- Victor. – Ela disse.

 Ele sorriu. E o coração de Tuana que já estava disparado, acelerou mais ainda. Todos que estavam ali, inclusive Felipe, estranharam que Tuana conhecia o garoto parado ali. Eles olhavam pra ela agora, esperando ela dizer alguma coisa. Mas parecia que sua garganta estava travada. Depois que o nome dele saiu pela boca dela, voz nenhuma queria aparecer. Ela apenas encarava-o enquanto o sorriso dele ia sumindo. Estava ficando constrangido. Todos estavam.

- Então, vocês se conhecem? – Felipe foi quem quebrou o silêncio. Ele estava muito curioso.

 Victor olhou pra Felipe e analisou a situação. Ele viu os braços dele ao redor da cintura de Tuana e decifrou o que já estava pensando. Eles são namorados. Ele não falou nada, apenas voltou a olhar porá Tuana esperando que ela dissesse algo.

- É... – Tuana conseguiu dizer. – Nós somos... Nos conhecemos... – Ela estava toda atrapalhada, não sabia o que dizer.

- Somo antigos amigos. – Victor falou com um sorriso.

 Tuana ainda o encarava sem piscar. Ainda não conseguia acreditar que ele estava ali na frente dela. E todos já tinham percebido esse estado dela.

- Então seu nome é Victor. – Felipe disse.

- Sim. – Victor acenou com a cabeça.

- Eu sou Felipe. – Disse e apertou a mão de Victor.

 Tuana acordou do seu transe nesse momento. Felipe e Victor estavam frente a frente e apertando as mãos ainda. Ela não sabia se ficava com medo ou... Sei lá o que. Ela resolveu tentar agir o mais normal possível.

- Essas são minhas amigas, Camila, Brenda e Jéssica. – Tuana disse apontando para as meninas.

- Ah! Então finalmente eu conheci vocês. – Victor disse sorrindo.

 As três meninas já estavam paralisadas no canto desde a hora que Tuana tinha dito o nome do garoto. Elas não conheciam Victor pessoalmente nem nada, só tinham ouvido Tuana falar sobre ele. E depois que ele disse isso, elas confirmaram as suspeitas. Ao lado de Tuana, Felipe franziu mais a testa, pensando em como esse cara conhecia bem a vida de Tuana.

- Esse é o namorado de Jéssica. – Tuana continuou. – E esse é Gabriel, meu amigo também.

 Gabriel deu um sorriso cumprimentando Victor.

- E essa é Tuana. – Felipe disse com um sorriso, brincando. - Minha namorada. Mas você já conhece. – Ele acrescentou.

 Felipe sentiu que precisava afirmar aquilo. Não tinha gostado como esse Victor parecia conhecer bem sua namorada.

 Tuana olhou diretamente para Victor quando Felipe disse aquilo. E Victor olhou pra ela logo em seguida. Mas Tuana não sustentou o olhar, desviou rapidamente. Aquela situação era muito constrangedora e estranha. E o coração dela não queria desacelerar.

 Victor era um cara legal, o pessoal tinha achado. Ele fez amizade com as meninas bem rapidamente, e até Gabriel e o namorado de Jéssica se enturmaram com ele. Quando ele ia tentar conversar com Tuana, ela desviava o assunto para as meninas, que percebiam o que ela estava fazendo e ajudavam a amiga. Felipe passou o resto do intervalo calado observando Victor.

 O sinal tocou finalmente. Tuana se soltou de Felipe dizendo que ia ao banheiro, e correu para a sala. Felipe reparou nisso e começou a ter uma noção do porque ela estar agindo estranhamente. Ele olhou novamente para Victor, que observava Tuana subir, e foi atrás da namorada. Ela tinha corrido e já estava na sala. Felipe entrou e sentou-se ao lado dela. Nenhum dos dois falou durante um tempo. Tuana não queria contar para Felipe quem Victor era realmente. Só não sabia que ele desconfiava.

