Vida De Monstro - Livro Dois - A Magia escrita por Mateus Kamui


Capítulo 11
XI - Will


Notas iniciais do capítulo

Mais um capitulo fresquinho para voces queridos leitores, sejam os normais ou os fantasmas, e é possivel que eu demore para postar um novo capitulo ja que tenho coisas do colegio para fazer entao pode ser que o proximo capitulo so saia daqui a quinze dias



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 XI – Will

O sol já havia nascido e eu não tinha conseguido dormir, e por quê? Porque era simplesmente impossível dormir quando você tem um dragão maníaco dividindo o quarto com você, me arrependo de não ter deixado ele ir para a floresta.

A criatura era uma peste, o pior dos demônios renascido no corpo de um lagarto voador maníaco por destruição, ele não parou em nenhum momento, cada segundo estava tentando rasgar alguma coisa, morder alguma coisa, ou então estava tentando queimar alguma coisa, nessa nossa guerra pessoal ganhei dezenas marcas de arranhões pelo corpo, sete mordidas, cabelos queimados e tive minha cama parcialmente queimada, mas ao menos salvei a nova encomenda de livros que chegou hoje de madrugada no meio da nossa guerra.

Estava acabado, mas o dragão também, ele era pequeno, mas tinha muita resistência, que por sorte era menor que a minha então acabei ganhando a guerra por desistência, o dragão caiu no chão depois de tudo, ele estava bastante cansado, e não era o único, estava cansado, mas bem menos do que o dragão, ele parecia acabado.

Aproximei dele aos poucos, só agora me toquei de uma coisa, ele era pequeno, frágil, poderia ate ser um dragão, mas ainda era só um bebê com menos de um dia de vida. Peguei ele com minha mão direita e o coloquei na cama e então abri as cortinas deixando o sol da manhã entrar, era uma das melhores sensações do mundo receber os primeiros raios de sol do dia e parecia que Rubys concordava comigo pelo menos nisso.

A criatura soltou uma espécie de barulho de felicidade e então começou a se remexer em cima do colchão queimado, sentei na beirada da cama e suspirei, estava cansado, com fome e com sono e algo me dizia que hoje seria um dia sem descanso.

Alguém bati na porta, senti meu corpo pesado e cansado, mas mesmo assim busquei forças e me levantei, andei até a porta e abri, era o carinha das comidas, ele estava segurando uma bandeja contendo duas barras de cereais, uma garrafa d’água e duas maças:

-O diretor mandou entregar isso – disse o cara – e também mandou dizer que era bom todos se prepararem porque hoje terão um intensivo de educação física

Só balancei a cabeça concordando, peguei meu prato e fechei a porta com um leve chute. Andei em direção da cama e me sentei um pouco mais perto do dragão:

-Você gosta de alguma coisa daqui? – falei mostrando para ele o prato, Rubys veio lentamente na minha direção e mordeu a maçã, assim que mordeu cuspiu soltando faíscas, acho que isso era um não

Peguei uma das barras de cereal e tirei do envelope e entreguei para o dragão, mesma reação de antes, ele mordeu, mas depois cuspiu e soltou faíscas de negação, a única coisa que ele não reclamou foi da água. Uma dúvida surgiu na minha cabeça, será que existia algum tipo de monstro que vivia sem água? Demônios não precisavam comer e beber a não ser que se machuquem ou quando estão em um corpo que não seja seu original, vampiros também não comem nem bebem nada além de sangue, mas sangue é praticamente água então eles não são exceção, mas tinham as almas, eles não comem nem bebem nada, é acho que eles são a única exceção que consigo pensar no momento, mas almas não eram exatamente monstros, eles só eram algo existentes nos humanos, é tanto que monstros não tem almas, então acho que almas não entram na categoria de monstros.

O dragão começou a me cutucar com a cabeça, ele me encarava como se pedisse mais comida:

-Ei eu não posso ajudar muito nesse ponto – falei encarando ele de volta – não sei o que dragões comem então fica difícil de te arranjar comida

Caí na cama dando uma mordida na maçã e tentei relaxar um pouco antes de ir para o colégio. Enquanto comia a maçã o dragão bebia água, o local tinha ficado tão calmo que era quase impossível imaginar que nós dois quase nos matamos a pouco tempo atrás.

