Se eu pudesse dizer alguma coisa sobre o inferno, seria que ele é bastante barulhento. Eu escutava passos e vozes, mas não conseguia abrir os olhos para ver a quem pertenciam. Nem conseguia mexer meu corpo. Por isso deduzi que estava morta. Mas sabia que, se eu realmente estivesse morta, não estaria ouvido ninguém e nem estaria de olhos fechados.

Ou estaria?

“Ela já está assim a 3 dias.”, escutei uma voz preocupada e um pouco chorosa. Demorei um pouco para reconhecê-la como sendo da minha mãe. Mas que diabos ela estava fazendo na minha escola? “Vocês disseram que ela ia ficar bem”

“Calma, mãe”, escutei Lissa. Fiquei mais surpresa ainda. “A Aly é forte, ela vai ficar bem.”

Aly? Desde quando minha irmã que odiava me chamava de Aly? E onde eu estava afina de contas. Será que estava em casa? Será que tudo isso de Spell the Most, poderes e assassinados eram um sonho? Será que Nathan era um sonho? Não, não poderia ser. Se eu pudesse, eu choraria. Um sonho tão perfeito virando meu pior pesadelo.

“Vocês tem certeza de que os poderes dela estão normais?”, meu pai perguntou. Com quem eles estavam falando afinal de contas? E que negócio era esse de poderes? Será que meu pai ainda vivia nesse mundo de fantasia? Se eu estivesse no hospital e ele estivesse falando isso com o médico, eu o mataria.

“Não se preocupe, Senhor Night.”, escutei uma voz bem conhecida. Ela já tinha dado muitos sermos por chegar atrasada. Nage. Eu poderia beijá-lo se pudesse me mexer. Então eu ainda estava na Spell the Most. E se eu estava “desacordada” e na Charm no More, eu só poderia estar na enfermaria. “Sam, o animal elementar de Alexa voltou a tempo para o corpo dela.”

Escutei o suspiro aliviado de meu pai. Não importava se eu estivesse com traumatismo craniano, se meus poderes estivessem a salvo. Charlie realmente não mudava. Senti uma mão acariciando meu rosto e sabia que era a minha mãe antes dela mesmo dizer algo.

“Minha pequena bruxinha.”, ela lamentou e suspirou.

“Mãe, é melhor a senhora comer alguma coisa, se não quem vai parar na enfermaria vai ser você”, Lissa disse. “Você também, pai. Os poderes de Alexa estão no lugar. Leve a mamãe para a lanchonete antes que ela desmaie.”

Não sei o que meus pais disseram, mas logo escutei a porta se abrindo e fechando. O silêncio tomou conta do lugar. Novamente senti uma mão acariciando meu rosto e meus cabelos, mas dessa vez eu sabia que não era a minha mãe. Mas, admitir que era

Lissa, ainda fazia ma aos meus sistemas. Um tipo de formigamento engraçado começou no lugar em que ela tocava.

“Oh, maninha.”, ela sussurrou e eu tive a certeza que não tinha mais ninguém no quarto. “Sempre lutando pelo amor, não é? Tem que aposentar um pouco, querida. Mas, mesmo não querendo admitir isso com você acordada, eu sei que você é uma Bruxa Elementar melhor do que eu seria.”

Se tivesse um momento em que eu queria acordar, era aquele. Eu queria abraçar Lissa e dizer que sentia muito de ter-lhe roubado os poderes e que queria que ela voltasse a ser minha irmã mais velha. Que eu não estava pronta para tudo aquilo. Que eu estava com medo. E que eu queria ver mamãe sorrir de novo, como no seu aniversário e que nosso pai fosse menos ligados nos poderes e mais ligados que éramos suas filhas.

Eu queria dizer, mas não conseguia.

Escutei a porta se abrindo e alguém batendo nela.

“Hum, desculpe”, escutei a voz de Lien. “Pensei que não tinha ninguém aqui.”

“Não, tudo bem”, Lissa disse. “Eu só estava conversando com minha irmãzinha.”

“Oh”, mesmo sem ver nada, eu sabia que Lien estava surpresa. “É que eu trouxe mais duas visitinhas para ela. E se eu não viesse, um mataria o outro.”

“Você é tão dramática , Lien”, Nick disse e escutei seus passos enquanto entrava na sala.

“Você é tão verdadeira, Lien”, Nathan disse e também escutei seus passos entrando na sala. Meu coração, mesmo com o corpo todo em coma, começou a bater rapidamente, sendo denunciado pelo aparelho que começou a apitar feito louco.

“Nossa, ela realmente gosta de você.”, Lissa disse enquanto a enfermeira se aproximava e ejetava um remédio em minha veia. Eu sabia que não ficaria acordada por muito tempo, por isso me pus a escutar tudo. “Até inconsciente ela reagiu a você”

“Se eu fosse você, não elogiava demais, senão ele vai começar a se achar.”, Lien disse. “Não é, Bad Boy?”

