Quatro Anos Depois. escrita por mandikasilva


Capítulo 3
O regresso.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/244924/chapter/3


Ali, á porta do escritório de Dumbledore, sentia-se mais segura do que antes. Descobrira que perdera quatro anos da sua vida; descobrira que agora já não era uma menina de 17 anos, mas sim uma mulher adulta de 21! Não completara os seus estudos na escola, perdera o contacto com os colegas, perdera amigos, de certeza. Agora, a única coisa que sabia era que a guerra terminara há dois anos e actualmente era Verão, Hogwarts estava fechada para férias. O resto, Hagrid achara que o melhor era ser Dumbledore a contar-lhe. Por isso, ali estava ela, escoltada pelo fiel amigo meio- gigante.

O director estava sentado á sua secretária quando eles entraram e foi com um grande sorriso que ele pediu que se sentassem. Colocou a cartas que lia de lado e virou-se para a bruxinha á sua frente. Hermione reparou que o professor parecia muito mais velho e cansado do que antes; mas os olhos azuis continuavam a ser os mesmos: amigáveis e confiantes.

- Vejo que sempre decidiu regressar!- disse Dumbledore quebrando o silêncio.

- Sempre disse que a nossa Hermione não era rapariga para desistir ás primeiras!

- Nunca tive dúvidas disso, Hagrid, podem estar certos!

O velho feiticeiro levantou-se de uma maneira lenta. Ia agarrar a bengala atrás de si, mas arrependeu-se e afastou a mão. Era tão diferente do outro Dumbledore!

- Hagrid- chamou ele, pegando nas cartas abandonadas na secretária- envia estas cartas a Cornelius, por favor! Ele necessita uma resposta urgente, por isso, agradeci se fosses já!

O homem barbudo acenou com a cabeça e agarrou as cartas. Sabia que Dumbledore precisava de falar com Hermione, acerca de tudo aquilo que ocorrera durante a guerra. Mas queria fazê-lo a sós. Em silêncio, Hagrid virou costas e abandonou o escritório.

Já Dumbledore andava pela sala lentamente, observando as molduras dos antigos directores de Hogwarts. Hermione mirou-o. Também percebera que o professor queria falar-lhe, talvez acerca do que ocorrera durante os anos que dormiu. Que teria acontecido com Ron, o seu grande amigo, com o qual discutia sem parar mas podia contar sempre que era preciso? Que teria acontecido com Harry, o seu primeiro namorado, que amava acima de tudo?

- A guerra foi horrível!- exclamou Dumbledore, finalmente- Talvez os piores anos tenham sido exactamente os últimos dois, aqueles que dormiu! Morreram centenas de feiticeiros, de ambos os lados! Tempos difíceis, muito difíceis.

Deu uma volta e foi sentar-se novamente á secretária. Soltou um suspiro cansado e tomou um ar sério.

- As coisas vão mudar, Hermione! Tudo mudou com a guerra, poderá ser difícil integrar-se facilmente neste mundo novo. Mas sei que é forte e vai conseguir! E quanto aos estudos,- o director interrompeu Hermione- poderá completá-los mais tarde, quando já estiver preparada.

Ele desviou o olhar para o chão, ouvindo o tique-taque do relógio pendurado numa das paredes da divisão. Aquele barulhinho irritante ecoava na sua cabeça sem parar; sabia que só pararia quando alguém falasse. Mas o velho professor sentado á sua frente não queria dar o primeiro passo, esperando que fosse ela a dá-lo. Que podia ela dizer?

Talvez perguntar o que acontecera àqueles que conhecia! Onde e como estavam Ron, Harry, Neville, Lavender, Seamus, Parvati, Dean...? Estariam eles vivos, casados, a trabalhar num emprego do qual se orgulhassem? Ou estariam mortos, dormindo eternamente debaixo da terra e tendo apenas um bloco de mármore trabalhado a indicar que estavam ali?

Talvez perguntar onde estavam os seus pais, na certa preocupados com o estado da sua única filha, que já antes ficaram assustados e receosos quando Hermione lhes comunicara que iria partir para a guerra. Ou talvez perguntar porque é que ainda existia quem acreditasse que ela poderia vir a abrir os olhos, apesar de se encontrar há tanto tempo naquele leito.