Depois de comer a maçã peguei uma das barras de cereal e engoli com duas rápidas mordidas, depois levantei e fui para o banheiro, tomei um banho e depois troquei de roupa. Comi a última barra de cereais, peguei a outra maçã e a garrafa d’água, depois disso enchi minha mochila com quatro livros e então comecei a andar para fora do quarto e Rubys subiu na minha mochila:

-Ei você não vai para o colégio comigo entendeu? – o dragão balançou a cabeça negando – Olha só, não posso aparecer no colégio carregando um dragão, algumas pessoas surtariam se ti vissem entendeu? – o dragão negou novamente

Coloquei a mochila no chão junto de Rubys e levantei o colchão, ainda estava ali. Peguei o pano e abri ele revelando os pedaços de espada, tinha guardado ali para qualquer futura necessidade e acho que finalmente tinha encontrado uma boa necessidade, dragões eram viciados em guardar tesouros, e os brilhantes eram seu prediletos.

Assim que Rubys percebeu os pedaços da espada que refletiam o sol ele voou na direção da espada, na verdade eu suponho que ele tenha voado a que eu não vi quando ele se moveu, um instante ele estava na mochila e no outro estava enrolando a cauda ao redor de um dos pedaços da espada, aquilo tinha sido tão rápido que acho que teria tido dificuldades de acompanhar aquela velocidade com meus poderes, poderia superá-lo, mas provavelmente seria mais difícil do que superar a velocidade do dragão-rei vermelho.

A criatura tocava cada pedaço de espada com alguma parte e quando terminou lambeu um dos pedaços e depois soltou faíscas de felicidade, dezenas de faíscas, é acho que encontrei algo que iria entreter ele por um tempo. Peguei a mochila do chão e saí do quarto fazendo o mínimo de barulho possível.

Andei pela academia comendo a maçã calmamente, estava me sentindo fantasticamente feliz hoje mesmo com a guerra particular a pouco tempo atrás. Várias pessoas estavam eufóricas hoje, eles comentavam o quão ruim seria o intensivo de educação física que teríamos, outros gritavam enquanto relatavam fatos que ouviram sobre o intensivo que o segundo ano sofreu ontem e que todos saíram de lá praticamente mortos.

Senti duas mãos me tapando a vista de repente, tateei aquelas mãos e então reconheci de quem era aquelas mãos, puxei aquelas mãos e todo o corpo da pessoa para perto de mim e lhe dei um beijo e como eu adorava beijar aquela boca:

-Você não deveria fazer isso no meio da academia – Amy disse se afastando de mim

-Foi você que quis me pegar por trás, eu só peguei a situação e a levei para um lado mais agradável para mim

Amy corou levemente, e como ela ficava linda com aquele tom de pele:

-Vamos logo para a aula – ela disse se virando e começou a andar

-Não sei para que a pressa – acelerei um pouco o passo e passei por ela – é só uma aula, você é uma excelente aluna e eu já sei da matéria, nós dois não precisamos dessa aula

-Você subestima o colégio Will

-Você é que me subestima Amy, esse colégio é ridículo, sou de longe a pessoa mais inteligente daqui, também sou provavelmente a pessoa mais velha depois do diretor, e lembre-se que antes também já fui o aluno mais forte daqui, acha mesmo que eu precise estudar ou ter medo de provas?

-A sua falta de fé é perturbadora Will – Amy falou com uma voz meio sufocada misturada com robótica, eu não sabia o motivo daquilo, mas não ia comentar nada – você acha que o colégio é algo fácil, mas eu digo e repito, você não deveria subestimar as provas

-Certo então Amy – falei dando de ombros – vamos fazer uma aposta

-Como é?

-Uma aposta entre você e eu

-Que tipo de aposta? – ela ficou me encarando com um olhar duvidoso

-Ao fim das provas, quando recebermos as notas, vamos somar todas e quem tirar a maior nota ganha

-Certo, mas ganha o que?

-O que o ganhador quiser, sem restrições – abri o maior sorriso que consegui e Amy então me deu um soco bem forte no peito

-Seu pervertido – ela começou a se afastar com uma raivosa que só deixava ela mais bonita

Corri e puxei ela pela cintura para perto do meu corpo, encarei aqueles olhos e então lhe dei um rápido beijo:

-É bom estudar se quiser ganhar a aposta Amy – falei e então soltei seu corpo indo rumo a sala de aula, não podia ver o rosto dela nesse momento, mas podia te rum excelente noção de como ela estava

Até agora não tinha visto nenhuma das pessoas de laranja, mas assim que entrei no colégio eles apareceram quase como um enxame, em cada canto havia um pequeno bando deles conversando sobre o quão fantásticas foram todas as aulas do curso até agora, aquilo já estava me deixando bem irritado.

Sentei na cadeira e tentei descansar a cabeça, cada dia minha vida ficava mais maluca e por muitas vezes gostaria de ter continuado no inferno, mas agora tudo tinha mudado, não consegui mais me imaginar longe daquele mundo humano nem por um único dia, não conseguia mais me ver um dia sequer longe daquela garota.

