POV Percy

Mesmo depois de horas após Katniss ter me falado sobre o sonho, eu ainda não conseguia tirar aqueles pensamentos da cabeça. Aquela visão me intrigava, e eu sentia que eu ainda não havia vivido aquilo. A descrição sobre o fosso escuro me lembrava gravemente do Tártaro. Se minhas suspeitas estivessem certas eu não sei o que pensar. Lá estão aprisionados os titãs, além de todos os outros monstros do mundo, como sairíamos daquele lugar vivos?

Meus pensamentos mudaram do passado para o presente. Logo eu estaria fora desta Arena, passaria no teste de Hera e voltaria para casa. Então os meus olhos param na imagem adormecida de Katniss em meus braços. Como eu iria deixá-la? Eu nem sei se vou voltar para o passado assim que terminar os jogos, e se isso acontecer, Kat ficará sozinha. Não, isso não aconteceria. Hera provavelmente manipularia a Névoa colocando outra pessoa no meu lugar. A ideia me dá uma pontada de ciúmes. Um cara qualquer ao lado de Katniss em uma Arena como essa? E com a história do namoro falso? Com beijos e carinhos a toda hora?! O pensamento me irrita tanto que tenho que me controlar para manter a expressão normal. Eu gosto muito da Katniss, ela é como uma irmã para mim (N/A: Irmã? Sério? Deve ser uma fraternidade no estilo deuses gregos, porque né...). Não posso aceitar que ela fique com a pessoa errada, o amor nos prega peças complicadas demais ás vezes.

Era a minha hora de fazer a vigia. Kat havia dormido mais cedo alegando estar cansada. O selo da Capital brilhou no céu chuvoso e o hino começou. Estiquei a cabeça para ver as baixas pela fresta das pedras. Com o movimento Katniss abriu os olhos sonolentos e murmurou:

- Não posso dormir com você se mexendo, D4. Ninguém morreu hoje.

- Katniss. – chamei vendo a foto de Thresh iluminar o céu.

- Eu estou com sono, Jackson. Preciso de lugares calmos para descansar.

- Katniss. – tornei a chamá-la.

- O que foi? É proibido dormir agora? – ela resmungou.

- Katniss, Thresh foi morto. – falei de uma vez.

- O que disse? – ela perguntou exaltada e apareceu ao meu lado a tempo de ver o representante do distrito 11 aparecer pela última vez.

O hino cessou, e o som da tempestade continuou forte fora da caverna. Kat se sentou com uma expressão confusa no rosto. Sabia o que ela estava sentindo. Deveríamos estar tristes ou felizes pela morte dele? Eu ficaria grato por ele ter deixado ela em paz no banquete, mas aquilo também significava menos um oponente para lutar.

- O canhão deve ter sido disparado junto com um trovão, por isso não ouvimos. – falei quebrando o silêncio que se instalara.

- Cato cumpriu uma parte da vingança. – ela murmurou – Imagino o porquê dessa luta ter demorado tanto.*

- Será que a aliança com Foxface havia acabado?** - perguntei mais para mim mesmo do que para ela. Imaginei também como a ruiva deve estar se sentindo agora, sabendo que ele está morto.

- Não sei. Mas acho que se estivessem juntos Cato já teria matado-a também. – ela falou baixo e abaixou a cabeça se recostando nas pedras.

- Você está bem? – perguntei ficando ao seu lado.

- Estou. É só que... – ela parecia estar perdida com as palavras – É só que eu gostaria que Thresh ganhasse caso não conseguíssemos.

Passei um braço pelos seus ombros e falei:

- Eu te entendo, Catnip. Mas olhe pelo lado bom, estamos um passo a menos de casa. E Cato deve estar machucado, já que Thresh não iria sucumbir sem uma luta.

- Ele irá nos caçar, Percy. – ela murmurou.

- E nós estaremos preparados para ele. – falei e beijei o topo de sua cabeça – Agora volte a dormir, aparentemente interrompi seu sono de beleza.

Ela me mostrou a língua e voltou a dormir rapidamente. Sorri vendo ela falar enquanto dormia, aparentemente ela brigava comigo até em sonhos já que eu ouvi meu nome umas três vezes. Sem pensar muito, desmanchei a trança de seu cabelo e fiquei acariciando seus fios escuros. O cabelo dela era bem mais comprido antes dos Jogos, o grande incêndio havia queimado a maior parte, deixando ele um pouco abaixo dos ombros. Nunca falei, mas ela fica muito mais bonita de cabelo solto. A deixa com uma aparência mais jovem e menos séria do que com aquela trança.

