Shadow Touch escrita por Lady TMS


Capítulo 22
Nota das Bruxas.




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–Primeiro você deve aprender como tudo começou. A magia não é algo que possa ser controlado; não são só palavras, nem algo maior que possui consciência. No entanto, você deve ser reconhecida como uma Portadora por ela.

–Portadora?

Depois de todos foram embora Johana foi levada para uma sala cheia de livros bem mais organizada do que a de Morgan. Jonh tinha desaparecido logo depois, mas não estava ligando. Não queria mais saber nada que estivesse relacionado a um idiota, mentiroso e manipulador fazedor de joguinhos.

Logo que entrou, livros começaram a cair sozinhos das prateleiras para se entulharem em cima da mesa. Só duas, das quatro bruxas ficaram com ela para ensinar o que fosse que precisava aprender.

–Portadoras são uma sub.raça que usam seu corpo como recipiente de magia. A sua família era uma delas, uma das antigas, com muitos vassalos. No entanto, há anos tem sido largada na mediocridade e anonimato.

– As que me atacaram... – engoliu tentando falar, não podia acreditar que elas tinham alguma ligação - elas sempre foram parte da minha linhagem?

–Não– a outra bruxa falou – elas são seus vassalos, os primeiros, por isso é a imagem delas que representa sua família. Antes elas não matavam seres vivos, sobreviviam de absorver seres mortos, mas há anos elas veem atacando. Elas são fortes, seres misteriosos que não respondem a ninguém. Não há alma nelas, somente escuridão. Todas as cidades foram obrigadas a tomar medidas de proteção, e não há mais vida em Ebon à noite.

Lembrou-se das inscrições que havia visto na muralha e no portão na cidade de Morgan. Toda vez que tocava levava um choque.

–Por onde começamos...- a bruxa folheou alguns dos livros – aqui, a história do principio. Esses são conhecimentos gerais que todos conhecem e seguem. Sente-se. Será uma longa história...

“No começo todos eram um, com as mesmas cores, mesmas línguas, mesmos destinos.

Como todos sabem... Desde o principio a raça humana se destacava pela sua capacidade de pensar e formar elos. Sempre houve o desejo de ser diferente em qualquer um deles, de ser superior de alguma forma...

Não se sabe ao certo como, mas um conseguiu...”

A luz da vela se apagou em cima da mesa e teve que ser acesa novamente. Johana sentiu a temperatura do ar cair enquanto a bruxa se inclinava sobre ela.

–É mau presságio falar sobre isso – a bruxa sussurrou.

“ Esse homem viajava muito, era inteligente, tinha um brilho que nenhum outro tinha. Logo construiu grande riqueza para si mesmo e era invejado secretamente por todos.

Ele havia descoberto sobre a magia em uma de suas viagens, que poderia lhe dar tudo o que queria. Aprendeu a manipula-la e usou durante toda a sua vida, em uma tentativa inútil de ser imortal.

Ele fez experiências maldosas, que até hoje são proibidas, a loucura cada vez mais difícil de esconder. O afetando em sua mente até que morreu na mesa do seu escritório, com manchas pretas por todo o corpo e a boca retorcida em um grito eterno de lamento.

Seus descendentes foram deixados de lado, sem explicação e naturalmente, sem saber que possuíam poderes inimagináveis.

Essa foi à primeira de muitas famílias que começaram a surgir. Cada uma de um jeito diferente, mas com o mesmo fator comum. Usando magia descuidadamente.

Você pode imaginar pessoas nascidas da magia casando com meros humanos? Descobrindo sem querer que possuíam dons?

Bom, elas descobriram e logo a humanidade caminhou para o fim. Mutações e mercados consumidores surgiram daí. Todos querendo mais poder. Não demorou muito para o mundo girar em torno disso.

A luta para ser maior, melhor. Os grandes controlando os pequenos, castas sendo construídas, pessoas sendo catalogados por tipos, assassinatos só por olhar de forma errada.

Pessoas sendo vendidas em gaiolas como escravas conforme seu poder. Outras morrendo de tanto usa-lo imprudentemente. Casamentos sendo realizados como acordo de negócios...

E então nasceu London James que chegou a ser o homem mais poderoso da época. Filhos de portadores ele foi o maior controlador de magia. A vida dele era como de todos que souberem aproveitar a oportunidade. Usava pobres e pessoas comuns, criando novas misturas, usando os poderes que tinha em beneficio próprio. Vendendo seu conhecimento.

Até que um dia a magia cobrou seu preço e a sua única filha morreu. Esse era o seu preço para usar a magia. O acordo que havia feito para ser o mais forte.

Eu gosto de pensar que ele viu as coisas de outra perspectiva depois disso e decidiu usar a magia negra para o bem.