Desde que tenho lembrança meu pai me dizia que demônios não amavam, eles podia sentir forte afeição por alguém como é o caso do que o meu pai senti por mim, meus irmãos e minha mãe, mas aquilo ele dizia que não era amor porque se fosse preciso ele mataria a todos nós sem nem mesmo suspirar e pelo que ele escutou no passado de meu avô quando você ama alguém jamais machucaria essa pessoa, pois ela é o seu próprio coração, ela é parte e você. De acordo com algumas histórias antigas existiram demônios que amaram humanos, mas todos acabaram morrendo defendendo esse amor e seus nomes e feitos foram apagados da história do inferno sendo apenas citados em lendas, mas jamais sendo citados seus nomes ou raças, apenas o seu estúpido feito de amar.

Mas agora minha visão era outra, amar não era tão ruim quanto me ensinaram todos esses anos, na verdade era o total inverno se algo ruim, era simplesmente maravilhosa aquela sensação, algo único, mas não posso negar que também era mortal, era quase como diziam, eu era capaz de fazer qualquer coisa por Amy, até quem sabe morrer por ela se fosse preciso e já havia provado aquilo antes e não perderia tempo se fosse necessário fazer novamente.

A vida daquela garota se tornou mais importante até mesmo do que a minha própria vida, do que meu próprio poder, aquele era realmente um sentimento perigoso, mas eu correria qualquer perigo para proteger aquele sentimento. Senti uma tremedeira estranha se espalhando pelo meu corpo, era quase um aviso me dizendo para nunca mais se quer pensar aquilo, mas não seria uma simples tremedeira que mudaria meu amor pela Amy.

Coloquei os fones de ouvidos e coloquei a música no máximo permitido pelo Ipod para tentar parar de pensar naquilo. Deitei sobre a mesa e cobri o rosto com as mãos para tentar sumir o máximo possível do mundo, mas mal acabaram dez músicas e escuto o barulho de várias pessoas entrando, ergui a cabeça e os alunos já estavam entrando acompanhados do professor, mas nada de Amy.

Olhei rapidamente por toda a sala para ter certeza de que ela não estava ali, ela realmente não estava, nem mesmo sua mochila estava ali e a sua carteira estava vazia, aquilo não era bom. Já ia me levantar para pedir para sair de sala para procurar por ela quando Amy entra em sala, ela não estava aparentando ter nada demais, apenas chegou e falou algo com o professor então se sentou no seu lugar.

Não tirei os olhos dela e acho que ela percebeu já que acabou se virando na mina direção e mandou um rápido sorriso, algo ali não estava se encaixando, mas ela estava tão bem que simplesmente apaguei essa idéia da cabeça, recoloquei os fones e tentei dormir.

Passei as duas aulas de cabeça baixa e escutando música enquanto tentava dormir, mas a preocupação pelo atraso de Amy não me deixou fechar o olho um minuto sequer e não conseguia passar muito tempo sem erguer a cabeça e olhar para ela, era quase como se eu esperasse que algo acontecesse com ela, não sabia se estava só neurótico por culpa de um atraso de poucos minutos ou havia realmente um motivo para se preocupar. No final das contas perdi meu sono a toa já que em momento algum ela parecia diferente do que estava mais cedo.

Finalmente o toque para o começo do intervalo, o professor escreveu algumas atividades para fazermos e então se retirou, alguns alunos copiaram as anotações, outros não, mas mesmo assim depois todos saíram feito uma manada de animais selvagens loucos, a sala se esvaziou tão rapidamente que até me assustei.

Guardei os fones e andei na direção de Amy, ela terminou de escrever suas anotações e então se virou na minha direção:

-Qual o motivo do atraso? – deveria ter demorado mais para fazer essa pergunta, mas acabei não me controlando

-Tinha que fazer algumas coisas – ela disse se levantando da cadeira, acabei erguendo uma sobrancelha de desaprovação e ela simplesmente riu – Não sabia que era tão ciumento assim senhor Maquiavel? – ela riu novamente

-Não sou ciumento – falei ficando um pouco com raiva, eu não era ciumento, ou pelo menos acho que não, aquela minha preocupação era realmente sobre ela e não apenas um surto de ciúmes, eu acho

-Se você diz – ela se aproximou de mim e me dei apenas um selinho, não deixei ela se distanciar e puxei ela para um beijo mais demorado e bem melhor do que um mísero selinho – A gente não deveria fazer isso dentro do colégio – Amy falou, mas em momento algum seu corpo se afastou do meu

Depois de um bom minuto de beijo soltei Amy lentamente, ela então pegou uma barra de cereais da mochila e começou a comer enquanto seu rosto estava bastante vermelho, adorava quando ela ficava daquele jeito, na verdade ainda estava procurando algo nela que eu não gostasse além do fato dela ser uma bruxa caçadora humana, algo que já seria o suficiente para qualquer monstro matá-la, mas mesmo assim eu caí de amores por ela.

