Lembranças De Um Verão escrita por Sarah Colins


Capítulo 47
Capítulo 46 – Futuro


Notas iniciais do capítulo

Olá amigos, como estão? ^^
Neste capítulo volto a contar a história apenas pelo ponto de vista da Annabeth assim como no início.
Quero agradecer a linda recomendação que a "Bianca di Ângelo" fez dessa fic *-* Eu adorei! Obrigada pelas suas palavras!
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Quem quiser receber as atualizações da fic me segue no twitter: @SarahColins_ e me mandem o de vocês para eu seguir também ;)



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Aquele havia sido um dia bem comum no acampamento meio-sangue. O treino correra assim como todos os dias. Cansativo, porém proveitoso. Na noite anterior Percy e eu tínhamos iniciado nosso castigo real. Felizmente a harpia que nos acompanhou não ficou apenas olhando. Ela na verdade fez a maior parte do trabalho, restando para nós apenas uma ou outra armadura para ser limpa e lustrada. Fomos para os chalés exaustos. Tanto que Percy nem ao menos sugeriu que passássemos aquela noite juntos. Ambos só queríamos cair na cama e dormir. Me dei ao luxo de acordar ligeiramente atrasada e pular o café da manha. No horário do almoço estava faminta e assim que fomos liberados, corri para o refeitório.

Estranhei não encontrar Percy por lá ainda. Mas não o esperei para pegar a minha comida e começar a devorar tudo. Em poucos minutos meu prato estava vazio e Percy ainda não havia dado as caras por lá. Não queria me atrasar para o treinamento que recomeçaria em pouco tempo. Aquela história de deixar as regras pra lá só se aplicava quando eu estava junto com Percy. Fora isso não valia a pena dar mais motivos para que Quíron tivesse que chamar minha atenção. Voltei a arena de combate onde realizamos alguns exercícios com lanças que particularmente não eram o meu forte. Clarisse La Rue e Chris Rodriguez, porém pareciam manusear aquela arma como se ela fosse leve como uma pluma.

Eu os observei durante o treino tentando me guiar por seus movimentos precisos, mas não adiantou. Não havia nascido para lutar com uma arma tão grande. Eles pareciam se divertir a seu modo enquanto treinavam. Não ficavam tão próximos e desinibidos como eu e Percy costumávamos ficar quando treinávamos juntos, mas dava para perceber a troca de olhares e sorrisos intensa entre os dois. Reparar nisso só fez com que eu percebesse o quanto estava sentindo a falta do meu namorado. Mas onde é que ele havia se metido? Nem todos os semideuses estavam ali na arena, então imaginei que deveria haver outra atividade em algum outro canto do acampamento acontecendo simultaneamente.

- Acho melhor continuar com a sua adaga mesmo, filha de Atena – a voz de Clarisse chegou aos meus ouvidos assim que eu arremessei a lança que percorreu uma trajetória completamente torta e alcançou o chão a poucos metros de mim.

- Tem razão – disse eu sem fazer esforço para me defender – Definitivamente as lanças não gostam de mim.

- Talvez elas até gostem, mas quando são usadas para ataca-la em não defendê-la – disse ela e logo depois começou a rir. Fiquei com a expressão séria enquanto esperava ela parar. Nesse meio tempo, Chris se aproximou colocando-se ao lado da namorada.

- Qual é meninas, nem parece que vocês lutaram lado a lado na Guerra dos Titãs um ano atrás – disse ele tentando acalmar os ânimos. Ele tinha alguma coisa que me lembrava Luke, talvez o fato de ambos serem filhos de Hermes tivesse algo a ver. Chris colocou o braço em volta da cintura de Clarisse que pareceu ficar totalmente desconfortável com aquela manifestação pública de afeto, porém não o afastou.

- Não liga não Chris – dizia ela ainda olhando para mim – Sempre nos provocamos assim, já virou rotina.

- Pois é – concordei – já me acostumei com o jeito tão doce e gentil que ela tem de me tratar – falei ironicamente com uma voz carregada de falsa meiguice.

- Entendo. Acho que eu já sabia que tudo isso era só fachada – ele olhava de uma para a outra com um sorriso – Vocês na verdade são mais parecidas do que imaginam e bem lá no fundo se gostam!

