The Rose Of Darkness escrita por Pye


Capítulo 31
Capítulo 17 – Cometendo erros, (...) - P2 2/2




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Capítulo Dezessete

Cometendo erros, destruindo relações Parte 2 - 2/2

Música de abertura

~~


(...)



— Bom dia Mell, senti sua falta — Mary começou com um sorriso — Oque ouve? Não veio ontem, aconteceu alguma coisa?


Mellanie forçou um sorriso, mas havia saído tão desastrado que os dois desconfiaram que de fato havia acontecido algo.

— Na verdade, sim, mas conversamos outra hora — ela afirmou ao ver o professor lerdo de geografia entrar na sala.

— Você parece um tanto para baixo esta manhã, Mellanie — Lysandre finalmente se pronunciou, guardando seu bloco de notas no bolso da calça.

— Não é nada de mais, Lysandre, apenas um problema que eu tenho que resolver — ela respondeu se lembrando de Zero, e do beijo que nunca deveria ter acontecido.

Maryana a olhou com sua típica desconfiança milenar de investigadora mirim, mas se conteve quando o professor começou a brigar com os alunos que não fechavam a boca.

Alguns poucos minutos depois, o velho professor irritante já começava a escrever no quadro com sua lerdeza, e Mellanie se virou um tanto, olhando para trás e fitando na última carteira da fila; Castiel estava lá, sim, com o rosto afogado na mochila sobre a mesa e os fones nos ouvidos, oque o impedia de ouvir qualquer barulho ou até mesmo reclamação do professor. Ela sorriu balançando a cabeça para os dois lados de forma negativa, entretanto, divertida. Ele nunca mudaria o seu jeito, não importava quantas “babás” tivesse. Mas era apenas o começo, afinal ela mal havia começado o seu “trabalho como babá”.

Aquela aula fora a mais cansativa que ela já havia assistido, e quando acabou, não só ela como todos deram graças à Deus. Aquele professor já estava velho demais para aturar adolescentes, e muitos já haviam ouvido boatos de que ele estava prestes a sair da escola e se aposentar. Isso seria um alívio.

A segunda aula também correu lenta, mas não tão cansativa pois física era uma matéria interessante pra baixinha. Já na terceira aula, bom, quando ela se virou só pôde ver o ruivo saindo da sala. Ele matou aquela aula, e ela podia muito bem imaginar para onde ele teria ido; para o pátio dos fundos, qual ninguém se atrevia a visitar, nunca.

Aquela aula correu rápida, e o sinal do intervalo havia soado. Todos os alunos estavam pelos corredores, encostados pelas paredes, conversando, paquerando ou simplesmente quase se comendo no meio de todo mundo. Mas ninguém se importava.

Mary havia marcado com Lysandre na biblioteca aos fundos da escola, aquela bem acabadinha que ninguém quase não ia, e disseram que iriam tratar de marcar a próxima reunião do grupo de investigação. Mellanie sabia que do jeito que estava indo, nada mais era certo, pois as matanças haviam cessado, e todos já acreditavam que fora apenas assassinatos de passagem, mas não era isso que Mary acreditava. Ela queria continuar por mais tempo, e se realmente os homicídios tivessem acabado, eles iriam dar por fechada a investigação. Mas a grande verdade, era que Mellanie sabia que as mortes não acabariam, porque ela sabia que o assassino por trás dessas mortes estava atrás dela. Não podia confirmar se esse assassino fora o que matou sua mãe há muitos anos atrás, mas que com certeza ele, quem quer que fosse, estava querendo sua cabeça.


Aquele corredor já estava ficando quase vazio, pois os alunos costumavam freqüentar no recreio as partes mais “populares” da escola, como o ginásio, a quadra ou o pátio principal. E porque a baixinha não gostava de ir para esses lugares? Bom, porque ela sabia quem iria para lá, e não gostava nada dos populares metidos a gente grande, que se achavam os melhores daquela escola, então apenas se isolava nos lugares menos habitáveis.



E naquele momento, ela sabia exatamente onde se isolar.



