Hello, Stranger escrita por Leh-chan


Capítulo 7
Olá, estranho




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/24988/chapter/7

:: CAPÍTULO 7 – Olá, estranho ::


[T
ora’s POV]


            Senti um movimento suave em minha cabeça, extremamente gostoso. Uma carícia delicada, que atentou minha curiosidade. Abri os olhos e me deparei com os grandes orbes castanhos de Hiroto olhando para mim distraidamente.

            – Te acordei? Me desculpa, eu... – Coloquei meu indicador na frente de seus lábios, sinalizando para que o menor fizesse silêncio. Notei que seu rosto estava quente, e ele logo abaixou a cabeça.

            Quer dizer que não havia sido um sonho... Então... Por que tudo isso aconteceu? Como aconteceu, afinal? Foi tão rápido... Tão... Irreal. Conheço o guri há menos de vinte e quatro horas e, neste tempo, já consegui sentir todo tipo de coisa por ele. Mas... Ele é só um estranho. Não é?

            – Não. – O interrompi. – Está tudo bem. – E o silêncio se instalou. Ele não queria me olhar nos olhos, evitava com todas as forças fazê-lo, mas sempre que eu me distraia, ele ficava me observando atentamente. Eu também me sentia um pouco tímido agora, mas mesmo assim, nenhum dos dois saia do abraço.

            Em meio à falta se som, um ruído finalmente se fez presente: o barulho de meu estômago clamando por comida. Helloooo, eu sou um homem, preciso me alimentar bem, não como um passarinho. O loiro riu baixinho, entendendo que era a deixa dele, então saiu de cima de mim e sentou-se, com as pernas cruzadas, levando meu terno consigo, que deixou sobre as pernas.

            Ele acendeu novamente a lanterna de seu celular, agredindo minha visão mal-acostumada. Um tempo depois, enquanto eu caçava as coisas dentro da minha maleta, ele anunciou:

            – São dez e trinta e sete.

            – Só isso?

            –... Da noite. – A revelação me chocou. Estávamos aqui, no mínimo, desde as nove da manhã.

            Peguei mais um sanduíche e uma das tortas, levando-as para um lugar mais próximo de Ogata, sentando-me de frente para ele, que fitava o chão. Dividi os alimentos pela metade e coloquei-os sobre meu paletó, que agora era uma toalha de mesa improvisada. Abri a garrafa de chá e cutuquei levemente o joelho de Hiroto, que só então notou que eu havia terminado. Sorriu sem graça e pegou uma das metades do pão, engolindo-o quase inteiro.

            
– Tora... Desculpa. – Ouvi sua voz dizer, baixinho.

            – Não se preocupe, já estava na hora de acordar, e além...

            – Não. – Me interrompeu. – Quero dizer... – Fitou o chão e começou a brincar com umas migalhas de pão que ali estavam. Parecia uma criança... Acho que sou pedófilo. – Por... Por tudo... Eu só queria arrumar um jeito de compensar por todo estrago que fiz... Só queria afastar seu medo... – Confessou. Afastar meu medo... Desde que ele havia me beijado e falado tudo o que falou, eu realmente fiquei mais tranquilo. Estar ali já não me incomodava tanto... Desde que eu não estivesse sozinho. Desde que ele estivesse aqui. Por que isso agora?

            Tateei até encontrar a mão dele, segurando-a com carinho, o mais puro e sincero. Ele me olhou, e eu não sabia nem o que dizer.

            – ‘Tá... ‘Tá tudo bem, Hiroto... Obrigado.

           – Hã? – Perguntou, mais confuso que nunca. Aliás, até agora, ele não havia aparentado confusão.

            – Obrigado. Você não é um menino mau... – Sorri. – Só precisa tomar jeito.

            – E aposto que você está doidinho pra me fazer tomar no jeito, né? – Cadê a criança inocente que estava aqui? Ô menino inconstante, viu... Mas eu nunca gostei de rotinas, de qualquer forma. Talvez eu quisesse introduzir mais “jeito” nele, numa outra situação mais confortável... Se nós sairmos daqui, claro.

            Parece que ele notou que eu fiquei hesitante, pois logo era ele quem acariciava minha mão.

            – Ei ei... Não fica assim. A gente vai sair daqui logo, e depois, você nunca mais vai precisar me ver... – Aquela frase me fez ficar temeroso. Eu... Não queria deixar de vê-lo para sempre. Só por umas horas, talvez. Férias, sabe como é...

