O domingo chegou sem sol, mas para meu alívio, também não está chovendo, hoje não tenho tantas entregas para fazer e, todas são durante a tarde então aproveito para acordar um pouco mais tarde.

Minha mãe decidiu ir até a casa de uma amiga que está meio adoentada para fazer uma visita e levou o Gabriel com ela, então depois do almoço pego a cesta com os doces e bolos e saio para as entregas.

Como sempre vou por último na casa do Embry, eles sempre fazem pedidos e é sempre minha última parada, porque assim posso aproveitar para conversar um tempo com meus amigos. Enquanto caminho para a casa dele penso mais uma vez em seu convite para a festa de hoje mais tarde, mas já estou decidida a não ir, nunca gostei muito dessas festinhas, e além do mais domingo a noite minha mãe sempre tem muitas encomendas para fazer e vou ajudá-la, apesar dela insistir que eu vá me divertir um pouco prefiro ficar e ajudá-la, nem que seja tomando conta do Gabe.

Chego rapidamente na casa do Embry e hoje quem vem me receber é o Seth.

–Ei Bella. – ele sorri pegando a cesta de minhas mãos e entramos na casa.

–Oi Seth, ontem não te vi.

–Sim, tive que sair com minha mãe. – ele revira os olhos. Seth é mais novo que o Embry, mas são bem parecidos, e é uma das pessoas mais especiais da minha vida.

–E ela não está? E o Embry? – pergunto me sentando com ele no sofá.

–Minha mãe acabou de sair, foi no mercadinho aqui perto, e o Embry está no banho.

–Tenho que falar com ele, não vou na festa hoje com vocês.

–Ah não, por quê? – ele faz uma leve careta e eu sorrio.

–Você sabe que não sou muito de festas e tenho que ajudar minha mãe, ela diz que não precisa, mas amanhã é segunda-feira e sempre temos muitas entregas, o que a deixa hoje a noite inteira fazendo bolos e doces e ainda tem o Gabe... Enfim, eu prefiro ficar e ajudá-la.

–O Embry vai ficar irritadinho. – Seth diz. –Ele estava animado pensando que você ia... E você sabe que ele ainda é caidinho por você.

Ele diz a última parte em um sussurro e eu reviro os olhos.

–Já falei para você parar de dizer isso... Embry e eu somos amigos agora.

–Você não quer enxergar isso porque não sente mais o mesmo por ele, mas é verdade. – ele dá de ombros e estou prestes a replicar quando o Embry aparece na sala com os cabelos ainda molhados do banho.

–Bella. – ele sorri abertamente ao me ver, Seth me lança um olhar do tipo “eu avisei”, mas não ligo, ele não pode estar certo sobre isso, meu namoro com o Embry parece ter sido há um século, eu fui apaixonada por ele, mas passou, não foi nenhum grande amor e prefiro imaginar que para ele também seja assim, eu odiaria saber que de alguma forma o magoei ou o magôo por não corresponder aos seus sentimentos.

–Oi Embry. – me levanto para abraçá-lo. –Como vai?

–Bem e você? – me sento de novo com ele ao meu lado.

–Tudo bem, mas eu não vou na festa hoje. – falo de uma vez e logo fica claro o desapontamento no rosto dele.

–Ah não Bella. – ele resmunga. –Por quê?

–Porque ela precisa ajudar a mãe a fazer as encomendas para amanhã e cuidar do Gabe também. – Seth diz em meu auxílio e sorrio para ele.

–Bella, você precisa se divertir mais... Tenho certeza que a Renée também acha isso... A festa vai ser bem legal e prometo que não ficamos até tarde.

–Eu sei Embry, mas não vai dar mesmo, minha mãe não diz, mas sei o quanto ela precisa de ajuda e ainda terão muitas dessas festas, prometo que vou na próxima.

–Na verdade essa festa nem vai ser tão boa assim, as daqui de La Push são melhores e mês que vem tem uma das boas. – Seth diz tentando aliviar o clima já que Embry parece tão chateado.

–Você não vai mudar de ideia né?! – Embry me olha e eu nego com o rosto.

–Não... Mas não fica chateado comigo. – peço com um leve sorriso e ele acaba sorrindo também.

