A casa estava uma completa bagunça. Os móveis estavam completamente empoeirados e as janelas estavam perfeitamente trancadas, garantindo a segurança do local na ausência de seus donos. A fraca luz do Sol tentava invadir a sala pelas frestas, mas as cortinas cerradas impediam que um pouco do calor entrasse em harmonia com o ambiente pouco arejado.

Já passava do meio-dia quando o trinco da fechadura fora girado. Depois de muitos meses, a casa realmente agradecia pelo pouco ar fresco que estava recebendo naquele instante. Os raios de Sol iluminaram o soalho da sala mostrando quatro sombras que entravam com estardalhaço para dentro da propriedade.

– Mas que imundície.

A voz ecoou pela sala de estar, espantando um pouco da poeira. O outro homem que havia aberto a porta depositou as chaves sobre a mesinha de centro dando uma olhada desagradável ao redor. Era bastante estranho estar de volta a um lugar que havia passado um bom tempo tentando esquecer.

– Você queria o quê. Ficamos fora por muito tempo.

As cortinas foram abertas pelo homem que estava mais próximo das janelas. Logo os raios solares invadiam o pequeno espaço afastando o restante da poeira e o cheiro de mofo.

– Esta janela precisa de uma limpeza.

– Tyler, pode ficar à vontade para começar. Nós ficamos fora por um bom tempo e Matt e você poderiam ter amenizado essa sujeira.

- Ahh... Eu não tenho culpa se o Tyler é um porco. – disse Matt.

Stefan e Damon haviam jogado as malas de qualquer maneira no chão e sentaram-se no sofá bastante cansados. Ambos haviam viajado durante longos meses, ficando por fora de tudo que acontecia em New York. Desde o término da escola, ambos combinavam de viajarem juntos.

– Eu fui responsável pela chave. - Tyler riu, sentando-se no mesmo sofá em que Damon estava. - E ainda fui bonzinho, por que ninguém tentou assaltar o cubículo de vocês.

– Quem vai querer invadir este cubículo, como você mesmo diz? - perguntou Stefan, rindo.

– Epa! Olha como fala! A casa que meu pai conseguiu para a gente não é moquifo não.

– Opa! Foi mau! - Stefan parou de rir no mesmo instante.

Damon balançou a cabeça e Stefan permaneceu quieto, reflexivo. Uma das melhores coisas que haviam acontecido na vida do garoto fora sair da casa dos seus pais e, ganhar ainda de brinde, a liberdade de não ter que aturar mais seu pai que segundo Stefan o odiava. Tudo parecia ter ficado mais fácil para Stefan, embora aquela volta brusca à realidade começasse a gerar um sério desconforto em seu estômago. Matt também estava pensativo. Sua irmã estava sumida por ai. Ela era uma drogada. E sua mãe... Bem deve estar se divertindo por ai... Ela nunca ligou para o filho. Somente o pai de Matt o entendia. Mais infelizmente ele morreu a dois anos.

– Conte-nos as novidades, Matt. Saudades de você, cara. - Damon lhe dera um soco amigável no ombro, fazendo-o sorrir.

– Sinceramente? Eu ando trabalhando demais para saber alguma novidade. – disse Matt, alisando a testa. – Alias... Não só eu como o Tyler também... Já que ele estar no ultimo ano de medicina e agora vive no hospital estagiando... E eu fico sozinho nesse cubículo.

– E como está minha prima? Cuidando bem dela, eu espero.

Tyler sentiu suas bochechas corarem a se ver refletido nos olhos estreitados de Damon.

– Estamos bem, por incrível que pareça. Não sei como ela ainda não me chutou a traseira.

Stefan e Damon riram do comentário do amigo.

– Pretende casar? - perguntou Stefan, curioso.

– Não agora. Caroline está terminando a faculdade. - afirmou Tyler.

– E o que tem haver? - perguntou Damon.

– Ela tem uma vida, Damon, e eu não quero atrapalhar por causa desse papo de casamento. Isso é um assunto bastante precoce.

Damon lançou um olhar significativo na direção de Stefan, que não deixou de abrir seu famoso sorriso malicioso.

– Estamos vendo que nosso amigo Tyler amadureceu muito mais do que imaginávamos. - brincou Stefan.