Olhamos para ele perplexas e logo depois caímos na risada. Mesmo que bem lá no fundo ele tivesse razão e eu soubesse disso. Mas ouvir alguém dizer em voz alta soava tão estranho e improvável que não pude deixar de rir. Ele olhava para nós como se não tivesse entendido a piada, até que aos poucos fomos voltando a normalidade. Então assumimos uma postura mais séria do que nunca. Rir com Clarisse de certa forma só havia confirmado o que Chris dissera. Fiquei sem jeito e então tentei falar alguma coisa para disfarçar.

- Mas então Chris, já sabe se vai voltar ao acampamento ano que vem? – essa pergunta geralmente era feita aos semideuses que estavam terminando o colégio assim como Percy e eu, por que devido aos planos de cada um às vezes não era possível retornar para cá, no caso de faculdade ou trabalho. Então achei uma boa desculpa para mudar de assunto.

- Provavelmente não – respondeu ele e não pareceu nenhum pouco desapontado por aquilo. Pelo contrário, ele parecia empolgado – Consegui uma bolsa de estudos em uma universidade de New Orleans. Vou estudar relações públicas.

- Que bacana, fico feliz por você – disse a ele com um sorriso pensando que esse era exatamente o curso perfeito para um filho de Hermes – E você Clarisse, também está pensando em ir para lá?

- Não, meu lugar é aqui – ela se referia não só a New York, mas também ao acampamento meio-sangue – Continuarei aperfeiçoando minhas habilidades e quem sabe eu não ajude a Quíron a dar uma intensificada na rotina de treinamento desses meio-sangues molengas que estão chegando ai.

- Espera ai – falei quando percebi o que aquilo significava – Então Chris vai se mudar para Louisiana e você vai continuar por aqui? – os dois concordaram com a cabeça como se aquilo não fosse nada de mais – E não se importam de ter que ficar longe um do outro por tanto tempo?

- Claro que sim – disse Chris enquanto envolvia Clarisse em seus braços. Ela deu um leve sorriso e enrubesceu um pouco – Mas temos que respeitar as escolhas um do outro. A distancia será uma coisa difícil de lidar, mas tenho certeza que conseguiremos passar por isso. Ainda poderemos nos ver nas férias e datas comemorativas.

- Então você vai acabar voltando para o acampamento de um jeito ou de outro – disse eu concluindo que se Clarisse fosse ficar por aqui nos anos seguintes, provavelmente ele a visitaria nas férias de verão, período em que o acampamento ficar mais movimentado.

- Tem razão – disse ele rindo – Se Clarisse estiver aqui quando eu vier visita-la então poderei rever todos vocês também e matar as saudades do acampamento.

Clarisse não falou nada, apenas segurou as mãos dele que ainda estavam entrelaçadas a frente de seu corpo. Ela tinha um olhar distante e pensativo. Imaginei que estava pensando em como seriam os próximos anos que teria de ficar longe de seu namorado. Por mais que ela quisesse se convencer de que aquilo não seria nada de mais, eu percebi que no fundo era sim muito difícil. E eu entendia perfeitamente esse sentimento. Só de pensar em passar os próximos anos longe de Percy eu já sentia um forte aperto no peito. Eu não queria aquilo de jeito nenhum. Teríamos que fazer nossos planos para o futuro se encaixarem de alguma forma. Mas e se não se encaixassem?

- Então até o jantar, Anna – disse Clarisse se despedindo e puxando Chris. Eu então retornei a terra e voltei a prestar atenção neles.

- A gente se vê, Annabeth – Chris também se despediu.

- Tchau – acenei para os dois que já iam se afastando.

Fui andando calmamente até os vestiários ainda pensando naquela conversa sobre os nossos planos para o futuro. Percebi que nem ao menos havia pensado nos meus. Era difícil imaginar uma vida fora daquela nossa realidade de semideuses. Sem monstros, sem profecias, sem guerras. O que eu iria fazer para o resto de minha vida? Sabia que queria ser arquiteta, mas será que eu queria fazer faculdade? Será que eu queria me mudar daqui? Será que Percy viria comigo? Será que, algum dia, formaríamos uma família? Era muita coisa sobre o que pensar. Mas Chris e Clarisse me fizeram ver que já estava na hora de começar a fazer esses tais planos.