Peguei ela e lhe dei mais um beijo, um rápido de poucos segundos, mas foi o suficiente para sentir o gosto da barrinha de cereais que deveria ser de banana com mel, ainda não via o mínimo de utilidade naquele tipo de comida, mas parecia que existiam humanos que eram loucamente viciados naquelas barras:

-Por que você fez isso? – Amy disse tossindo um pouco como se quase tivesse se engasgado – Eu tomei um susto sabia?

-Eu só estou te beijando

-Beijando até demais, parece que nem consegue se controlar direito

-Só estou tirando o atraso da época em que não podia fazer isso – falei me aproximando novamente de seu rosto, mas não a beijei, só fiquei a poucos centímetros dela

-Você podia, só não fez porque não quis – ela disse me empurrando para trás

-Você acha que se eu soubesse já não estaríamos fazendo isso a mais tempo?

Amy simplesmente me deu as costas e saiu andando pelos corredores, tentei andar na direção dela, mas a garota entrou no banheiro feminino antes que eu pudesse pegá-la. Andei um pouco e fiquei escorado em uma parede próxima da do banheiro esperando ela sair, algo que devo dizer que demorou mais do que eu esperava, deu toque pata o fim do intervalo e ela ainda não havia saído.

Teria esperado quanto tempo fosse necessário, mas o professor de educação física estava procurando todos os alunos do primeiro ano e estava os mandando para as quadras de esporte, no caminho perguntei se ele não iria atrás de Amy e ele só respondeu que ela tinha uma mensagem do diretor e por isso deveria faltar.

Devo dizer que ela deveria estar com sorte por ter faltado hoje, nosso treino foi severo, todos os humanos e boa parte dos monstros estavam acabados, a maioria dos monstros tentou se achar e fez bem mais do que deveria e por isso foram vencidos pelo cansaço, no final das contas não acabou bem para ninguém.

Existia um termo humano para alguém como o diretor, ele só deveria ser o que vocês chamam de espartanos, li bastante sobre aquele povo guerreiro, a forma de lutar, forma de viver, estratégias de guerra, simplesmente fantástico, mas não quando você era o guerreiro e estava recebendo o treinamento, aquele homem realmente só podia ser um descendente de espartanos para produzir um treino capaz de me cansar, se bem que meu condicionamento físico não era mais tão bom quanto o de antes e isso pesou bastante na hora de fazer certos exercícios.

Andei de volta para o dormitório com as pernas latejando e a agonizante dor a cada passo, aquilo não era ruim, o pior viria no outro dia, era sempre assim com exercícios pesados, lembro da época que meu pai me treinava fazendo lutar e erguer pesos até o limite do cansaço físico e mental, algumas vezes podia doer depois do exercício, significava que eu tinha provavelmente rompido de leve ou de maneira brutal um músculo, significava que ia ganhar músculos, mas também significava bastante dor, lembro de uma frase que li em outro livro, No Pain No Gain, como eles estavam certos, mas a pior parte vinha sempre no dia seguinte pelo acúmulo dos ácidos láticos.

Quando cheguei ao meu quarto deitei na cama e tentei relaxar o corpo, queria dormir, mas não conseguia, alguma cosia estava errada ali e minha mente não apagaria até eu ter resolvido isso, vasculhei o quarto e não encontrei nada além dos livros e de algumas roupas, tudo estava do jeito que eu deixei, não estava faltando nada.

Suspirei e encarei o teto do quarto por alguns segundos e foi então que percebi o que estava faltando, Rubys. Ergui da cama com um pulo, não deveria ter feito isso com o corpo todo dolorido, mas acho que algumas dores eram melhores do que um filhote de dragão sumido.