**




Ela atravessou os portões gradeados, descendo um pequeno degrau, sentindo sob os pés — mesmo que estivessem devidamente calçados — o piso daquele pátio, o mais puro, agradável e calado de toda Sweet Amoris. Ah, e como ela amava aquela lugar. O silêncio do vento que balançava as folhas das árvores, os pequenos jardins e a grama. Tudo era um sonho.




Tudo era um sonho, exceto pela segunda pessoa que ficava por lá.


Ela levantou os olhos e focou na peste ruiva deitava sobre o tronco da árvore, a maior árvore daquele pátio, que apesar de quieto e abandonado, era o maior daquela escola.

Ela chegou perto, e embaixo daquela mesma árvore se sentou, esticando as pernas e apoiando os braços finulos delas. Fechou os olhos para descansar, mas ela sabia que ele estava lá em cima, e que não estava dormindo como tentava fingir.

Ambos nunca conseguiriam descansar com a presença um do outro. Era mais que perturbador.

— Hoje está um pouco mais fresco, você não acha? — ela tentou começar um assunto, qualquer que fosse com ele, mas sabia que seria impossível — As nuvens são tão pouquinhas hoje também, mas são muito bonitas. E o azul de hoje está melhor do que o de ontem.

Ela ouviu um suspiro obviamente de inquietação acima de sua cabeça.

— Será que dá pra calar a boca, garota? — ele reclamou — Não consigo descansar dessa forma.

Ela sorriu ao canto dos lábios. Era isso que ela queria naquele momento, irritá-lo. Era divertido, sim, irritá-lo e vê-lo inquieto por sua causa.

— Aí em cima não deve ser muito confortável, sei lá, não machuca as costas? — ela insistiu em uma conversa, e mais uma vez ele bufou.

— Não machuca, já tô acostumado.

Ela soltou um leve hum e continuou.

— Porque matou a terceira aula? — sabia que não receberia uma resposta decente, mas não custava nada tentar — mesmo que recebesse uma voadora no meio da cara.

Ele suspirou, se ajeitando um pouco, conseguindo se virar de lado para olhar para baixo e encará-la. Os olhos cinzentos e sérios diziam claramente; eu não tô com paciência hoje.

— Acho que isso não é da sua conta — ele respondeu grosseiro

Ela fechou a cara.

— Não pode ficar matando aula, e se Nathaniel te pegar por aqui, hein? Vai tomar suspensão dessa vez, porque eu sei que você já recebeu milhares de advertências por ausência — ela provocou.

— Que se dane o Nathaniel, — ele se irritou — além do mais, ele quase nunca vem pra esse lado, então aqui eu fico tranqüilo por um tempo. Quer dizer, ficava, já que de uns tempos pra cá uma anã resolveu mandar a minha paz pra puta que pariu.

Ela se segurou para não rir.

— Talvez eu só queira me aproximar de você — ela sorriu o mais convincente possível para ele, que ainda a encarava com os olhos frios.

Ele mandou um sorriso provocativo.

— Não se aproxime demais, as pessoas podem pensar que eu sou seu amigo — ele disse — E isso não me deixaria muito contente.

Ela abaixou os olhos por um momento, e quando se virou novamente ele já havia voltado para a sua postura normal, com as mãos entrelaçadas em cima da barriga e os olhos fixos nas folhas verdes da árvore. Aqueles olhos cinzentos mostravam mais que seu lado frio naquele momento, mostravam também algo à mais, uma tristeza oculta, talvez? Algo indecifrável.

— Você está bem? — perguntou calma, cutucando a ponta da unha no short.

— Não — respondeu ele ainda fitando o topo daquela árvore.

— Hum — ela murmurou entre os lábios, sentindo um pequeno aperto no peito com a resposta fechada. Mas era normal vindo justamente dele, o demônio, como era conhecido por todos. Mas ela não pensava dessa forma, será porque ele ainda não havia feito nada demais aos seus olhos? Ela não conseguia enxergá-lo como uma peste, e sim como um pequeno garoto que necessitava de atenção.

— Na verdade, eu nunca estou — ele murmurou quase inaudível.