            – Não fique tão esperançoso... Você ainda tem que pagar o conserto do meu carro. – Sorri. – E a gente pode sair para jantar, então você paga para reparar o dano que me causou por ter que refazer meus trabalhos. – Agora ele quem sorria.

            – Obrigado... – Respondeu-me, e de súbito, pulou em mim, fazendo-me cair deitado no chão, abraçando-me. Apertei-o com vigor contra mim e logo ele estava pegando meu terno para jogar sobre nós novamente, com pão e tudo. Não sei quanto tempo ficamos apenas trocando carícias em silêncio, mas depois de bastante tempo em silêncio, sua voz suave reapareceu.

            – Eu... Não me importo de mostrar o que tem no cofre, se quiser. É por isso que estamos aqui, no fim... – Fiquei surpreso. É fato que eu estou curioso, mas eu já fui muito idiota para um dia só.

            – Não... Isso só aconteceu porque você queria privacidade e eu não a dei.

            – Mas agora eu quero te mostrar. Vamos... – Falou, levantando-se de mim. Estava tão bom, tão quentinho... Hiroto estendeu sua mão, que eu aceitei, e então me ajudou a levantar.

            Caminhamos até aquele pequeno cofre. Ele se abaixou levemente na frente do mesmo e começou a girar o botãozinho codificado. Fiz questão de fitar outro lugar para não ver a senha, apesar de imaginar que fosse algo tão idiota quanto “123456”. Em pouco tempo, ele já abria a portinha. Começou a tirar um punhado de coisas e colocá-las na prateleira, ao lado da caixa-forte. Fez sinal para que eu me aproximasse.

            Eu poderia dizer que tinha qualquer coisa ali, menos o que eu vi.

            Uma boneca velha, um urso de pelúcia sem olho, uma chupeta rosa, alguns vestidos infantis... Uma série de coisas de meninas pequenas.

            – O quê...? – Nem me ouviu terminar a pergunta, já caminhava para aquele objeto coberto que eu vi mais cedo, tirando o pano de cima dele. Era uma pintura (agora a falta de luz fazia sentido. Hiroto ainda procurava não mirar a lanterna diretamente no quadro.) e tinha uma garotinha muito bonita, sorridente, por acaso, vestindo uma das roupas que ali estava e segurando o mesmo ursinho (só que ele estava mais novo).

            – Minha irmãzinha. Ela morreu. Costumavam haver mais coisas nesse cofre, mas minha mãe queimou tudo... É louca. E eu achei mais uma coisa lá em casa. – Tirou do bolso uma pulseirinha dourada e reluzente, colocando-a junto das outras coisas. – Só queria guardar aqui. Se deixasse lá, ela provavelmente encontraria e sabe-se lá o que faria. – Não sabia o que dizer. Como eu desconfiei dele quando...? Ele é mais fofo do que parece. Meio louco, obcecado... Mas fofo.

            Foi impossível resistir ao ímpeto: abracei-o por trás.

            – Me desculpa...?

            – Por quê?

            – Desconfiar de você...

            – Não precisa dizer isso. Afinal, eu sou só um estranho que bateu no seu carro e te pentelhou. Além do mais, este é seu trabalho. – Trabalho. Ele ainda era um estranho. Ainda estávamos dentro do banco. Parecia agora um universo paralelo. Será que ninguém se deu por falta da gente? Abracei-o mais forte e vi-o sorrindo, tristemente, enquanto recolocava as coisas no cofre.

            – Hiroto...?

            – Sim? – Respondeu-me, virando o rosto levemente para me ver. Virei-o completamente para mim, e sem pensar, uni nossos lábio. Um simples selo necessitado. Eu não sabia exatamente por que fiz isso. Fui eu... Não o loiro tarado. Na verdade, ele estava surpreso com isso, estático, mas logo se entregou. Separei-me dele rapidamente, e ele só me lançou um olhar indecifrável antes de virar-se de novo e voltar a guardar as coisas.