Entrei quase em desespero, tinha que achar aquele maldito antes que ele queimasse algo, abri a porta do banheiro com um empurrão e percebi que ela já estava aberta, encarei a pia do banheiro e vi uma cena bem incomum, não sabia se me sentia bem ou estranho ao ver aquilo, um filhote de dragão vermelho tomando banho dentro da pia enquanto brincava com pequenos pedaços de alguma antiga espada:

-O que você pensa que está fazendo? – foi a única pergunta que consegui formular, era quase como se estivesse olhando para uma criança tomando banho de banheira enquanto brincava com algum brinquedo, mas no lugar da criança estava um lagarto voador

Rubys simplesmente silvou e soltou duas faíscas, o dragão então se enfiou no meio da água e saiu de lá depois de alguns segundos batendo as asas e então mergulhou de cabeça novamente dentro da pia, ele agia como se fosse uma criancinha mesmo:

-Como você fez isso? Até onde lembro não deixei a torneira aberta

O dragão me encarou e então soltou faíscas enquanto dava mais um pulo para dentro da pia, depois daquilo simplesmente saí do banheiro e deixei a criatura tomar o seu banho em paz, mas deixei a porta aberta para ficar observando, era melhor ele ficar quieto tomando seu banho do que ele ter saído por ai queimando tudo e batendo nas pessoas com sua cauda.

Mesmo depois de resolver o assunto de Rubys ainda não conseguia dormir mesmo com meu corpo cansado e a visão meio escurecida pelo gasto excessivo de energia, eu já deveria ter apagado, mas alguma estava me incomodando e antes que pudesse pensar no que escuto alguém batendo na porta e deixando algo aos pés da porta, era provavelmente o almoço.

Fui em direção a porta e peguei o prato, três bananas, duas barras de cereais, uma garrafa de energético, uma cápsula de algum tipo de remédio e uma porção de feijões com carne mal passada, na verdade aquilo estava sangrando. Engoli rapidamente as barras de cereais e bebi alguns rápidos goles de energético junto da cápsula de remédio.

Sentei na cadeira em frente a mesa que havia ali no quarto, peguei o pedaço de carne e fiquei olhando aquilo, não gostava de carne mal passada como aquela, mas antes que pudesse fazer alguma coisa com aquilo uma gota de sangue escorreu da carne e depois só vi um vulto avançando e levando a carne para o canto oposto do quarto.

Virei a cabeça e vi enquanto o dragão rasgava aquele pedaço de carne com seus pequenos dentes, mesmo o pedaço de carne sendo quase do tamanho do dragão ele rasgou rapidamente a carne em pedacinhos e comeu a carne crua facilmente, agora sabia o que ele gostava para comer:

-Sabia que essa carne era para mim? – falei encarando a criaturinha que só soltou faíscas e voou lentamente de volta para o banheiro

Deitei sobre a mesa e comecei a comer uma das bananas junto do energético, a dor no corpo estava passando, provavelmente graças ao remédio, mas mesmo assim nada de sono.

Andei elo quarto tentando pensar em algo e lembrei que teria que ir para a cidade de Magicka como sempre, quase havia me esquecido disso, e junto com essa lembrança entendi porque ainda não conseguia dormir, Amy. Ainda não havia falado com ela sobre o porquê da sua correria e o porquê da sua falta ao intensivo de educação física.

Troquei de roupa e fui até o dormitório feminino, quando estava a poucos metros dele vi Amy vindo na minha direção, ela estava bem, pelo menos por fora, ainda não engolia aquela sensação de que algo estava errado:

-Desculpe por mais cedo – ela disse me encarando a menos de um metro de distância

-Desculpo se me disser o porquê daquilo – disse encarando ela de volta e ela virou o rosto por um momento como se estivesse pensando na melhor resposta possível

-Você não poderia pedir outra coisa? – ela fala com um meio sorriso no rosto, ela realmente não queria conversar sobre isso, e tinha que respeitá-la por isso

-Um beijo então – ela simplesmente riu e me deu um rápido beijo

Andamos juntos até a floresta e abrimos os portais, chegamos a cidade e andamos rumo ao castelo, não deveria andar tanto com o corpo do jeito que o meu estava, mas de alguma maneira aquela cápsula havia ajudado. Chegamos e entramos, mais uma vez passamos pelas armaduras que pareciam me olhar e dizer que eu não era bem vindo ali. Passamos pelo salão com o desenho da batalha entre o primeiro grande mago e seu inimigo no chão, e também não consegui encarar aquele desenho sem me sentir um pouco mal.

Não tínhamos certeza de onde seria a aula dessa vez, mas não foi tão difícil de achar o local, a vários metros de distância já dava para ouvir os gritos de Thales então só seguimos os gritos e chegamos a sala, ela era idêntica a de antes, mas haviam alguns potes diferentes nas paredes:

-Finalmente chegaram – Morgana disse com um ar de alívio como se estivéssemos livrando-a de uma prisão de segurança máxima onde ela foi torturada por anos

-Desculpe o atraso – Amy disse se sentando ao lado direito de Thales enquanto eu sentava do esquerdo

-Não precisam se preocupar muito com o horário – Morgana disse se aproximando de nós – Como você está? – ela questionou Amy como se ela também não acreditasse que ela não estava tão boa quanto ela aparentava

-Estou ótima

-Tem certeza?