–Como se eu conseguisse ficar chateado com você. – ele diz. –Tudo bem então, mas na próxima você vem com a gente.

–Prometo. – sorrio ao ver que está mesmo tudo bem. –E vocês se divirtam hoje.

Fiquei mais um tempo ali conversando com os dois, mas logo vou embora, eles insistem em me acompanhar, mas digo que não precisa, gosto de caminhar pela reserva, sei que não tem perigo algum e além do mais eles precisam se preparar para a festa.

Quando chego em casa minha mãe e Gabriel já estão de volta.

–Como foi hoje Bella? – Renée pergunta.

–Tudo tranqüilo. – sorrio indo me sentar ao lado de Gabriel no chão na sala onde ele está entretido desenhando.

–Não vai a festa hoje com seus amigos? – olho para Renée e ela está com as sobrancelhas arqueadas.

–Não mãe, prefiro ficar aqui em casa. – dou de ombros.

–Você precisa e merece se divertir...

–Eu sei. – a interrompo rapidamente. –Mas realmente não queria ir, está tudo bem mãe, não se preocupe.

Felizmente ela não insiste no assunto e eu volto minha atenção para o Gabriel.

–E o que você está desenhando tão concentrado aí? – chego mais perto dele tentando ver seu desenho.

–Nossa família. – ele diz sorrindo inocentemente e me mostra o desenho.

Ele desenhou eu, ele e nossa mãe lado a lado e num canto mais afastado da página estava um bonequinho...

–Esse é o papai. – ele diz apontando o bonequinho. –Mas eu não lembro mais do rosto dele.

Olho rapidamente para minha mãe e vejo-a sair da sala apressada.

–É um desenho lindo, Gabe. – sussurro sentindo um nó na garganta. Gabriel logo vai acabar se esquecendo completamente do Charlie... E confesso que eu também gostaria de poder fazer isso.

****

Os dias passam com a mesma rotina de sempre, às vezes fica tudo tão cansativo, num passado não tão distante eu pensava que nesse momento estaria em uma faculdade... Mas não gosto de ficar pensando assim, essa é minha vida agora e ainda terei muito tempo para realizar meus sonhos.

Hoje, terça-feira, é mais um dia de entregas e como sempre vou por último na casa de Embry e Seth, mas hoje eles estão no trabalho e é sua mãe, Sue, que me atende. Eles trabalham numa oficina aqui na reserva, Seth ainda cursa o ensino médio e Embry diz não ter certeza ainda do que fazer no futuro, mas os dois trabalham para ajudar a mãe.

Como eles não estão fico pouco tempo e logo saio da casa para ir embora, mas então meu olhar cruza com a pequena casa mais afastada e a curiosidade me domina como tantas outras vezes. Por coincidência hoje sobraram alguns doces e tenho a repentina ideia de ir até a casinha oferecê-los ao homem misterioso... Jacob... Dizem que esse é o nome dele!

Confesso que aquele mistério todo em torno desse homem sempre me instigou desde que ele se mudou aqui para La Push... Porque será que ele é tão recluso assim? E quem deve ser a tal mulher que sempre o vem visitar? As pessoas inventavam muitas coisas, dizem que ele é louco, alguns dizem que já o viram e ele é horrível e deve ser até algum criminoso, mas Seth diz que já o viu e ele pareceu completamente normal, o que só aguçou ainda mais a minha curiosidade.

Não é a primeira vez que tenho a vontade de ir até lá oferecer doces com a desculpa de finalmente ver quem é esse homem misterioso, mas nas outras vezes o Embry sempre estava por perto e me repreendia... Só que hoje estou sozinha e quando percebo já estou caminhando lentamente em direção a casinha.

Ao parar em frente à porta olho ao redor, mas não tem ninguém passando por ali. De repente meu coração acelera, o que estou fazendo? Devo ter enlouquecido, mas... Droga! A curiosidade é maior e antes que perca a coragem eu bato na porta. Ninguém atende e não escuto nenhum movimento lá dentro então depois de alguns instantes bato de novo. Meu coração está cada vez mais acelerado e me repreendo por todo esse nervosismo, nunca acreditei nas besteiras que os outros falam desse tal Jacob, não tenho porque ficar nervosa assim.