- Quando você quiser falar, eu vou estar aqui para ouvir. – Felipe disse.

 As pessoas começavam a entrar na sala. Tuana olhou pra ele e deparou com um sorriso. Ela ficou mais aliviada e sorriu também. Mas o sorriso sumiu quando viu Victor entrar na sala. Felipe virou pra ver o que Tuana olhava e suspirou quando viu quem era. Ele já não estava gostando da situação. Mas não ia deixar que nada mais atrapalhasse a relação dele com Tuana. Ele tocou na mão dela e sorriu novamente. Ela retribuiu com um leve sorriso. Felipe se levantou e foi sentar-se em sua carteira.

 A aula acabou. Tuana agradeceu a Deus por isso. Todas as vezes que ela olhava para o canto da sala, dava pra ver Victor observando-a. E foi assim a aula toda. Ela pediu para sair da sala um instante, para ir ao banheiro, porque precisava sair da mira dele um pouco. Quando ela passou pela porta, sentiu o peso do olhar dele. Quando finalmente a aula terminou, ela colou em Felipe e saiu sem falar com mais ninguém. Nem mesmo com Victor.

 No caminho para casa, Felipe já ia se despedir de Tuana, quando ela segurou no seu pulso e o parou. Ele esperou, sabia que ela ia falar alguma coisa. Ela ficou em silêncio por um momento, depois olhou pra ele e suspirou.

- O Victor...- Ela começou. – Ele é... ele era... – Ela estava toda atrapalhada novamente.

- É ele, não é? – Felipe falou. – Ele é o seu ex.

 Tuana ficou olhando pra Felipe até que um minuto depois virou o rosto e balançou a cabeça confirmando o que ele tinha dito. Felipe também balançou a cabeça e os dois ficaram assim durante um tempo.

- Você sentiu alguma coisa quando viu ele ali? – Felipe perguntou.

 Tuana ficou surpresa com aquela pergunta. Ela conseguiu perceber um tom de angústia na voz dele.

- Felipe – Tuana começou. Resolveu que iria falar a verdade. – Eu não vou mentir pra você.

 Quando ela disse isso, Felipe fechou os olhos e passou a mão pelo rosto. Se mostrou nervoso com aquelas palavras. Mas balançou a cabeça concordando. Tuana continuou:

- As coisas entre nós, eu e Victor, terminaram de um jeito... Incompleto, eu acho. – Ela disse. – E depois que ele foi embora, ficou uma interrogação lá. Sempre faltando alguma coisa.

 Felipe já ia interromper, mas Tuana não deixou.

- Quando eu o vi ali, foi uma mistura de emoções. Uma confusão. Eu não sei dizer o que eu senti realmente.

 Felipe agora olhava pra Tuana.

- Mas uma coisa eu tenho certeza que eu senti. – Ela disse. – Medo.

 Felipe franziu a testa.

- Medo por nós dois. Medo por... – Ela ia terminar, mas se calou quando Felipe se aproximou dela e pegou suas mãos.

- Não. – Ele disse. – Não tem que ter medo de nada. Nós já passamos por tanta coisa e superamos. Quando eu percebi quem ele era realmente, eu confesso que fiquei com medo também.  Mas eu prometi pra mim naquele momento que não ia deixar mais nada atrapalhar nossa relação. Nada nem ninguém.

 Tuana mordeu o lábio e abraçou Felipe. Os dois apertaram um ao outro muito forte, como que se assegurando que nenhum iria escapar pelos braços do outro. Lágrimas ameaçaram descer pelo rosto de Tuana, mas ela piscou várias vezes, espantando-as. Felipe deu um beijo em Tuana e logo depois sorriu. Iria ficar tudo bem, era o que aquele sorriso dizia.