Passei cerca de duas horas fazendo o mesmo movimento de acariciar seu cabelo, nunca me cansava. Meus movimentos a despertaram, ela viu o que eu estava fazendo e fez uma careta.

- Não gosto de ficar com o cabelo solto. – ela disse.

- Seu cabelo é tão lindo – falei ainda analisando os fios castanhos em minha mão – Se eu fosse uma garota estaria me corroendo de inveja.

- Isso soou estranho para um garoto dizer, D4. – ela falou escondendo o riso. ***

Franzi a testa e perguntei:

- Por quê?

Ela revirou os olhos e disse:

- Lerdeza parou e ficou. Percy, em outras palavras você acabou de falar: “Amiga, que cabelo lindo o seu! Estou morrendo de inveja!” - ela falou com uma voz tão aguda que eu comecei a rir já no meio da frase – Resumindo: pareceu uma menina, para não dizer outra coisa.

Sorri de lado e falei em seu ouvido:

- Você sabe muito bem em que time eu jogo, Catnip.

- E saiba que você não me conquista nem um pouco com esses sussurros no ouvido. – ela se virou olhando bem nos meus olhos. – Eu prefiro ações ao invés de palavras. – dito isso ela me deu um selinho rápido e continuou sorridente: - Fica a dica.

Fiquei parado no lugar por alguns segundos até conseguir falar:

- Você acabou de me dar um conselho sobre como te conquistar?

- Nossa! Até que foi rápido dessa vez! – ela falou rolando os olhos – Sim, D4. Eu acabo de dizer como quero ser tratada. Problemas?

- Não, mas o certo é o garoto descobrir do que a garota gosta.

- Ops, acho que dei spoiler. *² - ela disse fingindo se sentir culpada. – Me desculpe por isso. Pelo menos agora você já sabe. Quer me deixar feliz? Palavras podem não ser suficientes. Eu gosto de ver o que você faria por mim. – ela disse sorrindo.

Suspirei e falei:

- Eu definitivamente estou acabando com a sua pureza pouco a pouco, Kat.

Ela ficou emburrada e falou:

- Pare de falar assim! Meu rostinho de anjo é coisa de família, sabe?

Pensei por um tempo e achei a oportunidade perfeita para incomodá-la.

- Sabe, não é difícil imaginar. Já pensou: uma garotinha, de pele oliva, cabelos castanhos, olhos verdes, com essa sua carinha de anjo, correndo com a gente na praia. Ela ia gostar de comida azul e também de caçar como você. Chamaríamos ela de Zoe. Zoe Everdeen Jackson.*³

Ela ficou me encarando por um tempo até dizer:

- Talvez eu já tenha te falado isso, D4. Saiba que eu pretendo nunca me casar, justamente para não correr riscos de ter um filho. Não me perdoaria ao trazer uma vida para um mundo como esse, com riscos de ser sorteado na colheita.

- Apenas pense. Poderíamos ser felizes, uma família.

Ela negou com a cabeça e apertou a minha mão.

- Além do mas, eu imagino a sua filha de outro jeito. Cabelos dourados, pele bronzeada, olhos verdes. O bom humor do pai e a sabedoria da mãe. – ela sorriu no final. – Uma bela família.

Eu já ia dizer algo sobre aquilo, mas ela continuou:

- Eu já estou bem descansada, posso continuar a vigília a partir de agora. Está com sono?

Foi só quando ela disse que eu me dei conta do quanto precisava dormir. Passei metade da madrugada em claro. Katniss riu quando eu passei a mão pelos olhos e bocejei.

- Acho que isso é um “sim”. – ela me deu um beijo na bochecha e falou – Durma, precisamos estar fortes para enfrentar Cato.

- Um dia aprofundaremos mais essa conversa, Kat. Guarde essas palavras. – falei me deitando, a tempo de ver ela mordendo o lábio inferior e pegando os óculos de visão noturna.

Minutos depois eu caí no sono, com sorte eu estaria longe dos pesadelos de semideuses.