Acordei com um barulho agúdo, Quíron estava avisando que a inspeção de chalés já estava para começar.

Abri os olhos, e um pedaço de papel estava em cima de mim. Era uma carta, ela tinha aroma de flores silvestres.

Arqueei uma sombrancelha e abri cuidadosamente, dentro dela havia um papel cor-de-rosa. No papel havia algo escrito em uma cáligrafia perfeita, apertei os olhos para facilitar a leitura.

"Espero que goste da surpresa, da próxima não se meta comigo... "filha de Zeus". Abraços, Drew."

Fiquei sem reação, tinha esquecido a briga entre eu e Drew na noite passada. Tentei não pensar o que aquele Projeto Pink teria feito comigo, já que estava óbvio demais. Me levantei correndo até o banheiro.

Fui na frente do espelho e olhei relutante. Eu estava com uma maquiagem do tipo exagerada, o batom extremamente rosa flourescente na boca, com a sombra azul e rosa nos olhos, meus cílios estavam super delineados, e as bochechas tão vermelhas que parecia pinceladas de tinta. Liguei a torneira e enchi as mãos de água e comecei a esfregar no rosto, mas nada funcionava.

O sangue subiu a cabeça. Gritei vários palavrões em Grego. Voltei ao quarto pisando pesado e chutando tudo que estava na minha frente, comecei andar de um lado para o outro.

— O que eu faço?! Vamos lá Thalia... — Pensei.

Rápidamente corri para a gaveta onde eu guardava maquiagens que eu de vez em nunca usava. Vasculhei por alguns segundos, e encontrei uma base, ela parecia escura demais para a minha pele. Joguei a base em um canto da gaveta, tentando achar algo que eu ficasse menos com cara de palhaça. Encontrei um pó-de-arroz, a cor era perfeita para a minha pele, já que eu era tão branca que parecia uma fantasma.

Voltei para o banheiro e comecei a passar o pó-de-arroz no rosto, começou a funcionar. Fechei os olhos para passar mais um pouco, e logo quando abri denovo me assustei. Eu estava tão branca quanto o banheiro, parecia que eu era um tipo de fantasma. Meus lábios estavam menos rosa, isso fez um milagre.

— Melhor assim do que antes. — Murmurei para mim mesma.

Ouvi três batidas na porta.

— Thalia? — Disse uma voz feminina, pude reconhecer que era Piper.

— Puta merda! — Resmunguei.

Peguei um bolo de roupas minhas e joguei no banheiro, fechando a porta rapidamente. Pulei na minha cama entrando debaixo das cobertas.

— Pode entrar! — Gritei. — Eu não estou capacitada para levantar hoje...

Ela abriu a porta, e olhou em volta. Ah para, meu chalé não estava tão ruim assim, só estava meio empoeirado e minha cama desarrumada. Piper virou a cabeça um pouco para tentar me ver, me escondi ainda mais nas cobertas.

— O quê você tem? — Perguntou.

— An... ér... — Pensei em algo rápido. —... eu quase me afoguei na banheira ontem.

Essa foi a coisa mais estúpida que eu poderia dizer. Ah, eu estou de cama por causa que eu quase me afoguei na banheira ontem a noite.

— Tudo bem, nota 5. — Ela suspirou. — Só porque você raramente está no chalé.

Murmurei um "Obrigada", sem esperar a resposta dela pois provávelmente ela não ouviu.

Respirei fundo aliviada. Logo sai de debaixo das cobertas, sentando na beirada da cama. Resolvi que não iria sair do meu chalé até que essa maquiagem saísse de minha cara. Peguei meu ipod, e meus fones de ouvido. Deitei na cama por cima das cobertas, colocando os fones de ouvido com volume no máximo, liguei a música Oh Love do Green Day.

"Oh love, oh love

Won't you rain on me tonight?

Oh life, oh life

Please don't pass me by

Don't stop, don't stop

Don't stop when the red lights flash

Oh ride, free ride

Won't you take me close to you?..."

Suspirei e comecei a cantar o refrão baixinho.

"Far away, far away

Waste away tonight

I'm wearing my heart on a noose

Far away, far away

Waste away tonight

Tonight my heart's on the loose..."

Senti uma fisgada no estômago, derrepente tudo do passado voltou. A Thalia de hoje não era mais tão durona, punk, e intimidadora. Eu tinha mudado, claro, todos mudam. Mas isso foi uma mudança radical demais.

Fechei os olhos e entrei no ritmo da música. Derrepente me senti desconfortável, pois uma luz veio na minha cara.

Quando abri os olhos, a porta do meu chalé estava aberta. E um garoto com os cabelos negros e olhos da mesma cor, estava me fitando. Nico Di Ângelo.

Levantei em um pulo, resultando em meu ipod caído na cama, e meus fones arrancados dos meus ouvidos. E levei uma mão até o peito assustada.

— Di Immortales! — Falei sem fôlego.

— Thalia, Quíron mandou avisar que você está perdendo a aula de... — Ele não conseguiu terminar.

Nico permaneceu em silêncio me olhando dos pés a cabeça. Bem, eu estava de pijama e parecendo um zumbi de tão branca, tirando o meu cabelo que devia estar um ninho.

