The Rose Of Darkness escrita por Pye


Capítulo 34
Capítulo Especial de Halloween


Notas iniciais do capítulo

Bom, eu sei que atrasei uma eternidade. Na verdade esse especial era pra ter saído na semana de Halloween, mas eu me enrolei de verdade com as provas escolares.
Enfim, agora POSTAREI UMA VEZ POR SEMANA, mais especificamente aos sábados.
Esse capítulo é dedicado a todos que ainda me acompanham. Amo vocês.
PS: Nesse capítulo haverá vários links para imagens ilustrativas. VEJAM.



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Música tema do capítulo Castiel Voice



As cobertas encobriam sua cabeça, porém ela não dormia mais.

O relógio anunciava Seis horas da manhã em ponto, e apitava um barulho irritante que ela costumava ouvir todo dia. Estava se culpando mentalmente por não ter desligado ele no dia anterior, para que não tocasse nessa manhã. E porque desligá-lo, afinal? Bem, o porque é que: ela não teria aula nessa sexta-feira, simplesmente por ser uma data comemorativa especial, oque estranhou a garota, pois em suas antigas escolas costumava ter aula normalmente em dias como esse. Talvez, só talvez, passasse pela sua cabeça que a diretora estivesse dando um dia de folga para si mesma — afinal de contas, ter que aturar alunos drogados e patricinhas ridículas pelos corredores em pleno dia das bruxas, não seria muito divertido.

Ela se levantou da cama, sentando-se na beira e esticando os braços. Não demorou para que já estivesse de pé, tropeçando em algumas roupas que por algum motivo “misterioso” estavam jogadas ali.

Alcançou com as mãos a cortina da sacada, arrastando-a, agora vendo como o asfalto daquela rua estava encoberto por folhas secas, sem vida alguma — oque de certa forma lhe lembrava algo em comum.

Mellanie suspirou fundo, lembrando de coisas sem nexo, ou talvez que fizessem realmente sentido, mas que não importavam muito de serem lembradas.

Lembrava das várias abóboras com rostos feios esboçando caretas com lâmpadas dentro para que pudessem ser iluminadas a noite. Lembrava-se também dos pisca-pisca que iluminavam as casas com variados tons de laranja e vermelho, e claro, as decorações de esqueletos e monstrinhos que davam um ar mais interessante as casas nos dias de Halloween a cada ano em sua antiga cidade, onde conheceu Hikkaru e onde viveu a maior parte de sua vida, visto que sempre mudava-se de cidade constantemente, porém, aquela cidade fora onde viveu e pôde sorrir verdadeiramente algum dia — mas a pergunta que lhe ocorria agora era exatamente essa; fora realmente lá que ela pôde sorrir verdadeiramente?

Balançou a cabeça na intenção de espantar pensamentos ruins, indo para a sacada e apoiando as mãos no encosto da mesma. Logo seus olhos encontraram com a figura esbelta de cabelos esbranquiçados, sentada na beira daquele chafariz, como quase sempre de costume.

Acenou imediatamente para Saritcha, com felicidade em vê-la com cartas de vidência nas mãos.

Logo a pequena Mayuri passou em frente aquele chafariz, levando seu olhar para a garota quase empoleirada na sacada acenando para a mulher. Ela revirou os olhos, esboçando sua feição já muito conhecida e mal humorada para Mellanie, que apenas riu da careta da menina.

O tempo estava ótimo naquela manhã, e ela soube logo de cara que seria um longo e cansativo dia, começando pelo estranho sonho que teve esta noite, um dos mais freqüentes de sua infância e adolescência; aquele cenário repleto por neve branca e o sangue de sua mãe, porém, oque lhe chamava mais atenção naquilo tudo não era o quão vermelho a cor do sangue transparecia por cima da neve, mas sim as mãos que lhe seguravam com firmeza enquanto ele a salvava mais uma vez da ameaça. Mas quem era ele, de fato? Seu rosto nunca era revelado, apenas o casaco pesado de tom marrom e seus lábios chamativos junto aos fios de cabelos que alcançavam um tanto seu queixo.

E, ele não parecia sentir frio como ela sentia meio aquela neve.

Algo havia lhe despertado dos pensamentos: um, dois, três, quatro e talvez até cinco barulhos estranhos, que vinham exatamente do andar de baixo. Era suspeito, sim, e isso a fez sair da sacada. Não demorou nenhum um pouco para que já estivesse fora daquele quarto, indo de encontro as escadas.

Desceu os primeiros degraus, e já nos últimos pôde ver algo mágico: Nada.

Exatamente isso; nada. Não havia nada em seu campo de visão naquela parte da casa, oque a levou a passos silenciosos até a sala, mas nenhum outro barulho estranho foi ouvido.

— Parece que eu desci aqui pra nada — ela suspirou, esfregando os olhos — Que divertido.

Nesse momento um barulho veio do sofá, logo pulando de lá uma criatura que talvez ela já conhecia muito bem, mas devido ao susto apenas deu de encontro para trás; apreciando em seguida o chão gelado. E claro, seu grito assustado ressoou por aquela sala.

Ela levantou a cabeça, agora olhando melhor para aquele ser que quase a mata do coração; Zero estava com uma camiseta larga e branca, o seu casaco azul marinho encontrava-se no braço do sofá, porém oque a havia chamado mais atenção não era o fato de ele estar dormindo no sofá — visto que isso era até normal — mas sim oque encontrava-se ao topo de sua cabeça; isso mesmo, orelhas.

Mas que espécie de orelhas eram aquelas? Pareciam com as de um cachorro, talvez de uma raposa, mas não, eram orelhas de Lobo, oque fez Mellanie se espantar e levar a mão na boca. Não conseguia entender absolutamente nada ali.

Ele a encarava com uma cara entediada e os olhos frios também estavam ali.

— Mas que droga é essa, Zero? — ela perguntou formando orelhinhas em sua própria cabeça — Onde arrumou essas orelhas de cachorro?

Ele revirou os olhos irritado, discordando com a cabeça.

E por falar nisso, ele parecia muito mais irritadiço que no seu normal. Isso ela também havia percebido.

— Não são orelhas de cachorro — revidou de forma arisca — Eu só quero arrancar essas drogas peludas da minha cabeça!

Sim, ele não só parecia como estava com certeza mais estranho e mais irritadiço que o habitual.

Mas me diga, como poderia se parecer normal com orelhinhas de lobo na cabeça e uma cauda branca?

Não, pera, ele também tinha uma cauda?

Ela não se agüentou. Deu alguns passos para que assim já estivesse perto o suficiente dele para agarrar aquela coisa peluda e extremamente branca. Era macia, mas isso não deixava de lado que ela ainda tinha que cuidar de um lobinho nervoso.

— Onw, mas que fofo você ficou com essas orelhinhas de cachorro e esse rabo, Zero! — ela começava a ficar roxa. Queria rir daquilo.

Ela ainda segurava em sua cauda, e nesse momento ele apertou os olhos de raiva, dando um tapa na mão da baixinha que logo o largou instantaneamente.

— Não me toque dessa maneira, Mellanie — ele pareceu ficar realmente incomodado — Tudo que eu quero é me livrar disso... eu não suporto esses dias...

Ela entortou a cabeça, vendo-o apertar os fios brancos de seus cabelos agressivamente com as mãos, junto as orelhas que estavam sendo esmagadas pela sua raiva.

Mesmo ele dando um ataque ali naquela sala, era inevitável não achar aquela cena extremamente engraçada.

— Bom, parece que você terá um cachorrinho levado para cuidar hoje, meu botão de chá — uma voz grave fora ouvida atrás de Mellanie, que logo se virou, dando de cara com seu guardião mais velho, que parecia se divertir bastante com a situação.

— Kaien — ela pareceu aliviada — Será que ao menos você pode me explicar direito oque está acontecendo aqui? Porque eu desci as escadas e levei um baita susto com esse grandão aqui, e olhe que beleza, ele está realmente parecendo um cãozinho raivoso.

Kaien abafou risadas, logo por se aproximar de Zero e pegar em ambas as orelhas dele, puxando-as para cima. E acredite, aquilo atiçou ainda mais a fúria dele.

— Mell, isso pode não parecer, mas é extremamente normal — ele começou — Em todos os últimos dias do mês, Zero entra em sua forma parcial de Youkai, ou seja, durante esse último dia do mês ele começa a se transformar lentamente em seu demônio interior, até o final da noite. Assim, sempre quando dá meia-noite ele se transforma completamente, tomando a forma da Ookami-oni, porém com consciência.

Mellanie arregalou os olhos, deslumbrada e confusa encarando Zero que não aprecia nada contente com aquilo.

— Não sei se acho isso assustador ou interessante — ela disse quase em um sussurro — Então quer dizer que ele vai ficar com essas orelhinhas amáveis e essa cauda de lobo? — riu — Admirável, Zero. Realmente admirável.

Ele pareceu rosnar de raiva, mas logo se controlou; passou as mãos no rosto como se estivesse realmente desesperado para voltar a sua forma normal.

— Não se preocupe Mell, ele não vai te morder. Isso só durará por hoje, e acho que não será tão problemático. Só tome conta dele para que não apronte — Kaien mandou uma piscadela e subiu as escadas com sua xícara de chá em mãos.

Ela continuava a encarar Zero, que parecia cada vez mais incomodado. Era notável em seus olhos que ele realmente odiava esses “últimos dias do mês”.

— Não se preocupe, ninguém vai achar isso... estranho — ela disse — Até porque hoje é uma data comemorativa que todos se vestem com fantasias.

— Oque quer dizer? — ele pareceu realmente confuso.

— Quero dizer que se você sair por aí com cara de cachorro, ninguém vai se importar, afinal hoje é Halloween. No máximo vão achar sua “fantasia” meiga demais para essa ocasião.

Ele revirou os olhos, se aproximando dela lentamente com um olhar ameaçador.

— Acontece, Mellanie — começou pausadamente — Que essas coisas na minha cabeça não fazem parte de uma “fantasia” de uma comemoração ridícula de dia das bruxas.

Estava perto demais. Ela podia distinguir perfeitamente a diferença de altura entre os dois, que a propósito, era grande. Ele abaixava os olhos para a baixinha enquanto ela inclinava os verdes para ele.

— Não se preocupe com isso — ela alargou um sorriso — Ninguém vai reparar que suas orelhas e sua cauda são de verdade.

Ele arqueou uma sobrancelha, suspirando e se afastando em seguida. Ela apenas o seguiu com o olhar, vendo-o ir até o sofá e começar a vestir seu casaco.

— Oque pensa que está fazendo?

— Vestindo isso? — ele respondeu como se fosse a coisa mais obvia do universo.

Ela negou com a cabeça, indo até ele e tirando o casaco azul marinho de suas mãos.

— Não, Zero, não vê que hoje é Halloween? E com essas orelhas e esse casaco de “gente normal” só irá dar motivos pras pessoas suspeitarem?

— Então tem uma idéia melhor, suponho? — ele disse cruzando os braços.

Ela sorriu.

— Pensei em uma fantasia pra você.

— Você está louca — ele deu um risinho sarcástico, e ela sabia que aquela reação significava um grande e maravilhoso não.

— Não estou, não — retrucou agarrando em seus ombros — Seria como... uma camuflagem.

— Deixe-me dizer oque seria — ele inclinou um tanto a coluna, mantendo os rostos agora próximos e na mesma altura — Seria vergonhoso e humilhante.

Ela cruzou os braços frente aos seios, encarando-o como se estivesse lançando-lhe um desafio.

— Você está com medinho, Zero.

— O que? — cerrou os olhos — Não, mas estou com uma tremenda vontade de socar a sua cara — porque essas palavras tão maldosas haviam saído em um tom tão amável e tão falsificado?

Ela riu, levantando sua mão e passando a ponta do indicador por sua bochecha, observando o contorno de seus olhos reagirem aquele toque.

— Não seja tão teimoso, cãozinho — suspirou — Estou querendo ajudar.

— Já te disse que seu espírito prestativo me encanta? — o seu tom de ironia parecia dançar em sua língua.

Ela fez uma expressão pensativa, logo que retirou o dedo do rosto do rapaz.

— Não, não disse, mas obrigada de qualquer forma — falou — Mas vai me deixar falar oque pensei, ou prefere que descubram oque você é?

Ele tornou a revirar os olhos. Não tinha muita escolha.

