Tuana não queria ir para a escola. Conseguiu enrolar sua mãe um pouco pra poder chegar no segundo horário. Ela levou quase dez minutos pra conseguir vestir cada peça de roupa. Só quando ia saindo percebeu que estava com a blusa pelo avesso, porque sua mãe avisou.

- O que você tem hoje, Tuana? – Ela perguntou.

- Nada não, mãe. Nada não. – Ela falou, ou talvez nem tenha falado, estava tão distraída que nem sabia ao certo. E depois saiu pra ir para escola.

 O caminho pareceu curto demais pra ela. Chegou na escola em um piscar de olhos. Sentou num dos banquinhos que tinha perto da sala e esperou até tocar para o segundo horário. Quando o sinal tocou, Tuana respirou fundo e entrou. A sala estava uma bagunça, ninguém tinha prestado atenção quando ela entrou. Mas Felipe só tinha olhos pra ela. E o olhar dele pesava muito mais do que o de todos juntos naquela sala. Tuana procurou um lugar pra sentar. Sentou atrás de Brenda e ao lado de Gabriel e de Felipe. Não podia ser pior.

- Ei, menina. O que houve ontem na boate? – Brenda perguntou, se virando pra Tuana.

 Ela congelou. Será que Gabriel tinha contado?

- Do que você ta falando...? – Tuana perguntou.

- Você some lá na pista e foi embora sem falar com a gente...

 Tuana respirou mais leve. Talvez Gabriel não tivesse contado.

- Foi mal. É que... – Tuana não conseguiu evitar olhar para Felipe. Ele prestava atenção em toda a conversa. – Eu... Passei um pouco mal e resolvi ir embora. Peguei um táxi.

- Fala sério. – Camila disse entrando na conversa. – Podia ter chamado. A gente não ia te deixar lá.

- Não precisava. – Tuana disse.

 A conversa continuou sobre a boate, Tuana inventando coisas pras meninas e Felipe só a observando, sem falar nada. E foi assim a aula inteira. Tuana, em certo momento, pensou ter o ouvido chamar seu nome. Quando virou pra ver, ele não tinha chamado, mas estava olhando pra ela com firmeza. Ela já sabia disso há um tempo, conseguia sentir o olhar dele nela. Mas o pior era que ele nada dizia. Isso a estava incomodando.

 Chegou o fim da aula. Tuana estava chateada e um pouco magoada por ele ter ignorado ela, mesmo a olhando o tempo todo. Ele não falou nada com ela. Nem um simples ‘oi’. Quem ele pensa que eu sou? Ele só queria se divertir comigo. Como não conseguiu em nenhuma de suas tentativas, desistiu. Canalha! Idiota!... Alguém passou esbarrando nela. Ela olhou e viu que era Felipe. Ele olhou pra ela e parou por um momento. Depois saiu andando sem nem dar uma palavras. Nem desculpas ele pediu. Uma raiva ferveu em Tuana.

- EI! – Ela gritou pra ele. Já estava bem vazio ali, então ela não teve medo de falar. Ele virou para olhá-la. – Então é assim? Você se divertiu um pouquinho ontem e depois pronto?

 Felipe suspirou. Ele teve que se segurar a aula inteira pra não falar com ela, não tocar na mão dela, não puxa-la para um beijo... Quando esbarrou com ela ali fora, sentiu a pela dela contra a sua, quase não conseguiu resistir. E agora ela estava ali gritando com ele e pedindo explicações. Ela pensava que ele só queria se divertir com ela. Mas ele não podia culpá-la. Ele tinha feito parecer isso mesmo com aquela atitude da noite anterior.

- O que você quer que eu diga? – Ele falou. Tentou aparecer frio, era melhor pra ela. Para os dois.

- Como você pode reagir assim? Eu não queria nada daquilo, e aí você me faz... Agir daquele jeito, e agora está confessando que só queria brincar comigo?

- Eu não falei nada. Você está tirando suas próprias conclusões.

 Tuana ficou olhando pra ela perplexa e magoada. Lágrimas ameaçavam surgir nos seus olhos. Não iria chorar na frente dele. O que estava acontecendo?

- Você... – Ela começou a dizer. – Por que eu? Você é um idiota mesmo! Faz tudo aquilo e me deixa confusa... Eu estou pirando com tudo o que está acontecendo entre nós.

- Entre nós? Não tem nada acontecendo aqui. Tudo aquilo foi... – Felipe precisava fazer força pra conseguir parecer que não se importava. – Tudo foi errado. Eu me deixei levar.

 Tuana não conseguiu agüentar. Lágrimas começaram a descer. Ele fez tudo aquilo com ela, a fez sentir coisas que nem mesmo sabia o que era, e a agora vinha com aquele papinho. Ele devia ao menos dar uma explicação melhor, que fizesse ela entender bem as coisas. Felipe olhava para o chão, não conseguia encarar Tuana.

- Fica longe de mim. – Tuana sussurrou. – Nunca mais ouse dirigir a palavra para mim.

 Felipe olhou pra ela. Viu que ela estava chorando e aquilo foi horrível pra ele. Alguma coisa dentro dele se apertou. Mas que porra é essa? Isso não podia acontecer com ele de novo. Ele viu que ela estava começando a se afastar. Indo embora.

- Desculpa. – Foi só o que ele encontrou para dizer naquele momento. – Desculpa de novo.

 Tuana nem olhou pra trás. Ela correu. Felipe ficou ali olhando ela ir. Parecia tudo errado. Mas era melhor assim. Melhor pra quem? ele se perguntou. Pra ela. Mas ele não queria que fosse melhor pra ela. Pra ele era horrível. Queria que fosse bom para os dois. Felipe ainda não acreditava que estava passando com isso de novo. Pensou que tinha conseguido se livrar daquele sentimento há uns dias atrás, e agora estava passando por tudo de novo.

- Você ta sendo um egoísta. – Ele foi sussurrando pra si no caminho. – Pensa nela. Ela não merece um cara como você. – Mas aquilo não iria convencê-lo. Alguém chamou seu nome atrás dele. Virou e era Gabriel.

- Ei, espera! – Gabriel disse indo atrás dele.

 Felipe ficou nervoso por um momento, por causa da noite passada. Gabriel provavelmente sabia do que tinha acontecido na boate, ao menos uma parte.

- Oi, cara. – Felipe falou.

- Olha, vou ser bem direto. Não sei o que você e a Tuana estão fazendo, mas cara, ela não é igual as outras. – Gabriel disse bem sério. – Ela passou por uma situação difícil, foi bem ruim.

 Felipe só prestou bem atenção ao que ele dizia.

- Felipe, não faz besteira, certo?!

 Felipe pensou por um tempo. Gabriel tinha iluminado sua mente. Seria bom para os dois.

- Gabriel, tem o celular de Tuana? Me dá agora! – Felipe disse ansioso.

- Felipe, o que você vai fazer? – Gabriel falou pegando o telefone. Deu o número para ele.

- Vou desfazer uma besteira. – Felipe disse ao pegar o número e correu pra casa, deixando Gabriel lá confuso.

 Ele estava decido. Iria ligar pra ela e resolver essa situação. Não, iria oficializar a situação. As dúvidas iriam sumir e os dois seriam... Felizes? Ele ficou pensando sobre isso. Bom, infeliz eu vou ser se não tiver ela pra mim. Uau!