“Sininho, Sininho. Não brinque comigo”, Nathan respondeu. “Sua ficha é mais suja do que celeiro de pastor rico.”

Lien ficou quieta, mas não sem antes bufar.

“Quando será que ela vai acordar?”, Nick perguntou.

“Depois desse sossega-leão que a enfermeira deu? Só daqui a uns 2 dias”, Lissa respondeu. “Eu sei que vocês estão ansiosos, mas esperem.”, ela pausou e estalou a língua, parecendo se lembrar de alguma coisa. “Você é Nicolas Wave?”

“Sou, por que?”, Nick respondeu, confuso.

“Você é o namorado de Alexa”, Lissa concluiu.

Se eu tivesse acordada, eu chutaria a bunda de Lissa.

“Ex”, Nathan a corrigiu.

“Ainda atual”, Nick retrucou.

“Por enquanto”, Nathan devolveu.

“Você vê o futuro, por acaso?”, Nick perguntou sarcástico.

“Não, só vejo o óbvio”, Nathan respondeu na mesma moeda.

Lissa deu uns passos para longe deles e para mais perto de mim. Eu queria saber onde estavam Suzy, Ryan, Daemen e Luen. O que tinha acontecido com Fox? Sam estava bem? Nathan estava bem? E eu? Estava pronta para outra? Claro que sarcasticamente.

“Eles são sempre assim?”, Lissa perguntou a Lien.

“Sempre que possível”, Lien respondeu na mesma hora em que Nick xingou Nathan e o mesmo devolveu o xingamento. “Só um minutos”, Lien pediu a Lissa. Eu já sabia o que iria acontecer e comecei a rir internamente. “Vocês dois são débeis metais ou algo do tipo?”, Lien gritou para os dois. “Estamos em uma enfermaria, não na casa de vocês. Querem se xingar, tudo bem, até apoio, mas não aqui. Se eu escutar mais um pio, um de vocês vai parar no mesmo lugar em que Fox estar: No Inferno”

Até eu, que não tinha nada a ver com a confusão, fiquei com medo de Lien. Escutei Lissa segurando o riso. Mas, eu peguei uma parte que não pude deixar passar. Fox estava no inferno? Literalmente ou figuradamente? Sam realmente tinha matado Fox? Eu realmente tinha matado Fox?

“Desculpe, Lien”, Nick disse e parecia realmente envergonhado.

“Desculpe, Sininho”, Nathan respondeu e escutei Lien rosnando. “Tudo bem , tudo bem. Tenho que ir. Tem algumas coisas que tenho que ajeitar antes de ir embora. Fox deixou uma bela bagunça.”

Nathan, ir embora? Droga, eu odiava não poder falar. Antes que eu pudesse fazer mais alguma lamentação interna, senti o remédio fazendo seu efeito e minha mente se desligou.

*******

“Oh, querida! Estou tão feliz que você está bem”, minha mãe disse me abraçando.

“Mãe, ta me sufocando”, eu reclamei baixo e ela me soltou.

Eu já estava acordada a dez minutos, depois de 5 dias, e minha mãe já me apertava. Meus amigos estava lá fora esperando meus pais e Lissa saírem para virem falar comigo. Não que eu não quisesse que meus pais fossem embora. Oh, não. Eu só queria saber o que tinha acontecido enquanto eu estava apagada e sabia que meus pais não saberiam me explicar.

Lissa estava de braços cruzados, encostada do outro lado do quarto. Eu ainda não sabia se aquilo que eu tinha escutado tinha sido um sonho ou ela realmente tinha admitido ser uma irmã ruim esses anos e que eu era uma bruxa melhor. Assim que nossos olhares se cruzaram , ela deu um pequeno sorriso e voltou e olhar para o nada.

“Não se preocupe, baixinha.”, meu pai disse tocando em meu rosto. Um calor familiar tocou conta do meu interior , me fazendo rir. “Os médicos disseram que você vai ficar boa e que seus poderes vão voltar ao normal quando você menos esperar”

“Tudo bem, pai”, eu disse meia contrariada. “O que importa é que acabou a chacina e que o verdadeiro culpado já foi desmascarado.”

“Eu ainda não acredito que ele te atacou, minha filha”, minha mãe lamentou mais um pouco. Seus olhos verdes estavam meios vermelhos de tanto ela chorar. “Ainda bem que você está viva. Eu não sei o que faria se ele te matasse.”, seus olhos enxeram de lágrimas de novo e Lissa se pôs ao lado dela com uma lencinho a mão.

“Mas nossa filha é corajosa, Loise”, meu pai disse. “Herdou do pai, não é, baixinha?”, ele perguntou sorrindo. Meu pai tinha tanto orgulho de mim. Me perguntei se ele seria assim se Lissa que tivesse herdado os poderes.

