-Prontas?

-Não!- gritou Lily, o cabelo ainda cheio de bobes, enquanto expulsava Molly de dentro do banheiro e eu e Roxanne ríamos enquanto acabávamos de fechar as sandálias.

Victorie colocou as mãos na cabeça, em desespero:

-Por que só Dominique e Roxanne estão prontas? POR QUÊ?

Eu levantei o olhar, encarando a minha irmã:

-Talvez porque você passou o dia inteiro escolhendo nossas roupas, e nós tivemos exatas duas horas para nos arrumar?

-E a Dominique só entrou no banheiro primeiro porque estuporou eu e a Molly.- respondeu, arrumando o vestido roxo- Por que eu sempre uso roxo?

-Você escolheu roxo- Victorie gritou, respirando fundo depois- Tudo bem, eu vou inventar uma desculpa. Roxy, Dominique ajudem essas enroladas aí.

-Por que nós temos que ficar aqui e ajudar? E se o Dan desistir de me esperar? Depois de todos esses anos em Hogwarts eu finalmente desencalhei e...

Minha querida e paciente, além de educada, irmã, bateu a porta. E provavelmente trancou. Ótimo. Como se nós pudéssemos ajudar em alguma coisa além de fechar zípers e maquiar uma a outra. Além de aguentar o desespero e esperar que alguém venha nos salvar.

-Acabei, acabei!- comemorou Molly- Rose, você é a próxima?

-Ah, quem sabe meia-noite eu consiga ficar pronta, a Lily demora meio ano dentro desse banheiro. - reclamou, mexendo no aparelho trouxa que Hermione faz seus filhos usarem, um celular. Sinceramente, tia Hermione é uma exagerada, mas deve ser por causa de toda essa história da guerra e tal. Não que eu ache que comensais da morte vão voltar a aparecer por aí, a não ser no Halloween, e como fantasias, não como... bem, comensais de verdade.

-Um celular!- gritou Molly, que estava sentada ao meu lado- Podemos ligar para alguém.

-Ninguém tem um desses, só o Hugo- eu comentei, suspirando. - Estamos trancadas na própria festa. Pelo menos, até Victorie achar que podemos todas sair arrumadas e sorridentes.

Rose pegou o celular, sorrindo e jogando o vestido dela em cima da cama:

-Mas essa casa tem um telefone. Foi minha mãe que mandou instalar, na verdade, mas isso não importa.

-Rose, você está salvando o dia!

-E o seu encontro- Roxanne se intrometeu, cutucando Molly, que riu. E as duas ficaram rindo pateticamente enquanto Rose revirava os olhos de novo e discava o número.

-Eu não tenho um encontro.

-Qual é, Dominique, nós sabemos. Na verdade, estava demorando muito. Vocês são muito dramáticos, de verdade- Molly disse, baixando a voz, enquanto Roxanne ainda ria e Rose gritava com alguém no telefone. - Todo o fã-clube sabe disso.

Eu encarei o espelho. Elas estão erradas. Não estão? Quer dizer, aquele beijo definitivamente foi um erro, mas eu não posso dizer que foi ruim. Mas as coisas são só complicadas demais sem essa gente toda se intrometendo. E eu nunca percebi que tínhamos um fã-clube que torcia para que ficássemos juntos.

-Que história é essa de “fã-clube”?- perguntei, voltando a encarar as duas traidoras que nunca me contam nada naquelas cartas malucas.

Elas se entreolharam:

-James não contou? Desde que ele descobriu que Aaron só queria manter você na França, para ficar livre das duas “namoradas”, nós- Roxy apontou para ela e Molly-, com a ajuda da Makayla e da Lily, criámos um fã-clube. Era para ser um abaixo-assinado para você voltar, mas...

-E desde quando eu fiquei popular em Hogwarts?

-Desde que chegou ao baile com os dois garotos mais bonitos da escola, e depois foi para Beauxbatons e vive aparecendo na coluna social do Profeta Diário com Elodie. A família dela é bem influente, você sabe.

Eu respirei fundo de novo, balançando a cabeça com força. Felizmente, meu cabelo estava solto e em cachos dessa vez, e não preso. Depois, ri.

-Isso só pode ser brincadeira.

Mas ninguém me respondeu. Lucy apareceu na porta, com um olhar travesso e um grampo de cabelo na não. Ninguém nunca diz que ela é filha do certinho (e chato) do tio Percy.

-Pronto- disse, sorridente. Atrás dela, Louis deu tchauzinho- Vocês me devem uma.

-Não te devemos nada, pirralha- respondeu Molly, irritada com a irmã mais nova, que apenas riu.

Lucy mostrou a língua e saiu correndo. Louis entrou no quarto, e fez uma careta.

-Não gostei desse vestido. Você parece muito... adulta, Dominique.

Ri de novo, e apertei as bochechas dele antes de bagunçar seu cabelo.

-Acho que é isso que acontece, sabe. Eu estou quase adulta, você finalmente está em Hogwarts e parou de pentelhar todo mundo...

