For Amelie - 1a Temporada escrita por MyKanon


Capítulo 5
V - Perseguição implacável




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Minha decepção não poderia ser maior quando chegamos à sala da primeira aula. Era física. E era igual à sala de química.

_ Fica tranquila! Você pode escolher onde sentar! – disse o Aquiles quando me viu estarrecer ao encarar as bancadas da sala.

Não posso negar que fiquei constrangida. Minha decepção ao ser parceira dele estava mais do que evidente.

_ Ahn... Não me leve a mal, mas é que eu vi muita gente reclamando quando me sentei com você e tirei 93% da sala do lugar e...

Epa! Por que mesmo eu estava me explicando? Desde quando eu me preocupava com o que ele pensava de mim? E por que ele estava dando risada?

_ Eu estava só brincando Cris! Mas parece que você acabou de se entregar!

Mas parecia que me incomodar, não o incomodava, pois continuou gargalhando do acontecimento. Eu apenas meneei a cabeça em reprovação a ele, e a mim também, certamente. Eu retomei a caminhada, dessa vez ia me sentar na última bancada, no ponto mais alto, esperando que assim como minha posição, minha sorte mudasse drasticamente.

_ Ei, Cris!

“Não, por favor, não me faça companhia!”

Virei e só olhei pra ele em silêncio.

_ Os 93% são mesmo exatos? – agora ele estava surpreso.

Qual o problema em calcular porcentagens? Se eu tinha fortes inclinações estatísticas, o problema era meu.

Bom, mas ele parecia realmente surpreso.

_ Não, Aquiles... Na verdade deu 92,5%. Eu arredondei pra não ficar complicado.

_ Bom dia Aquiles!!! Bom dia Cris! Hoje você vai me desculpar, mas vou pegar o Aquiles emprestado!

Bia gargalhou alegremente, mas a risada dela era naturalmente estridente, então, eu toparia qualquer parada para fazê-la parar.

_ Plenamente de acordo.

_ Então, senta mais pra cá Cris...

Aquiles fez o convite, mas eu recusei fingindo que não tinha ouvido. Logo ele me presentearia com um aparelho para surdez. Eu estava tão irritada pela minha fraqueza de manter um diálogo que nem o fato de ninguém sentar ao meu lado me acalmou.

O professor Wanderley entrou na sala e inicialmente falou do conteúdo programático do curso, mas em menos de 15 minutos começou a divagar sobre filosofia. Isso sempre acontecia nas aulas de física... Bacana. Se eu resolvesse me formar em física, significava que eu poderia ministrar aulas de filosofia também? Finalizada a aula, a turma pareceu correr em sincronia. A aula de física já era assustadora por si só, agora, física filosófica era crueldade refinada.

Eu ainda me certifiquei que meu perseguidor já tinha saído, mas eu já devia ter imaginado que sim. Quando a Bia encaixava no braço dele, ele parecia não ter personalidade própria. E ainda dizia que o ciúme que a namorada sentia dela era sem fundamento. Da parte dele a declaração até parecia ser sincera, já por parte da Bia... Enfim, eu não ia ocupar meus pensamentos com essa futilidade.

Quando cheguei na sala de matemática já estava quase todo mundo em seu lugar. Segui direto para o fim da sala sem olhar para os lados. E por causa disso, acabei sentando perto dos mesmos meninos da aula de história. É, aqueles que agora tinham medo de mim.

Percebi isso porque eles pararam de falar no instante que me sentei atrás deles, e notei que ficaram rígidos na maior parte da aula. Eu estava me superando... Se eu não era a piada, eu era o ogro.

A aula seguinte foi novamente de história, e o professor iniciou uma explicação sobre a história moderna, para qual não dispensei atenção nenhuma. Eu detestava história e já tinha decorado as datas importantes para o vestibular.

Vestibular... Eu ainda não tinha certeza do que queria ser da vida, mas com certeza eu faria uma faculdade. Depois que meu pai faleceu, minha mãe voltou a trabalhar. Ela alegou que não queria mexer em nada que meu pai havia deixado, era minha poupança, pra minha faculdade. Em parte era verdade, mas eu também acreditava que ela foi trabalhar para ocupar a mente. Ela ficou perdida quando ele a deixou só. Precisava reencontrar seu lugar no mundo.

_ Quer vir pro intervalo com a gente?

Quem mais se atreveria a dirigir a palavra a mim? Mas o que me chamou mais a atenção foi a cara de nojo da Bia que ainda estava enganchada nele. Ela esperava que eu recusasse. Por pouco ela não respondia por mim. Tá certo que eu evidentemente não sairia para aquele pátio lotado de adolescentes se não fosse para assistir um extermínio em massa, mas não queria que a Bia pensasse que a cara de nojo dela me intimidava.

_ Não.

Simples assim, sem eufemismo, sem justificativa.

_ A gente vai lá na lixo, se quiser, encontra a gente lá.

“Lixo?”

Depois eu me toquei. Lixonete. Era a forma carinhosa de chamar a lanchonete. Murmurei um “hum-hum” e voltei minha atenção para o material que estava guardando. Eles saíram junto com mais um pessoal e eu os deixei se afastar antes de sair também. Fui direto para a porta da sala e geografia e me sentei no banco. Tirei o livro da mochila e assim ocupei os vinte minutos inúteis do intervalo. Entrei assim que o professor chegou e decidi sentar na primeira carteira. Não queria intimidar os meninos do “fundão” novamente. Me deixarem em paz era o suficiente.