Espero mais um pouco e estou pensando se devo bater mais uma vez ou ir embora quando a porta de repente se abre. Levo um susto e dou um passo pra trás, mas quando meu olhar finalmente foca no homem que abriu a porta eu me sinto congelar... Ele não é nada como imaginei ou como os outros falam... É simplesmente lindo... Sem dúvida o homem mais lindo que já vi em toda minha vida.

Não consigo falar nada, não consigo me mexer, não consigo nem pensar direito e então apenas o observo... Ele é alto, muito alto, sua pele morena tem uma cor única e tão atraente, na verdade ele é todo atraente... Ergo meus olhos para seu rosto, os cabelos curtos pretos meio bagunçados, os olhos também negros, seu rosto tem traços fortes, bem marcados e ele é bem jovem, deve ter uns vinte e poucos anos... Mas apesar de toda beleza ele me encara de um jeito frio e não sei por que, mas consigo identificar certa tristeza em seus lindos olhos.

–Precisa de algo? – ele diz e sua voz rouca e baixa faz um arrepio percorrer meu corpo, não consigo entender porque estou reagindo assim a ele.

–Ah... Oi... Eu... – gaguejo estupidamente. –Desculpa incomodar, mas eu vendo doces e bolos e...

–Desculpa, mas não estou interessado. – ele diz me interrompendo, não de um jeito exatamente brusco, mas como se quisesse apenas que eu saísse logo dali.

–Ah... Tudo bem. – sussurro sem saber mais o que falar, não quero que ele feche a porta, sinto a necessidade de ficar ali apenas admirando-o um pouco mais. –Seu nome é Jacob, não é?!

As palavras saem de repente pela minha boca e vejo o espanto e a curiosidade passar pelo rosto dele.

–Sim, sou... Mas realmente não estou interessado, então boa tarde. – ele me olha por um momento e então fecha a porta.

–Nossa! – suspiro ainda congelada em frente à porta dele.

O que tinha acontecido ali?

****

Vou para casa ainda meio em estado de choque... A beleza do Jacob realmente me deixou, literalmente, de boca aberta. E agora minha curiosidade é ainda maior. Quem é aquele homem? Porque se esconde tanto se é tão jovem e lindo? E porque parece carregar tanta tristeza em seus lindos olhos?

É isso que mais me perturba... A tristeza que vi em seus olhos, o modo frio e distante que ele agiu.

Quando chego em casa não tem ninguém, essa hora minha mãe deve ter ido buscar o Gabriel no colégio, então vou direto para o meu quarto e me deito em minha cama ainda pensando no que tinha acontecido, no breve momento em que estive cara a cara com o misterioso, e agora eu sei que lindo, Jacob.

Sei que estou agindo como uma adolescente boba só por ver um homem tão lindo, e sei que todo o mistério que o cerca acaba tornando-o de certa forma ainda mais atraente... E me conheço muito bem para saber que aqueles pensamentos ainda vão ficar me perturbando por um bom tempo, mas não tem nada que posso fazer em relação a tudo isso, na verdade minha vida já é bastante complicada para eu ainda ficar arrumando histórias!

O restante do dia passa rapidamente e apesar de ainda me pegar hora ou outra pensando no Jacob acabo ficando envolvida com todos os outros afazeres do dia-a-dia que me mantiveram bem ocupada, principalmente tomando conta do Gabriel.

À noite depois de colocar o Gabe para dormir fui ficar um pouco na sala com minha mãe vendo TV, mas ela logo percebe que estou meio distraída.

–E então, vai me dizer o que aconteceu hoje? – ela pergunta me pegando de surpresa.

–Como assim?

–Te conheço como a palma da minha mão Bella... E vi você bem distraída hoje, então vai me dizer o que aconteceu? – seu sorriso é carinhoso e acabo sorrindo também.

–Não é nada mãe. – sempre conto tudo para minha mãe, mas não sinto vontade de falar sobre o que aconteceu hoje, primeiro porque tenho certeza de que ela ia me dar uma bronca por eu ter ido bater na porta do “homem mistério” e depois porque ainda nem sei direito o que aconteceu e quero guardar isso só pra mim.

–Tem certeza Bella?

