Shadow Touch escrita por Lady TMS


Capítulo 26
A lugar nenhum


Notas iniciais do capítulo

Eu percebi que essa história carece um pouco dos sentimentos de Johana. Por isso, vou tentar expressar melhor as coisas que ela está sentindo.
Embora escrever a parte sobre o quanto ela está indignada com a vida tenha ficado bem claro >o



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O sono havia sido a melhor coisa em sua vida nesses últimos dias. Nele pôde esquecer toda as coisas ruins pelo qual estava passando. Até havia sonhado!

Mas então foi acordada com batidas insistentes na porta.

Abriu a cortina para ver o céu com as cores do crepúsculo. Bocejou, havia dormido quase um dia inteiro.

Lembrou-se de que haviam batido na porta e se apressou em abrir. Havia um homem com cara de ranzinza com uma bandeja ornamentada, que ela suspeitava ser de prata, parado em frente a sua porta.

– Senhorita, o senhor Jonh mandou que o encontrasse no subsolo. Trouxe comida, caso esteja com fome – ia se virando, quando parou – ele disse que você tem exatamente cinco minutos.

Johana pegou a bandeja e abriu revelando um prato com iguarias que nunca havia visto, mas resolveu experimentar devido à fome. E se permitiu demorar o quanto quisesse.

Colocou as mesmas roupas que estava anteriormente, porque de jeito nenhum as calças de Jonh caberiam nela, e se fosse mais sincera, nem queria tentar provar.

Quando chegou ao subsolo tinha absoluta certeza que havia passado dos cinco minutos, mas era impossível que ele estivesse falando sério.

Olhou-o com os olhos estreitados.

– Você está atrasada.

–Era praticamente impossível chegar em cinco minutos – retrucou.

–Eu sou ocupado, e só temos um mês. Você tem que começar a chegar no horário e me ouvir.

Ele estava procurando um motivo para brigar com ela, percebeu. Essa aula não iria dar certo com ambos de mau humor.

Jonh estava muito ocupado descarregando um peso contra o chão de metal para perceber que ela também tinha vontade de brigar.

Era como se desde o começo ele não a suportasse, como se ambos não conseguissem conviver em uma mesma sala.

E mesmo assim coisas haviam acontecido...

No momento, ela observava como a camiseta preta se alinhava perfeitamente aos seus músculos.

Chega. Pare com isso!

–Pronto – ele terminou e Johana conseguiu um deslumbre de vários sacos empilhados no meio da sala de treinamento – agora tente levantar um deles para começar.

Ele caminhou até seu lado com cara de poucos amigos. Provavelmente a considerava uma perca de tempo o que deixava irritada mil vezes mais.

O lugar era frio e claustrofóbico e ela estava se sentindo suja mesmo depois de tomar banho. Sem contar as dores que ainda sentia pelo corpo. Mas ele só a olhava como se fosse um fardo.

Olhou para o monte de sacos que pareciam pesados o suficiente para qualquer um que quisesse pega-los pensasse melhor.

Tentou invocar as mesmas emoções que haviam ligado o interruptor, mas só o que conseguia era ver com o canto dos olhos Jonh vendo qualquer detalhe do que fazia.

–Não consigo! Eu não consigo me concentrar com você me olhando o tempo todo!

– Se houver um jeito de ensinar sem observar o aluno me avise como.

Johana não gostava definitivamente do jeito como ele a olhava agora, como se fosse algum tipo de louca.

Por meia hora ela tentou em vão fazer com que qualquer saco de areia levitasse, sem resultado. Frustração a deixando cada vez pior.

–Você não está se esforçando – comentou.

De repente teve vontade de rir descontroladamente. Por que todos estavam pensando isso dela? Jonh conseguia ser muito irritante.

– Você acha que eu estou fazendo o que aqui? É a minha vida que está em jogo- cuspiu - Sempre tem sido a minha! Eu...

