Confesso que preferia ter saído dali imediatamente para continuar matando as saudades do meu namorado. Mas ao que parecia, existiam muito assuntos importantes a serem tratados. Então Quíron convidou-nos a entrar para poder me explicar direito o que havia acontecido. Nico e Rachel também foram incluídos, pois de certa forma também estavam envolvidos com aquela confusão, ainda que indiretamente.

Nos adentrados aquela estranha e singular sala de estar. Quíron deu a volta pelo cômodo e parou próximo àquela grande cabeça de alce que ficava pendurada na parede. Eu segurava a mão de Percy e o conduzi até o sofá maior fazendo-o sentar-se ao meu lado. Continuei segurando a mão dele enquanto o resto das pessoas entrava e se acomodava. Enfim, Quíron começou a falar.

– Já expliquei parte da história a Percy, mas creio que Nico é a pessoa mais indicada para terminar de contar-lhes o que foi que aconteceu com Stoll.

– Nico? – perguntei sem entender nada – O que ele tem a ver com isso?

– Muito – disse ele enquanto olhava para as próprias mãos. Além do tom misterioso que ele costumava empregar as palavras dessa vez eu pude perceber também um pouco de ressentimento e culpa – Esse espírito que estava perturbando Connor, fui eu que o deixei voltar ao mundo dos vivos.

– Por que fez isso? – Percy perguntou surpreso. Pelo jeito ele também ainda não sabia dessa parte da história.

– Eu não sabia que ele tinha más intensões. Era apenas um velho ancião que dizia estar tentando encontrar uma forma de avisar a sua família onde encontrar seu corpo morto. Eu acreditei e consegui tirá-lo de lá por um tempo. Mas depois que eu vi para onde ele estava rumando eu comecei a me preocupar. Ele vinha direto para o acampamento. E foi por isso que eu vim para cá. Tinha que avisar a Quíron que talvez ele pudesse criar problemas – ele retomou o ar depois de falar tudo aquilo quase sem parar. Mas depois continuou – Ele agiu tão discretamente que nem nos demos conta de sua presença por aqui. Cheguei a achar que já se havia ido e estava prestes a partir até que aconteceu aquilo...

– Aquilo o que? – eu já estava ficando nervosa com aquela história sinistra que ele estava contando. Mais parecia o enredo de um filme de terror.

– Connor vinha mantendo essa discrição assim como Forbs o havia orientado. Esse era o nome do tal espírito. Mas quando Percy o provocou ele perdeu o controle e então acabou se expondo. Foi nesse momento que eu percebi que ele estava sob influência de alguma coisa. Em seguida não foi difícil rastrear o espírito e aprisioná-lo de novo – somente nesse momento ele levantou os olhos para encarar Percy – Mas creio que se não fosse essa história de duelo teríamos demorado muito mais para desmascarar Forbs. Ele poderia ter feito um estrago muito maior com Connor e quantos outros semideuses quisesse. Ele é muito mais perigoso do que eu imaginava.

– Mas afinal de contas o que esse tal de Forbs quer? Porque ele veio ao acampamento? Por que usou Connor para tentar destruir minha relação com Percy? – perguntei com tom indignado. Apesar de ver que Nico estava um pouco abalado com o ocorrido, eu não podia deixar de querer entender tudo de uma vez!

– Ainda não sabemos se ele estava agindo a mando de alguém mais poderoso ou se estava por conta própria. Mas acreditem que eu vou investigar isso muito bem para trazer uma resposta a vocês. É o mínimo que eu poderia fazer depois de causar todo esse transtorno.

– A culpa não foi sua, Nico – disse Percy lançando um olhar de compreensão ao amigo – Você não tinha como saber o que ele pretendia. Você só estava tentando ajudar. E depois que viu que havia algo de errado ainda veio tentar concertar as coisas. Não se culpe por algo que um fantasma fez, ainda que você seja o “mestre” deles.