 A semana passou se arrastando. Felipe e Tuana estavam bem. Na escola eles ficavam juntos o tempo todo, e até se afastaram dos amigos um pouco porque Victor tinha conquistado todos eles e passava todo o tempo ao lado deles. Tuana não queria ficar longe das amigas, mas também queria evitar ficar perto de Victor. Ele sempre tentava puxar conversa com ela, e até com Felipe, mas os dois davam um jeito de se afastarem. É claro que Vcitor já tinha percebido. E ele se pegou magoado com Tuana por isso.

 Sábado tinha chegado finalmente. Tuana acordou tarde naquele dia. Foi para cozinha onde sua mãe e seu pai já tomavam café. Tuana falou com eles e sentou-se para comer também antes que sei pai falasse alguma coisa.

- Sabe quem está de volta, Ana? – O pai de Tuana comentou.

 Tuana levantou o olhar pra olhar o que ele iria dizer.

- Quem? – Dona Ana perguntou franzindo a testa.

- O Victor.

 Tuana engasgou quando ouviu seu pai dizer isso. Como ele sabia? Ela bebeu um pouco de suco e respirou normalmente. O pai dela a olhava com uma sobrancelha erguida e a mãe dela a olhava com um olhar de pena.

- O pai dele me ligou hoje. Eles estão aqui na cidade, vão ficar o resto do ano no mínimo.

 Tuana tinha perdido a fome.

- Você sabia disso, Tuana? – O pai dela perguntou.

 Tuana olhou pra ele e levantou-se da mesa.

- Ele está estudando lá na escola, na minha sala. – Ela falou num sussurro.

- Sério? Que coisa boa. – A mãe de Tuana disse na inocência.

 Tuana deu um riso irônico. Quando ela ia saindo da cozinha, ouviu o pai dizer:

- Eu convidei os dois para um jantar aqui em casa.

 Tuana parou na porta na mesma hora e virou para o pai.

- Você fez o que? – Ela indagou de olhos arregalados.

 O pai dela franziu a testa.

- Sim, eu os convidei para jantar aqui em casa. – Ele disse. – Por que? Algum problema?

 Tuana ficou em choque. Não sabia o que dizer, nem o que fazer. Ela não falou nada.

- Só porque vocês já tiveram um romance de infância, não quer dizer que o garoto não possa vir aqui. – O pai dela falou. – Até porque eu tenho negócios a resolver com o pai dele. Vamos dar as boas vindas aos dois.

- É verdade. – Dona Ana concordou. – Eles ficaram fora do país por quase um ano.

- Eles vêm hoje à noite, às 20h.

- O que? – Tuana quase gritou.

- Tuana, minha filha, não sei o motivo dessa sua reação. Apenas prepare uma bela roupa, porque esse não será apenas um jantar familiar, mas um jantar de negócio para o seu pai aqui.

 Tuana queria protestar. O pai dela não podia obrigá-la a fazer isso. Ela não queria se arrumar para Victor. Nem para o pai dele. Nem para esse jantar idiota.

- Eu tenho compromisso hoje. – Tuana disse. Não era bem verdade, mas ela poderia arrumar qualquer coisa.

- Não tem mais. – O pai dela falou sério. – Desmarque qualquer coisa. Você pode ver seu namorado sempre que quiser. Mas hoje vai ficar para o jantar. Estamos entendidos?

 Tuana ficou furiosa. Queria protestar, mas ela olhou pra mãe e viu nos olhos dela um pedido de paz. Tuana apenas concordou com a cabeça e saiu da cozinha. Seu pai ainda falou:

- Ótimo. Tem um presente para você na sua cama.

 Ela foi para o quarto e viu um vestido azul marinho, muito lindo, em cima da cama. Ela apenas olhou, não chegou perto nem tocou. Estava com muita raiva. Tinha medo do que poderia fazer com o vestido naquele momento. Ela sentou-se numa cadeira e ficou pensando no que diria para Felipe. Não poderia esconder o jantar dele. Ela decidiu que era melhor ligar para Felipe e contar logo. Pegou seu celular e ligou.

- Oi, amor. – Felipe atendeu.

