For Amelie - 1a Temporada escrita por MyKanon


Capítulo 8
VIII - Ciúmes, intrigas e especulações




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_ Ei Mel, não vi que estava aí. Vou pra aí. E acho que mais dois de vocês vão ter que vir também... – comentou Aquiles voltando-se para a mesa abarrotada.

Eu notei que eles deram mais uma olhada em mim antes de elegerem os outros dois azarados.

_ E aí? – Perguntou Aquiles com a mochila já no ombro.

_ Vamos Rafa? – perguntou Bia já se levantando ao loiro alto e forte do futebol.

Se ela não o estivesse ameaçando com o olhar ele teria recusado. Mas zelando por sua integridade física, ele jogou a mochila nas costas e também se levantou. As coisas realmente não pareciam ir muito bem pra mim... O tal Rafa se arrastou na direção da minha mesa atrás do Aquiles e da Bia sorridente. Ora ela sorria, ora ela me irritava com olhares rancorosos... Não dava pra entender muito bem.

_ Vou sentar aqui do seu lado Cris, pode ser? – ela perguntou.

Eu ainda estava calculando quem seria mais irritante ao meu lado, ela ou o bonitão desengonçado. E outra, ela não queria sentar ao meu lado... Ela queria sentar ao lado do Aquiles... Então, por quê...? Aahhnn... Entendi. Se ela não sentasse, o Aquiles ia sentar. Ele era o único que não me temia ali na sala. Ou seja... Ela estava mesmo com ciúmes de mim a ponto de ficar ao meu lado?

_ Claro Bia.

_ E aí Cris? Espero que não guarde ressentimentos por causa da bolada...

Eu notei que ele estava apreensivo e fez o comentário na esperança de dissipar o clima gelado do grupo. Mas não deu muito certo. Eu estava irremediavelmente fria, obviamente, a resposta só poderia sair gélida:

_ Não guardo nada, exceto um septo dolorido.

Ele riu nervosamente, mas depois relaxou quando o Aquiles gargalhou descontraído ao lado dele, de frente pra mim.

_ Gente, vocês ainda vão dar algumas risadas com a Mel.

Não! Não, não, não e não! Eu não estava sendo simpática e menos ainda engraçada!

_ Preparem-se, os coices aí são descontrolados. – completou.

Agora melhorou. Aviso dado. Espere aí... Coice? Isso é coisa de equídeos...

_ Prefiro franqueza, se não se incomoda Aquiles.

_ Em absoluto. Cuidado gente, os coices da Mel são muito francos.

O conhecido como “Rafa” riu, dessa vez espontaneamente, e a Bia seguiu o exemplo. Eu era a única que não via graça nenhuma naquele papo?

Meneei a cabeça e abri a mochila retirando meu material. Eles fizeram o mesmo.

_ Bom, você já deve ter notado, mas esse é o Rafael, Cris, mas pode chamar de Rafa.

_ Certo.

Antes que outro papo desinteressante pudesse começar, a professora iniciou com a aula. Falou algum tempo sobre seres vivos e sua classificação.

_ E então? Alguém aí vai me dizer como é feita a classificação básica dos seres vivos?

Nada.

_ Vamos lá pessoal, a gente viu alguma coisa sobre isso ainda ano passado...

Depois de mais alguns segundos de silêncio, alguém falou:

_ É aquilo da taxonomia não é professora?

_ É, é aquilo mesmo. Você lembra Samuel?

_ Reino... Espécie... Ah não lembro o resto professora.

_ Bem, as extremidades você acertou. Alguém mais se arrisca?

Era engraçado como nesses momentos os alunos sempre estavam ocupados anotando algo, ou entretidos observando uma representação do corpo humano. Quem não arrumava nenhuma desculpa, encarava um ponto inexistente no ar até ficar vesgo, tudo para não cair na mira da professora.

_ Nem valendo um ponto na média?

_ Reino, filo, classe, ordem, família, gênero e espécie.

Eu tentei, mas não resisti à oferta do ponto...

_ Isso mesmo. Você é a aluna nova, não é? – a professora consultou a lista rapidamente – Amélia Cristina?

_ Sim, professora.

_ Muito bem, parabéns pelo pontinho. – Ela se voltou para o resto da turma e ralhou – Tenho certeza que muita gente aqui também lembrava, só não estava com coragem de arriscar. Tudo bem. Então vamos prosseguir.

Ela deu mais algumas informações sobre a classificação e explicou que estudaríamos um pouco de cada um dos reinos durante o semestre.

_ Garantiu um ponto na média hein Cris! – comentou Bia com uma expressão que eu não soube definir se era gracejo ou ironia.

_ É sempre bem vindo. – respondi encarando-a firmemente.

_ Eu não lembro de ter visto nem muito nem pouco disso ano passado... – reclamou Rafa.

_ Eu lembro... Mas jamais que ia lembrar de todos eles. Mesmo agora eu já esqueci. Como era mesmo Mel?

_ Reino, filo, classe, ordem, família, gênero e espécie.

_ Horas e horas repetindo essa frase de frente para o espelho? – perguntou a Bia.

_ Não foram horas. Nem em frente ao espelho.

_ Minutos sentada na cama? – arriscou Aquiles.

_ Também não foi sentada na cama.