            Fui ignorado? Voltei para o lugar onde estávamos deitados antes. Agora que ele mantinha a luz do celular acesa, achei meus óculos, minha mala, minha gravata. Juntei tudo e guardei na bolsa, colocando-a no chão. Sentei-me, mas logo, optei por deitar, apoiando a cabeça na maleta. Quando ia pegar minha blusa para me cobrir, um par de mãos tomou-a de mim, se deitando ao meu lado e cobrindo a nós dois. Muito rápido, deu-me um beijo estalado nos lábios e apoiou a cabeça em meu ombro, aninhando-se. Afinal... Que tipo de ser é esse Ogata, huh? Deixava-me curioso sobre ele.  

-

           Mais tempo passado. O pequeno estava adormecido em meus braços agora, e eu continuava alisando seus cabelos tão cheirosos. Acho que depois de tanto tempo sozinho, estava carente. Por mais que a situação não ajudasse, eu só precisava que ele estivesse aqui para eu afofar. Um completo estranho? Acho que a gente conhece melhor as pessoas num cofre do que quando batemos nossos carros. Conheci um Hiroto ontem, e outro hoje. E se nós conversarmos novamente amanhã, provavelmente, conhecerei mais um. Isso só me faz ter mais vontade de conhecê-lo todinho...

           Ele se mexeu em meus braços, sem acordar. Sorri. E foi quando eu dava um beijo em sua testa que algo aconteceu: luz, muita luz adentrou o “cômodo”. Talvez não fosse muita, mas para alguém que ficou trancado no escuro, com certeza era. Assim, eu fiquei momentaneamente cego, e ouvi Ogata resmungar um “caralho” enquanto tampava os olhos com as mãos. A temperatura começou a aumentar e a luz do cofre se acendeu.

            – Tora-san! Você está bem! – Shou veio correndo em nossa direção enquanto Saga limitou-se a ficar rindo na porta do cofre. Meu aprendiz me abraçou com força e eu vi Hiroto fazer uma careta.

            – Estou, Shou... – Sakamoto não parava de rir.

            – Que bom... Ah... Vocês devem estar cansados e famintos! Vamos sair e comer algo... – Ele olhava para mim com um olhar estranho. Imagino que eu esteja com os cabelos bagunçados, a roupa amassada, todo sujo de migalhas de pão e café... Completamente apresentável. Agora que havia luz, notei que meu loirinho estava em uma situação parecida com a que eu descrevi, mas sem o café. M-meu Loirinho?! Digo... Ogata-san.

            Kazamasa levantou-se, e eu fiz menção se segui-lo quando senti uma mão me segurar.

            – Tora-san... – Chamou Hiroto. – Eu... Não quero ir embora... – Abaixei-me ao seu lado depois de verificar que não havia mais ninguém nos observando.

            – Não precisa ter medo... – E sorri. – Nós podemos ir para minha casa comer algo quente e tomar um banho...– E logo um brilho malicioso tomou conta daqueles olhos grandes. Acho que vou levar muito tempo para entendê-lo... Mas ainda teremos todo o tempo do mundo.

            – Ei, eu mal te conheço e você já quer me levar pra sua casa? TARADO! – Acusou-me, falsamente indignado.

            – Não me conhece? Eu sou Tora... Olá, estranho. – Respondi-o, sorrindo. Levantei-me e estendi minha mão para que ele levantasse também. Recolhi minhas coisas do chão e assim seguimos para fora de nosso confinamento.  

-


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

N/A: Sim, o Hiroto é inconstante. Sim, ele bebe. E sim... Essa é a coisa gay que ele guarda no cofre.

Não, o Tora não é apaixonado pelo Hiroto. Helloooo, eles se conheceram há pouco tempo... Mas... Existem coisas que nos aproximam das pessoas. Ficar preso no cofre de um banco e ser afofado para que o medo passe é uma delas. E, como ele mesmo disse, ele quer conhecer melhor o Pon. Porque ele é, de fato, uma pessoa diferente a cada instante, né? xD

Mas enfim... Acabou. CARAMBA, EU ACABEI UMA FIC MAIOR QUE UMA ONE-SHOT, QUE EMOÇÃO!

A história que eu fiz de presente para a minha koi, que me ajuda tanto... Sempre está aqui. Então, obrigada ♥

E obrigada também a quem acompanhou a fic, comentou, simplesmente leu, recomendou, xingou... Tudo, obrigada.

É, é o fim, Babies. Se sentirem falta, eu tenho outras fic's *aproveitadora mercenária* -s

Por fim... Mais obrigadas. Adorei escrever isso, responder tudo o que me mandaram, as novas amizades... Tudo. Obrigada.

30/05/09