Rock Of Ages escrita por AniinhaBorges


Capítulo 3
Capítulo 2




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Lá estava eu, novamente com o pé na estrada. Minha mãe estava dirigindo na minha frente distante de mim, porém eu ainda conseguia ver seu carro. Eu não queria ir para casa, eu não podia voltar pra casa e me render tão facilmente. Eu estava sufocada e precisava fazer algo urgente. Aumentei a velocidade do carro e acabei chegando um pouco mais perto dela;  pude perceber quando seus olhos me encaravam do retrovisor. No mínimo ela já deveria ter feito isso umas trezentas vezes, só para se assegurar de que eu realmente a estava seguindo. Ela sabia que eu não seria louca o suficiente para fugir ou coisa do tipo, mas mesmo assim, seu instinto controlador fazia questão de me conferir a cada segundo.

Continuei dirigindo contra minha vontade tentando não olhar para ela, o que era meio complicado já que ela estava dirigindo na minha frente. Eu odiava aquela situação, odiava ver que meus planos tinham ido por água abaixo e odiava ver que ela estava ganhando, como sempre. Eu tinha que fazer alguma coisa, ela não podia vencer. Não dessa vez. Foi então que algo me veio à cabeça, na verdade, alguém. Como não tinha pensado nela antes? Acho que fiquei tão focada em meus planos que me esqueci completamente dela e do que ela tinha feito. Ela havia sido a única pessoa que conseguiu vencer Katherine Griffin, a única que não abaixou a cabeça e se submeteu às suas vontades egoístas e ela era a única pessoa que realmente podia me ajudar naquele momento. Minha mãe continuou a dirigir em linha reta, pegando o caminho para casa, enquanto eu, assim que tive a chance, peguei o primeiro desvio da estrada, indo em direção aquilo que eu poderia chamar de minha vida.

Após muitas longas paradas no meio da estrada para repensar minha atitude finalmente cheguei ao meu destino. Los Angeles era uma cidade gigantesca e essa era a primeira vez que eu estava sozinha por minha conta numa cidade assim. O sol já estava se pondo e logo a noite chegaria, o que tornaria minha missão um pouco mais difícil do que ela já era. Se procurar uma pessoa numa cidade grande com apenas uma única pista durante o dia era difícil, imagine fazer isso à noite. Mas eu não podia parar agora. Já tinha chegado até aqui, não iria desistir. Continuei a dirigir até finalmente encontrar o endereço que ela havia me dado há alguns meses atrás. Ao chegar lá, estacionei o carro perto da calçada e conferi se o lugar estava certo. Olhei duas vezes e chequei a placa que indicava o nome da rua. Sim, o endereço batia perfeitamente. Mesmo desconfiada entrei no bar que já estava ficando lotado de pessoas prontas para uma sexta à noite. Continuei andando pelas mesas, tentando chegar ao balcão, mas era meio difícil já que muitos estavam em pé conversando e dançando.

Quando finalmente alcancei o balcão, não havia ninguém do outro lado. Sentei-me numa cadeira e esperei que alguém viesse, mas ninguém apareceu. Continuei procurando até que alguém surgiu com um pano sujo e um copo na mão. “Bem-vinda ao Poison. Em que posso ajudar?” – o rapaz disse com uma voz arrastada, como se estivesse fazendo aquilo por obrigação. “Ah, eu procuro uma pessoa. Minha irmã. Bonnie Griffin, ela está?”- eu disse, gaguejando um pouco. “Bem, ela estava.Há uns quatro meses atrás.” – ele respondeu ironicamente, sorrindo pra mim e apoiando- se no balcão. “Ok, você sabe onde ela está hoje?” – eu disse séria. Detestava quando pessoas tentavam ser engraçadas comigo. “Talvez.” – ele disse vagamente, se afastando do balcão e guardando o copo e o pano. Eu respirei fundo, tentando manter a calma. “Olha, eu não tenho tempo pra piadas, eu tenho que achar a minha irmã ainda hoje se possível, então se você não vai me ajudar não me faça perder meu tempo, ok?” – respondi. Ele se virou para mim novamente e apoiou um braço no balcão novamente. “E eu sou um garçom no horário de trabalho, então se você não for pedir nada que esteja no cardápio não me faça perder o meu tempo.” – ele disse me entregando um pedaço de papel. Supus que aquilo era o cardápio. Peguei o papel e olhei rapidamente para os pratos. Todos eles tinham nomes estranhos e engraçados. “Ok, então. Uma água, por favor.”- eu disse colocando o cardápio no balcão e o afastando; eu não iria pedir algo que eu não sabia o que era. Ele pegou o papel e em seguida se afastou. Fiquei olhando enquanto ele pegava uma garrafa de água e um copo. Ele era até bonito, uma beleza diferente daquela que eu estava acostumada. Ele tinha cabelos escuros, era alto e não era muito forte. Estava vestindo uma camisa preta, sem estampa nem nada. Provavelmente, ele não tinha um uniforme de trabalho. “Aqui está, água para a princesa.”- ele disse ironicamente me servindo. “Obrigada, agora sobre minha irmã.” –eu disse. “Onde eu posso encontrá-la?” – perguntei olhando para ele. Seus olhos também eram escuros e mostravam sinais de cansaço ou de ressaca. “Ela hoje vai estar num show de uma banda de alguns amigos meus. Ela é meio que minha amiga.” – ele disse arrancando um sorriso aliviado de mim. “Ótimo! E onde vai ser isso?” – eu perguntei animada como uma criança no dia de Natal. “Olha, eu vou sair do trabalho em algumas horas e vou direto pra lá, se você quiser esperar.” – eu olhei para ele e senti meu entusiasmo ir embora. Não estava gostando nada do tom que ele estava usando. “Obrigada, mas você já me disse tudo que eu precisava.” – eu disse tirando uma nota de um dólar e pagando pela água. “Eu me viro agora.” – eu disse levantando e sorrindo para ele. “Tudo bem, boa sorte então. Agora só pra avisar que em cada esquina que você for, você vai achar alguma banda tocando. Mas, tenho certeza que você se vira.” – ele disse ironicamente recolhendo o copo e o dinheiro do balcão. Eu parei no meio do caminho. Sim, Los Angeles era grande e eu não conhecia metade dela, mas não deveria ser tão difícil assim. Eu tinha dirigido até aqui sozinha, achar minha irmã em algum show de alguma banda não poderia ser mais difícil. “Tudo bem, quanto tempo tenho que esperar até você sair?”