Ele parou o olhar no meu rosto.

— Thalia... você está bem? — Ele olhou com os olhos arregalados. — Quando olhei para a sua cara, pensei que você já estava no tártaro.

— E-eu... — Bufei.

Ele me olhou confuso.

— Bem, eu acordei maqueada. — Suspirei. — Ai eu tentei fazer desaparecer um pouco, e... é isso ai.

Ele tentou segurar o riso, mas acabou deixando escapar uma gargalhada muito alta. Só que depois da gargalhada ele continuou rindo.

Fuzilei-o com os olhos, enquanto ele ria sem parar. Me aproximei dele, e dei-lhe um soco em seu estômago.

— Ai! — Ele gemeu, levando a mão até o estômago. — Desculpa!

Revirei os olhos irritada.

— Vamos lá, me ajude a tirar isso da minha cara. — Resmunguei.

Fui até o banheiro, Nico logo me seguiu.

Peguei a esponja e umedeci na água, olhei no espelho e comecei a esfregar no meu rosto frenéticamente. A única coisa que saiu foi o pó-de-arroz, mas a maldita maquiagem de Drew não saía de jeito nenhum.

Nico observava.

— Calma ai, você está quase arrancando a pele do seu rosto. — Ele disse, tomando a esponja de minha mão.

Nico puxou o meu braço para que eu virasse para ele.

Ele levou a esponja até o meu rosto, e começou a esfregar de leve. Eu apenas o observava. Nico era alguns centímetros mais alto que eu, e suas feições eram perfeitas.

Corri o perigo em olhar em seus olhos, enquanto ele passava a esponja no meu rosto.

Seus olhos negros eram intimidadores, vingativos e frios. Ele tinha um olhar onde eu só vi em uma pessoa: Luke Castellan. Um frio esquisito percorreu o meu corpo logo quando pensei isso.

— Pronto. — Ele sorriu torto, me trazendo de volta ao mundo.
Olhei de volta ao espelho, meu rosto estava como antes, nada de maquiagem. Eu era de volta a mesma Thalia. Toquei o meu rosto só por curiosidade, e fiquei me observando por alguns segundos.

— Como você conseguiu? — Voltei a olhá-lo com os olhos arregalados.

— Hã... um pouco de paciência? — Ele deu de ombros.

Nico abriu um sorriso, e fixou seus olhos nos meus. Seus olhos eram tão profundos que chegavam a ser amedrontadores, a pele pálida era totalmente o oposto de seus olhos.

Desviei o olhar e olhei para o chão, sentindo minhas bochechas queimarem.

— Ok, obrigada. — Suspirei. — Agora saia de minha frente, porque as caçadoras já devem estar a minha espera. Ele assentiu.

— Nos vemos logo. — Disse saindo de porta a fora.

Olhei de volta para o espelho, eu estava confusa. Porque eu me sinto assim perto de Nico? Eu sou uma caçadora! Eu tenho que parar com essas bobeiras estúpidas de amor. É só ilusão.

— É só ilusão. — Repeti várias vezes em meus pensamentos.

Saí do banheiro e olhei no relógio. Eram 17:43, já estava anoitecendo e eu não estava nem um pouco cansada.

— Thalia! — Gritou uma garota, ela estava na porta de meu chalé. Dei um pulo de susto, era Dianne.

Acho que ninguém sabe bater na porta nesse acampamento.

Ela riu. E sentou na ponta de minha cama.

— O quê o Di Ângelo estava fazendo aqui? — Perguntou abrindo um sorriso malicioso.

— Hã... nada, ele só veio trazer um recado de Quíron. — Peguei algumas roupas que estavam espalhadas pela cama, colocando-as dentro da mochila.

Seu sorriso se alargou.

— Você não presta mesmo hein? — Suspirei, olhando para ela irritada. — Não me faça mais perguntas desse garoto.

Dianne se reprendeu, mas acabou assentindo relutante.

— Vamos para o jantar, né? — Perguntou.

— É claro.

Dianne ficou em silêncio enquanto eu organizava a bagunça que estava o meu chalé.

— Sabe, acho que Ártemis deve ter mandado algo para mim. Vou lá perguntar para Quíron se Hermes trouxe algo por aqui. — Ela disse quebrando o silêncio. — Tomara que seja paçoca. — Seus olhos brilharam. — As minhas acabaram ontem, e eu tive que roubar de um novato.

— Voltando as raízes Dianne? — Perguntei.

Começamos a rir, não era atoa que Dianne tinha sangue de filha de Hermes.

Ela saiu correndo do chalé sem ao menos dizer alguma palavra.
Suspirei, e peguei o último punhado de roupas colocando-as na cômoda. Agora o quarto estava mais aceitável do que antes, sem poeira e sem roupas espalhadas pela cama inteira. Corri até a mochila e peguei minha camiseta da banda Green Day, e uma calça jeans velha.

Fui ao banheiro, e me olhei no espelho, já estava bem melhor tirando ao incidente da Projeto Pink, que graças ao Di Ângelo, aquilo não estava mais no meu rosto. Troquei de roupa, e ajeitei um pouco os meus cabelos negros.

Minha barriga roncou, me convenci que finalmente eu teria que comer algo.