Colorblind escrita por HeyWonderland


Capítulo 10
Hypoesthesia




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/250219/chapter/10

Abri os meus olhos, que pareciam se machucar com a luz. Anny estava parada ao meu lado, de pé.

– Bom dia! - Eu me levantei devagar. Minha cabeça já doía um pouco, mas nada que não fosse normal para mim.

– Fuga com lençóis. - Anny revirou os olhos. - Não inventaram nada melhor?

Eu apenas sorri.

– Ele veio. - Eu disse com um sorriso, que se desmanchou assim que comecei a sentir um formigamento rápido nas pernas. Logo em seguida, percebi que minha sensibilidade estava diminuída, ao ponto de quê, se eu cortasse meus braços, eu não sentiria nada. Toquei meus lábios, nada. Minha pele estava com defeito hoje.

– Algum problema? - Anny me olhava atenta.

– Acho que é um surto. - Eu serrei meus lábios. Bom, ao menos eu não iria precisar da minha amiga cadeira. - A noite quente de ontem talvez não tenha sido uma boa ideia.

– Foi uma ótima ideia, Ally. Deite-se de novo, vou trazer seu café aqui, e seus remédios também. - E foi o que eu fiz, enquanto Anny sumia pela clínica. Deitei e fiquei fitando o teto branco de sempre, sem sentir nem mesmo o vento batendo em mim. Fechei os olhos, esperando que aquilo tudo passasse. Eu odiava esses surtos. Odiava essa doença.

Não há nada no mundo pior do quê ser ou estar doente. Há tantas pessoas pelo mundo afora, jogando suas vidas no lixo porque se sentem "injustiçadas" por não terem tanto dinheiro quanto gostariam, por não namorarem quem acham que deveriam namorar... E tudo que eu queria era ficar curada. Eu nunca, nunca mais reclamaria de um só segundo da minha vida que fosse.

Escutei o barulho da porta e abri os olhos. Esperava Anny, com meu café e uma pilha de comprimidos, mas fui surpreendida com corredor vazio e uma voz, que encheu todo o quarto.

Should I stay or should I go?

– No vocal: Harry Grades! - Eu disse num ar divertido, enquanto me sentava um pouco mais para cima na cama. Ele entrou e parou na porta, me olhando.

– Você ainda está ai, dorminhoca? - Harry usava uma camiseta dos Ramones. Eu apenas sorri.

– Na verdade... É um surto. - Eu serrei os lábios. Serrar os lábios é uma mania bem chata que tenho, quando não há mais o que falar.

– Droga! É culpa minha? - Ele se sentou ao meu lado na cama.

– Claro que é, Grades. - Dei um soco leve no seu braço. - Cala a boca. Logo isso passa. Afinal, é para isso que eu vivo aqui, não é?

Ele assentiu com a cabeça e sorriu.

– Acho que não sou muito bom com essa coisa de doença. – Ele respirou fundo. De certa forma, essa frase me preocupou. Minhas mãos tremiam, e Harry as segurou forte. - Bom, eu preciso trabalhar hoje, então, vim aqui apenas para uma coisa.

– E qual seria? - Eu sorri.

Harry inclinou seu corpo para mais perto de mim, de modo que eu não tinha como me mexer, nem se quisesse. A última coisa que vi foram seus olhos verdes se escondendo atrás das pálpebras, assim como os meus olhos acinzentados se esconderam nas minhas. E eu não senti nada.

Ele sorriu como uma criança ao se afastar de mim e eu ainda estava sem reação. Apenas o abracei.

– Passo por aqui amanhã! - Ele se levantou e saiu do quarto, acenando da porta antes de ir.

Não acredito nisso. Maldita doença, me impediu de sentir os lábios dele nos meus, quando era tudo que eu mais queria sentir


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!