Poderia perguntar tudo isto, para também poder saciar a sua curiosidade; ela queria perguntar tudo isto, para poder calar aquele ruído que não desistia de tornar a mente de Hermione na sua moradia. Mas um nó na garganta (na certa nascido do seu receio de ouvir más notícias) não a deixava articular uma única palavra! Foi Dumbledore quem ressuscitou a conversa... finalmente.

- Voldemort estava mais poderoso que nunca! O facto de ter sido vencido por um bebé de um ano humilhou a sua figura junto da população feiticeira. Ao regressar, quis provar que não era tão fraco assim. Quis vingar-se dos causadores da sua humilhação; quis vingar-se daquele que o levou á miséria. Quis atrair mais companheiros, fazendo-os ver que ele continuava a ser forte e destemido. Assim ele criou esta guerra!

Dumbledore abanou a cabeça, em sinal de desaprovação.

- Não são apenas os Muggles que criam guerras; nós, os bruxos, também as criamos- comentou o director, que lia bastantes jornais Muggles- Só que eles utilizam materiais esquisitos: armas, espingardas, canhões, aviões, bombas; os feiticeiros utilizam apenas varinhas! Mas de restos é tudo igual: mortes, feridos, destruição, horror, miséria, extinção da esperança de dias melhores que estes! Guerras não levam a nada, Hermione. Os homens, tenham sangue mágico ou não, apenas as fazem rebentar para tentar provar que são melhores que os outros. Pena que só provem que não possuem inteligência. O que Voldemort provou!

O tique-taque do relógio continuava, mas já não irritava tanto Hermione. Estava interessada no discurso do professor. Concordava com aquilo que ele dizia; sabia o que lhe estava a ser transmitido pois presenciara um ano de horrores. Mas o discurso de Dumbledore era muito mais profundo do que aquele que ela alguma vez produziria: ele vivera a guerra do princípio ao fim!

- Tantas vidas eu vi partir! Tantos jovens robustos, fortes e corajosos expiraram nos meus braços e eu sem poder fazer nada para o evitar! Tantos jovens malignos, atraídos pelo poder e pela escuridão vi morrer nos campos de batalha! Vi acabar tantas famílias, como por exemplo, os Crabbe; foram todos mortos. E não me refiro apenas a Devoradores da Morte. Os Diggory desapareceram!

Ela relembrou os rostos da família. A bela e jovem face de Cedric, morto aos 17 anos; o rosto alegre e esperto de Amos, seguido logo pelo seu rosto doloroso e desesperado, igual ao da sua mulher, ao descobrir que o filho de ambos não regressara vivo daquele labirinto.

- Famílias de sangue-puro, já com longa linhagem na História da Magia desapareceram por completo. Outras perderam membros muito queridos. Penso que não existe uma única família que se possa dar ao luxo de argumentar que tenha sobrevivido inteira a esta guerra!- Hermione olhou alarmada para o professor- Feiticeira, Hermione. A sua família não participou nesta guerra!

Sim, ela sabia isso! Estava era preocupada com os Weasleys; teria alguém morrido?

- Nenhuma família?- perguntou a rapariga, em voz baixa- Nem mesmo os Weasleys?

- Nem mesmo eles!- suspirou Dumbledore, com voz magoada- No entanto, todos eles foram heróis durante esta guerra! Mesmo antes de ela rebentar, foram um dos poucos que se puseram imediatamente do meu lado, acreditaram que Voldemort tinha regressado e prontificaram-se a ajudar! Você deve lembrar- se, ocorreu no seu 5º ano!

Ela confirmou com um aceno de cabeça.

- Mas aqueles dois serão relembrados eternamente. Os seus nomes estão escritos num memorial colocado à entrada; poderá vê-lo quando sair da escola. Eu sei que vai ser difícil!Toda a família sofreu; até eu sofri!

