- Johanna? Johanna. Nós chegamos.

Me levantei do banco enquanto o aerolizador se preparava pra pousar. Me encostei em uma janela e suspirei

- É o distrito mais bonito de todos. E tem as melhores pessoas também – digo enquanto olho o vasto mar ao horizonte.

- Você deve sentir uma falta insana dele.

- Mais que tudo.

Me permito escorregar novamente ao banco. Faz alguns meses desde que Snow morreu. A Capital vive o caos de aprender a viver com menos luxo enquanto os últimos jogos são organizados. Não quis fazer parte disso, mesmo que quase tenham me obrigado a me tornar mentora. Dois segundos depois da minha decisão, me arrependi. A ideia de perder Finnick me deixou tão devastada que eu mataria qualquer um que teve envolvimento com os Jogos. Mas quando mudei de ideia, era tarde demais. Katniss voltou ao doze há algum tempo e Peeta ficou na Capital pra cuidar de alguns assuntos. Ajudar as pessoas, como sempre. Sinto que chegamos em terra firme, então me levanto, arrumo o vestido rosa que me deram na capital e solto os cabelos. As portas se abrem e o vento fresco e o cheiro de mar, um cheiro que eu conhecia tão bem, infestam minhas narinas. Aquele não era meu lugar, não era meu lar. Mas foi ali que uma das pessoas que eu mais amei no mundo, viveu seus melhores momentos. E eu precisava me despedir do Finnick.

- Bem-vinda Johanna – uma voz melódica e soluços tomaram conta do lugar quando senti alguém me abraçando, em prantos – Ele estava certo. Você é linda.

A mãe de Finnick afagava meu cabelo enquanto molhava meu ombro com suas lágrimas. Depois dos Jogos, segurar o choro não era mais uma das minhas obrigações. Me permiti chorar tudo o que ainda não tinha conseguido fazer. A respiração quente e os braços da mãe de Finnick me aconchegaram por longos minutos, até que nos soltamos e finalmente consegui olhar em seus olhos.

- Eles se parecem?

- Muito – ela sorriu – ela está te esperando.

Segurei minhas malas e dei adeus a Plutarch, que por alguma razão insistiu em acompanhar todos os vencedores até os seus respectivos distritos.

Os distritos ganharam uma linha férrea que permitiria se locomoverem uns aos outros. O distrito quatro estava preparando fábricas de costura e também se preparava pra ser a principal distribuidora de peixes em Panem. Todas as pessoas ajudavam, fosse reconstruindo a casa de vizinhos, fosse ajudando nas fábricas que agora dariam um sustento justo a suas famílias. Chegamos à aldeia dos vitoriosos e as pedras ladrilhadas levavam até as belas casas, todas vazias, com exceção da casa da Annie. De longe vi os cabelos esvoaçados, os olhos profundos e o sorriso que explicava porque Finnick era tão apaixonado por ela. Annie era extremamente linda. Ela foi à única que não deixou a infância escapar pelos dedos depois da arena. Mesmo que isso tenha a deixado presa em seu mundo por um bom tempo, Annie era feliz e inocente. Soltei as malas e corri em sua direção até nossos braços se encontrarem.

- Como você está? – disse enquanto a abraçava.

- Bem – ela sorriu – ele não me deixa esquecê-lo.

- Como se nós pudéssemos esquecer ele.

- O distrito quatro quer fazer uma homenagem a ele. Algo como pôr o nome dele em uma das ruas ou fazer um retrado dele no muro principal.

- E o que você acha disso Annie? – disse enquanto ia em direção as minhas malas e as colocava no ombro.

- Eu tenho lembranças suficientes, mas se nós estamos aqui é graças a ele também, certo?

- Certo – coloquei os braços em volta dela e fui em direção a sua casa – e agora você tem um pequeno Finnick em casa.

Entrei na casa de Annie e notei que tudo era bem simples. Ela tinha uma governanta que cuidava do lugar quando ela estava em seus dias ruins. E sua mãe ajudava com o bebê. Subi as escadas correndo e fui direto pro quarto de Annie, onde ficava o berço. E lá estava o bebê, com os olhos verdes e os cabelos castanhos dourados. Gorducho, sorridente, feliz. E era como se Finnick ainda estivesse ali conosco.