_ Na sala de aula? – dessa vez foi o Rafa que deu o palpite.

_ Sim.

_ Você decorou em minutos durante a aula? – dessa vez a Bia parecia surpresa.

A cara dela não denotava muita inteligência mesmo, mas não era tão difícil assim gravar a classificação dos seres vivos...

_ São apenas 7 nomes, não é tão difícil.

_ Mesmo assim, acho que vou ter que imprimir uma tabela e colar na capa do caderno pra não esquecer a ordem. – ponderou Aquiles.

_ Já que vamos trabalhar com isso o semestre inteiro... Vou fazer um pra mim também. – concordou o Rafa.

Fiquei pasmada com a falta de conteúdo do grupo.

_ Não precisam se dar tanto trabalho. Lembrem-se apenas de “REFICOFAGE”. RE de reino, FI de filo, C de classe, O de ordem, FA de família e GE de gênero. Simples.

Eles analisaram a sugestão por um momento.

_ Mesmo assim... Eu também posso esquecer essa palavra...

A Bia tinha cara de poder esquecer qualquer coisa, até que o Aquiles tinha namorada.

_ Então criem suas próprias sequências. Raio forte caiu ontem, fazendo grandes estragos também serve.

_ É, esse é melhor. – Bia foi obrigada a ceder.

Depois da aula de Biologia era intervalo.

_ Vamos lá na lixo com a gente, Mel?

_ Não, vou pra sala.

_ Tá, guarda um lugar pra gente então? – perguntou a Bia já se levantando e se postando ao lado do Aquiles.

_ Farei o possível.

O Rafa seguiu com a turma com a qual estava sentado na mesa lotada.

_ Vamos lá fazer uma social com a sala Mel! – insistiu o Aquiles.

_ Não tô a fim de social. Só um pouco de silêncio e sossego.

A Bia fez uma careta torta. Ela era mestre em expressões.

_ Pra quê? – perguntou ainda torta.

_ Ler, estudar... – “Coisa que você desconhece.”

_ Tá bom Mel, a gente vê se vai mais cedo pra sala então te fazer companhia. Eu só vou comer um hamburgão.

_ Então vamos logo pra voltar logo.

Os dois deixaram a sala e eu fui a última a sair. Voltei para o bloco 3, onde seria a aula de língua e literatura e me sentei no banco em frente à sala. Tirei o livro da mochila e comecei a ler. Era uma história legal. Um violinista montou um quarteto de cordas e depois disso a mulher dele foi embora levando a filha, sem dar explicações. O cara estava surtando, mas não parava de tocar. Era dramático, mas ainda assim engraçado.

_ Se você falasse tanto quanto lê...

_ Seria igual à Bia.

Aquiles riu e sentou-se ao meu lado com um lanche numa mão e uma lata de coca na outra.

_ Tá servida?

_ Não, obrigada.

_ Não ficou com medo dela te ouvir?

_ Por que ficaria? Não foi uma ofensa. Falando nisso... – procurei ao redor – Onde está nossa colega em questão?

Ele tomou um gole de coca e deu de ombros.

_ Ela não me viu sair da lixo.

“Você fugiu dela, pra ser exato.”

_ Ahn.

Voltei para minha leitura.

_ Você nunca pergunta nada Mel. Você não tem curiosidade de nada?

_ Sim eu tenho. Mas aí eu vou à biblioteca ou procuro na internet.

_ Seu mundo são os estudos, não é? Você não acha meio chato?

_ Não. Conversas paralelas são meio chatas.

_ Não me atingiu, se era esse o objetivo, vou continuar falando. Sabia que tudo em excesso faz mal? Inclusive estudar?

_ Falar também.

_ Ah, não começa! Por que você não desce com a gente no intervalo, bate um papo com o pessoal, deixa eles te conhecerem... Sabia que alguns tem medo de você?

Depois disso ele riu.

_ Sabia.

_ E tá bom assim pra você?

_ Tá ótimo.

_ Esse livro deve ser bem massa mesmo.

Eu fechei o livro e o encarei.

_ Você é egocêntrico. Ou está carente.

_ É mais fácil ser egocêntrico...

_ É verdade. Afinal, atenção você tem até em demasia.

_ Aha! Agora sim...

_ Agora sim o quê?

_ Você está começando a especular sobre a Bia.

Fiz uma careta de descaso. Ele não disse mais nada. Estava louco para que eu perguntasse sobre eles dois. Mas o incômodo dele me divertia. Ele desistiu e voltou a morder o lanche. Eu tornei a abrir o livro.

Depois de algum tempo a Bia subiu reclamando por ele tê-la deixado sozinha na lanchonete. Enquanto meu mundo eram os estudos, o da Bia era o Aquiles. A sala em peso estava na lanchonete, mas ela só sentia a falta dele.

Chegava a dar pena. Por que ele não abria logo o jogo com ela? Se ela estava investindo, era porque ele havia dado esperanças, não?

É, estou começando a ficar fofoqueira... Reservada, claro. Bem reservada. Extremamente reservada.

Continua


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Notas finais do capítulo

*
N/A: Olá minhas pessoas mais queridas!!
Obrigada por todas as reviews, por todas as companhias e paciencias meninas, adoro todas vcs!