Mas por mais baixo que fosse sua voz naquele momento, ela teria escutado. Ela havia escutado muito bem, e mais uma vez seu peito se apertou.


~~




A manhã havia passado voando, afinal, e já havia chegado em casa. Zero havia se atrasado exatamente 42 minutos, deixando-a plantada na frente da escola, com direito a ser quase a última a sair de lá, e receber provocações infantis de Ambre e suas servas. Parecia que a loira de farmácia não havia aprendido a lição com a surra que levara a alguns dias atrás.




Descobriu na quarta aula também que Nathaniel não havia ido para a escola, e isso parecia mais estranho, já que Miha estava mais “boazinha” que o normal, e que não havia xingado ninguém ou agredido fisicamente. Isso era muito bom, ou de talvez muito ruim. Algo estava acontecendo com Nathaniel, algo sério, e Mellanie sabia que tinha alguma ligação com ele aparecer na escola todo quebrado há alguns dias, e de fato havia levado uma surra de alguém.


Lysandre e Mary estavam completamente focados na próxima reunião do grupo de investigação, mas não deixaram de contar as novidades sobre o dia anterior para a baixinha, qual ela não havia vindo.

Já Castiel? Bem, após soar o sinal anunciando o fim do intervalo, ele simplesmente sumiu do mapa. Era um caso perdido.

Ao finalmente chegar em casa, ela subiu para o quarto e jogou a mochila em um canto no chão, onde costumava ficar e deu uma olhadinha em Alam, que dormia feito um bebê na cama todo largado e confortável. Ela sorriu, e em seguida desceu para a sala, onde manteve a TV desligada e se distraiu lendo um livro por algum tempo.

Até a chegada de Joseph na sala.

E não estava mais se segurando, teria que tirar suas dúvidas naquele momento. Mas algo lhe dizia que ele se sentiria ofendido, até porque não era do mesmo “mundo” que o seu.

— Joseph?

— Sim, senhorita? — ele se virou.

— Me explica.

— Oque deseja que eu explique?

— Você gosta de homens? — aquilo havia saído de sua boca mais especificamente como uma afirmação.

— Isso é uma pergunta?

— Sim — ela apertou as unhas no estofado do sofá — Você gosta de homens?

— Gosto, sim — ele respondeu indiferente, como se aquela pergunta fosse algo mais que natural.

Ele esticou a xícara de café para dos lábios, bebericou e a olhou com sorriso largo — como já era de costume, entretanto, desta vez, o sorriso não parecia louco.

— E você também gosta... — ela pausou sentindo sua garganta coçar, talvez por vergonha de prosseguir — de mulheres? — terminou.

Ele sorriu novamente e se sentou agora ao eu lado, no sofá macio.

— Sim, também — ele balbuciou mais uma vez com naturalidade — Isso... é algo estranho, por acaso? — perguntou para ela, e de repente de seus olhos brotaram dúvidas.

— Não acho que seja algo estranho gostar dos dois sexos, Gato — ela respondeu sem jeito — Mas dês de quando se sente assim?

— Dês de sempre, ué — ele respondeu sorrindo largo — Na verdade dês de pequeno. Eu sempre tivera mais amigos meninos do que meninas, não sei explicar, é como se algo estranho me acontecesse. Eu tive um melhor amigo, gostava muito dele, mas me pergunto se era somente amizade.

— Já ouvi algo parecido, — ela sorriu ao se lembrar dos cabelos azuis de Alexy — ele era meu amigo à poucos dias atrás, e me contou sobre sua infância, e quando começou a gostar de um garoto da sua escola, eles eram muito amigos, e tiveram o primeiro beijo.

— Oh, e onde está esse seu amigo agora? Talvez fosse interessante conhecê-lo! — Joseph pareceu animado, de uma forma abstrata e eufórica. Será que ele pretendia dar em cima do garoto azul assim que o visse?

Mellanie sorriu triste.

— Ele não está mais aqui, Joseph.

— Pois bem, está em outra cidade?

— Não.

— Em outro país, então?