— Fale.

— Bom, pode não ser a idéia mais interessante do mundo, mas enquanto eu estava vasculhando as gavetas do guarda-roupa de Kaien, achei coisas muito interessantes...

Zero arregalou os olhos.

— Não me diga que...

— Não discorde de mim, Zero, eu mando em você hoje — ela sorriu puxando-o pela ponta da camiseta — Aliás, eu deveria mandar em você todos os dias. Você não é meu cãozinho muito bem obediente?

Ele apertou os olhos com irritação enquanto ela o puxava pelas escadas.

As portas dos corredores estavam fechadas, mas estranhamente a de Kaien estava totalmente aberta. Ela deu uma olhada para dentro, porém estava vazio. A cama devidamente arrumada.

Virou seu corpo para a outra porta ao lado, onde estava entreaberta. Vozes vinham de lá, e não eram nenhum pouco amistosas. Lunna gritava, enquanto risadas histéricas de Kaien eram ouvidas. Eles obviamente estavam quase arrancando as tripas um do outro.

Mellanie suspirou, entrando para dentro do quarto de Kaien. Zero apenas a seguiu.

— Deixe-me ver... — ela correu para o guarda-roupa, abrindo-o e revirando as gavetas de roupas — Onde diabos isso foi parar?

Zero encontrava-se encostado no batente da porta, observando os movimentos apressados da baixinha, até que ela sorri e segura algo em mãos. E aquilo em suas mãos não o agradou nenhum pouco.

— Você ficou realmente louca — ele disse indignado — Ou talvez lhe deram drogas.

— Não me drogaram, Zero — ela disse pacientemente, com um sorriso enorme e assustador nos lábios levemente avermelhados, logo que se aproximava com a estranha roupa devidamente dobrada em mãos — Você vai usar isso hoje. Será um belo disfarce, não acha?

— Acho que quero me matar, obrigada — ele murmurou.

Ela puxou ar para os pulmões. Teria que ter paciência com ele hoje.

— Não vem com drama, é só uma espécie de Kimono japonês, e a propósito; um belo Kimono.

Ele encarou aquela roupa como se fosse uma espécie de doença infecciosa, ou qualquer coisa mais horrível do mundo.

— Acho que não há muita escolha — ele suspirou — Espero não ser obrigado a sair dessa casa hoje.

Ela riu, jogando a roupa para ele vestir, e então saiu do quarto fechando a porta atrás de si.

Só esperava que ele não tacasse a roupa pela janela, isso seria um desastre.

Quando se virou naquele corredor, tomou outro susto, levando a mão no peito.

— Merda, Hikkaru, quase me matou — respirou fundo.

Hikkaru estava com olheiras enormes, tão grandes que faziam-lhe se lembrar de alguém... Sim, exatamente; Ryuzaki, ou se preferir, simplesmente L.

Além das olheiras profundas e bem marcadas abaixo dos olhos azuis de Hikkaru, os cabelos estavam um grande fiasco. A pele mais pálida que de costume era o ponto que mais fez a baixinha se espantar.

— Mell, estou morrendo — a azulada disse caindo no chão e agarrando nas pernas da amiga — Por favor, me sacrifique.

Mellanie chacoalhou as pernas para tentar se livrar da garota de cabelos azuis, mas a única coisa que conseguiu foi desistir e se sentar também no chão com a garota manhosa.

— Hikka, não diga “Me sacrifique”, é estranho, isso só faz parecer que você é um animal pronto a ser levado para o abate.

— Tipo as vacas e porcos? — Hikkaru pareceu se interessar no assunto por um momento, mas em outro havia se lembrado de sua “depressão repentina” — Isso não interessa. Não me importaria de ser levada ao abate como uma vaca.

— Oque está acontecendo? — Mellanie perguntou — Você está horrível.

— Estou deprimida.

— Vindo de você, isso é motivo para. Você sempre é tão animada.

— Talvez eu tenha me acostumado um pouquinho demais em fazer doces para aquele imbecil — ela sorriu, mas era um sorriso devastado — Eu me tornei dependente de um desconhecido.

— Hikkaru, ele vai voltar — Mellanie sorriu sinceramente, levando sua mão até o topo da cabeça de Hikkaru, na intenção de tranqüilizá-la — Não se preocupe.

— Eu acho que... — e então ao lado se ouviu um estrondo; era a porta sendo batida, anunciando que havia sido brutalmente aberta. E lá deu origem a um Zero de Kimono branco masculino. A parte de baixo era revestida em verde. As orelhinhas e a cauda pareciam tão reais que davam arrepios, e mesmo com aquela cara de “quero matar todo mundo” ele estava estranhamente meigo. Hikkaru o encarou com os olhos arregalados — Mas que porra é essa?

E então uma onda de risadas incontroláveis deram início; a azulada estava vermelha, e não conseguia parar a cada vez que encarava o cara ao lado com orelhas de cachorro — ou melhor, de lobo.

— Mellanie, — ele começou calmamente acompanhado de olhos assassinos — Eu posso matá-la? — e então ele levantou a mão direita, mostrando as garras grandes e afiadas, como realmente as de um lobo.

Garras essas que assemelhavam-se a unhas grandes em suas mãos.

Mellanie também estava vermelha, quase roxa, ao mesmo tempo em que encarava seu “guarda-costas” durão naquela roupa amável.

— Não quero sangue no carpete, Zero — ela deu um murro nas costas de Hikkaru, que estava limpando as lágrimas dos olhos de tanto que riu — Ela já se controlou.

— Pera aí, que eu não entendi ainda — a azulada encarou o rapaz e apontou para as roupas “estranhas” — Qual é dessa roupinha?

Zero bufou.

— Hoje é Halloween, hora essa — Mellanie disse como se fosse obvio — E essa vai ser a fantasia dele, não é linda?

— Mas e esse rabo e essas orelhas de cachorro?

— Lobo — ele a corrigiu.

— Tanto faz, não é tudo a mesma coisa? — a azulada deu de ombros.

— A cauda e as orelhas fazem parte da fantasia, não ficou bom? — Mellanie disse com brilho nos olhos.

— É, parecem de verdade — ela se aproximou, puxando a cauda com os dedos — Parece bem real...

Zero se esquivou, puxando sua cauda peluda e branca da mão da elfo azul.

— Te proíbo de me tocar, sua maluca — ele apontou para a cara dela.

Hikkaru riu.

— Ainda tacarei fogo em você enquanto dorme na lavanderia, seu cão de guarda desobediente — a azulada provocou.

— Ninguém vai tacar fogo em ninguém aqui — Mellanie agarrou nos ombros de Hikkaru, trazendo-a para o seu lado — Pelo menos não hoje. Temos que fazer bastante biscoitos.

— Biscoitos? — Zero perguntou com os braços cruzados.

— Sim, cachorros adoram biscoitos — ela respondeu sorrindo e encarando-o.

— Eu não sou um cachorro, e não vou comer nada que você fizer.

— Porque não?

— Porque pode por em risco a minha saúde.

— Verdade, não é seguro — Hikkaru concordou.

— Dane-se essa droga — Mellanie lançou as mãos para cima, puxando os dois — Vamos nos entupir de todo o chá do Kaien, ele nem vai perceber que acabamos com tudo.

— Se perceber, estaremos mortos?

— Sim, vamos todos morrer.

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— Isso aí na cabeça dele faz parte daquilo? — Lunna perguntou disfarçadamente para Kaien ao seu lado, que mantinha a mão no queixo enquanto ambos encaravam Zero sentado na janela.

— Sim, ele sofre com essa “pré-transformação” todo último dia do mês — respondeu — Mas por incrível que possa parecer, ele ainda não se acostumou com esses dias. Já fazem 23 anos...

Lunna virou seu rosto, agora encarando os olhos amendoados e pensativos de Kaien, talvez distantes até demais, num passado onde conhecera o pequeno garoto-lobo do clã poderoso de vampire-hunters dos Kiryuu. Mas, misteriosamente, era exatamente esse clã que Zero queria com todas as forças se manter distante. Talvez ele culpasse todos de seu sangue por terem-no colocado a Ookami-oni em seu coração? Ou apenas por ressentimento?

Talvez nunca cheguemos a uma resposta sobre isso.

O guardião mais velho suspirou, deixando cair os ombros ao direcionar seu olhar para as duas garotas praticamente jogadas na mesa ali ao lado. Estavam com uma expressão azeda, mas o motivo dessa cara de tacho o homem não fazia idéia.

— Ei, Mell — Hikka cutucou o braço da baixinha — Kaien-san tem algum tipo de problema mental? Como ele pode gostar tanto de uma coisa tão ruim que é aquele chá?

Hikkaru estava com uma cara de nojo, e Mellanie sorriu fraco.

— Será um problema se ele descobrir que jogamos tudo no latão de lixo — ela disse — Aliás, isso não teria acontecido se você não tivesse dado um ataque de nojo e derrubado todo o pote no chão.

— Eu sinto muito mesmo, Mell! — a azulada choramingou, escondendo o rosto no ombro da morena.

Mellanie puxou ar para os pulmões ao bater os olhos em Zero, com as costas curvadas e sentado no parapeito da janela, a expressão em seu rosto era de calmaria, como se ali encontrasse um pouco de paz.

E com aquela roupa ele parecia realmente outro cara.

— Onde estão aqueles dois? — Lunna bateu o pé se referindo a Alam e Joseph, que estavam um pouco sumidos dês da noite passada.

— Aqueles dois? — Mell riu — Devem estar aprontando macumbas por aí, para sei lá, conseguir voltar mais rápido pra “casa”.

Lunna apertou os olhos, mas não suportou e riu de forma leve.

Os olhos amendoados de Kaien nesse momento, por sua vez, de Zero pousaram rapidamente em Lunna, observando os lábios rosados entreabertos ao terminar do riso.

Eles se entreolharam intensamente, e no momento em que aquelas duas sentadas a mesa pensaram que eles iriam finalmente se “acertar”, a mulher golpeou a cabeça do mais velho com um soco.

— Não me olhe dessa forma, sua peste — ela disse com o melhor tom de firmeza que conseguiu naquele momento, mas ainda sim podia sentir o famoso e já meio esquecido “arrepio atrás do pescoço”, que sentia sempre quando coisas desse tipo aconteciam.

Mas oque havia lhe assustado ali, não era o arrepio, mas sim que ela nunca o sentia com qualquer homem que fosse.

— Sua bruta — ele praguejou, massageando o topo da cabeça com os dedos — Deveria aprender a conviver com homens, sabia?

— Não preciso aprender coisa alguma — ela retrucou.

Ele parou de massagear.

Olhou no rosto dela.

Se aproximou.

Se aproximou demais.

Tombou a cabeça.

— Não precisa, — pausou com uma voz fraca e rouca — Ou tem medo do que pode acontecer?

As garotas logo atrás abafaram risinhos nas mãos, enquanto não despregavam os olhos daqueles dois idiotas.

E Lunna? Bem, era notável a vermelhidão em suas bochechas. Agora era inevitável esconder.

— Eu não tenho medo de nada! — ela o empurrou pelo peitoral com força — E se você se aproximar novamente dessa forma, eu...

— HAHAHAHA, Lunna, você deveria saber brincar, querida — ele mandou uma piscadela e se virou, subindo as escadas.

A mulher se virou devagar, olhando a expressão das duas que era visivelmente claro que falavam “Hmm, olha só sua cara”.

— E vocês... nem um piu! — ela gritou, marchando até a cozinha com os pratos do café da manhã.

— Parece que teremos um dia interessante hoje — Mellanie sorriu, apoiando o queixo na mão direita.

As orelhinhas de Zero pareciam brilhar naquela janela.

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— Deus, me mande um sinal nesse fim de mundo, por favor — os cabelos róseos chacoalhavam de um lado para o outro, enquanto a garota de semblante assustador agora se mantinha quase desesperada.

Eu disse quase.

— Não adianta reclamar, sabe? — o loiro esboçava um sorrisinho sacana nos lábios, enquanto os mordia. Já era um hábito mordê-los em qualquer momento e a qualquer hora, vezes deixando-os até mesmo machucados — Se quer minha opinião, os livros não vão se mover sozinhos para as prateleiras com esse seu drama.

Ela virou o rosto lentamente para ele, apertando os olhos como se dissesse em alto e bom som: “Eu vou assassinar você enquanto dorme”.

