A música alta chegava aos ouvidos de Charlotte sem que a garota
prestasse muita atenção.

Sentada, no balcão da pizzaria, Charlie bebia sua coca, enquanto
observava Anthony, o barman, fazer os drinques. Eles haviam combinado de só servirem bebidas alcoólicas para quem apresentasse a carteira de identidade comprovando a maioridade. Mas a menina já havia notado que tinha muitos jovens, menores de idade, que estavam levemente bêbados.

Charlie não se importou. Contanto que eles não arrumassem nenhum tipo de confusão ou entrassem em coma alcoólico, para ela estava tudo bem.

Era mais uma noite de sexta-feira, mais uma noite de competição, e Charlotte estava com o ânimo para festas lá embaixo. O que, aliás, estava se transformando em rotina.

A menina passou a mão pelo corpo, tentando desse modo ajeitar sua roupa. Ela, assim como as outras, estava usando uma saia de babados cor de rosa, com uma blusa branca básica. Nós pés, um sapato de salto bem alto, branco.

O visual fora escolhido por Sophie, e Georgina o estava odiando. Não só por ter que usá-lo, como também por ter sido obrigada a gastar
uma grana em roupas que ela usaria apenas uma vez. Por mais que ela não admitisse, Charlie devia concordar com o que Olivia havia dito: Georgina estava realmente muito bonita de rosa.

Charlie também passou a mão pelos seus cabelos, e pediu mais uma coca a Anthony. Se ela não podia se embebedar com álcool, que fosse com cafeína então.

Harry a observava de longe, tentando de alguma forma, achar
uma maneira de se aproximar. Ele percebeu o quão bonita ela estava, e notou também o quanto a sua presença afetava a atmosfera do local. Vários garotos a olhavam, mas não possuíam coragem suficiente para se aproximar. Harry constatou que no momento, ele estava no meio deles.

O barman se aproximou da menina, entregando a coca que pedira. Harry percebeu que era esse o momento. Ajeitou o terno e seguiu adiante.

-Me vê uma dose de tequila, por favor.

Charlie parou com o copo a meio caminho da boca. Como é que
é? A garota não estava entendo nada.

-Não acredito que você vai ter a ousadia de beber do meu lado?

-E porque não?- Harry deu de ombros.

-Porque eu sei que você é menor de idade!

-Tem muita gente aqui que você sabe ser menor de idade, e mesmo assim você os deixa beber. Porque implicar justo comigo?

É Charlie. Porque implicar justo com ele?

-Faça o que você quiser então.

-Pode ter certeza que eu farei.

Harry pegou o copo que Anthony acabara de depositar em cima
do balcão, e o virou de uma vez. Charlie não falou nada, em vez disso a menina continuou bebendo sua coca normalmente.

-Sabia que eu amo meninas que usam rosa?- Harry disse se sentando no banco ao lado do dela.

Charlotte esqueceu sua coca por um instante e encarou o garoto. Ele estava totalmente virado em sua direção. Em seu rosto, um riso travesso estava estampado fazendo com que surgissem pequenas covinhas nas suas bochechas. Seus olhos brilharam intensamente, e as bochechas estavam um pouco avermelhada.

A garota pensou ser efeito do álcool, lembrando, logo em seguida, que ele só havia bebido uma dose. Seria o suficiente para deixá-lo dessa
maneira?

-Então você deve amar Sophie- Charlie falou assim que percebeu que ele na verdade estava tentando flertar com ela- É sua cor favorita.

Harry se virou para a pista de dança tentando localizar Sophie. Ele a achou e fingiu analisá-la, até fazer um sinal negativo com a cabeça.

-Não? Mas ela faz seu tipo.

-E por acaso, qual é meu tipo?- ele já havia voltado a ficar de frente para a garota.

-Meninas loiras- Charlie falou como se aquilo fosse a coisa mais óbvia que já tivessem perguntado para ela essa noite.

-E porque você deduziu isso?

-Todas as meninas que você pegou eram loiras.

Harry riu.

-Você não é loira.

Charlotte ficou vermelha ao lembrar que ela também estava no meio desse grupo. Depois, ficou surpresa de ser a única não loira.

Harry continuou rindo.

-De qualquer modo, isso não importa mais.

-E porque não?- a menina já havia recuperado a compostura.

-Porque eu irei fazer do mesmo modo que você faz- Harry pegou sua segunda dose e a bebeu- Não me importarei.

Charlotte não entendeu.

-Por muito tempo, você não se importou nenhum um pouco com a minha pessoa, agora eu farei o mesmo. Talvez, sem que você se importe e sem que eu também me importe, poderemos conviver em harmonia.  A não ser que você tivesse passado a se importar?

Charlie fez uma careta.

-É lógico que não!

-Que bom! Agora eu preciso ir, aliás, tenho umaapresentação para  fazer, e você tem um concurso para assistir- e o menino se afastou.

Charlie esperou um pouco para poder voltar a encarar a pista de dança. Lá estava ele, Harry, andando despreocupadamente no meio da multidão.