“Claro, pai”, eu respondi forçando um sorriso. Voltei a olhar para minha mãe. Ela parecia tão pálida e magra. “Mãe, você tem comido ou dormido esses dias?”

“Ela se recusou a sair daqui enquanto você não acordasse.”, Lissa respondeu. “Só saiu a uns dois dias atrás para comer por que eu insisti muito.”

“Mãe”, eu reclamei. Ela fungou mais uma vez no lenço e me encarou com os olhos chorosos. “Você tem que comer e dormir. Quem vai parar no hospital vai ser você”

“Eu disse a mesma coisa a ela.”, Lissa disse e abraçou a mamãe.

“Eu não ia ter paz enquanto você não acordasse, querida.”, Minha mãe disse.

“Eu já acordei, agora vá comer”, comandei e sorri. “É para o seu bem, mãe.”, arrastei o olhar até meu pai. “Pai, leve-a e se certifique que ela vai comer mesmo alguma coisa”

“Sim, capitã baixinha”, ele fez a mesma pose de um soldado e sorriu. Não pude deixar de rir. Ele abraçou minha mãe pelos ombros e a arrastou porta a fora.

No momento em que eu e Lissa ficamos sozinhas , ela começou a mexer em sua blusa laranja como se lá tivesse o segredo da vida. Ela estava desconfortável, isso era fácil ver e só dizia que tudo o que eu escutei no outro dia, não havia sido um sonho. Ela realmente não tinha mais rancor de mim. Ela realmente ainda era minha irmã. Lissa abriu a boca para dizer alguma coisa, mas a porta se abriu e meus amigos entraram, atrapalhando o momento.

“Oh, Aly”, Suzy veio como um raio em minha direção e me abraçou. Vi, pelo canto no olho, Lissa se afastando e indo para a parede mais distante , apenas observando. “Fiquei tão preocupada com você.”, eu foquei em seus olhos cinzas tempestuosos e apreensivos. “Pensei que nunca iria acordar.”

“Oh, Suzy.”, Lien a interrompeu se aproximando. “Não seja tão dramática”

Suzy lançou um olhar duro para Lien, que apenas a abraçou e riu.

“Eu disse que ela acordaria em 5 dias.”, Luen disse indo para o outro lado da irmã. “Ninguém quis me escutar, todos lamentando.”

“Querida, todos te escutamos”, Daemen disse a abraçando e dando um beijo em seu cabelos ruivos. “Ninguém nunca duvida de suas visões.” , ele olhou para mim. “Que bom que você está inteira, Alexa.”

“Obrigada, Daemen”

“Sabe, eu nunca gostei daquele Fox”, Ryan disse roubando Suzy de Lien e a abraçando pela cintura. Lien estreitou os olhos para ele e ele retribuiu lhe dando língua. “Nunca confie em um loiro de olhos verdes.”, ele piscou para Suzy.

“Hey”, Lissa reclamou do outro lado da sala.

“Desculpe.”, Ryan disse, corando.

Lissa fez um sinal de desinteresse com a mão e voltou a sua expressão neutra. Eu soltei um riso e todos me encararam, antes de rir. Era tão bom estar viva. Poder respirar e rir. Poder amar e ser amada. Nesse momento, Lien limpou a garganta e deu um passo a frente.

“Alexa.”, ela me chamou. Seus olhos azuis estavam um pouco nervosos. “Eu queria pedir desculpas por aqueles dia. Você tem direito de ficar com quem quiser. De amar quem quiser. Eu não deveria ter metido na sua vida particular. Realmente não sei o que me deu.”, ela abaixou a cabeça e corou.

“Mas eu sei”, eu respondi e ela levantou a cabeça surpresa. “Você é minha amiga”.

“E sempre vou ser.”, ela completou sorrindo e me abraçou.

“Meu Deus, quem é você e o que fez com a minha irmã?”, Luen disse de olhos arregalados. “Primeiro, concorda com Nick. Depois, ajuda Nathan quando ele estava preocupado com Alexa. Agora pede desculpas em público e dá um abraço em alguém?”

“Tem algumas coisas que mudam a gente, Luen.”, Lien respondeu vagamente e trocou um rápido olhar com Suzy que assentiu. Na minha cabeça veio um Mais Que Diabos, que foi logo cortado pela voz da enfermeira e seu olhar duro na direção dos meus amigos.

“Ih, ferrou. Fomos pegos”, Ryan disse.

“Eu já não disse que ela não está boa o suficiente para tantas visitas de uma vez só?”, a enfermeira esbravejou. “Saiam e fique só quem é da família. No máximo 2, mas apenas.”, ela pareceu lembrar de algo e estreitou os olhos. “Vocês não deveriam estar em aula?”

Isso foi bastante para que todos os meus amigos fossem embora murmurando tchau e até mais tarde. E uma pergunta ainda pairava em minha mente: Onde estavam Nick e Nathan?