 Tuana conseguiu ouvir um sorriso na voz dele.

- Oi. – Ela disse.

- Eu ia ligar pra você já. Quer sair hoje a noite?

 Tuana engoliu em seco. Como ela iria dizer? Amor, não posso sair com você porque já tenho um jantar com o Victor hoje. Desculpa. Ela tirou aquele pensamento da cabeça e falou:

- Hoje eu não posso.

- Vai sair?

- É que meu pai arranjou um jantar aqui em casa.

- Ah! Entendo perfeitamente isso. – Felipe disse. – Odeio quando meu pai me obriga a ir pra esses jantares com ele...

- O Victor vai vir. – Tuana sussurrou interrompendo o que Felipe dizia.

 A ligação ficou muda. Silêncio. Tuana pensou que Felipe tinha desligado, mas não. Ele devia estar apenas processando a informação. Muito tempo depois, ele falou.

- Ele vai estar nesse jantar. – Felipe estava afirmando.

- Sim. – Tuana disse cautelosa.

 Como Felipe não falou nada, ela continuou:

- Meu pai tem negócios com o pai dele, e eu juro que não sabia disso. E aí ele resolveu dar as boas vindas aos dois com um jantar, enquanto fala sobre negócios também.

 Felipe apenas ouviu. Ele tinha medo do que poderia sair de sua boca se falasse.

- Amor... – Tuana ia falar, mas Felipe respirou fundo e falou:

- Tudo bem, isso não importa.

- Não importa mesmo. – Tuana concordou.

- Tente se divertir no jantar. – Felipe disse.

- Impossível. Vai ser a noite mais longa da minha vida.

 - Eu te amo. – Felipe disse.

- Eu te amo. – Tuana falou também.

 Eles desligaram.

 O dia passou voando. Estava chegando a hora do jantar e Tuana não estava nenhum pouco animada. Queria que acontecesse qualquer coisa que pudesse cancelar o jantar. Mas é claro que nada aconteceu. Ela tomou seu banho, arrumou os cabelos e colocou uma leve maquiagem. Não queria ficar bonita, mas também não precisava ficar feia. Ela colocou o vestido que seu pai tinha comprado. Nem se deu o trabalho de se olhar no espelho. Não importava realmente como ela estaria.

 Ela ouviu vozes na sala. Os convidados tinham chegado. As mãos dela suavam, ela estava nervosa. Ela respirou fundo e se obrigou a ficar calma. Ouviu seu pai chamar seu nome. Não tinha mais como fugir. Ela saiu do quarto e foi encontrar todos na sala.

- Tuana! – O pai de Victor falou todo animado. – Como você cresceu nesses últimos meses.

 Tuana sorriu enquanto recebia uma abraço do antigo sogro. Oh, Deus!

- Como você está? – Ele perguntou. Tuana tinha esquecido de como ele era simpático.

- Estou bem. – Ela respondeu.

- Que ótimo. – Ele disse. Depois olhou para o filho.

 Tuana se virou e encarou Victor. Ele olhava pra ela também. Ele deu um leve sorriso e se aproximou dela. Parou um instante e depois os dois se cumprimentaram, muito formalmente.

- Você está linda. – Victor disse baixinho.

 Tuana tentou dar um sorriso de agradecimento, só por educação mesmo, mas não conseguiu. Os adultos começaram a conversar, se distraíram. Tuana continuou em pé na frente de Victor. Os dois ficaram ali durante um minuto, sem nada dizer e nunca olhando um para o outro. Até que Victor disse:

- Finalmente eu vou conseguir conversar com você, sem que você fuja de mim.

 Tuana olhou pra ele e não disse nada. Ela sentiu um frio na barriga que se misturou as batidas nervosa do seu coração. Ela saiu dali e foi fazer companhia a seus pais. Viu Victor aparecer também e sentar ao lado dela. Ela estava muito tensa. Seria um longo jantar. Uma longa noite.