***

Ao chegar ao chalé de Atena percebi que minha cama e minha escrivaninha estavam uma zona. Já havia tomado banho e me arrumado no vestiário então decidi dar um jeito naquela bagunça para não deixar sobrar tudo para a manhã do dia seguinte. Acabei me atrasando para o jantar por causa disso. Quando adentrei o salão o acampamento todo já se encontrava lá e alguns até já tinham terminado de jantar e se levantavam para sair. Eu havia comido tanto no almoço que ainda não estava com fome. Fui diretamente até a mesa de Percy que estava concentrado em sua badeja que trazia um verdadeiro baquete. Sentei-me do lado oposto, ficando de frente para ele. Seu rosto se levantou imediatamente e ele me olhou com um sorriso.

- Por onde andou, cabeça de alga? – fui direta o que o deixou um pouco surpreso.

- Por onde andei? – repetiu ele ainda receoso – Aqui pelo acampamento, como sempre. Por quê? – ou ele não tinha entendido a pergunta direito, ou então estava tentando esconder alguma coisa. Se fosse a segunda opção não seria a primeira vez.

- Não se faça de bobo, Percy. Quero saber por que sumiu a tarde toda? Não te vi no almoço e nem na arena depois.

- Ahhh, isso – disse ele como se apenas agora tivesse se dado conta do que eu estava falando – Tivemos uma aula de sobrevivência na floresta. Quíron nos fez procurar nossa própria comida e prepara-la em fogueiras. Demorei tanto para acender a minha que estava quase comendo aquele peixe cru mesmo.

- Você pegou um peixe para comer? – perguntei sem conseguir deixar de rir ao imaginar como Percy havia se virado nessa aula – E Quíron achou isso justo? Aposto que foi muito mais fácil para você do que para os outros que tiveram que encontrar comida.

- Bom, ele não disse que não podíamos usar nossos dons para isso – defendeu-se ele – E eu fui tão mal na parte do fogo que acho que acabei ficando para trás de qualquer jeito.

Eu ainda ria quando me levantei para ir pegar minha comida. Não sem antes me inclinar para dar um beijo em Percy. Ele esperou que eu voltasse e terminasse de jantar. Depois seguimos de mãos dadas acompanhando os outros semideuses até a fogueira. Antes que chegássemos lá, porém eu parei e comecei a nos guiar para outro lugar. Andamos por uma trilha que estava iluminada por alguma trochas. Seu caminho era delimitado por algumas pedras. Cerca de dez metros a frente havia um canteiro com um chafariz no centro e alguns bancos em volta. Gostava de vir até aqui com meu namorado sempre que precisávamos conversar. Me sentei num dos bancos e esperei que ele fizesse o mesmo. Fiquei olhando a estátua da fonte até reunir coragem suficiente para começar a falar. Percy, porém foi primeiro.

- Achei uma boa ideia esse negócio de começarem a ensinar técnicas de sobrevivência na “selva” – disse ele pensativo enquanto acariciava minha mão – Quer dizer, nós nunca precisamos disso porque sempre estávamos com suprimentos e tudo. Mas se um dia ficássemos perdidos por ai sozinhos no meio do nada, será que conseguiríamos nos virar?

- Não sei – respondi – Acho que iríamos acabar aprendendo na marra – eu ri de novo lembrando o que Percy me contara da aula de sobrevivência.

- Parece fácil falando assim, mas quero ver você tendo que caçar sua própria comida e acender uma fogueira sem fósforo – ele falava sério – Somos meio-sangues, e sabemos que tudo de ruim pode acontecer conosco. E acontecerá muito provavelmente.

- Ok, Percy. Foi mesmo uma excelente ideia incorporarem isso ao treinamento – concordei com ele para cortar de vez aquele assunto. Eu tinha algo mais importante e mais urgente para tratar com ele – Na verdade eu te trouxe aqui para que pudéssemos conversar sobre uma coisa, longe de todos os outros.

- Ah é? E será que isso tem a ver com conversar mesmo ou você está com outras intenções comigo? – dizia ele ao se aproximar e começar a me beijar. Imaginei que já estava demorando para ele levar a coisa para esse lado. Recusei o seu beijo e ele ficou evidentemente desapontado.