– Você acha que é só você que tem algo a perder? –Jonh cortou – o nosso mundo perde mais vidas a cada minuto, todos correndo o risco de entrar em uma guerra por causa da sua família, e nossa única opção é confiar em uma menina egoísta que não se esforça o suficiente.

–Não fale mal da minha família – gritou. Se sentindo de repente muito protetora com pessoas que nunca havia visto, nem conhecia– você não sabe o motivo que levou Thorn a fugir, então não julgue. Esse mundo é tão ruim como o que eu vivia, não ache que ele tenha algo de especial, ou que você seja especial, quando todos fazem as mesmas coisas detestáveis que os humanos.

A indignação com todas as pessoas, principalmente com Jonh, fez seu sangue quente borbulhar de uma forma que não conseguia se controlar. De repente, se sentia fora de controle e incapaz de segurar o que estivesse escapando por entres seus dedos.

Sem perceber os sacos de areia começaram a voar pela sala, assim como pequenos objetos soltos.

Ela podia parar, pensou, a hora que quisesse. No entanto, as sensações que vinham junto iriam também. Ficou olhando para sua mão, desejando saber como controlar toda aquela força.

Jonh falou algo baixinho e os sacos caíram novamente no chão.

–Acho que descobrimos como te ligar.

Johana bufou, mais calma agora.

–Eu tenho esses ataques do nada – olhou para suas mãos – uma raiva forte. Que me faz querer destruir tudo.

–Acontece quando você se deixa ser controlada pela magia. Enquanto não conseguir controlar você será perigosa para qualquer um, até mesmo para você.

Ela acenou.

–Tente novamente.

Dessa vez foi mais fácil usar a magia para fazer o que queria. Os sacos faziam piruetas na sala fria e se refletiam nas paredes espelhadas.

Uma vez ou outra, quando Jonh estava distraído ela jogava um saco nele. E logo depois se desculpa inocentemente.

Jonh foi profissional e distante todo o treino, como se estivesse assumindo o papel de tutor a sério, embora franzisse o cenho mais de uma vez.

No entanto, cada vez que a tocava para mostrar como mexer os braços ou na posição que ficar para não se degastar tanto, ela se tornava consciente da respiração dele e ficava desconfortável, querendo se afastar.

Tentando ler nos olhos dele se era a única a se sentir assim. Tentando entender o que estava acontecendo.

Mais de uma vez sentiu a esperança de que o que ocorreu no lago não fosse mais um dos jogos dele. Porque ela havia sentido coisas tão fortes que não poderiam ser mentiras.

Ela sabia no mais profundo do seu ser que queria ser tocada daquele jeito por ele de novo. Que queria saber toda a verdade, ao mesmo tempo em que era covarde o suficiente para fugir dela.

Quando o treino acabou estava tão esgotada que só queria ficar parada esperando se recuperar. Estava suada mas não tinha forças para se mexer.

Ela estava sentada no beiral da janela quando Jonh entrou trazendo a comida. A presença dele encheu o quarto e ela se viu fazendo gestos femininos como colocar o cabelo atrás da orelha.

Droga! Não queria isso! Ela não era assim.

Jonh por outro lado nem havia colocado os olhos nela como se fosse uma obrigação lhe trazer a comida. Ele havia tomado banho e estava com uma roupa diferente da anterior.

Desviou o rosto de volta para a cidade abaixo que possuía tanta vida como o fogo que a iluminava, abalada com a indiferença dele e contraste com os sentimentos inexplicáveis dentro dela.

Tudo era diferente nesse lugar, mas as pessoas pareciam saber onde se encaixavam. Como elas faziam para pertencerem a um lugar? Parecia que ela própria estava sempre procurando por algo que não existia.

Jonh puxou uma das cadeiras e ficou em silêncio ao seu lado observando a cena lá embaixo. Como se soubesse que aquele não era o momento de falar. E não era, mas ela quebrou o silêncio.

