação.

Gale largou tudo que segurava e me abraçou. Não como um namorado, mas como meu irmão. Ele sempre foi e sempre será meu irmão. E é esse o único tipo de amor que sinto por ele. Acho que agora ele sabia disso.

– Katniss desculpa. Eu devia saber que você amava Peeta. Eu nunca devia ter desconfiado do amor que você sente por ele. Eu fui um idiota por achar que você sentia alguma coisa por mim. Eu sei que nós somos amigos e vamos ser amigos para sempre.

– Mais do que isso Gale – ele me olhou nos olhos. – Nós somos irmãos.

Quando eu parei de abraça-lo percebi que o elevador tinha chego e estava na hora de ir.

– Katniss eu...

– Só me promete uma coisa – eu o interrompi – você nunca mais vai sumir.

– Prometido.

Assisti ele sair do prédio do Antigo Centro de Treinamento e pela primeira vez em algum tempo percebi o quanto Gale era importante para mim e quanto ele fazia falta. Assim que a porta do elevador fechou para subir, senti as lagrimas escorrendo pelo meu rosto. Não sabia direito por que chorava, mas involuntariamente levei minhas mãos até o rosto e limpei meus olhos.

Quando o elevador parou entrei distraidamente no andar e fui em direção ao quarto principal. Quando sentei na cama notei que estava sentada em cima de alguma coisa. Levantei rapidamente com medo que eu pudesse quebrar. Assim que vi, percebi que eu havia sentado em cima de um pequeno sapatinho de lã branca, feito para bebês.

Dentro dele estava um bilhete:

“Ele nunca poderá substituí-la e você sabe disso, sabe também que um dia irá utilizá-lo.”