-Por que essa preocupação toda?

-Você andou treinando os feitiços que escrevi no diário? – Morgana estava com um visível ar de preocupação

-Claro, você viu quando usei alguns deles na luta

-Sim eu vi, e é isso que me preocupa Amy

-O que você quer dizer?

-Você sabe o que eu quero dizer – Morgana falou com um ar bem autoritário e até com um pouco de raiva – Que tal fazer um rápido feitiço aqui para nós

Morgana andou até um canto da sala e pegou uma vela, ela chegou até nossa mesa e colocou a vela na frente de Amy:

-Acenda – assim que Morgana falou uma pequena chama começou a queimar fracamente – agora Amy intensifique a chama

-Certo – Amy posicionou ambas as mãos em frente as chamas e começou a se concentrar – Aumentem, eu repito aumentem – mas não aconteceu nada – Eu disse para aumentarem

A aura de Amy tremia enquanto ia em direção a chama da vela e não aprecia estar tendo efeito algum, quando Amy ia tirar as mãos desistindo Morgana fez um gesto indicando para ela continuar, mas mesmo depois de dois minutos nada havia acontecido e Amy parecia estar ficando pálida:

-Eu não consigo – Amy falou com o rosto fraco

-É claro que não consegue – Morgana encarou a filha com um olhar de desaprovação – E você sabe o por que não sabe?

Amy virou o rosto e Morgana puxou-a de volta e encarou ela nós olhos, a mulher estava com raiva, muita raiva, aquilo estava facilmente visível para todos ali:

-Você não deveria ter usado o castigo de Atlas, você deve ter lido o meu aviso no diário e mesmo assim o utilizou, você não deveria nem sequer ter pensado nessa possibilidade – a voz de Morgana estava com cada vez mais ódio e Amy simplesmente se encolheu perante aquele tom autoritário e furioso

-O que é esse castigo que vocês tanto falam? – falei olhando para mãe e filha que pareciam não estar muito bem

-O castigo de atlas é uma magia antiga, ela foi criada pelos gregos antigos como uma forma de punição para os piores criminosos – Morgana puxou uma cadeira e se sentou na nossa frente – Ela é uma magia dificílima de ser executada e normalmente era feita por quatro ou mais magos, ela consiste basicamente em alterar a gravidade de um certo ponto de espaço e acabar aprisionando a pessoa que não consegue mais se mover por parecer estar erguendo um peso invisível sobre si mesma, mas essa magia é muito poderosa e cansativa e mesmo quando feita por quatro magos ela ainda acarreta em um risco enorme para o corpo, imagine se ela fosse feita por uma única pessoa

Virei e fiquei olhando para Amy, o rosto dela mostrava que ela sabia do que Morgana estava falando. Amy se remexeu na cadeira e tentou se levantar, mas peguei ela pelo braço, ela tentou se soltar, mas ainda era mais forte o que ela mesmo não sendo o mesmo de antes. Ela tentou se soltar, mas antes de conseguir algum progresso acabou tossindo, agora eu entendia o que Morgana queria dizer com riscos.

A tosse não foi nada demais, o problema foi o que saiu junto, sangue, uma boa quantia de sangue. Amy caiu no chão e seus olhos estavam ficando vermelhos indicando que ela iria chorar, mas então veio mais uma tossi e mais um pouco de sangue:

-O que está acontecendo? – Thales parecia assustado com a cena

-Isso Thales é o que acontece quando você não segue as instruções para utilizar uma magia – Morgana falou balançando a cabeça negativamente – Existem feitiços que foram criados paras serem usados por mais de um mago, e existem bons motivos para isso, quando você usou essa magia você teve que carregar um esforço físico-mental que deveria ser suportado somente por no mínimo três pessoas e além disso depois soltou aquela enorme bola de fogo, você usou magias muito poderosas sozinha e em um intervalo de tempo minúsculo, seu corpo agora está reagindo a isso bloqueando a sua aura e fazendo seus órgãos arcarem com certos preços, a tosse com sangue é só um deles

-Como assim Morgana? – falei enquanto sentia uma horrível sensação se espalhar pelo meu corpo, um medo anormal