— E você deveria calar a porra da boca, loiro — sim, ela estava claramente nervosa ao ponto de dar um colapso — Aliás, estamos aqui dês das oito da manhã, e oque terminamos até agora dessa listinha patética da diretora? Ah, claro, só de limpar as escadas e ordenar as milhares de pastas nas três bibliotecas.

Nathaniel finalmente suspirou fundo, puxando ar para os pulmões como se aquilo fosse sua salvação.

Miha, por outro lado, estava a ponto de largar toda aquela pilha de livros no chão e ir estraçalhá-lo.

Como se ele fosse o culpado.

— Você sabe oque ela disse, Miha. Se quisermos continuar como representantes, teremos que vir aqui todas as sextas-feiras e sábados para fazer a “arrumação” geral.

Ela revirou os olhos e praticamente se jogou na cadeira ao lado, esticando os braços para o lado e tombando a cabeça para encará-lo.

— Isso sim é o verdadeiro inferno — disse — O resto é conversa.

Ele riu. Mas não era aquele riso forçado, mas sim um riso contagiante, que poderia deixar qualquer mau humorado — como Miha — com um sorriso nos lábios.

— E aí, como anda as coisas em casa? — ela perguntou, e fora exatamente nessa hora que Nathaniel fechou a boca, parando de rir e transformar o semblante animado em um completamente sério e tristonho.

Não havia como esconder nada da jovem de cabelos rosados. Viviam já a bastante tempo juntos, e conheciam um ao outro tanto quanto qualquer um.

— Não há nada de errado na minha casa — respondeu como se quisesse se esquivar daquele assunto — Não se preocupe.

Ela sabia muito bem quando saía mentiras de sua boca.

— Mentiroso — ela abriu um sorriso provocador, se levantando da cadeira — Quando aprender a mentir melhor, tente a sorte de me enganar, ok?

Ele revirou os olhos amendoados, voltando a fitá-la.

— Não posso mesmo com você, não é? — ele riu forçado — Garota esperta — e bagunçou seu cabelo.

Ela fez uma careta a aquele toque, fechando um dos olhos e mantendo o outro entreaberto enquanto ele ainda bagunçava o topo de sua cabeça.

— Não acha que as coisas por aqui estão um pouco suspeitas? — ela disse dando uma olhada para o corredor pela brecha da porta.

Nathaniel negativou com a cabeça.

— Não, não acho — respondeu — Oque está suspeito aí, uh?

— Aquela bruxa está planejando algo — falou ela pensativa — Não reparou nas inúmeras caixas que chegaram por aqui hoje dês de cedo?

— Sim, isso eu reparei. Eram caixas realmente grandes — ele concordou — Mas não acho que seja algo pra se suspeitar.

— Mas eu tenho certeza que tem algo aí — ela olhou em seu relógio de pulso, e logo para Nathaniel — Já são Onze e vinte e nove.

— E daí...?

— Agora são... — ela sorriu ao pausar — Onze e meia.

Nesse momento a porta fora aberta, dando um susto em Nathaniel que estava atento demais na rosada, que por si apenas olhou para a porta com sorriso triunfante, digno de um: “Eu sabia”.

E na porta aberta estava a diretora.

— Vejo que não terminaram nada por aqui — ela se referiu aos livros, que já deveriam estar enfileirados nas prateleiras, mas não estavam — Bom, isso não faz a mínima importância agora.

— Não? — Nathaniel perguntou com dúvida.

— Oh não — a diretora sorriu. Parecia uma sádica — Tenho algo mais interessante para vocês hoje.

Lá vem merda — Miha murmurou tão baixo, para que apenas o loiro pudesse ouvir — E oque seria isso, minha querida diretora?

— Venham comigo, lhes conto no caminho.

— Caminho? — Nathaniel encarou Miha — Caminho para onde?

— Venham, rápido — a diretora retomou a seu semblante bravo, logo tomando a frente e começando a andar pelo corredor.

Ambos se entreolharam, seguindo-a.

Senta que lá vem história.


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Não que aquele teto parecesse mais branco agora, imagine. Apenas que seus olhos se aprofundavam naquela cor extremamente tediosa e torturante. Fazia sua cabeça doer só por encarar aquela cor sem vida alguma — se é que a cor que ele realmente queria colocar ali tivesse vida, na verdade era tão perturbadora quanto aquele branco, mas, pelo menos, era uma perturbação boa.

Ele piscou três para quatro vezes, como se a sonolência já invadisse seu subconsciente. Seus olhos estavam pesados, porém ele não sentia sono. Apenas sonolência na cabeça, oque não significava que queria de fato dormir.

Aqueles malditos remédios iriam deixá-lo louco ainda, algum dia.

Levantou-se daquela cama, finalmente desviando a atenção da cor branca em seu teto. Foi em direção da janela, arrastando as cortinas e apoiando-se ao parapeito.

— Droga, — ele sussurrou para si mesmo, ao ver o carro de seu tio estacionado na frente da casa.

E então duas batidas foram ouvidas na madeira, e a porta de seu quarto se abriu.

De lá um homem sorridente apareceu. A barba por fazer, os cabelos extremamente negros que iam até a altura do pescoço, e os olhos de um verde disfarçado — porém apaixonante.

— Castiel, não me viu chegando? — ele disse se aproximando e averiguando o quarto — Deveria estar dormindo pesado, hein?

— Porque você não volta pro inferno de onde veio? — o tom pesado e rude na voz do ruivo era notável, além da enorme dor de cabeça, que o fazia ficar um pouco mais arrogante que o normal.

Seu tio franziu o cenho, dando de ombros e dando uma olhada nas paredes de cor viva e branca.

— Vejo que manteve a cor branca nas paredes — ele sorriu satisfeito — Muito bem.

Castiel revirou os olhos, voltando sua atenção para as árvores ao lado de fora da janela — as folhas de outono encontravam-se no chão, velhas, desbotadas e esquecidas, e de certa forma isso lhe lembrava algo — a si mesmo.

— “Muito bem”? — ele repetiu as palavras de seu tio com sarcasmo — Não tá nada bem, para mim isso tem outro nome.

— E qual seria? — seu tio perguntou, cruzando os braços.

— Tortura — respondeu — Isso é tortura. Essas paredes me dão dor de cabeça, me dão sono. Já disse que odeio essa cor de merda?

— Não é uma cor de merda, é uma ótima cor, Castiel — seu tio puxou ar para os pulmões, sem paciência — Deveria deixar de ser tão ranzinza.

— E você, querido titio — disse se virando e indo na direção do homem — deveria procurar uma de suas vadias pra comer.

Logo passou por seu tio, esbarrando os ombros com certo impacto, como se aquele choque de ombros quisesse dizer da parte do garoto: “Não se aproxime de mim”; sim, era exatamente isso.

O homem deveria ter ficado nervoso com as palavras abusivas de seu menor, deveria dar uma boa lição, mas não foi bem isso que aconteceu.

Ele já conhecia a peça muito bem, e sabia que castigá-lo não adiantaria de nada. Ele era frio demais para se sentir atingido — se é que pudesse sentir qualquer coisa que fosse.

Castiel desceu as escadas com velocidade, pulando o último degrau e indo em direção aquela janela enorme. E como ele adorava aquela janela... Poderia permanecer ali por dias.

Sentou-se lá, olhando para fora como se quisesse buscar algo.

Mas não era tão fácil assim.

Todos os seus afetos e pessoas queridas foram tirados de si muito cedo. Ele era uma carga pesada, um peso morto para seu tio, que fora lhe concedido a guarda. Entretanto, quando completasse seus Dezoito anos, seria um rapaz livre, sem guardiões para lhe prenderem.

Mesmo que o homem no andar de cima fosse seu responsável e sua única família viva, era muito ausente.

Castiel não o via como absolutamente nada. Não significava nada.

E então seu celular tocou, mais especificamente um toque musical do Three Days Grace — e como ele amava aquele ritmo, como ele amava aquelas letras e aquela voz. Era sua inspiração.

— Fala — ele atendeu.

E aí demônio, tudo de boa? — era uma voz muito conhecida.

Era Miha.

— Não — ele respondeu friamente, e um suspiro fora ouvido do outro lado.

Bom, de qualquer forma eu não me importo nenhum pouco se você tá ou não bem, então vamos logo ao meu motivo milagroso de estar te ligando — ela disse.

— Se demorar demais, eu irei apenas desligar esse telefone na sua cara — ele retrucou.

Então, só liguei pra avisar que hoje vai ter uma coisinha super especial aqui nessa droga de escola, então só aparece, tá legal? — ela disse visivelmente de mau humor e sem um pingo mais de paciência.

Ele soltou um risinho irônico.

— E porque vem na sua cabeça que eu iria pra escola em pleno feriado? — começou — Só pode ter se drogado com os próprios bolinhos da “felicidade”.

Ele estava zombando dela, ah estava sim.

Não fode, Castiel — revirou os olhos no outro lado da linha — Bom, digamos que você não poderá faltar. Virá por bem ou por mal.

— E posso saber porque?

Simples: quem não comparecer ao showzinho de horrores da nossa querida diretora, não vai poder botar o pé pra dentro da escola na segunda-feira. Tá bom agora, ou quer que eu te mande uma carta?

Ele suspirou entediado, colocando uma mecha de seu cabelo rubro por trás da orelha direita.

— Qual é Miha, anda se interessando em fazer parte dos rituais satânicos da diretora agora, é? — ele zombou — Se quer saber, isso não é problema meu, e outra: eu não tô nenhum pouco a fim de pisar por aí hoje.

Sabe que não seria uma má idéia participar de um ritual satânico? Porém a vítima não seria um bode, mas sim a diretora — Miha riu — Enfim, se não vier será expulso, essa é minha única alerta.

— Quer saber minha humilde opinião, rosadinha? — ele falou, brincando com a ponta da cortina bege daquela janela.

Quero.

— Minha opinião é: Quero que essa escola vire entulho.

Ah, mesmo? — ela riu irônica — E como seria isso?

— Eu explodiria ela — respondeu — Mas não tenho explosivos, muito menos dinheiro pra arranjar alguns.

Mas ruivo, agora é um conselho meu: aparece por aqui, ou vai ser pior pra você.

— Foda-se — retrucou — Se quer saber, não me importo.

Sua ficha nessa escola já não tá as mil maravilhas, então se piorar lembre-se que a culpa é toda sua — suspirou — Bom, agora que já dei meu aviso pra você, vou ligar pra sua babá de demônios.

Ele se ajeitou no parapeito nessa hora, mudando o celular para a outra orelha.

— Não tenho dúvidas que aquela anã vá — disse — Ela não perderia algo assim, digamos, idiota.

Você sabe o nível dos eventos do colégio, Castiel — Miha suspirou desanimada — Todos um completo lixo, porém, dessa vez eu acho que você, eu e todos nós poderíamos “burlar” as regras, só um pouquinho, se é que me entende.

Ele pareceu finalmente se interessar.

— Burlar as regras? — sorriu de canto — E em que plano diabólico você está pensando aí, garota?

— Bom... me encontre aqui as 13h e planejaremos algo a altura — ela riu — Que tal animarmos essa festa, uh? Aposto que com sua ajuda e de todos os outros, nos daremos bem. Pela primeira vez algo que preste. E aí, tá dentro, diabinho?

Ele puxou ar para os pulmões, encarando o teto com seus olhos cinzentos.

— De qualquer forma, não tinha nada pra fazer hoje, — começou — Acho que seria mais interessante animar esse lixo, do que ficar em casa olhando pra cara desse cara o dia todo.

Agora estamos falando a mesma língua — ela estava animada — Bom, então vem pra cá no horário combinado pra arrumarmos tudo, beleza?

— Você é mais esperta do que eu imaginava — disse — Eu apareço por aí, mais tarde.

Não conta pra ninguém, mas eu sempre amei os demônios — ela alargou um sorriso.

E a ligação se encerrou.


— Que cara é essa, plebéia? — o garotinho perguntou enquanto enfiava mais uma vez a colher cheia de doce de leite na boca, tal doce que Hikkaru havia acabado de fazer.

Na verdade a garota de cabelos azuis estava ficando completamente pirada; fazia três potes de doce por dia. E quando digo doce, digo qualquer doce.

Mellanie suspirou, enfiando o celular no bolso de trás do short.