– Nada como ficar acordado por 24 horas tentando entender como funcionam as rondas em um hospital.

– Já está neste ponto? - Damon alteou uma sobrancelha, perplexo.

– Estagiário só se ferra, certo?

– Certo - concordou Damon rindo.

– Eu entendo perfeitamente o que você quer dizer com casamento precoce... -Stefan retomou o assunto anterior completamente despreocupado.

– Entende é? - Tyler ergueu uma sobrancelha. - Vocês só curtem a vida.

– Não mais. - exclamou Stefan, balançando a cabeça negativamente.

– Voltamos à realidade. New York, agito, pubs... Enfim... Tudo que não senti a mínima falta.

Tyler endireitou-se no sofá, encarando Damon.

– O que foi? - perguntou o moreno, confuso.

– Não sentiu a mínima falta? – Matt repetira a frase do amigo, fazendo-o ficar um pouco desconfortável.

Damon sabia perfeitamente ao ponto de sua vida que seu amigo se referia. Elena Gilbert fora a garota que ele simplesmente aprendera a gostar e sentir algo muito mais forte. Seus últimos dias na escola foram os mais penosos possíveis. Ele lembrava-se claramente de como ficava ansioso perto dela e do quanto se passava por babaca e imaturo nas tentativas inúteis para tentar chamar sua atenção.

Aquele tempo havia passado, pensou ele. A viagem que fizera com Stefan fora o suficiente para ele saber que aquele sentimento era apenas coisa de colegial. Hoje, ele sentia-se livre da lembrança da garota de longos cabelos castanhos embora não achasse nada culposo saber como ela estaria agora.

– Claro que não, Matt. - o reafirmou veemente. - Eu só senti falta dos mais importantes.

– Então quer dizer que Elena Gilbert é uma lenda agora? – agora quem perguntou foi Tyler, cruzando os braços.

– Não é que seja uma lenda, simplesmente não é a mesma coisa do que antes... Não me sinto mais no direito de saber alguma coisa dela. - Damon encolhera os ombros.

Tyler, Matt e Stefan encararam o amigo em silêncio.

– Não me condenem com este olhar. - disse ele, enrugando a testa. - Vocês são os que menos podem me criticar. São tão fracassados com relacionamentos quanto eu.

– Epah. Não me inclua nesta turma. Eu ainda sou muito requisitado. - defendeu-se Matt rindo.

– Só se for pela Penélope que ainda está louca para te matar. – disse Tyler

Matt levou uma mão ao queixo, coçando-o de leve.

– Bom... Ela não é a mulher mais linda do mundo, mas o fato de saber que ela é uma mulher e que vive atrás de mim ainda me dá um pouco de crédito.

– Crédito em quê? - perguntou Tyler. - Penélope não é mulher.

– É travesti – respondeu Matt, simplesmente. - Na verdade, ele quer dinheiro emprestado. Vai ficar lascado na minha mão. – disse e riu

- Até imagino o que ele pretende fazer – disse Tyler rindo malicioso

Gargalhadas.

– Mas mudando do inútil para o agradável, como estão Jeremy e Bonnie? – disse Stefan se lembrando de seu grande amigo e de Bonnie que até que era sua amiga.

– Bonnie e Jeremy estão morando juntos, finalmente. – respondeu Matt, prontamente.

– Logo eles se casam. - comentou Stefan, orgulhoso dos amigos.

– Eles sempre formaram um belo casal. - disse Damon, dando um longo suspiro.

– E a Gilbert? Tem visto? – disse Stefan curioso.

Damon sabia que Stefan havia feito a pergunta pelo simples motivo de notar que lhe faltava coragem. Não que isso fosse um grande problema, mas, desde que saíra de New York, uma de suas maiores prioridades era esquecer-se do quanto já havia gostado da morena.

– Se eu disser que não, você acredita?

Damon esticou-se no sofá, meio tenso.

– Como não? Vocês são os melhores amigos dela. E ela mora perto. Com certeza vocês a viram e não querem nos contar. – disse Stefan.

– Ela se mudou da antiga casa que morava. – explicou Matt. - A última vez que a vimos foi para ajudá-la a empacotar algumas caixas e, desde então, perdemos contato.

– Ela saiu da cidade? - perguntou Damon.