Fiquei sentada no balcão esperando Chip ser finalmente liberado do trabalho. Ele perguntou se eu estava com fome e me sugeriu algo que não fosse fora do comum naquele lugar: um hambúrguer simples com fritas. Comi tudo rapidamente. Eu tinha que admitir: estava com fome. Só havia almoçado e comido uma barra de chocolate num posto de gasolina horas atrás. “Escuta, eu só vou ali fechar o caixa e aí podemos ir, ok?” – ele disse vestindo uma jaqueta de couro, pronto para ir embora. Eu balancei a cabeça e sorri, esperando ele ir. “Ah, só mais uma coisa. Eu não sou crítico de moda nem nada, mas eu acho que você devia se trocar.” – ele disse olhando para mim da cabeça a cintura. “O que há de errado com minha roupa? É Chanel, todo mundo ama Chanel.” – eu disse rindo e olhando pra mim mesma. “É, mas nós não estamos indo ao country clube.” – ele retrucou. Já estava ficando cansada daquele sarcasmo dele. “Vem comigo, sua irmã costuma deixar uma roupa reserva no meu armário.” – ele abriu o balcão e me deu a mão. Fiz o que ele disse e em seguida ele me levou para uma espécie de vestiário. “Aqui, essa bolsa é da sua irmã. Vê se acha alguma coisa que sirva.” – ele disse me entregando a bolsa e saindo. “Ah, e não se preocupe, só pessoas autorizadas podem entrar aqui.”

Depois de muita indecisão, finalmente encontrei algo que me agradasse nas coisas da minha irmã. Peguei um vestido preto de couro, uma jaqueta dourada e alguns colares gigantescos. Soltei meu cabelo que estava preso desde a hora que saí do clube e coloquei umas botas pretas dela também. Sai do vestiário e quando cheguei ao salão da lanchonete, não havia mais ninguém. Chip estava conversando com uma mulher, que provavelmente era a dona do local. Eles estavam perto do caixa. Eu andei até eles, ajeitando o vestido que estava me incomodando um pouco. Cheguei perto deles e fiquei parada ali até ser notada pela mulher. Ela cutucou Chip e ele se virou para mim. “Ei, é... Você está parecendo sua irmã.” – ele disse gaguejando um pouco. Ele me olhava dos pés a cabeça com um sorriso bobo no rosto. “Obrigada, eu acho.”- eu disse sem graça. Ele continuava me olhando e não conseguia disfarçar. “Então, vamos?” – perguntei, tentando tirá-lo do transe. “Sim, só, só um minuto que.” – novamente, ele se atrapalhou com as palavras. Eu não pude me controlar e soltei uma risada baixa. Pelo que percebi, sua chefe fez o mesmo. “Pode ir, Chip. Vá se divertir, eu termino de fechar o caixa.” – ela disse pegando as chaves de sua mão e empurrando ele para perto de mimo deixando bem próximo a mim. Nossos corpos estavam praticamente se tocando e nós dois agora estávamos extremamente sem graça. “Vamos, então.” – ele disse estranhamente, tentando se afastar. Eu não disse nada, apenas o segui até a porta. Passamos pela porta, ainda constrangidos. Andei em direção ao meu carro até perceber que ele estava indo na direção contrária. “O que você está fazendo?” – eu gritei. Ele já estava andando. “Indo para o show, encontrar sua irmã.” –ele respondeu se virando e andando de costas. “Sim, não prefere fazer isso de carro?” – eu gritei abrindo a porta do carro. Ele continuou andando sem ligar para o que eu estava dizendo. Eu não estava acreditando, ele realmente ia me fazer andar em Los Angeles, de noite e de salto? Fechei a porta e sai correndo atrás dele. Continuei correndo até perceber que ele estava parado, me olhando e rindo. “O que?!”- perguntei, parando para ajeitar as botas. Ele não disse nada, apenas continuou rindo. “Não podíamos ter ido de carro?” – eu perguntei. “Uma noite andando não vai te matar, princesa.” – ele respondeu parando de rir. “E eu vou largar meu carro aqui no meio do nada?” – eu perguntei, finalmente o alcançando. “Relaxa, princesa. Ninguém vai roubar sua carruagem. Amanhã de manhã você volta aqui e pega.” – ele disse olhando para mim. Olhei para ele de volta, séria, não gostando nenhum pouco daquela ideia. Como eu ia deixar meu carro com quase todas as minhas roupas no meio do nada? “Não se preocupe, ele vai estar no mesmo lugar amanhã.” – ele disse, como se soubesse o que eu estava pensando, e pela primeira vez na noite me mostrou um sorriso sincero, sem sarcasmo ou ironia. Sorri para ele de volta, ficando sem graça de novo. Havia algo naquele sorriso que me deixava desconfiada, mas para ser sincera, eu não estava ligando muito para isso.


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