Nada do que Cody dizia me fazia sossegar. Eu já estava de pé me trocando quando ele colocou as mãos em meu ombro e começou a massageá-lo.

- Você precisa se acalmar.

Me soltei dele e coloquei a calça por baixo do quase lençol que era a roupa do hospital.

- Você pode sair? Preciso colocar a blusa.

- Eu me viro – ele disse olhando para a parede.

Me troquei de costas mas revirando os olhos para Cody o tempo inteiro. Ele não me olhou sequer uma vez.

- Onde estão Gale e Erick?

- Provavelmente lá fora, dando ataques sobre como a garota que é o amor da vida deles quase morreu presa em um elevador.

- Como você sabe do elevador?

- Todo mundo sabe Johanna – Cody pigarreou – Você é capa de todas as revistas. Seus amigos do doze mandaram lembranças. Algo do tipo. Desliguei o telefone quando eles começaram com a baboseira de o quanto você foi importante para Panem blá blá blá.

- Você não tinha esse direito – disse com os punhos cerrados, pronta pra bater em Cody.

- Calmo aí leãozinho. Você estava inconsciente. Não sou obrigado a anotar seus recados.

- Eu não te pedi pra ficar aqui no quarto. Álias, nem sei o que você está fazendo aqui.

- Me pediram pra olhar pra você. Você tem um histórico com morfina, certo? – Cody riu da situação enquanto eu o empurrava para o lado e abria a porta do quarto.

No fim do corredor todo o ar cinza sumiu quando Erick e Gale se levantaram e sorriram pra mim. Corri na direção deles e abracei cada um com um braço.

- Achei que você não ia sair daquele quarto... Quem é aquele? – disse Gale com os olhos fixos em Cody.

- Ninguém.

Saímos do hospital depois um milhão de exames que os meninos me forçaram a fazer e fomos direto para a sala da presidente Connor. Panem inteira deve ter ouvido meus gritos:

- COMO ASSIM VOCÊ QUER COLOCAR ESSAS CRIANÇAS NA ARENA AMANHÃ?

- Não é minha culpa Johanna – ela gaguejava – melhor colocá-los logo lá, antes que tenhamos mais mortes.

- Eu consegui tudo o que a senhora me pediu – bati na mesa – mas Peeta precisa esperar o trem da Capital. Vá buscá-lo com um dos aviões gigantescos. Ele vem com a carta de Katniss e Haymitch.

- Temo não poder ajudar mais Johanna.

- COMO NÃO? – Meus passos faziam estrondos e deixavam o ambiente pesado – se você não pode, imagine eu.

O silêncio tomou conta da sala e sai correndo de lá em prantos. Trombei com Lisa e a derrubei no chão.

- Me perdoe – disse a ajudando a levar e chorando desesperadamente.

- Tudo bem – Lisa parecia assustado – foi só um tropeção.

- Não é só isso. – usei a manga da jaqueta para secar as lágrimas que ainda restavam – Acho que não posso salvar vocês.

Lisa parecia perdida. Seus olhos pequenos me encaravam como se ela já soubesse que isso ia acontecer.

- Eu entendo – ela disse baixando a cabeça – eu sabia que isso ia acontecer.

Enobaria apareceu no fim do corredor.

- Lisa. Eu preciso conversar com Enobaria. Vou ao seu apartamento mais tarde, certo? Nós vamos dar um jeito nisso.

Corri até Enobaria que continuava com o sorriso irônico.

- Preciso falar com você – disse tímida.

- Fique a vontade – ela disse enquanto mexia no cabelo.

- Eu só quero... Não é “só”. Eu quero agradecer. Pelo que você fez. Por você pular e simplesmente me tirar dali.

- Eu não ia te deixar morrer.

- Você podia.

- Mas não ia.

- É isso que estou agradecendo.

Nossa conversa tinha tom de discussão, mas não era. Eu estava grata.

- Ouvi os gritos na sala da Connor – Enobaria mudou de assunto completamente – o que houve?

- Ela quer colocar as crianças na Arena... Amanhã.

- O que? – Enobaria parecia tão assustada quanto eu – ela pode fazer isso?

- Sim. O trem com Peeta só chega daqui dois dias. Ela não quer esperar.

Gale apareceu no outro lado do corredor e começou a balançar os braços.

- Connor e Plutarch precisam falar com você. Disseram que é importante.

Corri até a sala de Connor e me deparei com os dois de cara feia.

- O que é isso Johanna? – Plutarch balançava enlouquecidamente um papel em frente a seu rosto.

- Eu não consigo ler com você balançando ele né.

- Isso não é brincadeira Johanna. Nós recebemos um comunicado. Você se oferecendo para ir à arena novamente.

A porta se abriu repentinamente e Gale entrou na sala.

- O que? – ele estava exaltado e eu tinha certeza que ele estava escutando do outro lado da porta. – Que história é essa?

- Eu – gaguejei porque eu realmente não fazia ideia do que estava acontecendo – Eu não mandei isso. Mas...

- Mas nada Johanna – Gale segurava minha mão e a apertava com tanta força que senti meus dedos dormentes.

- Eu posso salvar eles? – me soltei e corri em direção a Connor – eu posso entrar no lugar deles? Pelo menos no de Lisa?

Connor baixou a cabeça e começou a chorar.

- Você já sofreu demais Johanna. Por favor.

- Eu posso? - repeti enquanto o silêncio se misturava com as lágrimas.

- Sim, você pode – Connor disparou.

- Certo – respirei fundo e olhei para Gale – Vou para a Arena... No lugar de Lisa.