Encaro sem coragem a porta do escritório de minha mãe. Ela está lá dentro faz horas e não vai sair tão cedo. Decidi vir à empresa de meus pais para falar com ela sobre a detenção, o que não vai ser fácil.

Finalmente arranjo um pouco de coragem e bato na porta.

- Entre – escuto uma voz abafada pela porta

Essa voz é de minha mãe, que está sentada a mesa, de olho no computador digitando rapidamente.

Ela se surpreende quando levanta o olhar.

- Katniss? – diz – O que faz aqui?

- Preciso falar com você – digo a minha mãe

Ela arqueia a sobrancelha.

- O que aconteceu? – pergunta

Dou-lhe um sorriso amarelo.

- Umas coisas...

Ela fechou o notebook onde trabalhava e se virou para mim.

- Que tipo de coisas?

Suspiro e sento-me na cadeira na frente da mesa dela.

- Vou ser direta – digo – Levei uma detenção.

Minha mãe arregala os olhos e depois coloca as mãos na cabeça.

- Ah Katniss, de novo? – ela diz – Achei que tinha encerrado essa história de mau comportamento.

Fecho a cara.

- E encerrei! – digo usando as mesmas palavras dela

Ela ri sarcástica.

- Qual a razão da detenção então? – diz – A professora deu de presente?

- Não... – digo de cabeça baixa

Depois de alguns segundos em silêncio, minha mãe finalmente diz:

- Por que levou detenção?

- Estava trocando mensagens na aula – respondo

- Com quem?

- Peeta – digo baixinho

- Perdão Katniss, acho que não ouvi direito – diz minha mãe

- Com Peeta – suspiro

- Não posso acreditar! – minha mãe diz com raiva – Vocês estudam na mesma escola, na mesma sala e sentam perto! Por que estava trocando mensagens com ele?

- É complicado – digo, agora com raiva – Você não entenderia.

- É, acho que não entenderia mesmo coisas sem nexo. – diz ela friamente – Sempre arranjando um jeito de chamar atenção não é Katniss? Por que faz isso filha? Me diga, pois eu não consigo compreender!

- Não foi para chamar atenção! – protesto – Eu precisava resolver uma coisa com ele!

- Não podia simplesmente virar para trás e conversar? – devolve ela

- A professora iria brigar! – rosno – Use o cérebro.

- E você achou que ela não iria brigar se os visse trocando mensagens? Ah por favor Katniss! – diz

- Por que tem que ser sempre tão incompreensiva? – grito – Nunca sequer tenta entender o meu lado!

- Muito pelo contrário! – diz minha mãe que grita também – Sempre tento compreender você, e olhe só o que acontece? Sempre acaba fazendo coisas erradas!

- Não faço sempre! – grito de volta e me levanto – Se não se importa, agora eu vou para casa, tchau.

Viro-me em direção a porta e abro.

- Katniss volte aqui! – grita minha mãe – Não terminamos ainda!

- Tchau mamãe. – digo seca

Fecho a porta com força e saio correndo para casa.

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- Ela nunca entende nada! – digo para Madge e Clove – É sempre “Não faça isso, Katniss”, “Pra que precisa tanto de atenção, Katniss”, “Você é um atraso de vida, Katniss”.

- Não lembro de ela ter dito essa última frase... – resmunga Clove

- Tenho certeza de que ela disse isso para o seu bem Kat – diz Madge – Você não pode ter mais detenções, ou suas notas despencam.

Resmungo frustrada.

- O pior é que eu sei – digo

- Se quiser ajuda, posso passar na sua casa amanhã e ajudo você a estudar! – diz Madge

- É, eu passo lá também e ajudo você em inglês e filosofia! – diz Clove entusiasmada

- Obrigada meninas – digo dando um abraço nas duas – Vocês são as melhores.

As duas dão risada e correspondem ao abraço.

O sinal toca, avisando que temos que entrar.

- Vamos Kat, você têm que ser a partir de agora uma aluna exemplar – diz Madge me puxando para a sala de aula

Vamos correndo para a sala e acabo trombando com Glimmer e seu bandinho: Cashmere e Enobaria, o trio piranhesco.

- Olhe por onde anda, Everdeen – rosna

- Olho para onde quiser, Rambin – digo venenosa – Se quiser me dar licença, preciso ir para a aula.

- Espero que tenha considerado minha proposta – diz ela

- Já lhe dei minha resposta – reviro os olhos – Seu cérebro é tão pequeno que não consegue processar nem isso?

- Seria tão mais fácil se você aceitasse... – diz ela

- Tenho até pena de você! – diz Cashmere

Sorrio cínica e digo apenas:

- Que medo de loiras oxigenadas e de salto alto! – digo e tenho uma idéia – A propósito, vocês não deveriam usar isso na escola.

Dito isso, eu apenas estico o dedo mindinho em direção a elas e as mesmas recuam, escorregando no chão molhado do corredor.

Glimmer olha dos saltos dos sapatos de última linha quebrados a mim.

- Você.me.paga. – rosna Glimmer

- Como já disse, não tenho medo de você Rambin – digo venenosa – Tchauzinho.

E saio andando pelo corredor acompanhada de Clove e Madge rindo diabolicamente.

- Não acredito que você fez isso! – diz Madge – Como sabia que o chão estava molhado?