— Miha me ligou da escola.

Alam levantou uma sobrancelha e retirou a colher da boca, revelando seus lábios rosados e lambuzados de doce de leite.

— Quem é Miha? — ele perguntou, intrigado.

Mellanie sorriu com a forma que ele questionou o nome da garota de cabelos róseos.

— Uma amiga da escola, Henry, uma amiga da escola.

Ele soltou um “humm” e voltou a enfiar a colher na boca, dando as costas e se jogando no sofá.

Joseph e Kaien liam jornal; o guardião mais velho de Mellanie encontrava-se concentrado na sessão de homicídios, a procura de mais vestígios dos assassinatos na cidade, mas nada encontrou. E Joseph? Bem, ele estava na sessão de fofoca, parecia muito admirado.

— E oque ela queria com você? — Hikkaru apareceu por trás, puxando o cabelo da amiga.

— Me ligou pra me dar uma ótima notícia — o tom de ironia era forte a suas palavras, porque na verdade ela estava brava.

— Conta, conta — Hikkaru se animou, dando pulinhos.

— Vai ter uma festa de Halloween a noite, na minha escola — suspirou desanimada.

De repente Lunna brota do nada, quase rolando as escadas com um sutiã pendurado no pescoço e uma blusa branca nas mãos.

Ela fitou as duas garotas em pé com curiosidade.

— Você disse festa de Halloween? — perguntou eufórica — Mas que agradável, Mell!

Kaien tacou o jornal na mesa com raiva, se virando para Lunna e para Mell.

— Será que não conseguem calar a boca por um segundo? — cerrou os olhos amendoados — Não consegui ao menos ler meu jornal em paz por causa da falação de vocês.

Lunna colocou a mão na cintura, arqueando uma sobrancelha e rindo da cara de bravo de Kaien.

— Como se eu me importasse com isso — ela disse.

Ele praguejou algumas coisas baixinho, e então retirou os óculos do rosto, colocando-os sobre a mesa.

Aliás, o senhor Cross ficava extremamente atraente sem seus óculos.

— Ao menos deveria ter vergonha nessa sua cara. Oque dá na sua cabeça de descer as escadas quase semi nua? — ele tacou-lhe uma bronca.

Ela olhou para o próprio corpo, reparando que realmente estava apenas com calcinha branca e uma camiseta velha azul-marinho com uns desenhos de nuvens.

Deu de ombros, mandando língua para o mais velho.

— Que se dane oque eu estou vestindo — começou — Quem estiver incomodado, que feche os olhos.

Nesse momento Joseph abaixou o jornal, que antes tapava seu rosto.

— Oh, mas não farei questão alguma de fechar meus olhos para esse paraíso — comentou com os olhos pervertidos — Aliás, senhorita Lunna, belos seios.

Kaien virou a cabeça na direção do homem de cabelos negros, logo por dar uma porrada em sua cabeça.

— Mas que ousadia é essa, Joseph? — disse aos nervos — Se não se comportar te chutarei dessa casa!

— Kaien-san, Kaien-san, não fique tão nervoso, ele só estava brincando! — a azulada correu em sua direção, segurando o braço do mais velho.

— Eu vou para o meu quarto — Kaien disse se levantando e recolocando os óculos no rosto, passando por Lunna e Mell com a cara mais azeda do universo.

Era realmente raro vê-lo daquele jeito, oque será que havia acontecido?

Poderia ser possível Lunna e Kaien terem trocado de corpos por um dia?

— Então, tia — Mellanie começou — Miha me disse que a festa em comemoração ao Halloween será mais um atrativo para novos alunos para o ano que vem, então todos poderão entrar.

— Parece interessante, Mell — Lunna sorriu.

Mas a pequena suspirou.

— Não é tão empolgante assim — respondeu — Temos apenas algumas horas pra arrumar a escola toda pro evento, ou seja? Aquela mulher maluca da diretora colocou seus próprios alunos para montar o palco e os preparativos.

Hikkaru arregalou os olhos.

— Isso me parece exploração — ela disse.

— Sim, aquela mulher é completamente louca e fora de si — disse — Mas todos se encontrarão lá às 13h para começarem a aprontar tudo, caso contrário, quem não for, não entrará na segunda-feira.

— Bom, então vá, querida — sua tia disse — Aposto que o esforço valerá a pena à noite.

Mellanie sentou-se na cadeira.

— Sim, mas porque então a sensação que um certo demônio botará tudo a perder? — sussurrou.

Alam logo pulou do sofá, com o pote de doce vazio na mão.

— Exijo mais doce, agora! — ele gritou, e Mellanie teve vontade de matá-lo e apertá-lo pra sempre.


A tarde havia começado fresca, nem tão calor nem tão fria. Rastros das folhas de outono estavam em montes pelas ruas, enquanto Mellanie, encostada nas grades do portão, observava a rua do jardim da escola.

— Aquela mulher ficou completamente louca — Miha praguejou — Deve ter acabado os remédios dela, porque não é possível.

— Será que dá pra se acalmar, antes que deixe todos nós malucos? — Maryana deu um tapa no braço da rosada, que ficou emburrada.

— E as fantasias? Vocês já têm um plano? — Nathaniel perguntou.

— A diretora disse que deixou uma sala pronta com dezenas de fantasias, todavia, somente para os alunos que não tem nada em casa ou nenhuma condição de vir fantasiado a seu gosto — Lysandre finalmente se pronunciou.

— Eu tenho uma fantasia em casa, então não precisarei revirar esse lixo que a diretora deixou — Miha disse.

Mellanie riu do mau humor da rosada.

— Bom, eu acho que também darei um jeito. Minha prima tem uma tinta para cabelo que saí no banho, e uma fantasia de vampiro feminina — Mary disse.

A baixinha suspirou.

— Já são 13h40, pessoal — Mell disse — O palco, pelo que parece, ficará pronto às 16h, e a comida as 18h20. Estamos um pouco encrencados.

— Pelo menos consegui ligar para todos os alunos, junto com Nathaniel — Miha falou — Parece que todos estão dispostos a comparecer, já que ficaram com medinho da ameaça da diretora, porém...

— Porém...? — Mary incentivou a continuar.

— Porém o mais linha dura de arrastar para cá, foi o demônio lá — Miha continuou, revirando os olhos.

Mellanie piscou duas vezes.

— Castiel virá? — perguntou ela — Bom, isso seria um milagre.

Nathaniel resmungou.

— Ele poderia morrer, só pra variar — o loiro disse — Mas pelo jeito que Miha conversou tão amigavelmente com ele mais cedo no telefone, parece que o diabo virá hoje.

Mellanie riu, e Lysandre suspirou.

— Entretanto, se eu fosse vocês, não esperaria boa vontade dele — o vitoriano disse — Devem conhecê-lo muito bem para saberem como ele age a esses tipos de eventos.

— O que? E como ele age nesses tipos de eventos? — Mellanie agora estava curiosa, já que era uma recém chegada naquela escola.

— Bom, deixe-me ver qual foi a pior dele em festas escolares, hm... — Mary pensou um pouco — Ah claro, como me esqueceria da festa de primavera do ano passado? Ele encheu a piscina com pó de mico, isso já seria bastante cruel se ele não tivesse destruído o palco também.

Mellanie arregalou os olhos.

— E como ele destruiu o palco?

— Explodiu ele inteirinho — ela riu — Até hoje não descobri como conseguiu passar pelos seguranças com explosivos na mochila.

— E teve aquela outra vez que ele arrancou os vestidos de todas as meninas no baile de uma só vez. Foi cruel, elas ficaram quase peladas e em desespero — Nathaniel gargalhou.

— Tenho que admitir que nesses quesitos, Castiel é um gênio — Miha pendurava um sorriso sádico nos lábios — Sou fã dele na arte de aprontar com os outros e estragar festas alheias.

Mellanie revirou os olhos.

— Vocês acham isso realmente divertido? — começou a baixinha — Esse ano isso não vai acontecer.

— Não mesmo — Miha disse — Esse ano teremos uma festa de verdade, a nosso estilo.

— Como assim? — Mary perguntou.

— Sem aquela coisa chata da diretora, vamos aprontar tudo a nosso gosto — a rosada sorria — Castiel pareceu gostar da idéia.

— Que ótimo, agora resolveu se aliar a um marginal! — Nathaniel cruzou os braços.

— Marginal que você morre de medo — ela retrucou.

Nathaniel fez bico, rindo alto.

— O que? Até parece que eu tenho medo daquele lá! — começou — Eu quebraria a cara dele agora mesmo, sabia?

Todos estavam olhando pelos ombros do loiro, estavam todos segurando o riso, até que uma voz conhecida e ameaçadora surgiu por trás de Nathaniel.

— Verdade? — Castiel disse.

Nathaniel deu um pulo.

Todos riram.

— Seu demônio! Não apareça tão de repente dessa forma — o loiro praguejou.

Castiel mantinha-se sério.

— Vamos, porque não quebra a minha cara agora, já que eu tô aqui? — provocou cerrando os olhos.

Mellanie limpou a garganta, se metendo entre os dois e segurando os braços do ruivo.

— Chega disso, vocês dois — ela disse — Temos coisas mais importantes pra fazer.

Castiel revirou os olhos e se esquivou da baixinha, indo para as grades e ficando lá.

— Oque nos falta? — Lysandre questionou.

— Ajudar nas cortinas, nos preparativos e no acabamento do palco — Miha disse desanimada.

— Pessoal, não vamos abaixar a cabeça — Mellanie sorriu motivada — Vamos fazer uma festa bem legal, certo? Porém...

— Ao nosso estilo — Miha completou, sorrindo.

— Só irei falar uma coisa, e quero que gravem muito bem oque vou dizer — Castiel se aproximou de todos, com seu típico olhar gelado — Já que não tenho explosivos para esse ano, e pelo visto terei que aguentar vocês a festa toda — continuou — Me recuso a ser vigiado por essa anã aí.

Mellanie apertou os olhos.

— Ah é, então é isso? — ela sorriu desafiadora — Pois bem, eu anuncio que pregarei os olhos em você a festa inteira, senhor apronta todas.

— Se você não conseguir me perder de vista, senhorita esquentadinha — ele começou —, eu pensarei no caso de ser um bom garoto a semana inteira. Fechado?

Ela alargou o sorriso, levando a mão até a dele para firmar o acordo.

— Fechado.

Quando apertaram as mãos, fora como se um choque elétrico corresse por todo seu corpo. Ela fechou o sorriso e rapidamente largou sua mão da dele.

— Ah, cara... você fez uma aposta com um demônio — Miha riu — É como se fosse uma passagem só de ida para o inferno. Você fez a escolha errada.

Mellanie sorriu.

— Eu sempre faço a escolha errada — respondeu — Essa não será um problema, e a propósito: eu não tenho medo algum de ir para o inferno.


Um, dois, você está em transe.

Três, quatro, você caminha até o quarto.

Cinco, seis, é a minha vez.

Atenção! Continue com os olhos fechados.

Posso ouvir seus passos...

Sete, oito, mais de meia noite.

Nove, Dez, eu te pego pelos pés...


A voz continuava tranqüila e serena. Era a voz de uma criança, uma menina, mais especificamente. Cantarolava a canção de ninar baixinho, e parecia tão próxima que fazia os pelos de seu pescoço se eriçarem.

E então os olhos castanhos-avermelhados se abriram, arregalando-se.

Passou a mão nos cabelos e se levantou da poltrona, olhando ao redor.

Mas não havia completamente nada ali.

— Kaname? — a voz masculina invadiu aquele quarto — Está na hora.

O Kuran suspirou, apertando os olhos e se levantando.

Odiava dormir e ter sua mente invadida por aquela voz, e aquela canção — que parecia incrivelmente doce, mesmo que assustadora no timbre tão infantil.

— Avisou aos outros que sairei essa noite?

Akatsuki mandou um gesto afirmativo com a cabeça, logo entregando o casaco para seu mestre, e abrindo a porta.

— Sabe que todos o acham louco por ir até lá, não sabe?

Kaname o olhou com expressão neutra.

— Não os culpo por isso, Kain — começou — Afinal, não é isso que sou? Um louco.

Akatsuki sorriu amigavelmente, balançando a cabeça e passando pela porta.

Encontrá-la; por mais insano ou terrivelmente irreal, ele o faria se fosse necessário.