–Você vê aquelas crianças brincando? – ela colocou a mão no vidro como se pudesse tocar o grupo que corria com sonoras gargalhadas pelos labirintos das ruas - Acho que é por eles que estou aqui. Quer dizer... Que eu quero estar aqui. Eu preciso protege-las do que nenhuma criança deveria ver antes da hora, deixa-las ser inocentes tanto quanto podem.

Quando ele não falou nada, ela continuou meio envergonhada:

–Depois que meu avô morreu, eu via morte e miséria em qualquer lugar que olhasse – se sentiu obrigada a explicar – Tudo parecia tão frágil, só esperando para se partir ao meio. De certa forma, eu ainda espero que se parta. Mas se eu pudesse evitar tantas mortes...

–Você é terrivelmente pessimista – resmungou sorrindo

Ela o olhou sem poder deixar de retribuir o sorriso. Esse podia ser um gesto de paz? Porque ela meio que estava cansada de ver inimigos por todos os lados. Talvez... Se ele só demonstrasse que ela podia confiar nele...

–É quem eu sou –deu de ombros – O que você veio fazer aqui?

– Trazer comida. Phini achou que eu deveria trazer porque estaria esgotada para descer. E precisava falar com você.

–Ele achou certo – se aproximou para pegar um pedaço daquela guloseima estranha – Quem é Phini?

–Um dos empregados.

–E eles têm poderes também? Seus empregados?

–Tem, mas só o básico para proteção, como a maioria. Nada que os destacassem.

–E você paga a eles? Dinheiro?

Ele acenou com a cabeça antes de retirar uma moeda do bolso de sua calça e coloca-la em sua palma.

Observou as linhas retorcidas da moeda sem formato em bronze, com o desenho de uma mulher gravada, seguida por runas em toda a sua lateral.

–Essa é a rainha – Jonh falou pegando a moeda de novo- não é que ela tenha poder, mas precisamos de um representante. Aqui está escrito: “A magia é um dom, é passageira, sempre pede um preço”. É algo que qualquer pessoa deve lembrar constantemente, é a lei do nosso universo.

Acenou. Ela estava em um mundo totalmente diferente em que não conhecia as regras.

–Porque você estava no mundo humano, além de me trazer para cá? Você disse que voltaria...

–As bruxas de Yoren me designaram para ficar de olho no mundo humano.

–Você gosta deles?

Ele deu de ombros.

– Me são indiferentes. Às vezes me surpreende o que eles podem fazer sendo tão limitados.

– Você chegou a conhecer o Governador? – apoiou a cabeça nas mãos cansada.

–Não cheguei tão próximo ainda.

–Apesar de tudo ele deve ser um cara inteligente. Conseguir controlar as pessoas daquela maneira...

Jonh só acenou com a cabeça. Ficaram em um silêncio tranquilo quando Johana interrompeu novamente:

–Porque você fingiu que tinha sido atacado também?

Jonh empalideceu visivelmente e se levantou.

–Acho que deveríamos dormir. Esta ficando tarde.

Johana se levantou também o seguindo.

–Porque você não quer falar? Acho que eu mereço ouvir a verdade de uma das muitas mentiras que saíram da sua boca.

–Não tem necessidade de você saber de mais nada – ele ia fechar a porta...

–Espera! Você não tinha algo para me falar?

A porta voltou a se abrir.

– Você não pode sair dessa casa sem minha permissão, ninguém pode saber que está aqui, se precisar de alguma coisa você deve pedir para um dos empregados - fechou a porta e ela distinguiu um murmúrio de boa noite do outro lado.

Jonh estava fugindo dela! Que covarde. Não esperava por isso, de todas as coisas que achava dele nesse exato momento covarde não estava na lista. Porque todo o mistério novamente? Johana tinha achado que já havia passado dessa fase. Ela era um deles não? Quando iam começar a confiar nela?


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Notas finais do capítulo

É isso ai... Comentem e deixem sua opiniões. >



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