-Eu não me importo- a garota repetiu para si mesma.

Mas será que era verdade?

***

-Então você não se importa?

Charlie olhou para Olivia com cara de espanto. Como ela sabia?

-Que eu fique com o James- Olivia explicou novamente.

-Ah!- Charlie estava aliviada- Claro que não! Eu nunca tive interesse algum nesse garoto.

-É, esses caras estúpidos fazem mais o tipo da Olivia- falou Georgina sarcasticamente. Sorte a dela que a garota pareceu não ter escutado.

Elas estavam na mesa que as pertencia, durante o intervalo entre uma banda e outra.

Tinham acabado de assistir a apresentação da Jail, que havia sido nem tão boa, mas também nem tão ruim. Esperavam agora que a sétima
banda entrasse no palco. De acordo com os papéis, era a vez de Never Mind.

Pouco a pouco, os quatro integrantes iam se colocando em
seus lugares.  O vocalista se aproximou do microfone. Olhos castanhos, cabelos da mesma cor e um estilo despojado. Charlie o reconhecia de algum lugar.

O vocalista notou que ela o encarava e piscou para ela. Instantaneamente ela se lembrou. Era o menino novato, o mesmo que havia sorrido e também piscado para ela na sala de aula.

-Carol, qual o nome do vocalista?- Charlie perguntou assim que a música começou a tocar.

-William, eu acho- a garota respondeu dando de ombros- Pelo menos todo mundo o chama de Will.

Charlotte voltou a olhar para a banda, curtindo a apresentação. Quando terminou, todos começaram a bater palmas, eles haviam se saído muito bem.

As outras bandas tiverem um desempenho razoável, e quando
Charlie se deu conta já estava na hora da última banda a se apresentar. Ou, em outras palavras, era hora do One Direction.

-Será que eles conseguiram escrever alguma música?- Sophie perguntou.

-Se eles estão aqui, deve ser porque conseguiram- respondeu Carol.

Charlie também estava pensando com essa lógica, mas, no fundo, não sabia realmente se eles tiveram obtido algum êxito. Ela não queria admitir, mas queria muito que eles tivessem conseguido.

Uma gritaria começou assim que os meninos colocaram seus pés no palco. Eles se posicionaram e esperaram um tempo até que a banda de apoio se ajeitasse. O baterista contou até três e a música começou.

You're insecure, don't know what for

You're turning heads when you walk through the door

Don't need make-up, to cover up

Being the way that you are is enough

Everyone else in the room can see it

Everyone else but you

Charlie pensou que não seria capaz de se surpreender como
semana passada, mas ela estava enganada. Havia sim, espaços para novas surpresas.

Baby you light up my world like nobody else

The way that you flip your hair gets me overwhelmed

But when you smile at the ground it ain't hard to tell

You don't know oh oh

You don't know you're beautiful

If only you saw what I can see

You'll understand why I want you so desperately

Right now I'm looking at you and I can't believe

You don't know oh oh

You don't know you're beautiful oh oh

But that's what makes you beautiful

-É só eu, ou essa música tem alguma coisa haver com Charlie?- Carol perguntou se dirigindo para as outras meninas.

Elas concordaram com a cabeça, enquanto que Charlie permanecera calada, sem acreditar naquilo estava escutando.

So come on, you got it wrong

To prove I'm right I put it in a song

I don't know why, you're being shy

And turn away when I look into your eyes

Everyone else in the room can see it

Everyone else but you

O refrão começou a ser tocado novamente, mas Charlie não prestava atenção.

A música encaixava perfeitamente na sua vida. Cada palavra, cada frase, parecia ter sido escrita para ela. E por um momento, ela pensou que a música realmente poderia ter sido escrita com esse propósito.

“E quanto à beleza, você é linda”. A voz de Harry surgiu na sua cabeça.  “Você é a única que não consegue enxergar isso”.

Todo mundo começou a bater palmas, enquanto Harry se preparava para o seu solo.  Pela cara de Charlie, ele podia deduzir que a menina já havia juntado as peças e descoberto que a música era para ela. Ele sorriu, era isso que queria.

Baby you light up my world like nobody else

The way that you flip your hair gets me overwhelmed

But when you smile at the ground it ain't hard to tell

You don't know oh oh

You don't know you're beautiful

Harry cantou o refrão com os olhos fixos em Charlie. A menina então teve certeza, era para ela aquela música. Ela deu um sorriso. Fora quase imperceptível, mas Harry conseguiu captá-lo.

If only you saw what I can see

You'll understand why I want you so desperately

Right now I'm looking at you and I can't believe

You don't know oh oh

You don't know you're beautiful oh oh

You don't know oh oh

That's what makes you beautiful

A música terminara, e os aplausos começaram.

Charlie e Harry continuaram se encarando por um bom tempo. Mas ele deve que deixar o palco, e ela deveria contar os votos, o contato visual se desfizera.

Algo havia mudado, mesmo que os dois não soubessem o quê.

“Você entenderia porque eu te quero tão desesperadamente”.