-Provavelmente os músculos dela estão no limite físico, ela não deve sequer ser capaz de erguer o peso da própria adaga sem sentir dores insuportáveis no braço inteiro – Amy realmente não estava trazendo nada com ela hoje, nem mesmo sua adaga – Seu cérebro provavelmente está se cansando mais rápido do que deveria, seu coração deve estar trabalhando mais do que deveria, seus rins devem estar com alguma pequena pedra se formando, seu estômago deve estar ficando maluco e graças a isso você deve estar sentindo uma terrível queimação estomacal, seus tendões devem parecer rasgar a cada movimento, deve ter tido uma insônia terrível entre outras coisas bem desagradáveis, na verdade até agora não entendo como você conseguiu ficar consciente por tanto tempo, nem sequer compreendo como sobreviveu ao utilizar a bola de fogo

Amy tremia no chão enquanto algumas lágrimas escorriam pelo seu rosto, sentei no chão e abracei ela o mais forte que meu corpo permitiu:

-Quando ela vai melhorar? – perguntei ainda abraçando-a

-Não sei – Morgana disse soltando um longe suspiro – talvez seu corpo nunca mais volte a ser o mesmo , ela pode vir a melhorar dos sintomas, mas o estrago causado pode ter sido grande demais, se duvidar ela pode até ter encurtado seu tempo de vida por isso

-Tem que ter alguma solução – falei me erguendo do chão – Tem que haver alguma magia de cura para os sintomas dela, você queimou minhas queimaduras, por que não poderia curar sua própria filha? Junte todos os magos do mundo e cure ela! – sem perceber já estava em cima da mesa pegando Morgana pela garganta, meu corpo estava queimando de ódio

-Não é assim que funciona William, se alguém lançasse uma bola de fogo em você eu poderia curar a queimadura, mas se o mago rompesse seu limite físico ao lançar a bola eu jamais poderia curar os efeitos colaterais que ele viria a sofrer, efeitos colaterais de uma magia não podem ser curados por magia, é por isso que sempre recomendamos que magos treinem em equipes ou que ao menos ao fazerem magias individuais respeitem o seu próprio limite, tenho certeza que falei isso no diário não foi mesmo Amy?

Amy não respondeu, ela não conseguia no estado em que estava. Thales andou até ela e a abraçou como eu havia feito antes:

-Quanto tempo até a magia dela retornar? – perguntei soltando Morgana

-Não sei, talvez alguns dias, ou talvez semanas, ninguém pode dizer

-Tem que haver um jeito

-Eu gostaria de dizer que tem, como também gostaria de dizer que tem uma solução para o seu problema particular Will, mas não consigo pensar em nada, não conheço nenhum feitiço capaz de curar os efeitos colaterais de uso em excesso de magia, muitos magos buscaram isso em busca de uma jeito de poder usar magia ilimitadamente, mas ninguém conseguiu

Cai no chão, tinha que ter alguma soluça, tinha que ter. O silencio reinou naquele local, ninguém ousava falar, apenas o barulho da respiração de todos era que ousava quebrar aquele sinistro silêncio. Não podia deixar Amy naquele estado, não podia:

-A adaga – falei quebrando o silêncio e Morgana me encarou – ela é a solução

-Não, não é – Morgana avançou na minha direção – você não vai usá-la

-Pode ser a nossa única chance de ajudá-la! – Morgana recuou quando escutou meu grito, Thales me encarava com medo, encarei um vidro na parede, meus olhos estavam vermelhos – Eu vou usar a adaga você permitindo ou não, já usei ela antes, posso usá-la de novo se for necessário

-O eu antes era incomparável ao seu eu atual e olhe ao que você foi reduzido, imagine o que vai acontecer se usar os poderes da adaga no seu estado atual?

-Não me interessa

Dei as costas para Morgana e andei na direção da mochila de Amy e peguei a adaga em mãos, Thales me encarou visivelmente assustado:

-O que é isso? – o garoto estava tremendo de medo

-Isso é o que pode salvar a Amy então é bom você sair do meu caminho agora Thales – Ele não saiu, e era por causa do medo que estava sentindo

-Não vou deixar você usar isso tio, isso é perigoso – o garoto tremia cada vez mais, mas não importava, andei na direção dele e apontei a adaga na sua direção

-Não ouse fazer isso William – Morgana estava se aproximando também e carregava um frasco em mãos – Você não vai querer desobedecer minhas ordens, isso eu lhe garanto

-É da Amy que estamos falando Morgana! – gritei tão alto quanto minha garganta permitiu – Se quiser me impedir tente, mas garanto que não vai querer me ter como adversário, mesmo que eu morra eu vou ajudá-la como fiz antes ou ainda mais

Passei o dedo pela lâmina da adaga e Morgana me apontou seu frasco, não sabia o que havia ali, mas Morgana estava com fé naquilo então não seria boa coisa. Entrei me uma posição de batalha qualquer, mas antes de conseguir desferir qualquer ataque Amy gritou:

