Shadow Touch escrita por Lady TMS


Capítulo 4
O inicio do problema.




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Johana pôs-se a caminhar a mercearia onde tinha o costume de vender, segurando o saco de batatas contra o corpo.

Sentiu que seu queixo levantava-se orgulhosamente quase como se tivesse vontade própria. Mas sabia que esse comportamento era devido ao profundo repúdio que tinha a ter que mendigar uns poucos trocados a mais pelo que vendia.

Quase podia ver o semblante da dona da loja...

Johana tinha feito o possível para conseguir uma relação amigável com ela pois via que embora a mulher tivesse o costume de ser amável e simpática, na verdade carregava rugas de experiência, olhos astutos e maliciosos e um sorriso traiçoeiro. Assim como ela, a mulher fazia o que tinha que fazer para sobreviver.

E era por isso que embora temesse conflitos em geral, teria que pedir um aumento pelas batatas.

Não havia chance dela e das outras famílias que dependiam da plantação sobreviverem ao inverno tão forte que começava a se mostrar sem um pouco mais de dinheiro.

Estava por conta própria a algum tempo, e não havia ninguém que confiasse para pedir ajuda. Nem alguém que quisesse ajudá-la. Era triste e desconfortável notar detalhes que as pessoas mais espertas tentavam esconder a respeito de sua personalidade.

Ultimamente Johana se deparava com muitos bobos e mansos. Mas aprendeu que esses eram o que mais precisava temer. Os fracos haviam se tornado fortes para sobreviver e os fortes ficaram intocáveis.

Infelizmente, ela não gostava de fingir ser algo que não era.

Quer dizer, ela poderia fingir que era uma pobre garota que não conseguia fazer nada sozinha. Podia arranjar um benfeitor ou algo do tipo. Mas com isso perderia a si própria no processo.

Entrou na mercearia que exibia muitas verduras e frutas e deu um sorriso a senhora por trás do balcão.

–Como vai? – puxou mais a jaqueta preta em volta de si que trazia.

–Vou bem menina e você?

–Bem como sempre – continuou sorrindo.

–Entendo...

–E o seu filho? Continua frequentando a escola?

Era de conhecimento dos vizinhos que a mulher não tinha filho nenhum e não tinha certeza porque a mulher mentiu sobre isso.

Descobriu quando ela falou:

–Vai bem. Ele fica tão feliz por ir à escola, mas a cada ano a mensalidade continua a subir e logo temo não conseguir pagar. Só quero o melhor para o meu filho. – esfregou as mãos rapidamente dando um sorriso aparentemente cansado.

–Como toda a mãe – brindou-lhe com outro sorriso. Um sorriso falso que deu pela vigésima vez no dia.

Havia aprendido, sorrisos são o melhor meio de evitar conflitos.

A vendedora provavelmente contava a mentira para conseguir pena e evitar que as pessoas tivessem uma chance de aumentar o preço das verduras.

Provavelmente não era a primeira nem a última a pedir mais pelo o produto que vendia quando chegava o inverno - ou qualquer outra estação.

Deus! Como aquela mulher oferecia pouco pelo que trazia... Sempre era uma luta ir embora com o pouco dinheiro que ela dava. Sem poder reclamar.

Ainda sim. Será que alguma vez aquela história teria funcionado? Alguém já havia sentido pena dessa mulher? Porque isso não estava funcionando com ela de jeito nenhum.

– Sinto muito - continuou ao se aproximar do balcão- mas tenho que lhe pedir um preço a mais pelo saco.

A mulher a encarou diante da frieza que a voz chegou até ela.

Com Johana não havia funcionado, e deixou claro isso.

A vendedora deve ter pensado que não havia um coração na garota pálida que estava a sua frente.

O problema era que Johana odiava que mentissem a ela. E era claro que as gentilezas tinham acabado quando ela e as famílias que dependiam dela tinham que passar fome pela ganância da mulher.

A senhora se ajeitou no balcão assumindo uma posição de batalha.

Seria uma longa negociação suspirou Johana...

Trinta minutos depois caminhava para onde deveria ser sua próxima parada.

Foi afastando-se cada vez mais das luzes e segurança da cidade, para bairros mais escuros. Era perigoso e sabia os perigos que uma mulher sozinha poderia enfrentar andando por ruas tão escuras.

Felizmente, ela definitivamente não parecia uma mulher agora. Apertou mais o terno grata por ter tido a ideia de usar roupas masculinas. Era genial na verdade. Havia tantas coisas que homens poderiam fazer e que era negada para as mulheres que não se deu conta como tinha sido feliz com essa escolha até agora.

Os cabelos negros estavam recolhidos em uma boina, usava calças cinza e terno e colete pretos. Não parecia de forma alguma um homem rico, mas ainda sim, a aparência era de um homem.

Seu vestido e a jaqueta estavam jogados na bolsa que carregava em suas costas junto com uma pequena bolsinha cheia de dinheiro. Havia conseguido afinal vender a sacola por um pouco mais do que estava acostumada. Mas ainda não tinha sido um preço justo.

Mas achou que por enquanto, ganhar uma batalha já era o suficiente...

Estava ciente que a temperatura diminuía rapidamente quando avistou o beco onde deveria entrar.

Desceu lentamente, hesitando, ao passo que começou a ouvir o som de vozes alteradas. Abriu a porta de madeira e entrou em uma sala aquecida.

Havia em volta de uma mesa larga e oval homens que gritavam o que pensavam -o que assustou Johana mais do que poderia admitir algum dia - e havia um cavaleiro que parecia movimentar a massa de homens ao seu redor.

Sentiu-se grata mais uma vez por usar roupas masculinas ou nunca passaria despercebida ao se aproximar da mesa.

Expirou e começou a escutar. Esse era o motivo por estar ali afinal. Saber como andava a política -ou a falta dela– nas cidades.

Há algum tempo não havia mais partidos e as pessoas permaneciam neutras a qualquer assunto do tipo.

Elas andavam muito ocupadas trabalhando e aos fim de semanas assistindo televisão, especificamente um canal pago chamado N.Y.C.

Tudo girava sobre isso. A economia, as conversas, os comportamentos...

Ao fundo as vozes foram tomando forma mais grosseiras e com palavreados que ela tinha certeza que não deveria estar ouvindo.

...


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