- Não, amor. Não é nada disso – me virei no banco para me sentar de frente para ele – O que preciso falar com você é muito sério. E quero que seja completamente honesto comigo quando me responder. O que pensa em fazer agora que terminamos a escola?

- Não sei – ele respondeu sem nem pestanejar – Ainda não pensei sobre isso.

- E você não acha que está na hora de começarmos a pensar? – segurei sua mão e olhei nos fundo de seus olhos verdes ao dizer aquilo – Não acha que o resto de nossas vidas deve ser mais do que treinar num acampamento de verão e combater monstros durante o resto do ano?

- Claro que acho – disse ele como se aquilo fosse obvio – Mas não tenho pressa de pensar nisso. E não importa o que vamos fazer daqui para frente, sei que vamos estar juntos sempre. E isso é tudo que eu preciso saber.

- Percy, ok, o que você está dizendo é tudo muito bonito, mas... – eu tentava encontrar as palavras para que aquilo não soasse arrogante – Não podemos ter essa certeza de que sempre estaremos juntos. E se tivermos que nos separar por um tempo? E se nossos planos não forem assim tão compatíveis?

- Como assim? O que quer dizer com isso? – ele parecia não estar entendendo onde eu queria chegar com tudo aquilo.

- E se eu resolver que quero fazer uma faculdade num lugar muito longe e você preferir ficar aqui com a sua família? Ou então se você decidir que quer trabalhar fora do país e eu tiver que continuar projetando coisas para os deuses? – exemplifiquei para ver se ele conseguia compreender minha preocupação – O que eu quero dizer é que ainda somos muito novos. Ainda temos toda uma vida pela frente para construir. E talvez não seja assim tão simples que consigamos fazer isso juntos o tempo todo...

- Acha que teremos que nos separar para que nossos planos deem certo?

- Não! Você não está ouvindo direto o que eu tentando explicar – tentava manter a tranquilidade, mas ele parecia estar se esforçando para não me entender.

- Estou te ouvindo perfeitamente, Annie – ele tinha um tom aborrecido, como se eu o tivesse acabado de ofender com o que dissera.

- Então você entende que o que estou dizendo é que talvez esse negócio de “sempre ficarmos juntos” e “fazer tudo juntos” pode não ser tão fácil. E que por isso é melhor que já comecemos a pensar desde já o que é que vamos querer da nossa vida. Quais as nossas metas, nossos sonhos. Para que possamos saber como poderemos apoiar um ao outro. Para que saibamos do que teremos que abrir mão para conquista-los. Temos que saber o que estamos dispostos a arriscar, o que estamos dispostos a sacrificar. Tudo isso é muito difícil de se definir mas é preciso. E talvez junto com todas essas escolhas e decisões venham momentos difíceis. Coisas que temos que estar dispostos a enfrentar.

- Sim eu entendo o que quer dizer, não se preocupe, não sou assim tão burro – disse ele parecendo magoado – Mas ainda assim, não acho que tem porque se preocupar tanto. Achei que confiasse que nosso amor era forte o suficiente para resistir a tudo. Achei que ficarmos juntos era mais importante do que qualquer outra coisa.

- E é! É a coisa mais importante do mundo para mim agora...

- Agora? – ele não me deixou terminar a frase – Então você acha que pode ser que existam coisas mais importantes no futuro?

- Eu não disse isso.

- Pois foi o que pareceu...

- Quer saber, esquece! Não vamos chegar a lugar nenhum com essa discussão!

- Mas foi você mesma que a começou.

- É, e eu mesma estou acabando com ela – me levantei bruscamente e não me atrevi a olhar para ele – Nos falamos amanha, Percy...

O deixei para trás enquanto andava a passos rápidos. Queria sumir dali o quanto antes. Era melhor assim. Antes que eu falasse alguma besteira. Antes que começássemos a brigar por algo que não fazia sentido. Ele não tinha entendido nada do que eu queria dizer. Aquele cabeça de alga estava se mostrando um verdadeiro cabeça dura. Mas eu ia dar um jeito de fazê-lo ver que eu tinha razão. Mas não agora. Agora eu só precisava esfriar a cabeça e dormir. No dia seguinte eu conseguiria pensar melhor sobre o assunto. 


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Notas finais do capítulo

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beijos ;**
@SarahColins_