-Parem com isso! – após o grito ela soltou uma tosse que por sorte não veio com sangue algum – Não briguem por minha causa

Amy se levantou e ficou entre eu e Morgana, mas mesmo assim nenhum de nos dois soltou o que havia em mãos, a tensão ainda estava ali entre nós e eu sentia que meus olhos ainda não haviam voltado ao normal:

-Não vou deixar vocês dois se matarem por uma besteira minha, eu sabia dos riscos e mesmo assim fiz a magia e ponto final, nenhum de vocês podem fazer nada – Amy tossiu mais sangue

-Não diga isso – andei na direção dela – Eu ainda posso fazer algo

-Não vou deixar você usar essa coisa de novo, não depois de tudo que eu passei – Amy já ia chorar de novo se eu não fizesse nada

Acabei jogando a adaga para longe, droga, droga, droga, eu era um completo inútil. Sentei no chão, se ela não queria ser salva eu não podia fazer nada contra, era um pedido dela e eu não poderia ir contra, ou poderia?

Morgana andou na direção de uma das prateleiras e guardou o frasco, depois andou até sua cadeira e se sentou. Ela soltou um suspiro de alivio, ela não queria aquela luta tanto quanto eu, mas isso não significa que não teria lutado até o fim:

-Thales querido você poderia sair por um momento? – Morgana falou encarando o pequenino que estava inseguro se deveria ou não obedecer sua professora – A aula já acabou por hoje então você já pode ir

Thales então saiu dando uma última olhada na adaga, mesmo ele sendo tão novo já tinha noção do que era aquela coisa e dos perigos dela, todos ali tinham e mesmo assim eu não perderia tempo em usar seus poderes:

-Então como fica a situação? – falei alguns segundos depois de Thales sair

-Como assim como fica a situação? – falou Amy – É bem simples, eu vou arcar com o peso das minhas ações e ponto final

-Eu não vou permitir – estava sendo sincero, não havia porque de mentir, realmente não permitiria

-Sou eu quem escolheu isso Will e você não pode mudar isso

-Posso e vou, não me interessa o que você ou os outros mãos pensam Amy, eu vou te ajudar mesmo que isso vá contra o que você me pediu, sua vida é muito importante para mim e eu não vou te perder enquanto puder te ajudar mesmo que com a minha vida

Morgana suspirou tão alto que todos nós ouvimos, ou será o silêncio que fazia qualquer mísero barulho soar tão alto? Morgana então assoviou e momentos depois a porta se abriu e um livro foi entrando pela porta. O livro estava sendo carregado nas costas de um animal muito estranho, parecia a mistura de um castor com pato, já havia lido algo sobre aquela estranha criatura, seu nome até onde eu me lembrava era ornitorrinco, um estranho animal:

-Obrigada – Morgana disse pegando o livro – Este daqui é Phineas, meu avatar mágico, e sim ele é um ornitorrinco – a criatura soltou um barulho muito estranho com a boca

-E que livro seria esse? – falou Amy acariciando o animal que parecia estar gostando daquilo

-Um velho tomo que um mago do inicio do século dez escreveu, ele fala sobre um grupo de curiosas criaturas que de acordo com ele teriam o dom de curar qualquer coisa

-E que criatura seria essa? – Amy disse soltando o ornitorrinco, Morgana não precisa continuar a falar, eu sabia do que ela estava e se realmente fosse o que eu estava pensando era mais fácil eu morrer do que ir atrás deles

-Fadas – falei antes de Morgana e ela assentiu com a cabeça

-Fadas? A cura está com as fadas? – Amy ainda não entendia o porque da minha cara de desconfiança – Você se refere aquelas coisinhas minúsculas que tem asas?

-Bem elas não são tão pequenas assim, mas sim elas têm asas – falei, só lembrar daquelas coisas me fazia tremer

-O que você sabe sobre as fadas Amy? – Morgana falou com o tomo em mãos

-Nada – ela falou dando de ombros – Só sei que elas sumiram a um bom tempo atrás, ninguém mais viu nenhuma delas a mais de um século, elas se tornaram lendas entre os caçadores, mas até onde eu soube caso um dia algum caçador visse uma fada novamente ele deveria correr e informar o mais rápido possível uma das grandes famílias

-E você sabe o por que?

-Não, ninguém nunca disse

-Porque fadas são perigosas – falei antes que Morgana respondesse, senti aquela maldita sensação, até hoje lembrar daquelas coisas era horrível para mim


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Notas finais do capítulo

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