– Se tivesse saído, Bonnie me contaria. – disse Tyler

– Então Bonnie sabe onde ela mora? – perguntou Damon, curioso.

– É provável que sim. Ambas sempre foram melhores amigas. – disse Matt.

O moreno balançou a cabeça assimilando a resposta. Elena ter se mudado era algo realmente inesperado já que passou sua infância morando no mesmo bairro. No fundo, ele esperava que ela não tivesse se mudado para tão longe.

– Então, o único jeito de rever esse povo é marcando alguma coisa. - disse Stefan. Seus olhos brilharam de malícia já que, reunir o grupo que bombava na escola, era sinônimo de festa. – Quero só ver... Vamos convidar até os festeiros de plantão... A Rebecca, o Klaus, Elijah, Kol, e a April.

(N/a: A April é a nova personagem da quarta temporada pessoal e é parente de Elena e Jeremy e terá um possível romance na série. Não na fic).

– Creio eu que todos andam bastante ocupados para se reunirem. - comentou Tyler, alisando a testa.

– Como assim? - Stefan esgueirou-se.

– Esqueceu que não é mais Tyler e Matt e sim Doutores Lockwood e Denovan? - indagou Damon com um sorriso maroto nos lábios.

Tyler é estudante de medicina e Matt de direito.

– Estava demorando a as gracinhas acontecerem... - comentou Matt, lançando um assovio baixo logo em seguida.

– Como anda a rotina, pessoal? Já ganharam suas próprias salas? - Stefan perguntou com ar zombeteiro.

– Digamos que isso demora - Tyler encarou o amigo. - Eu não sou doutor ainda. Nem sou formado.

- Eu já tenho a minha – disse Matt convencido.

- Claro você já tem um cargo. Eu tenho que me formar primeiro para depois ganhar a sala. – disse Tyler

– Mas já trabalha em um hospital e isso conta muita coisa. - disse Damon, com firmeza.

– O problema é que é puxado demais. Caroline e eu já brigamos muito por causa disso. Ela me culpa, sabe!

Damon estreitou os olhos.

– Irei matá-la - exclamou ele, em um sussurro. - Caroline Forbes irá parar com essas frescuras. Ela tem que entender que você precisa de uma carreira. Ainda mais por que é seu sonho.

– Eu sei, mas...

– Nada de mais - Damon erguera a mão. - Eu cuido dela e você cuida do seu trabalho. Combinado?

Tyler acenou a cabeça positivamente.

– Agora, eu preciso comer alguma coisa. Estou faminto. - Damon colocou-se de pé alisando a própria barriga. - Comida de avião é um horror.

– Será que é mais aterrorizante do que de hospital? – disse Matt.

Stefan e Damon fizeram uma careta.

– Eu quero sempre estar saudável viu. - disse Stefan, também ficando em pé.

– Que mentiroso. - Damon encarou o amigo. - Seu sonho de consumo é fazer o Tyler dar uma injeção na sua traseira.

– Xiu. Não estraga. Eu ia pedir isso e muito mais. - Stefan riu malicioso, fazendo todos caírem na gargalhada.

– Se continuar com a palhaçada, terei o prazer de ver sua traseira branca, Damon. E a sua também Stefan.

– Ui! Agora eu gamei em você. – disse Stefan

Os quatro riram em uníssono e, deixando as malas seguras dentro da casa, saíram em busca de algum lugar em que poderiam fazer uma refeição. Tyler olhou para o relógio e se dera conta que só teria mais meia hora de proveito ao lado dos amigos o que era realmente triste, pois fazia muito tempo que não os via. Matt estava sossegado já que ele trabalhava apenas meio período.

– Onde podemos comer? - perguntou Damon, desgrenhando os cabelos.

– Em qualquer lugar que não esteja muito cheio. – resmungou Matt, incomodado pelo calor.

Estava praticamente impossível caminhar pela calçada lotada de gente. O calor estava muito mais intenso e o céu claro desiludia aqueles que ainda acreditavam que uma possível chuva poderia cair. Os meninos julgaram estar no País errado. Já que New York era sempre ensolarado mais com o clima agradável. O clima estava seco, fazendo com que as pessoas ficassem ainda mais irritadiças e propensas ao estresse.