–Sim mãe, está tudo bem.

Ela me olha por mais um tempo, mas depois apenas assente e volta sua atenção para a TV. Eu também tento voltar a prestar atenção no filme que estamos assistindo, mas agora já é tarde demais... Voltei a pensar no Jacob e não consigo parar, então decido que de alguma forma tentarei descobrir mais sobre ele, algo deve ter acontecido, não consigo imaginar porque um homem tão jovem e lindo se mudaria para La Push para viver em reclusão como ele vive.

****

No dia seguinte acordo cedo, hoje é meu dia de levar o Gabriel no colégio e é minha mãe que vai fazer as entregas, meu dia hoje será mais calmo.

–Você vem me buscar hoje também? – Gabriel pergunta assim que chegamos ao colégio.

–Venho. – sorrio me abaixando para abraçá-lo. –E se comporte.

–Pode deixar. – ele sorri me dando um beijo no rosto. –Te amo Bells.

–Eu te amo mais. – o abraço mais apertado até ele rir e então o deixo entrar no colégio.

Hoje não tenho muito o que fazer então resolvo ir dar uma volta na praia antes de ir para casa. O tempo está meio nublado e não tem quase ninguém pela praia, o que é bom, então tiro meus sapatos e começo a caminhar perto da água.

Mesmo sem querer acabo pensando no Jacob novamente, na verdade noite passada fui dormir bem tarde pensando nele e tentando decifrar esses mistérios que o cercam, mas não cheguei a nenhuma conclusão.

Confesso que a ideia de voltar lá para oferecer doces é bem tentadora, mesmo que seja só para vê-lo mais um pouquinho, mas pelo que vi acho que ele não me receberia tão bem.

–Que saco Bella, deixa de ser estúpida! Até parece que nunca viu um cara bonito. – resmungo alto comigo mesma, só falta eu ficar paranóica pensando nesse cara agora.

–Bella... – escuto a voz conhecida do Embry me chamando e me viro vendo ele correr em minha direção.

–Ei Embry, o que está fazendo aqui? – sorri quando ele enfim para na minha frente.

–Nada, eu estava passando e te vi aqui sozinha... Está tudo bem? – volto a caminhar com ele ao meu lado.

–Está sim. – definitivamente não vou falar sobre o Jacob com ele, muito menos sobre o modo como ele estranha e inexplicavelmente mexeu comigo. –Não vai trabalhar hoje?

–Não, estou de folga... E você?

–Também não tenho nada para fazer hoje, minha mãe insistiu em ir entregar os doces para eu ter o dia livre. – dou de ombros. –Só tenho que ir buscar o Gabe mais tarde no colégio.

–Então o que acha de um cinema mais tarde em Forks? Eu pego o carro de um amigo e vamos.

Faz tempo que não saio e adoro ir ao cinema, mas Embry parece animado demais e mesmo sem querer me lembro do que o Seth vive dizendo sobre o Embry ainda ser apaixonado por mim, não quero acreditar nisso, mas está ficando impossível ignorar essa possibilidade.

–Cinema? – murmuro indecisa.

–Sim, vamos, vai ser divertido e faz tempo que não saímos. – ele fica em minha frente.

Acho que precisamos conversar novamente sobre nossos sentimentos, deixar as coisas mais claras, mas ainda não consigo acreditar que ele realmente ainda seja apaixonado por mim e não quero magoá-lo, isso é uma droga!

–Tudo bem, eu vou adorar. – digo por fim, talvez assim as coisas fiquem mais claras pra mim e então poderei conversar com ele, a última coisa que quero é magoar o Embry ou ficar lhe dando algum tipo de falsa esperança sobre a gente.

–Beleza. – ele sorri abertamente. –Tenho que ir agora então, ajeitar umas coisas, te pego as seis na sua casa ok?

–Ok, combinado. – digo e ele me da um beijo rápido no rosto e vai embora.

Eu o acompanho com o olhar até ele sumir de minhas vistas e então suspiro me sentando na areia e olhando para o mar... Mas apesar de estar preocupada com o Embry e o que pode acontecer nessa ida ao cinema hoje me surpreendo ao perceber que ainda não consigo parar de pensar no Jacob e em seus mistérios.