— Mas que diabos é isso? — Miha começou a rir descontroladamente feito louca — Então essa vai ser sua fantasia?

“Vá com essa fantasia” eles disseram — Nathaniel começou sibilando uma voz irritante e afeminada — “Vai ser legal”, eles disseram.

— Certo, certo... — ela tomou fôlego — Quem foi que te obrigou a entrar nessa fantasia de gato?

— Louise me obrigou, e me disse que eu estava fofo — ele só faltava soltar fogo pela boca, com tanta raiva que estava — Estou me sentindo um babaca.

— É, ficou realmente muito gay, Nathaniel — ela ria — Mas pelo menos, veja o lado positivo.

— E qual o lado positivo?

— O lado positivo é justamente que não tem um lado positivo — ela riu mais — Não ficou tão ruim assim.

— Vergonhoso, isso sim — ele se sentou no banco daquele vestiário — Gato preto, que droga.

— A maioria já foi pra casa se arrumar, e eu como sou muito esperta já tenho minha fantasia comigo.

Nathaniel encarava Miha, que continha um sorriso largo e insano no rosto.

— Como é que é? — começou ele assustado — Não me diga que a fantasia estava esse tempo todo em seu armário?

— Mas claro que sim, idiota — revirou os olhos — Sou prevenida. Pra qualquer momento que precisar, tenho minha Gasai Yuno em mãos.

— Às vezes você me assusta.

— É, eu sei — ela sorriu — Adoro aterrorizar as pessoas.

Ela se escorou no batente da porta de entrada para aquele vestiário, e logo sentiu um arrepio atingir a dobra de seu pescoço quando alguém começou a falar bem próximo de seu ouvido.

— Também adoro aterrorizar as pessoas, me dá uma sensação de prazer gigante — e então a rosada se virou rapidamente, e assustada fitou os cabelos vermelhos e um tanto bagunçados, que supôs pelo vento. Ela respirou fundo, apoiando as mãos na cintura enquanto ele abria os lábios novamente — Aliás, oque uma garota faz no vestiário masculino?

— Isso não é da sua conta, demônio — ela revirou os olhos — E, aliás — o imitou na intenção de provocá-lo — eu entro nessa droga a hora que eu quiser.

— Hm, certo — ele suspirou se jogando no banco ao lado de Nathaniel, que se encolheu instantaneamente para a ponta — Mas não reclame depois se acabar vendo acidentalmente algo que não queira.

A garota riu.

— Já vi tantas coisas nessa vida, e acredite, se eu visse alguém sem as calças por aqui seria a coisa menos problemática, ruivo.

— Ah, mas sabe como é, não seria nada bom se a diretora te pegasse por aqui. Até porque você é a menininha representante e certinha desse inferno — ele provocou sorrindo ao canto dos lábios, que, aliás, pareciam ter um fino corte. Talvez ele tivesse-os mordido e os machucado.

E como um vulto a rosada voou no ruivo, apertando com ambas as mãos o colarinho da camiseta preta de Castiel, estampada uma banda qual ela nunca havia ouvido falar.

— Nunca mais me chame de menininha outra vez — ela apertou os olhos, raivosa — Muito menos de certinha.

O ruivo se mantinha estático, mesmo que agora a jovem de longos cabelos róseos se mantinha praticamente por cima dele, apertando-lhe a camisa. Os olhos marinhos dela estavam em chamas.

— Não sou um cara que segue ordens facilmente, garota — ele levou seus olhos frios brevemente para o corpo dela quase sobre si — Aliás, te aconselho a me largar e sair de cima de mim agora. Não que eu me incomode, mas você é um pouco pesada.

Ela soltou sua camiseta, que ficara um pouco amassada na região, logo por cerrar os dentes de raiva.

Saiu de cima dele.

— Sua peste, e oque veio fazer aqui a essa hora?

— É da sua conta? — ele jogou os braços pra trás, apoiando-os nas costas do banco.

— Deveria estar pensando em uma fantasia, a festa começa daqui três horas — ela revirou os olhos.

Ele olhou para Nathaniel ao lado, na verdade na ponta do banco, logo por voltar seu olhar entediado para Miha.

— Não preciso de uma merda de fantasia — afirmou — Vou do meu jeito.

— Ah claro, do seu jeito, você diz... — Nathaniel finalmente começou a falar — Na realidade vai vestido como um marginal, como sempre.

Castiel mandou-lhe um olhar ameaçador, e o loiro recuou.

— Não, não... você não está entendendo, ruivo — ela começou sacudindo as mãos em negativa — Quem não tiver com fantasia, não entra.

— Ótimo, bom que me livra dessa droga de festa Halloween.

— Oh, sério? E se eu te falasse que tenho uma fantasia perfeita para você? — ela cruzou os braços, e seu sorriso parecia como uma armadilha.

Castiel suspirou, jogando a mecha ruiva que começara a cair sobre seus olhos e incomodar, para trás da orelha.

— Sem chance — respondeu.

— Por quê? Ah, vamos lá — ela insistiu.

— Não vou entrar em nenhuma fantasia que você me der, porque pelo que te conheço, colocaria pó de mico nela.

Ela riu.

— Acha mesmo que eu seria tão cruel a esse ponto, ruivo?

— Vindo dessa sua cabecinha macabra, tudo é possível — ele disse — Mas eu tenho uma mente muito pior que a sua, garota, então minha resposta é não.

Ela bufou, jogando-se no mesmo banco de concreto, agora ficando no meio dos dois e abraçando-os pelo pescoço.

— Merda, odeio vocês, odeio minha vida.


— Cala a boca e me beija de uma vez, pobretona — ele agarrava em sua blusa por trás, puxando-a.

Ela revirou os olhos e se virou para o baixinho que agora cruzava os braços no peito, com ar superior.

— Eu não vou te beijar, seu metido — ela também cruzou os braços, na tentativa de imitá-lo e irritá-lo mais — Olha pra mim e me fala se eu tenho cara de pedófila que sai beijando menininhos de oito anos por aí.

O menino bufou enquanto Joseph tomava a milésima xícara de café naquele dia, vez ou outra por olhar de rabo de olho para os dois — que já estavam a mais de meia hora discutindo.

Era mais do que um fato que o pequeno príncipe e herdeiro ao trono de Aster precisava de um beijo da pessoa certa para que quebrasse o feitiço de seu irmão mais velho e para que voltasse a sua terra natal.

Jeile era seu irmão e também príncipe, e foi ele quem lançou o feitiço atrapalhado o garoto para que envelhecesse no escuro. Seu plano era que ficasse velho a ponto de morrer, porém, por sorte ou azar, o pequeno príncipe havia achado a pessoa — e única — qual o ajudaria a quebrar o feitiço.

Porém não seria tão fácil convencê-la.

Alam já havia mordido seu braço, puxado seu cabelo e chutado a garota, mas nada parecia convencer.

— Por Deuses, porque você não quebra logo esse miserável feitiço? — Joseph se levantou da cadeira, encarando a menina e despertando seu outro lado.

Aliás, já lhes contei que ele tem síndrome bipolar?

— Joseph, entenda — ela começou — Eu não vou beijar essa criança.

— E porque não? — ele perguntou erguendo uma sobrancelha.

— Simples: eu não quero.

Isso motivou ainda mais a raiva do pequeno, que foi as pressas até a porta ali perto, batendo-a com força.

Reviraram os olhos.

— É apenas um encostar de lábios, senhorita — e ele voltou ao seu lado amável — Que mal há? Poderá beijá-lo em sua forma adulta, oque não será tão desagradável assim.

— Não me provoque, Joseph — ela apertou os olhos — Não vou beijá-lo, pelo menos por enquanto, então não insista.

Nesse momento a porta se abriu novamente, revelando Alam — agora em sua forma mais velha, aparentando seus dezoito anos de idade. Os fios de cabelos um tanto maiores, que alcançavam um seus cílios, e os olhos revoltados ao encararem a baixinha.

— Merda, estava escuro aí dentro? — ela brigou — Se certifique de acender a luz antes de entrar em algum lugar, Henry.

Ele bufou.

— Hoje eu não vou ficar trancado nessa casa, plebéia — ele afirmou — Eu vou com você pra essa festa de dia das bruxas, afinal, quem mais conhece tanto de feitiçaria quanto eu nesse lugar cheio de gente pobre?

Ela riu.

— Você não tem concerto, pirralho — ela deu-lhe um soco no braço, visto que não poderia bagunçar seu cabelo como de costume, já que ele estava alto agora.

Joseph suspirou, voltando a se sentar na mesa e bebericar do café amargo.

— Todos vamos para esse evento, senhorita?

— Uhum, todos nós — ela sorriu para Joseph.

Alam praguejou enquanto se encostava na parede, virando a cabeça e fitando o ser encolhido na janela.

— Qual o problema dele? — Alam perguntou, não despregando os olhos de Zero.

Mellanie sorriu fraco.

— Eu já volto — ela disse e se afastou de ambos, indo de encontro a janela — Chateado? — falou se sentando do outro lado da grande janela, fitando os olhos perdidos do lobo.

Ele a encarou, inexpressivo.

— Não.

— Então porque dessa cara?

— Só não suporto dias como esse.

— Entendo — ela suspirou, jogando as pernas sobre as do rapaz, que se assustou com a ação inesperada, encarando-a.

— Me deixe em casa hoje — começou ele — Não é seguro me levar com você para um lugar tão cheio.

Ela sorriu.

— Não discuta comigo, Zero — ela se aproximou, apoiando a palma de sua mão pequena sobre o topo da cabeça dele, bagunçando os fios brancos — Você é meu cão de guarda, então honre suas obrigações como tal.

— Não é que eu não queira ir, só que estou te prevenindo de algo que possa vir a acontecer.

— Nada de ruim vai acontecer — ela sorriu — Quando começarmos a treinar essa ferinha que tem aí dentro, você não vai mais precisar carregar esse medo. Vou te ajudar a mandar nesse demônio, porque você sabe que no momento, quem manda em quem aqui é ele.

Zero abaixou os olhos, retirando a mão dela de sua cabeça.

— Se você mexer com ele, pode se machucar — começou em tom baixo — E não quero que se machuque.

Ela ainda sorria.

— Eu não me importo, dês de que esse demônio não mande mais em você.

Zero suspirou incomodado, virando a cabeça para o outro lado, encarando o lado de fora através do vidro. Suas orelhas estavam quietas, e a cauda estática.

Mellanie se levantou dali, voltando novamente para perto de Alam e seu protetor.

Zero precisava ficar um pouco sozinho.

Logo passos apressados foram ouvidos descendo as escadas.

— ESTÁ PRONTO — Hikkaru gritou, dando pulinhos ao alcançar os três — Ficou maravilhoso, estou emocionada com as minhas habilidades.

Alam arqueou uma sobrancelha achando a azulada uma idiota, enquanto Joseph pouco se importava.

— Já estão prontos? — Mellanie sorriu — Não acredito.

— Estão perfeitos, os dois. Claro que foi um sacrifício obrigá-los a irem vestidos daquela forma, mas era a única idéia disponível como fantasia.

Estava se referindo a Lunna e Kaien, que por não terem fantasias, Mellanie simplesmente deixou nas mãos de Hikkaru arranjar uma idéia para os dois.

E qual fantasia ela havia arrumado? Bem, mesmo que não fosse típica de Halloween, era algo ainda sim apropriado: ambos iriam vestidos como um casal vitoriano.

Logo os dois desceram as escadas.

Lunna estava perfeita, vestida com um longo vestido da época vitoriana e alguns cachos nos cabelos cor-de-café e uma flor, porém, sua expressão era de irritação, talvez por ser obrigada a ir como par do homem viciado em chás.

Já Kaien não saía estilo; também com trajes vitorianos, porém de uma coloração mais para bege e marrom e masculino. Claro que não chegava a ser tão chamativo quanto Lysandre, mas mesmo assim estava belíssimo. Sem contar nos cabelos, que estavam num rabo de cavalo baixo, frouxo em um perfeito laço vermelho.

E os óculos redondos? Naquela noite, Kaien não os veria na sua frente, demonstrando quanto seus olhos cor-de-avelã eram maravilhosos.

— Esse vestido está me incomodando — Lunna reclamou puxando a saia.

— Ah, não se preocupe, você acaba se acostumando — Hikkaru disse.