– Eu não suporto esse caos. - disse Damon, parando de caminhar juntamente com os amigos, esperando que o sinal fechasse. - Era muito bom quando estava longe daqui.

– Você realmente não sentiu falta de NY?- perguntou Matt, cético.

– Você ainda tem dúvidas?- Damon balançou a cabeça rindo.

– Depois dessa, não irei mais duvidar de vocês. - disse Tyler, sorrindo. – Vamos. O sinal fechou.

Tentavam ao máximo se desviar das pessoas que pareciam gostar de andar muito próximas as outras. Distraído, Matt nem notara que havia pisado no pé de uma moça que gritou minutos a fio ofendendo-o de todos os nomes possíveis.

– Super educada - exclamou ele, de cara fechada.

Não havia muitos pubs abertos naquele dia. Muitos costumavam apenas abrirem durante a noite, pois havia mais movimento. O famosohappy houre os universitários garantiam que nenhuma noite nos badalados pubs desse prejuízo.

– Tem um restaurante ali. É nossa última chance. – indicou Matt, sentindo sua barriga roncar.

– Vai almoçar conosco, Tyler? - perguntou Damon.

– Na verdade, eu preciso ir ou chegarei atrasado.

– Vai sair com a Caroline?

– Não! Irei para o trabalho.

– Ah! Entendo! - Damon balançou a cabeça. - Não tem problema, Tyler. Pode ir!

– Não tem mais ninguém para buscar no aeroporto né! Não vou ficar bancando o motorista particular.

- Na próxima, leve sua moto. – disse Matt

– Só se for na cabeça né. – disse Stefan

– Se vira, se vende! – disse Tyler, fazendo-o rir mais. - Bom preciso realmente ir. Vocês vão marcar alguma coisa até o final da semana?

– Claro! Arrumar a casa. - disse Damon, sorrindo.

– Você? Arrumando a casa? - Tyler gargalhou. - Tomara mesmo, pois só assim para chover em NY.

– Mas ficou muito engraçadinho, mesmo, hein? - Damon lhe dera um soco amigável nos ombros. - A gente dá uma ligada para você.

– Irei cobrar! - Tyler erguera o dedo indicador, incisivo.

– Ah! Cobrar nada! Se eu ligar, quem vai estar pagando a ligação sou eu.

– Pão duro! - comentou Tyler, rindo.

– Econômico. - defendeu-se Damon, simplesmente.

– Certo! - Tyler consultou o relógio mais uma vez. - Nos vemos então!

– Falou, cara! - disse Matt lhe dando palmadas no ombro.

Damon, Matt e Stefan ficaram parados vendo Tyler se distanciar. Ele corria apressado pela multidão e logo virou a esquina onde possivelmente seu carro estaria estacionado. Matt estava inquieto, pois sentia a fome apertar ainda mais, Stefan estava distraído olhando os prédios, possivelmente lembrando-se de lago, enquanto Damon permaneceu estático onde estava com o olhar bastante distante.

– Damon, vamos! – chamou Matt, tentando seguir o olhar do amigo tentando adivinhar para onde ele estaria olhando.

Mas ele permaneceu estático. Seus olhos não pareciam querer piscar. Olhando para Tyler é que não era, pois ele já havia sumido de vista há um minuto, deduziu Matt extremamente confuso. Parecia que iria morrer de fome e resolveu chamar o amigo para ajudar ali. Stefan olhou em direção a Matt e Matt por sua vez acenou com a cabeça para Damon. Que estava com os olhos arregalados e vidrados em algo ou alguém.

– Damon? Damon? O Matt está morrendo de fome aqui. Vamos logo antes que abra uma cratera na barriga dele e...

Stefan parou no mesmo instante de falar. Agora sabia perfeitamente para onde Damon estava olhando. Stefan mostrou a Matt com o dedo indicador a direção onde o amigo estava olhando. Saindo de um táxi, estava ela. A garota que Damon fizera um grande esforço para esquecer-se durante três anos de sua vida. O sentimento poderia não fazer parte dele como antes, mas as lembranças que o assombravam sempre se faziam presentes.

Elena Gilbert agora caminhava em direção a segura calçada, sem ao menos notar que Damon continuava a fitá-la como se estivesse sonhando.

Continua...