Hermione sentia os olhos picarem, sentia um aperto no coração e uma impressão na garganta. Sabia que as notícias iam ser terríveis. Segurou com força as mãos que Dumbledore lhe oferecera; não queria debulhar-se em lágrimas, não queria...

- Percy foi capturado por um grupo de Devoradores da Morte. Queriam saber notícias do nosso lado. Encontrámo-lo muito ferido, num beco escuro da Londres Muggle, e com um sorriso nos lábios: ele não lhes revelara nada! Acabou por não resistir a todos os ferimentos. Mais tarde, foi a vez do mais novo; ninguém pode fazer nada pelo pobre Ronald...

Não queria debulhar-se em lágrimas...não queria...tal como não queria ouvir mais as palavras de Dumbledore. Era tudo tão cruel! Ron morto, nunca mais o veria... nunca mais ouviria a sua voz, o sentiria perto de si! Porque é que ele teve de partir tão cedo? Nem chegara aos 20 anos! Seria justo? Algo naquela guerra teria sido justo?

Deixava lágrimas escorrerem livremente pelas suas pálidas bochechas, não fez um único gesto para as impedir. Continuava a segurar a mão enrugada de Dumbledore, com toda a força que tinha.

- Sei o que sente! Senti o mesmo quando ele partiu!

- Era um dos meus melhores amigos! Nós discutíamos muito, sim, mas apenas porque os nossos feitios eram muito diferentes! Sempre gostei tanto dele- murmurava Hermione, que não conseguia falar mais alto que aquilo- E nem me despedi dele uma última vez!

- Esteve num sono profundo. Tenho a certeza que, estando ele onde estiver, está contente por ter acordado, finalmente.

A rapariga de caracóis castanhos levantou-se da cadeira e olhou pela janela. A tarde estava a chegar ao fim; via uma semicircunferência alaranjada desaparecer no céu cor de fogo, por detrás das montanhas verdejantes. "Esteja ele onde estiver", dissera Dumbledore. Onde estava Ron? Algures naquele céu de finais de Julho? Algures a descansar numa das árvores que ela observava? Estaria ele sentado no parapeito daquela janela a sorrir-lhe? Lembrava-se de um filme que vira há uns anos atrás, chamado "A cidade dos Anjos". Será que realmente existiam anjos por aí, a observar aquilo que nós fazemos? Hermione preferia acreditar que sim; porque se existissem anjos, de certeza que Ron seria um. Sorriu para o vidro á sua frente.

- Mr. Weasley foi um herói! Pena o fim que teve!- continuou o velho professor- Ele não o merecia! Penso que foi a morte de Ron que fez com que Harry partisse furioso contra a grupo das Trevas, ao que se juntava o seu estado. Ele não tinha medo de morrer...apenas vos queria vingar!

O nome de Harry fez Hermione saltar. Rapidamente, regressou á cadeira, com o coração a bater tão fortemente que até ficou enjoada!

- Harry...o que é que lhe aconteceu?

- Sobreviveu à guerra; foi uma importante peça para a nossa vitória, foi importante para trazer a paz de novo ao mundo. Mas o seu melhor amigo morrera há pouco tempo e a namorada estava adormecida há cerca de um ano, todos lhe diziam que não iria acordar...

- E...?- Hermione tremia, pensando que ele cometera suicídio ou algo parecido.

- E passou um mau bocado. Não reagia a nada, via o tempo passar e você não acordava... ele também começou a acreditar que você partira! Compreenda, dormiu durante 4 anos! Mas neste momento em que a solidão tomou conta dele, houve alguém que o consolou todo este tempo; ofereceu-lhe o ombro para ele chorar e as mãos para o ajudar. Penso que ele começou a acreditar mais na vida a partir daqui. Nunca esqueceu, nem esquecerá, Mr. Weasley, nem nunca esqueceu que você ainda não estava realmente morta...

- Mas...?- perguntou ela, pensado se teria perdido o seu grande amor.

- Ouvi dizer que eles saem juntos; ouvi uns falarem de romance. A verdade é que Harry se encontra muito, mesmo muito próximo da mais nova Weasley, Ginny!

*Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Reviews?