Mellanie estava com a mão na boca, chocada com oque estava diante de seus olhos. Era a primeira vez que via sua tia vestida daquela forma, e tão bonita. O mesmo de Kaien.

— Vocês estão perfeitos — a baixinha disse — De verdade.

Lunna revirou os olhos, sentindo suas bochechas corarem, e Kaien soltou risadinhas, indo na direção da protegida e apertando-lhe as bochechas.

— Não seja boba, querida — ele disse — Por mais que essas fantasias sejam ridículas, estou adorando-as. Será divertido, não é Lunna?

A mulher virou para o homem com as mãos na cintura.

— Seria divertido te enforcar com a saia do meu vestido — sua voz saía um tanto macabra.

Kaien riu, sentando na mesa.

— Preciso do meu chá — ele suspirou, quase se levantando novamente com a intenção de ir até a cozinha.

Mellanie e Hikkaru se entreolharam, arregalando os olhos e rapidamente tomaram a frente dele, impedindo-o de passar.

— Hoje você não vai se entupir de chá, Kaien — Mellanie disse.

— E porque não? — ele olhou ambas com desconfiança — Eu faço isso todo dia, e nunca te vi reclamar.

— Ahn, sim Kaien-san, mas lemos uma matéria que tomar chá demais pode te deixar louco, piradinho — Hikkaru disse.

— Oh, então eu não tomarei mais por hoje — ele sorriu largo.

As duas voltaram para perto de Lunna, Alam e Joseph.

— E o pestinha? Vai vestido de que? — Hikkaru perguntou encarando o jovem agora em sua forma adulta.

Ela não ficou menos que espantada quando soube de toda a história dele.

— Ele vai de feiticeiro — Mellanie sorriu — E o Joseph, pode ficar na sua forma felina essa noite.

Joseph sorriu, e no mesmo instante se transformou no pequeno animalzinho meigo e de pelagem negra.

Lunna chegou até ele e lhe amarrou um laço de fita vermelho no pescoço.

— Está lindo, Joseph — Lunna disse.

— Não tanto quanto você, senhorita — ele miou e falou, tão normalmente quanto em sua forma humana.

— Ainda não consegui me acostumar com um gato falante, então isso ainda me assusta — Hikkaru disse com os olhos arregalados enquanto encarava Joseph no chão, que lambia sua patinha esquerda.

— Ele fica melhor como um gato — Kaien disse mal humorado.

Mellanie encarou Alam, abrindoum sorrisinho sorrateiro entre os lábios rosados.

Agarrou o garota pelo braço, começando a arrastá-lo escada acima.

— Vamos rápido, ainda precisamos aprontar a sua fantasia — ela disse apressada — E a minha, claro.

Ele bufou.

— Vai com calma aí, plebéia — sua voz agora não era mais a de um garotinho, mas sim a de um homem. O timbre grave e levemente rouco constatava isso, e qualquer um que o olhasse não acreditaria que ele minutos antes era uma criança.


— Preciso da sua ajuda — ela disse puxando a loira e a prensando em um dos armários daquele corredor.

Maryana a encarou e suspirou, segurando nos braços de Miha, afastando-a um pouco.

— Qual é o problema, Miha?

— Castiel é o problema.

Mary riu fraco.

— O que foi agora?

— Bem, digamos que ele não quer usar uma fantasia.

— Hm, e daí?

— Como e daí? — ela bufou — Temos que fazê-lo usar uma, não importa como.

Temos? — ela cruzou os braços — Isso me inclui?

— Lógico.

— Hm, e onde eu entro nessa história?

Miha se encostou na parede, observando o corredor vazio.

— Ele não confia em mim, então eu pensei que você pudesse o convencer de usar a fantasia — seu sorriso era como se já houvesse tramado algo maligno.

Mary suspirou.

— Ele não confia em ninguém, Miha. Isso é mais do que normal.

— Mas eu tenho certeza que se você o convencer além de mim, dará certo — ela sorria.

Mary balançou a cabeça em negativa, sorrindo.

— E então, qual fantasia quer que ele vista?

— Eu já pensei em algo bem interessante, deixe essa parte por minha conta — os olhos de Miha estavam acesos em uma chama maliciosa, enquanto puxava a loira pelo corredor ao destino do vestiário.

Ele estava lá, com acara amarrada, e depois de muito insistirem, ele foi se trocar — contra vontade e irritadiço, claro.

Alguns segundo depois ouviu quase um rugido por trás de uma das cortinas do vestiário, onde seu rosto apareceu apenas numa brecha daquele pano azul.

— Mas que porra é essa? — perguntou, e pela sua cara de indignação, ele não estava muito disposto a vestir aquela roupa.

Miha gargalhou alto, visto que já estava nos seus planos.

— Castiel, as fantasias masculinas acabaram, para de show e veste logo essa. Nem é tão ruim — Mary disse.

— É ridícula — ele falou simplesmente.

— Ah é? Então fazemos assim: ou você veste essa fantasia, ou veste a de abelhinha feminina que sobrou. E então? — Miha propôs, encarando-o como em um desafio.

Ele revirou os olhos.

— Se quer saber, eu posso vestir as minhas calças agora e dar no pé, e então? — ele provocou.

— Ótimo,e aproveite e não pense em pisar segunda-feira por aqui, certo? — a rosada sorriu.

Mary colocou a mão na testa, impaciente.

— Castiel, sem drama, por favor — ela começou — Essa fantasia é uma das melhores, se quer minha opinião.

Ele franziu o cenho, e logo juntou a cortina azul novamente, e elas confirmaram que ele estava vestindo a bendita fantasia.

— Isso vai ser impagável de se ver — Miha já ria.

— Você não presta nada mesmo.

Já era noite, e como noite, as estrelas recheavam o céu azul escuro quase negro. As árvores balançavam de forma calma.

Já era 19h45. Provavelmente muitas pessoas já estariam saindo de suas casas para irem finalmente para a festa de dia das bruxas em Sweet Amoris.

Alam estava praticamente pendurado na porta de entrada com Joseph praticamente enroscado em seu pescoço, claro, em sua forma felina e extremamente amável.

Lunna e Kaien estavam próximos a mesa, ele olhando em seu relógio de bolso — que a propósito fazia parte da fantasia —, e Lunna ajeitando a barra da saia de seu vestido longo.

E oque dizer de Hikkaru? Bem, ela estava linda, enfiada na fantasia de bruxinha, e devo dizer que os cabelos azuis ajudavam muito.

Finalmente Mellanie desceu as escadas, fazendo assim com que todos a olhassem admirados.

Ela usava a fantasia de hunter, com uma foice como parte da fantasia envolta por correntes. Um vestido e uma meia que ia um pouco além dos joelhos. Estava realmente linda.

— Então, vamos? — Hikka apanhou sua bolsa e foi de encontro a Alam na porta, sentindo o vento fresco da noite.

Mellanie olhou ao redor, vendo Zero encostado na parede ali perto. Sua cara estava amarrada e ele com certeza não estava nenhum pouco a fim de ir a qualquer lugar que fosse.

Ela sorriu boba, caminhando até ele e puxando com a ponta dos dedos o tecido da manga de seu Kimono.

— Hora de irmos, cãozinho.

Ele revirou os olhos e literalmente se jogou no chão, apertando os braços em volta das pernas.

Mas oque era aquilo? Estava fazendo birra?

— Me arraste se conseguir — ele disse.

Ele riu, agachando-se e colocando as mãos em seu rosto, fazendo-o desmanchar a cara azeda e olhá-la com seriedade.

— Por favor, faça esse esforço por mim — ela implorou, e claro, ele cedeu.

Zero se levantou do chão, passou a mão na saia do Kimono e passou reto por ela, de cara fechada.

Ela comemorou mentalmente.

— Ótimo, agora finalmente vamos indo — Alam disse com um suspiro aliviado.

E então todos partiram.



Era até mesmo um pouco assustador de se ver ali em volta — estava lotado, várias pessoas qual ela nunca havia visto na vida, e claro, alguns alunos de ambos os turnos, matutino e vespertino. Ex alunos e familiares. Mas o mais impressionante era aquele palco, tão bem construído e bonito, que dava vontade de subir em cima e cantar — mesmo que ela não soubesse nem falar decentemente sem tropeçar nas palavras.

Mellanie permaneceu plantada no mesmo lugar, enquanto mais afastado daquele palco ficavam as mesas. Kaien logo tratou de arrumar uma enorme, onde Alam, Lunna, Hikkaru, Zero e Mellanie ficariam. Apesar de que, Zero no momento que chegou logo tratou de se manter emburrado encostado na parede logo atrás, onde daria para manter os olhos fixos e atenciosos em Mellanie e neles todos.

Eram exatamente 19h56. Em pouquíssimos minutos começaria finalmente a festa em celebração ao Halloween. E, se de fato aquela diretora queria chamar a atenção para novos alunos para o ano que vem, estava conseguindo.

Mellanie não conseguiria ficar sentada naquela mesa, oh não. Assim que avistou Miha, Nathaniel, Mary e Lysandre próximos ao placo, tratou logo de correr até lá para falar com eles.

— Mandaram bem nas roupas, hein? — ela disse quando chegou, sorrindo e analisando cada fantasia.

Primeiro Nathaniel, que estava com uma fantasia de gato preto, que apesar de ser Halloween, estava mais para fofo do que para assustador.

Agora quem realmente estava assustadora era Miha, com sua fantasia — ou porque não dizer cosplay — da Gasai Yuno, uma personagem famosa de anime, que ganhava merecido destaque por sua personalidade bipolar e psicopata, apesar disso, era amável e juntamente ciumenta — única coisa que Miha não se assemelhava a ela. Os cabelos presos em maria-chiquinha baixa, junto ao sangue sintético espalhado por seus braços. A famosa faca e um vestido preto junto a meias que também iam até os joelhos.

Logo bateu os olhos em Maryana, com sua fantasia de vampira. As presas que mais pareciam reais, e os cabelos perolados tingidos com aquelas tintas que saiam ao tomar banho.

E por fim Lysandre: parecia mais uma obra de arte, com uma pintura maravilhosa em seu corpo — era de uma caveira. Um coração sub-desenhado em seu peito, os olhos bi colores acompanhados de uma flor em suas mãos de cor vermelha.

— Acho que a minha fantasia é a mais patética daqui — Nathaniel disse desanimado.

Miha logo gargalhou sem motivo algum, dando tapinhas de consolo nas costas do loiro.

— Não se preocupe gatinho, tenho certeza que vem mais surpresas por aí — sim, ela se referia ao ruivo, que por hora não havia dado as caras por ali.

Mas Mellanie não pareceu entender a insinuação da rosada.

Os poucos minutos que faltavam logo se acabaram, dando início finalmente a festa Halloween. Abóboras e enfeites típicos estavam por toda a parte no salão principal que era realmente enorme, dando espaço de sobra as mesas, a pista de dança e ao palco onde tocaria uma banda contratada sob indicação de uma tal de Rosalya, que a baixinha nunca havia visto na vida, mas que muitos sempre diziam que era namorada do irmão de Lysandre, que por sinal vivia sempre viajando, seu nome era Leigh.

Mas o vitoriano nunca falava de seu irmão ou família, oque era mais que estranho.

Passaram-se meia hora então dês do começo da festa, que estava normal. Mellanie foi e voltou na mesa onde Lunna e Kaien estavam sentados. Alam já havia sumido da vista deles por aí com o gato em seus ombros, e Hikkaru comia alguns docinhos em forma de aranhas na mesa. A saia do vestido de Lunna era realmente grande, oque a incomodava.

A foice da baixinha estava encostada em sua cadeira na mesa, até porque não iria carregá-la para lá e para cá o tempo todo.

Olhava ao redor, já fazia uns dez minutos que estava na mesa parada no mesmo lugar. Olhava Miha ao lado de alguns meninos do terceiro ano, que cheiravam a problema, e ela logo soube que a rosada estava tramando algo diabólico.

Nathaniel estava em um canto, e mesmo vestido de gato e em uma festa segurava a prancheta de representante nas mãos. Sua cara não era das melhores, e devo dizer que a sua “máscara” de príncipe e garoto responsável hoje estava meio torta.