Rolo os olhos.

- Olhei a placa né Madge? – digo

- Ah, é – diz ela encabulada

- Enfim – diz Clove – Temos que fazer isso de novo!

Torço o nariz.

- Por causa dela nos atrasamos para a aula – bufo irritada

Clove olha o relógio.

- Perdemos só 5 minutos – observa – E é a aula da Paylor, ela é super legal.

Madge pega nós duas pelas mãos.

- Vamos, ainda dá tempo – diz ela correndo

Saímos feito louca em direção a sala de aula e quando entramos atraímos todos os olhares possíveis.

Não ligo e vou para meu lugar ao lado de Peeta, dou-lhe um beijo na bochecha e recebo um abraço apertado em troca.

Glimmer e seus cachorrinhos não estão na sala, provavelmente no vestiário se arrumando para próxima aula e tentando achar algo para por nos pés, já que quebrei os sapatos delas.

Entrelaço as mãos dele nas minhas por debaixo da mesa discretamente e ele me lança um sorriso.

- Senti sua falta – ele sussurra perto de meu ouvido

Nem preciso comentar que fiquei toda arrepiada né?

A professora começa a dar aula enquanto eu e Peeta conversamos e ficamos enchendo o saco de Cato e Clove, que estão na carteira da frente.

Quando Clove está pensando seriamente em enfiar uma faca em nosso cérebro o sinal toca, avisando que a próxima aula é de Educação Física.

Como de costume, os meninos e meninas são separados. Meninos vão jogar futebol americano e as meninas vôlei.

Eu odeio vôlei, mesmo sendo uma das melhores do time.

Já estou pensando em jogar “sem querer” a bola na cara da Glimmer quando a professora diz que nós vamos correr ao invés de jogar. Todas protestamos, mas essa é a palavra final.

- Que droga – digo irritada

Coloco a roupa de ginástica, um shorts vermelho, um moletom braco e prendo o cabelo em um rabo de cavalo alto.

Clove e Madge estão iguais a mim, tirando o fato de que Madge usa duas tranças ao invés de rabo de cavalo.

- O que estão esperando? – pergunta a professora – Corram!

Depois de estarmos bem longe dela decido falar:

- Parece que a alguém está bem irritadinha hoje – resmungo

- Ninguém merece – Madge diz, com a respiração entrecortada – Ela deve ter acordado com o pé esquerdo hoje.

- Ela é um saco – comenta Clove – Quando vamos ter uma treinadora descente?

- Se nos apressarmos e completarmos todas as voltas rápido podemos ir ver os meninos jogando – sugere Madge – É bem mais interessante...

- Cato vai brigar comigo se eu olhar para os outros – Clove diz

- E Peeta então... – digo

- Mas eu sou descompromissada! – diz Madge rindo – Posso olhar para quem eu quiser!

- De preferência para um certo moreno forte não é? – digo, fazendo Madge corar

- Não sei do que estão falando...

- Começa com Gale e termina com Hawthorne – diz Clove rindo

Madge nos dá tapas e corremos mais rápido.

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Finalmente demos todas as voltas pela pista de corrida e fomos liberadas para ir ao vestiário.

Pego minha toalha e me dirijo aos chuveiros para tomar uma ducha, estou me sentindo nojenta.

Tiro a roupa toda suada e tomo um banho rápido, saio e pego minhas roupas, que deixei sabiamente trancadas dentro de meu armário. Mas a sábia não é tão sábia assim, porque a chave está com a Clove.

- Ótimo... – resmungo

Procuro por Madge e Clove pelo vestiário, mas elas não estão lá. Decido gritar.

- Madge! Clove! Me respondam!

Depois de um tempo no vácuo, ouço a voz de Madge se aproximando.

- Oi Kat – diz ela finalmente aparecendo – Desculpe, fomos para o outro vestiário porque esse tava meio nojento.

- Não achei – digo

- Porque o que você entrou era o único decente – diz – Clove deixou isso comigo, acho que você está precisando.

Pego a chave.

- Obrigada – digo – Fica por aqui ta legal? Para o caso da Glimmeranha aparecer.

Madge dá risada.

- Aquela lá só sai da pista de corrida amanhã.

Visto minhas roupas e nós duas encontramos Clove lá fora.

- Vamos? – diz ela

- Claro – respondemos em uníssono

Vamos até o campo conversando sobre coisas banais e paramos quando vejo uma cena que faz minhas orelhas esquentarem.

Glimmer está conversando com Peeta, avulso aos outros jogadores. Ela ri e enrola o cabelo, numa tentativa desesperada e ridícula de tentar seduzir o meu namorado.

Ela abraça Peeta, que solta-a rapidamente, percebo que ele dá uma desculpa e entra de novo em campo.

- Cretina, maldita, piranha – digo – Ela vai morrer!

Começo a correr em direção a ela, mas sinto um puxão.

- Não vale à pena – diz Clove – Fique onde está. Glimmer só que te provocar.

- E você viu o Peeta que fofinho? Se desfez do abraço dela! – já disse que a Madge acha TUDO fofinho?

- Tanto faz – digo me sentando irritada no gramado

- Vocês dois vão ficar o dia inteiro juntos, na detenção – diz Clove – Não vai ser tão ruim assim.

- Obrigada por lembrar Clove – a fuzilo com os olhos