Ele fez outra careta e saiu reclamando como irmãs são chatas. Essas coisas de sempre. Lucy continuava encostada no corrimão, por sua vez, reclamando que não tinha nenhum para o baile.

-Até a Roxanne tem um par e eu não!

Ignoramos o comentário, e seguramos o braço de Roxanne, enquanto finalmente Lily saia do banheiro, sorrindo e cantarolando. Rose a encarou brava, e eu resolvi sair dali o mais rápido possível. Ninguém se mete na briga das duas.

Nas típicas conversas irrelevantes, descemos as escadas, com um pouco de medo do que Victorie faria quando nos visse. Não que eu estivesse preocupada com que ela pensaria de mim, claro.

Todos os garotos que seriam nossos pares estavam despreocupadamente rindo e conversando no pé da escada principal, em frente ao salão que tínhamos arrumado ontem. Era completamente estranho ver todo mundo tão arrumado. Mas eu não estava preocupada com o terno verde e roxo do Fred, nem com os produtos da Gemialidades Weasley que Hugo e Alvo estavam segurando. E sim com a pessoa despreocupadamente encostada na parede, brincando com um pomo de ouro. Esqueci completamente que devia perguntar alguma coisa a ele.

-Hey, Potter.

Ele se virou depressa, quase se desequilibrando e quase deixando o pomo escapar.

-Dominique?

Revirei os olhos:

-Não, uma miragem. - eu ri, mudando o peso de uma perna para a outra. Saltos ainda me machucam, sabe? Isso nunca vai mudar.

James sorriu, parecendo completamente lindo, com sua gravata borboleta desamarrada e o cabelo bagunçado que herdou do pai.

-Vermelho?

-Bem, não é que eu goste de me gabar, mas sou uma das poucas Weasleys que pode usar essa cor sem parecer monocromática. Vão te matar com essa gravata aí.

Ele deu de ombros e estendeu o braço:

-Eu não ligo. Você liga, senhorita certinha?

-Ah, claro que não. Idiota.

-Mais educação, estamos entrando. - ele interrompeu, piscando e sorrindo para a câmera- Essa vai para o Profeta Diário.- cochichou, enquanto tia Gina nos encarav, os olhos cheios de lágrimas, e acenou.

-Sua mãe parece empolgada.

-Ela sempre está. Só espero que não comece a falar que... você sabe.- ele olhou para o outro lado e me puxou até uma das mesas cheias de comida.

-Tá, eu sei sim. - respondi, virando a cabeça e pegando qualquer coisa para comer. O que, apesar de tudo ainda sou uma Weasley. Weasleys amam a comida mais do que tudo no mundo.

Molly chegou, acompanhada de Josh, tão sorridente que eu cheguei a pensar que seus músculos do rosto nunca seriam os mesmos:

-Domi, esse é o Josh... Josh, essa é a Dominique. E o James... o James você já conhece.- completou, nervosa, e olhando para as unhas.

James e Josh se fuzilaram com o olhar, Molly encarava o chão e Fred a encarava do outro lado do salão, enquanto Makayla balançava a cabeça. Espera, Fred e Molly? O que foi que eu perdi? Muita coisa, com certeza. Ela ainda ia me explicar isso direitinho... Como assim, todo mundo sabia sobre a minha vida amorosa e ninguém compartilhava as suas próprias?

-Infelizmente- Josh disse, entre os dentes, e depois se voltou para mim- Como pode ter vindo com ele? Sempre achei que parecia tão legal...

Molly riu, sem graça, e puxou o pseudo namorado para longe dali. Encarei James confusa, enquanto aquele babaca gargalhava.

-Pode me explicar o que foi isso?- ergui uma sobrancelha, e ele me puxou para uma mesa.

Deu um típico sorriso de quando tem algum plano. E isso nunca é bom.

-Dominique, Dominique...- ele sorriu de canto, de novo- Você sabe como são as coisas no quadribol. Ele é o apanhador da Corvinal. Ganhamos de lavada deles no último jogo, porque eu estava num dia inspirado e...

-Quer dizer, tinha ficado com algumazinha na noite anterior- revirei os olhos, já conhecia essas histórias de cor, graças as minhas fofoqueiras preferidas, Lily e Makayla.

Ele me ignorou, como sempre:

-E mesmo a Corvinal tendo pegado o pomo, nós vencemos. Portanto, o patético do Josh “jurou vingança”.

Joguei meu cabelo para o lado:

-Então, entendi. Mesmo que ainda ache que levam esportes muito a sério. Mas eu entendo, na verdade, o que é estranho. - balancei meu copo, enquanto começávamos um assunto qualquer.

Um resumo das primeiras horas: Lily correndo atrás de Hugo, e depois o arrastando até uma mesa. Makayla e Fred, provavelmente armando alguma. E eu e James apenas conversando bobeiras, como se tivéssemos dez anos de novo. Antes de toda essa, hã, coisa começar. Era bom, mas era como se algo faltasse. Não que eu estivesse reclamando, estava bem divertido rir dos vestidos espalhafatosos dos convidados e de Rose e Scorpius brigando (eles se amam).

Nada, nada me alertaria que aquela aparentemente simples noite ainda ia render. Muito.