Lysandre conversava com uma linda moça de cabelos longos e perolados, seus olhos eram amendoados e ela sem dúvidas não era daquela escola, aliás, ela não tinha cara alguma de ainda ser do ensino médio. Já deveria ter se formado. Ela passava a mão na mecha longa do cabelo de Lysandre, e ambos sorriam. Aquilo era muito estranho, sem dúvidas.

Mellanie torceu o nariz ao direcionar seu olhar agora para Maryana, que permanecia com uma lata de refrigerante nas mãos e um olhar meio caído. Não aprecia muito contente.

Mas uma coisa que ainda não havia visto por ali, e esperava, era pelo ruivo. Ele não havia dado as caras, e ela se perguntava constantemente se ele iria realmente aparecer. Talvez houvesse desistido, ou chegaria mais tarde.

Ela suspirou. Olhou para trás e viu Zero na parede, desta vez não parecia tão ameaçador — sem contar a expressão, claro, que ainda estava azeda —, com aquela roupa e aqueles chinelos ele parecia realmente amável, e aquelas orelhinhas e rabo de lobo, que para todos era apenas uma fantasia, mas ela sabia que era um dia de transformação. E ele estava mais do que inquieto naquele lugar. Talvez, junto com toda a agitação da transformação, o seu faro estivesse ainda mais apurado, e com o salão lotado, uma confusão de aromas das pessoas ele podia sentir, e sem dúvidas quase enlouquecer.

— Mell, oque foi? — Hikkaru sussurrou próximo — Está pensativa.

— Oh, nada. Só estou um pouco perdida.

— Você é meio louca, sabia?

Hikkaru riu e se encostou novamente nas costas da cadeira, enfiando mais um doce na boca.

Mellanie sorriu fraco, levando seus olhos verdes de encontro a entrada do salão. Então, lá pôde ver o dono dos cabelos rubros, um tanto bagunçados como sempre, quase na altura dos ombros, porém jogados para trás diante ao arco de chifres em sua cabeça, mantendo sua testa livre dos fios vermelhos. Seus olhos estavam profundos e frios como de costume, enquanto ela começava a perceber que sua fantasia na verdade era de diabinho, ou algo do tipo. Uma calça branca — e tinha certeza que ele estava detestando vesti-la — e uma espécie de blazer também de cor branca, que estava aberto, deixando assim justamente o peitoral e a barriga a mostra.

Porque ela teve a sensação, que assim que bateu seus olhos nele, que Castiel detestava a cor branca mais que tudo no mundo?

Ela o seguiu com o olhar até a mesa ao longe, onde parou em pé e encostou a mão na cadeira onde Lysandre estava sentado, e tanto a garota de cabelos cor pérola quanto o vitoriano, riram da forma como Castiel estava vestido.

A baixinha se levantou, mandado um aceno com a cabeça para sua tia que estava sentada na mesa. Andou em direção a Maryana e Nathaniel, que agora estavam juntos observando o palco e a banda arrumarem os instrumentos. Eles tocariam às 21h e pretendiam ir até o resto da noite.

— Você viu? O seu diabinho chegou — Mary jogou a indireta, rindo com os braços cruzados.

— E ele com essa fantasia, só pode ter sido obra da Miha, certo? — o loiro sorria divertido.

Mellanie suspirou.

— Aposto que o mocinho não ficou nenhum pouco contente com esses chifrinhos de plástico na cabeça — ela começou com um sorriso maroto — E porque eu acho que ele detesta branco?

Logo alguém apareceu por trás dos três, puxando o cabelo de Mellanie e rindo de forma sádica.

— Eu sei que sentiram minha falta, mas eu estava resolvendo uns lances com os caras do terceiro ano — ela piscou, jogando um de seus rabos da Maria Chiquinha para trás das costas.

— Contanto que não seja de amarrar todos no centro do salão para tacar fogo, tudo bem — Mary brincou.

— Engraçadinha — Miha olhou-a séria — Só tenho uma coisa a dizer: me amem, sou foda.

Nathaniel revirou os olhos.

— Me admira como você é uma pessoa humilde e modesta — ele disse irônico, e ela desejou atirar facas nele.

Eles permaneceram ali, perto do placo enquanto conversavam por alguns minutos. As luzes estavam um tanto fracas, eles estavam começando a se preparar para o início do show.

Logo os quatro puderam ver Lysandre e Castiel se aproximarem.

— Boa noite — Lysandre disse se curvando um tanto, e diabos, ele não largava aquela flor vermelha.

Talvez fosse parte da fantasia.

Castiel não cumprimentou, apenas manteve-se com a expressão fria, entretanto, quando olhou para a baixinha ela pôde jurar que ele havia aberto uma brecha nos lábios, quase como um sorriso — por mais sacana que fosse, um sorriso.

Miha viu sobre os ombros do ruivo a movimentação dos garotos do terceiro ano, logo abrindo um sorriso sádico.

— Eu volto logo, tenho umas coisinhas pra fazer antes de começar a ficar bêbada.

— Não tem bebidas alcoólicas aqui, Miha — Nathaniel disse revirando os olhos.

— É, eu sei disso — ela piscou e saiu, sumindo de vista.

Mellanie olhou para o chão assim que viu a movimentação do ruivo para perto de si, os ombros se encostaram brevemente e ela fitava os pés do ruivo, que estavam calçados com uma bota de cano médio, que ia até os tornozelos.

— Aposto que me perde de vista hoje — ele disse olhando para o palco.

Ela sorriu.

— Aposto que não — a baixinha provocou — Sou muito boa observadora, e nunca deixo nada fora de alcance. Se eu fosse você, ficaria mais esperto.

Ele sorriu sarcástico.

— É a primeira vez na minha vida que vejo uma tábua tão inteligente — ele caçoou — ou que finge ser.

Ela franziu o cenho, cruzando os braços.

— Parece que já vão começar a tocar, daqui a pouco — Lysandre cortou os dois, também fitando o palco.

Castiel pareceu mudar de humor muito rapidamente naquele momento. Agora parecia com o semblante mais fechado.

— Vamos ver a merda que esses caras irão apresentar — ele disse ríspido, com os braços cruzados.

Mellanie arqueou a sobrancelha.

— Castiel, foi Rosalya que os trouxe aqui. Tenha em mente que devem ser realmente bons.

— Tsc, e você dá ouvidos ao que Rosa diz? — ele revirou os olhos — Só há uma forma de descobrir se são realmente bons ou não. Ouvindo.

Mellanie sabia muito bem que aqueles dois cantavam, e que o sonho de Castiel era formar uma banda algum dia, mesmo que não conseguisse crédito algum. Os dois já eram amigos há muito tempo, e cantavam juntos, ensaiavam e formavam letras de canções naquela salinha abandonada da escola todas as terças-feiras e quintas. Mas ainda era um mistério, era tudo muito confuso. Admirava a garota eles nunca terem saído daquela sala velha.

O tempo passou rapidamente. Ela olhou no relógio e enxergou 21h. Os garotos que iriam apresentar naquela banda já estavam postos. Maryana estava ao lado de Lysandre junto a Nathaniel, porém nada de Miha dar as caras.

As luzes abaixaram completamente, e outras foram acesas, dando um efeito incrível ao começo da apresentação. O vocalista era atraente, com cabelos esverdeados e olhos violetas, cantava muito bem, porém, Castiel não parecia gostar nada daquilo.

— Eu disse que seriam ruins — ele disse com um sorriso maldoso.

Lysandre continuou estático, com um olhar crítico em cima do palco. Nada disse, nada demonstrou.

— Eles são bons, mas não tenho dúvidas que vocês são mil vezes melhores — Mary disse sorrindo.

— É, mas é uma pena que vocês não podem apresentar,mesmo se quisessem Regras da diretora — Nathaniel disse.

— E oque diz nas regras? — a baixinha questionou encarando o loiro.

— Regra número noventa e nove da festa Halloween: em hipótese alguma alunos poderão se apresentar ao palco — ele respondeu.

— Agora tenho certeza que essa mulher é perturbada mentalmente — Maryana riu.

Nesse momento o ruivo sorriu ao canto dos lábios, como se acabasse de pensar em um plano maligno que só ele poderia tramar.

Assim se passou, e já estavam na terceira música. Lysandre também parecia incomodado com a banda que apresentava, e mesmo parecendo muito bons aos ouvidos de Mellanie, tinha que admitir que se os dois subissem naquele palco, o humilhariam facilmente.

Muitos se aglomeravam frente ao palco, e pareciam gostar da música.

A baixinha resolveu que precisava de ar. Estava cheio demais, e parecia sufocá-la.

Ela começou a se afastar, sem dar satisfação aos amigos que estavam naquele canto observando o placo.

Seus ombros eram esmagados entre outros ombros a sua volta enquanto andava. O salão de festas estava lotado de gente, oque dificultava até a respiração a certa medida. Ela aproveitou de sua pequena estatura, se encolhendo e passando por baixo de alguns braços levantados para cima com a animação da canção. O som estava alto, alto demais, oque fazia os ouvidos dela doerem. Castiel olhava o palco com desprezo, enquanto Lysandre em sua pose habitual vitoriana olhava atentamente também para o palco a fim de analisar a apresentação da banda. Seus olhos de diferentes cores estavam em cima da mão do guitarrista, que dedilhava acordes.

Mellanie sabia, olhando fundo nos olhos cinzentos do ruivo, que Castiel iria aprontar algo, e isso lhe preocupava. Havia firmado uma aposta que não o perderia de vista, mas ele parecia atento ao palco, então não haveria problema de se afastar por alguns minutos.

Após conseguir se afastar um pouco da multidão, respirou, olhou para frente e encontrou a parede. Nada havia ali, oque parecia muito convidativo.

Queria um pouco de paz e respirar um pouco.

Seguiu até lá, e quando finalmente estava pronta para se encostar nela, sentiu um puxão no braço. Virou a cabeça rapidamente, e seus olhos encontraram um homem; os cabelos castanhos de uma coloração escura, os olhos da mesma cor, porém com um leve tom avermelhado. Mas, de alguma forma, algo havia naqueles olhos, indescritíveis e misteriosos olhos. A pele dele era pálida, de um pálido leve e delicado. Vestia-se com um casaco pesado e marrom.

De qualquer forma, não deixava de ser um estranho, e sem dúvidas não era um aluno.

Ele segurava no braço dela com firmeza, olhando nos olhos verdes como se fossem a maior preciosidade do mundo.

Ela franziu o cenho, olhando os dedos firmes dele em sua pele.

— Dá pra soltar meu braço? — ela disse séria, encarando-o.

— Desculpe-me — ele finalmente disse.

Sua voz era grave, tão grave e ao mesmo tempo tão calma e doce — havia causado nela um calafrio, uma sensação estranha de que ela já ouvira aquela voz, que ela já vira aqueles olhos.

Bobagem. De onde ela poderia tê-lo visto antes? Com certeza iria se lembrar.

Ele a soltou, porém não se afastou. Continuou encarando-a.

— Você tem algum parente que estuda aqui? — ela se atreveu a perguntar, e ele sorriu amistoso.

— Não — respondeu — Não tenho ninguém aqui, mas digamos que eu tenha, ao mesmo tempo.

Ela tombou a cabeça um tanto, curiosa.

A música que tocava a alguns metros deu-se um fim, e ela voltou a realidade.

— Desculpe, tenho que voltar — ela sorriu brevemente.

Porém, quando finalmente ia se virar para ir embora, sentiu novamente mãos a agarrarem, desta vez pela cintura, trazendo-a para junto do desconhecido tão mais que o permitido. Ele havia trazido-a para um abraço, mas não somente um abraço. Era muito mais que isso. Era como se uma sensação de nostalgia percorresse cada canto de seu corpo, e ela estava realmente assustada com a aproximação. Afinal, ele era um completo desconhecido, e sem mais nem menos a abraça desta forma? Oque estava acontecendo ali?

Ele a apertava em seus braços como se não quisesse largá-la nunca mais.

Logo ela o empurrou de leve pelo peito, olhando-o como se oque ele acabara de fazer fosse um crime.

Porém, os olhos castanhos estavam doces.

— Porque fez isso? — ela perguntou.

— Era tudo que eu queria no momento, um abraço — respondeu.

Ela apertou os punhos.

— Eu não conheço você — começou ela — Não deveria sair abraçando quem você não conhece, moço.

Aquelas palavras haviam saído e atingido-o como facas, ferindo-o lá no fundo. Era verdade, como ela se lembraria, afinal?