Rimos todos juntos depois do que Percy disse. Esse era meu namorado. Fazendo graça nos momentos mais sérios e tensos. Ainda que toda essa história não fizesse sentido na minha cabeça e que existissem muitas lacunas a serem preenchidas eu resolvi deixa-la de lado um pouco. Primeiro porque não queria fazer com que Nico se sentisse ainda pior com aquilo. Segundo porque infelizmente ainda havia outras coisas muito sérias de que tratar. Estava ficando difícil não deixar que todo aquele clima atrapalhasse o fato de que eu e Percy estávamos bem de novo. Mas eu não ia desistir de tentar me agarrar aquela fonte de felicidade. Não ia me deixar abalar com más notícias.

– Bom, agora acho que é a vez da Rachel falar – Quíron falou depois que nós paramos de rir – Que profecia é essa que você disse que fez sobre a Annabeth?

– Ela não tem certeza de que a profecia é sobre mim. Não sou a única filha de Atena que existe – tentei afastar a possibilidade de um futuro ruim de qualquer forma.

– Tem razão Annabeth – Rachel se dirigia a mim ao falar. Seu rosto carregava uma expressão aturdida e insegura – Mas devido aos últimos fatos eu posso apostar que ela fala sobre você, sim!

– Qual é a profecia afinal? – perguntou Percy que aparentemente se sentia boiando no assunto.

– “Depois da tormenta a filha de Atena verá o sol surgir. Lindos momentos de amor estão por vir. Mas sozinha irá ficar por longos meses. Enquanto interferir a vontade dos deuses” – repetiu Rachel de forma quase musical. Entretanto eu não pude deixar de me arrepiar novamente ao ouvir aquelas palavras que poderiam estar se referindo ao meu futuro.

– Gostei da parte do sol e dos ‘lindos momentos de amor’ – disse Percy me olhando com uma cara de travesso. Eu então lhe lancei um olhar de reprovação para que parasse com aquilo. Ele conseguiu deixar meu rosto quente e provavelmente vermelho de vergonha.

– É, mas eu não gostei nada da parte do ‘sozinha por longos meses’. O que isso pode querer dizer? Que serei raptada? Que todos irão me dar as costas? Definitivamente não pode ser algo bom! – infelizmente já comecei a me exaltar só de pensar nas possibilidades daquela profecia.

– Calma, amor! Nós não sabemos quando nem como isso irá ocorrer. Mas você sabe que não importa o que esteja por vir, vamos enfrentar isso juntos, ok? – não pude deixar de sorrir e apertar suas mãos nas minhas quando o ouvi dizer aquilo.

– Eu sei sim. Mas acho se algo está para acontecer, vai acontecer. Não importa o que a gente faça para impedir. Se está na profecia é porque é verdade. Mas não quero pensar nisso agora. Quero aproveitar enquanto tudo está bem e em paz.

Nesse momento eu e Percy estávamos virados um de frente para o outro. Conversávamos entre nós como se não houvesse mais ninguém ali. Quíron, Nico e Rachel não diziam nada, apenas nos observavam. Quando me dei conta daquilo fiquei um tanto quando constrangida. Eles não pareciam dispostos a tomar a inciativa de sair e nos deixar mais a vontade para conversar. Então decidi dar um jeito de sair dali e levar Percy comigo.

– Bom, acho que todos os tópicos dessa reunião já foram abordados e discutidos. Agora se me dão licença, temos que ir aos nossos chalés.

Me levantei puxando Percy pela mão e logo em seguida todos se levantaram também. Fomos até a varanda. Nico se despediu de nós rapidamente, depois de se desculpar de novo. Ele foi se afastando e quando estava já a alguns metros de distancia se virou e nos lançou seu melhor sorriso frio e sombrio. Rachel também se retirou depois de se despedir de todos. Não sei se era impressão minha, mas ela se demorou um pouco mais do que o normal na hora de abraçar Percy. Mas eu não ia me abalar com algo tão insignificante. Afinal estava prestes a fazer o que há muito já estava desejando. Sumir dali e ter a atenção de Percy só pra mim.