O pessoal entrou lenta e desanimadamente na sala. E era apenas o segundo dia de aula... Quando o professor começou a falar eu entendi o desânimo geral. O professor Elton tinha o dom da hipnose. A voz e o ritmo da fala dele eram soníferos naturais. A fala pausada e baixa, e ainda falando de riquezas naturais... Parecia cd de yoga.

_ Desculpa, professor, podemos?

_ Entrem.

Isso dispersou um pouco o sono da sala. Tinha que ser. Aquiles e Beatriz entrando atrasados na sala. Pois é, pobre namorada de Aquiles...

Eles se sentaram no meio da sala e depois disso, o pessoal voltou a dormir. Eu resisti bravamente à hipnose e graças a isso fui a primeira a sair.

Sentei de novo na primeira mesa, bem em frente à professora. Inglês era a única matéria que me preocupava, sentar na frente ia me ajudar a manter meu boletim impecável como eu gostava.

_ E aí, vai querer um help com o inglês?

“Ô inferno!”

_ Não será necessário.

_ Cris, você me lembra caixas eletrônicos.

Bom, já que a ignorância não estava funcionando, será que era hora de partir para a violência?

Me limitei a continuar virada para frente sem expressar nada diante da observação ridícula dele. Ele tinha que sentar logo atrás de mim?

_ Você fala tão direitinho, tão distante... Ah, não leve a mal! Você não se incomodou, se incomodou?

Na verdade sim, só dele chegar perto me incomodava. Continuei quieta.

_ Cris, tá me ouvindo?

E se eu começasse a assoviar?

_ Sabia que você sentou no meu lugar?

Aí eu me irritei.

_ Desculpe, não vi seu nome em lugar algum.

Ele riu. Droga, era pra ele ficar ofendido...

Eu me virei para que ele visse minha cara insatisfeita. Logo atrás dele estava a Bia. Sorrindo radiante para mim. Quase perguntei se ela estava com algum problema, mas só ignorei.

_ Posso me sentar lá trás se você fizer questão do lugar.

_ Isso também foi uma brincadeira Cris. Acho que vou ter que te avisar sempre que fizer uma.

_ Se você não fizer mais brincadeiras, eu não interpretarei mal novamente. - “Logo, não faça brincadeiras.”

_ Esquenta não, eu não me incomodo em avisar.

Não era possível. Ele sabia perfeitamente que eu não queria papo. Estava fazendo de propósito. Voltei para frente antes de usar uma expressão de baixo escalão e tentei esquecer a raiva quando a professora começou a falar sobre os tempos verbais.

_ Falou Cris, até amanhã!

Finalmente! A aula acabou e ele saiu bem rápido. Não teria companhia indigesta para o tróleibus. Enquanto guardava o estojo, senti o celular vibrar no bolso externo.

_ Alô?

_ Mel? É a mãe.

Detalhe: ninguém mais tinha meu número, não era necessário se identificar....

_ Oi mãe.

_ Vamos almoçar no shopping?

_ Não estou com fome...

_ Ah, vamos lá filha... Preciso comprar um blazer novo também.

_ Tá bom mãe. Você já saiu?

_ Já, chego lá em quinze minutos.

_ Aham. Te espero no banco em frente à praça de alimentação.

_ Tá. Beijo Mel, até daqui a pouco.

_ Beijo mãe, tchau.

Eu não estava realmente muito a fim de passear, pois eu sabia que era isso que minha mãe queria que eu fizesse. Mas eu estava em dívida com ela. Ela estava com medo de eu me entregar à depressão e perder o controle novamente. Eu não faria aquilo outra vez, mas precisava provar pra ela.

Sem perceber, me dirigi à passarela. Meu subconsciente aprendeu a ter medo da avenida. O shopping era bem perto da escola, e devia ser motivo de muita matança de aula. Cheguei lá bem rápido e não me restou alternativa a não ser esperá-la. Pensei em tirar o livro e ler novamente, mas depois decidi que não. Meu espírito antropólogo me obrigou a observar as pessoas que iam e vinham pelo corredor do shopping. Apesar de parecer desprovida de emoções, eu adorava estudar o comportamento humano.

Os rapazes observando as meninas numa tentativa frustrada de paquera... As meninas fingindo olhar vitrines de video-game para admirar o vendedor... As senhoras preocupadas com o almoço enquanto procurava camisas para o marido... O Aquiles estudando uma vitrine de perfumaria.

Apertei os olhos desejando ser um delírio, só um pesadelo... Era muito azar ter de encontrá-lo ali também.

Mas era real. Com um pouco de sorte eu poderia passar despercebida. Virei para o outro lado e abri o livro.

“Por favor não me note... Só por agora...”

Continua


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Notas finais do capítulo

***
N/A: Mtoooo obrigada minhas queridas!
Kikatz, minha beta e amiga do core, não sei oq seria de mim sem ti!!!
Deh_Cullen, esposa do Edward! Rsrsrs! Brigadinha por acompanhar mais uma fic minha!
Perfumed q se identifica com a Mel, fico mto feliz por isso acontecer!!
E a mais nova, SamMCR, q tb tá se identificando com o gosto q a Mel tinha pela escola!!
Brigadinha a todas minhas lindas, vcs me inspiram! ^o^
Kissus pra vcs!