Logo ele pôde vê-la sumir entre as pessoas, bem devagarzinho, assim como seu coração que parecia sangrar.

“Abraçar quem eu não conheço. Mas esse é o problema, eu lhe conheço tão bem quanto eu gostaria.”


— Meu Deus — Mellanie colocou a mão na boca — Eu sabia que você estava aprontando, Miha, sua peste.

Mellanie passava pelos corredores, pensando e pensando sobre o contato com aquele completo desconhecido, quando vê a movimentação dos alunos do terceiro ano e a rosada enfiada no meio, com uma fita isolante nas mãos e um olhar sádico.

E quem estava enfiada completamente dopada e amarrada dentro do armário de limpeza? A diretora, exatamente.

— Como você é sem graça, Mellanie — Miha ria — Vamos, esse será nosso segredinho. Porque, isso faz parte da nossa festa, ao nosso modo.

Mellanie balançou a cabeça negativamente, rindo e começou a puxar a garota fantasiada de Yuno pelo corredor a fora.

— Vamos voltar pro salão, porque se você sabe, eu não posso perder o demônio de vista hoje.



Tudo estaria perfeitamente normal, com a banda contratada tocando. Mas eu disse estaria, porque na verdade as coisas estavam a ponto de mudar.

Castiel e Lysandre estavam determinados a subir no palco e tomar o lugar deles assim que chegasse ao intervalo de dois minutos de descanso da banda, porém, não era tudo tão fácil.

— Vocês ficaram completamente loucos — Mellanie disse mordendo o lábio de nervoso — Pretendem tomar o lugar deles no palco, então é isso?

Castiel revirou os olhos.

— Já está decidido, anã — ele começou — Festa ao nosso estilo, lembra?

— Porém, não subiremos no palco de qualquer forma sem um baterista. Esse é nosso único problema.

Nesse momento Nathaniel praticamente se escondeu atrás de Miha, que suspirou entediada.

— Querem minha sincera opinião? — ela começou — Essa banda está uma merda, e as pessoas não estão agitadas como deveriam estar. Essa é a verdade, então como essa droga de festa Halloween é nossa e a diretora está sonhando com pôneis dentro do armário de limpeza, eu vou lhes falar quem vai ser o baterista de vocês.

— E quem seria? — Lysandre perguntou.

— Uai, Nathaniel toca super bem — ela falou como se fosse obvio, e o loiro sorriu querendo se matar.

— Você toca bateria? — Mellanie deu-lhe um tapa no braço.

— Faz um ano que não toco, devo estar um fiasco...

— Foda-se — Castiel descruzou os braços, olhando friamente para o loiro — Não temos outra opção, então sendo você ou uma tartaruga que saiba tocar, tanto faz. Tudo que precisamos é subir naquele palco e salvar oque ainda resta dessa festa.

Mellanie sorriu disfarçadamente. Ele estava realmente determinado.

Lysandre suspirou.

— Então, vamos — ele disse como se fosse um sinal, ao ver os garotos da banda contratada sair de cena.

Castiel olhou para Mellanie, mandando um sorrisinho maroto. Retirou apressadamente os chifres da cabeça, fazendo assim os cabelos caírem novamente ao seu normal, fazendo algumas mechas alcançarem seus olhos. Colocou os chifrinhos na cabeça da baixinha.

— Espero que não perca a aposta — ele sussurrou, e então saiu com Lysandre e Nathaniel, que por sinal parecia muito inseguro em tocar bateria novamente.

Não perder a aposta, oque ele queria dizer na verdade era que ela prestasse atenção nele, e não tirasse seus olhos da nova banda que iria entrar em cena.

As luzes do palco se apagaram completamente, chamando atenção de todos ali, que ficaram curiosos com os corpos desconhecidos na escuridão daquele palco.

— Não esquenta, eles tocam super bem — Miha disse animada — E se eu não me engano, essa é a primeira vez deles se apresentando pra tanta gente.

Mellanie sorriu.

— Sim, parece que nosso demônio está crescendo.

E então deu início a primeira música deles, os acordes da guitarra que desta vez era Lysandre que comandava, ao invés de Castiel, que por sua vez estava no vocal.

E que vocal maravilhoso era aquele? A música era Chalk Outline, do Three Days Grace, e parecia se conjugar perfeitamente a voz de Castiel. O tom doce e agressivo a medida da letra, era mais que perfeita.

E assim foi o decorrer da noite, eles realmente levaram todos que estavam de pé à loucura, com as músicas Misery Loves My Company, World so cold e Pain, entre muitas outras.

Mellanie nunca havia visto Castiel daquela forma. Ele parecia o amante daquelas músicas. Lysandre também havia cantado umas duas, e Nathaniel a medida do show havia se soltado, e também tocado perfeitamente bem.

Aquele dia de Halloween com toda a certeza havia sido especial, e ela nunca se esqueceria, mesmo com os problemas e com a obrigação de caçar um certo assassino pela frente. Sabia e sentia que o perigo estava mais próximo do que nunca estivera.

Miha e Mary cantavam alto uma das músicas que tocava naquele momento, até que Mellanie avista Sebastian isolado na parede ali atrás.

Ela sorri e vai até ele, que está fantasiado de uma espécie de mordomo demoníaco, e tinha que admitir que estava muito atraente.

— Gostei da fantasia, professor — ela elogiou.

Ele sorriu, assentindo com a cabeça de forma leve.

— A sua também está muito bela, senhorita — ele respondeu — A propósito, porque não vai dar uma olhada em seu amigo? Ele parece um tanto entediado.

Sim, ele se referia a Zero, que permanecera a noite inteira no mesmo lugar encostado na parede.

Ela sorriu, acenando com a cabeça e sumindo de vista entre as pessoas, esbarrando em várias que pulavam no salão escuro, apenas iluminado pelo show de luzes coloridas.

Ela finalmente chegou até ele, e sorriu.

— Você está mais sério que o normal, Zero — ela soltou uma risadinha, mas a abafou quando ele a puxou bruscamente pelo braço para perto de si.

Ele aproximou o rosto, roçando o queixo na dobra do pescoço da garota, que ficou surpresa.

Ele pareceu cheirar o local, e a soltou, olhando-a atento.

— Esse cheiro em você — ele começou — Vampiro.

Ela arregalou os olhos, apertando os punhos e se afastando um passo para trás.

— O que disse? — estava assustada — Não... você está apenas confuso, Zero.

Ele abaixou a cabeça, suspirando pesadamente.

— Eu senti o cheiro ao longe, agora ele não está mais por perto — começou — Mas de qualquer forma, se aproximou de você, Mellanie.

Ela apertou os olhos.

— Vou... procurar Alam — ela anunciou já se afastando as pressas, sentindo a cabeça desnorteada, sem direção alguma.

Encontrou a saída que dava para o enorme jardim, e se encostou na árvore que ali tinha, respirando fundo e carregando o ar para os pulmões.

Vampiro...

Poderia ser possível?

— Parece assustada, plebéia — ouviu-se a voz acima de sua cabeça, oque a fez despertar e olhar para cima.

Alam estava sentado no galho grosso, com sua fantasia de feiticeiro. Já Joseph em sua forma felina no galho próximo, com os olhos alaranjados bem abertos na escuridão.

— Ah, então você estava aqui — Mellanie sorriu fraco — Sabe que horas são, por acaso?

Ele retirou o relógio de bolso e viu as horas.

— São cinco para meia-noite, por quê?

Ela arregalou os olhos.

Estava quase na hora de Zero se transformar completamente. Ela precisava avisá-lo.

— Vamos entrar? Logo a festa vai acabar — ela sorriu, e logo saiu correndo apressada novamente para dentro da festa.

Chegando lá, olhou para os lados, porém Zero não estava mais naquela parede.

Suspirou fundo, e quando ia começar a andar novamente sentiu um puxão em seu ombro.

Encontrou o ser com as orelhas de lobo mexendo, e os olhos frios — que estranhamente, ou assustadoramente, agora encontravam-se vermelhos como sangue.

Sim, esse era o sinal de que estava prestes a se transformar completamente.

— Acho que está na hora, não é? — ela disse com a voz receosa — Tome cuidado por aí, certo?

Ele sorriu pela primeira vez naquele dia.

— Tudo bem, eu tomarei.

E então ela o abraçou, agarrando-o pelo pescoço, e ele não pareceu gostar nenhum pouco — ou pelo menos, não queria demonstrar.

A questão era que ficou ainda mais amável com o semblante incomodado.

Logo sumiu pela saída, e ela pôde vê-lo adentrar a floresta do outro lado da rua. Não o veria tão cedo, pelo menos até amanhã.

Olhou para trás, e viu Castiel na guitarra e Lysandre no vocal, e quando ruivo dedilhou a última nota na guitarra, a música terminou, finalmente a última. Todos foram a loucura, e tinham todos certeza que aquela fora a melhor festa da escola, e que nunca iriam esquecê-la.



Cena extra no capítulo — Demônios nunca perdem apostas.


Seus guardiões já adentravam o carro, o mesmo Hikkaru fazia, e seu semblante estava tristonho. Quem sabe a azulada tivesse comido tantos doces e por uma caso se lembrado do detetive?

Alam discutia com Joseph, que ainda estava como um gato, então resumindo a situação: qualquer um que passasse iria ficar traumatizado pelo resto da vida ao ver um gato preto falar com um cara vestido de bruxo. Tudo ia realmente muito bem.

A calçada frente a escola estava muito movimentada. Muitas pessoas saíam de dentro da escola, prontas para irem finalmente para suas casas. Algumas garotas de outras escolas davam pulinhos e falavam animadas sobre como o vocalista ruivo era um tesão, ou como tinha um belo peitoral, blá blá blá. Mellanie apenar sorriu revirando os olhos.

Ela estava indo em direção ao carro, para ir finalmente para casa, mas estava um pouco, digamos, complicado passar com tantos jovens empacados na calçada conversando cobre a festa ou com latas de refrigerante nas mãos.

Até que a baixinha sente um agarro no braço direito, oque a fez se virar instantaneamente, dando de cara com olhos cinzentos e certas mechas vermelhas roçarem em sua bochecha.

Sim, ele estava extremamente próximo de si, com o maldito sorriso sarcástico que a fazia sempre desejar matá-lo com vários socos.

Mas, naquele momento, com ele agarrando-a e tão próximo, desejou que ele falasse logo oque pretendia.

Parecia uma eternidade.

Eu ganhei — ela o ouviu sussurrar bem perto de seu ouvido, fazendo-a se arrepiar e arregalar os olhos.

— Como é? — questionou indignada.

— A aposta, eu a ganhei — ele declarou com aquela voz rouca e grave hipnotizadora.

— Não, não, não. Não venha dar um de espertinho para cima de mim, demônio — ela sorriu nervosa — Eu preguei os olhos em você a festa inteira, não lhe perdi de vista.

Ele suspirou impaciente.

— Sim, você me perdeu de vista — começou — Eu te vi saindo para o jardim aquela hora. Então, você me perdeu de vista. Eu ganhei.

Oh, merda.

Ela apertou os olhos, dando-se por vencida.

Como havia perdido aquela aposta?

— Certo, que seja. Você ganhou, e aí? Qual vai ser o meu castigo por você ter ganhado? Vai me torturar por um dia? Me fazer limpar suas botas com a língua por uma semana?

Ele soltou uma risada abafada, fazendo com que fios rubros caíssem sobre seus olhos.

Não, anã, — ele voltou a se aproximar de seu rosto, continuando em seu ouvido — na verdade eu tenho algo muito mais interessante para você segunda-feira, e vai por mim, você vai desejar limpar minhas botas com a língua.

Ele piscou três vezes quando ele a soltou e deu as costas, começando a se afastar.

Maravilha. Estava completamente ferrada.


Cena extra no capítulo — Entre um chá e outro.


Casa da Mellanie, manhã seguinte – 06:24 AM.


Kaien andou preguiçosamente até a cozinha, esticando os braços no armário, alcançando o pote onde ficava seu precioso chá.

Mas ao abrir a tampa, encontrou algo extremamente maravilhoso: um grande nada.

Ele arregalou os olhos, balançando o bote vazio.

— MAS ONDE DIABOS FOI PARAR O MEU CHÁ?



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Notas finais do capítulo

Comentem e me digam oque acharam, sim? Por favor. Obrigada.