— Não, na verdade, — ela soltou um risinho ao se lembrar do último passeio dos dois juntos, nas colinas sobre a grama verde e macia, observando o céu estampado por estrelas, então continuou — Ele está morto.

O sorriso alegre do homem gato logo se desmanchou. Observou a face da garota e desvendou teus olhos; seu sorriso era falso, e ela queria desabar.

— Você foi forte? — ele questionou baixinho.

— O quê?

— Eu perguntei se você foi forte, sabe, para aguentar a dor da perda.

— Eu fui, eu acho — ela sorriu fraco ao se lembrar do dia em que o viu estirado com uma faca na barriga no meio do pátio da escola — Foi complicado vê-lo ir embora.

— Eu compreendo tua dor, pequena senhorita.

Ela virou o olhar para ele, e as mechas negras insistiam em cair sobre os olhos laranjas do homem.

— Mesmo?

— Sim, eu compreendo essa tua dor — ele sorriu triste também — Na verdade, eu compreendo mais do que gostaria; minha mãe morreu bem na minha frente, eu tinha Onze anos, e bem, era um garoto bem apegado à ela. Nós colhíamos maçãs no campo de um reino afastado do que eu vivo atualmente, e quando pegávamos a última maçã para completar o cesto, Cinco homens altos e fortes nos pegaram. Lembro bem que um agarrou minhas pernas e me jogou no chão, me prendeu os punhos com corda grossa e os tornozelos também, me deixaram no pé da árvore enquanto os outros Quatro agarravam minha mãe com nem um pingo de piedade. Eram forasteiros, bandidos que roubavam comida e dinheiro. A agarraram e fizeram algo horrível com ela, na minha frente, enquanto eu chorava — afinal eu era uma criança — e eles pareciam sentir prazer em me ouvir chorar. No final a assassinaram com um punhal no peito, e a largaram lá, suja de sangue. Ela não teve oportunidade de me dizer adeus, e eu me senti morrer aos pouquinhos naquele campo, até aparecer alguém no dia seguinte bem de manhã; segurava um arco e flecha nas mãos, tinha cabelos negros e olhos verdes maravilhosos. Me concentrei naquela jovem mulher, e ela desfez os nós nas minhas pernas e braços e me pegou no colo, colocando o armamento nas costas. Uma linda Arqueira real, a mais nova rainha do reino vizinho. Fiquei feliz quando me acolheu e levou-me para o seu reino, e lá fiquei, e lá estou hoje.

Os olhos da garota não sabiam se choravam ou se o olhavam maravilhada com tais palavras. Nunca imaginara que ele, um homem aparentemente estranho — e bipolar — contasse tal passado triste.

Ela colocou a mão no rosto do homem, e ele sorriu.

— Eu sinto muito, Joseph — ela disse fraca — E sobre essa mulher que te ajudou, quem ela é?

— Ela era mãe do pequeno Alam, senhorita — ele apenas disse.

Mellanie torceu o lábio.

— Mãe de Henry? — estava formulando, e formulou o mais desagradável — Então ela está morta...

— Sim, ela está.

— Oque aconteceu?

— Uma guerra brutal entre reinos inimigos. Foi um ataque e tanto, eu me lembro. Na verdade, eu tinha Dezoito anos, e cuidava do irmão mais velho de Alam em seu quarto. Ouvi o estrondo vindo das portas principais, e estavam invadindo o castelo. Foi inevitável; sequestraram a rainha — a minha salvadora arqueira — e a mataram. O rei entrou em desespero, e em menos de um mês o reino que nos havia atacado morreu em um incêndio ilustre. Foi bem feito, afinal.

— Ela deveria ter sido uma mulher e tanto, não é?

— Sim, ela foi. Mas é realmente uma pena que Alam não a tenha conhecido.

— Talvez ele tenha,

— Verdade?

— Sim, — ela continuou — em seus sonhos.


**



Música de Encerramento


[Imagem Extra do Capítulo - Mary]

[Imagem Extra do Capítulo - Castiel]


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Notas finais do capítulo

Desculpem-me por qualquer coisa.