Deixamos o centauro na varanda após nos despedirmos dele. Seguimos de mãos dadas andando pelo acampamento. Não falamos absolutamente nada por um longo tempo. Apenas caminhamos sem rumo. Não estávamos preocupados em retornar aos chalés. Instintivamente meus pés nos levaram a um lugar tranquilo e reservado onde poderíamos conversar. Um descampado que havia no meio da floresta. Um lugar onde eu já vira várias batalhas serem travadas. Reais ou apenas para treinamento. Aquele lugar também me recordava muito o local aonde Afrodite viera me visitar em meus sonhos.

Caminhei até o meio da clareira. Segurava a mão de Percy que vinha logo atrás de mim. Sentei-me no chão e esperei ele fazer o mesmo. Pensei em falar alguma coisa. Mas o que eu diria? Que eu estava extremamente feliz de poder agir normalmente com ele de novo? Que eu sentia falta dos seus beijos e seus carinhos? Que eu não aguentava mais de saudades de estar com ele? Que dali em diante eu não queria mais me separar dele um segundo sequer? Tudo aquilo parecia tão óbvio para mim que acabaria ficando ridículo tentar expressar com palavras. Então decidi não dizer nada e apenas agir.

Tomei o rosto de Percy em minhas mãos e deixei com que meus olhos se pendessem dentro dos dele, como há muito não fazia. Senti aquele brilho verde-mar tomar conta de mim e fui me aproximando dele devagar. À poucos centímetros de seu rosto eu já sentia sua respiração e isso só fez com que eu tivesse ainda mais vontade de continuar avançando. Até que toquei levemente nossos lábios. Eles se fundiram em um beijo doce e avassalador. Daqueles que você não tem vontade de parar nunca. Minhas mãos passaram do seu rosto para seus cabelos e depois desceram até seu pescoço. As mãos dele se mantinham firmes em minhas costas trazendo-me cada vez mais perto de seu corpo.

Mais uma vez eu sentia que meus instintos estavam dominando meu corpo. Como daquela vez que havia passado a noite no chalé de Poseidon. Mas dessa vez era diferente. Eu estava consciente do que o meu corpo desejava. Eu tinha a confiança e o autocontrole de parar a qualquer momento. Porém não era isso que eu queria. Eu queria continuar. Eu queria deixar aquela sensação me dominar por completo. Me entregar inteiramente àquela vontade louca que estava me consumindo. Inclinei meu corpo sobre o dele me apoiando ligeiramente sobre os joelhos, até que ele se deitou na grama.

Deitei-me sobre ele enquanto ainda beijava seus lábios. Suas mãos corriam pelas minhas costas chegando até minha cintura, tocando de leve em minha pele que ficara exposta entre a camiseta do acampamento e minha calça jeans. Sentir seus dedos encostando essa parte tão ínfima de meu corpo já me fizeram incendiar. Não tive nenhuma vontade de tentar fazê-lo parar quando ele começou a subir suas mãos, levando junto a minha blusa pouco a pouco despindo minhas costas. Nesse momento nosso beijo ficou mais lento, já que eu mal conseguia me mover tamanho era o efeito de seu toque em mim.

Comecei a passar a ponta do nariz em seu rosto com os olhos semicerrados. Observei sua expressão de satisfação e conclui que ele estava gostando daquilo. Acariciava seus cabelos com os dedos enquanto continuava com aquela brincadeira de explorar seu rosto com o nariz. Ele seguia levantando minha blusa pouco a pouco até que seu dedo esbarrou de leve em meu sutiã. Foi nesse momento que eu senti que não haveria mais como voltar atrás. Iria acontecer, e seria agora. Claro que eu estava errada.

Uma luz intensa surgiu a nossa direita ofuscando nossa visão. Eu me assustei com aquilo e logo rolei para sair de cima de Percy. Ajeitei minha roupa rapidamente com medo de que alguém nos pegasse naquela situação. Eu me lembrava daquele brilho. Me lembrava ainda mais daquela silhueta de mulher com um corpo perfeito, que ia se tornando visível conforme nossos olhos de acostumavam com a claridade.

– Sinto tanto por ter que interromper esse momento de paixão tão feroz entre vocês, meus queridos – disse a voz da deusa enquanto flutuava a nosso encontro – Mas não tive outra escolha. Preciso falar com vocês dois.

Percy arregalou os olhos enquanto olhava para ela incrédulo.

– Afrodite!