Afim de que a população humana fosse preservada ele convocou todos os clãs ou famílias, como queira chamar, para se reunir e juntos resolveram criar outra dimensão onde só os clãs viveriam. Tiraram todos que poderiam ter magia e criaram um mundo só nosso.

A partir daí vigiamos os humanos para que não tenham contato com forças que não conhecem. A curiosidade deles poderia ser mortal para os de sua própria espécie.

Por isso, é impossível que as pessoas que vivem aqui possam se deslocar para o outro mundo e vice-versa.”

– Mas as pessoas conseguiram passar entre as dimensões não? – perguntou.

– Somente se desejarmos. As únicas capazes de criar um portal somos nós e Meredith. No entanto, ela foi condenada a viver o resto de sua vida presa, sem seus poderes na dimensão de vocês, dentro de um calabouço onde ninguém tem a localização exata. Somente o Juíz de Ebon.

–Foi ela quem ajudou a Henrique Thorn fugir? Meu antecessor?

– Somente ela poderia ter feito.

Para Johana parecia um preço alto demais a se pagar.

–Quanto tempo se passou desde a fuga dele?

– Quatrocentos anos. Ele se aproveitou de uma revolta perto de uma das fronteiras de Iasú como distração e fugiu sem deixar herdeiros.

Então a bruxa desenrolou um mapa gigante em cima da montanha de livros. Amarelado e antigo ele mostrava continentes com pequenos nomes de lugares em runas, mares que os separavam e cotas de níveis marcando as elevações de montanhas e planaltos. Totalmente diferente de qualquer mapa que havia tido acesso. A partir daí começou a acreditar que talvez estivesse mesmo em outro mundo.

–Aqui é o terreno comum entre as duas dimensões – ela apontou com um dedo a divisão entre os dois mapas - A Floresta Ebon. Todo o lado direito pertence a nós e onde os mundanos nunca poderiam entrar.

–E o que eles acreditam que há aqui?

–Florestas e mais florestas. E depois o fim do mundo. No momento, eles não exploram muito. E se o fizerem, vão encontrar o que quisermos que eles encontrem. Talvez um penhasco e nada mais.

–Idiotas pretenciosos – resmungou Laurene.

–Porque há humanos aqui?

–Pessoas que não nasceram com poderes – a bruxa deu de ombros- Depois de um tempo eles se sentiam excluídos e resolveram criar seu próprio clã, vivendo isoladamente. Isso há centenas de anos atrás. No entanto, eles sabiam demais para envia-los para a outra dimensão. Além disso, acho que nem eles queriam. Só os vigiamos por agora, já que perdemos o contato com eles. Humanos sempre estragam tudo. Veja o mundo de onde veio por exemplo.

–Temos pessoas infiltradas lá – Laurene resolveu explicar- Viemos para cá para preservar a raça humana, e, no entanto, eles sozinhos se matam. Apesar de haver paz agora, não demorará a ter outro conflito e mais mortes.

Johana não pode deixar de notar a amargura em sua voz enquanto falava. E embora tivesse o mesmo parecer que a bruxa, ela se sentiu contrariada e disposta a defendê-los:

– Não somos só nós que matamos. Há sempre conflitos entre seres que pensam diferentes. Há também, pontos positivos nos seres humanos se procurarem melhor. Depois de todas as coisas ruins que acontecem, nós ainda conseguimos força para amar, escrever poesias, aprender com os erros e perdoar, reconstruir e viver novamente.

–Nós não querida, você nunca foi um deles.

O quanto sua vida mudaria agora depois dessa revelação. Ainda havia uma parte dela humana, ela sabia disso.

Amanhã, sua vida estaria em cheque e seria julgada como uma não humana. Isso significava que nunca mais voltaria para seu mundo.

Ela não era mais humana... Passou a mão pela sua cabeça. Bagunçando o cabelo preto.

– Agora – a bruxa colocou uma lista com todos os desenhos e runas que havia visto antes na parede, ignorando o que se passava – esse é o nome e representações de cada família que existe. Você não precisa decorar agora. Só saber que existe.

Ela acenou com a cabeça, podia ver centenas de nomes. A intrigou a originalidade para os desenhos.

–Mais da metade desses clãs não podem ser portadores, mas tem outros tipos de poderes. Alguns podem se transformar, outros podem se teletransportar, voar, manipular fogo, gelo... As possibilidades são infinitas.

Sentiu seus olhos se abrirem de par em par. Isso estava realmente acontecendo? Parecia impossível.

– Depois da pequena aula de história. Devemos começar a explicar como funciona a magia. Até agora saber sobre nós e o nosso mundo abriu somente seus olhos para coisas que o cérebro humano não estava pronto para ver.

A bruxa de cabelos longos que respondia por Missandra sentou-se na cadeira ao seu lado com uma caneca de água.

–A mágica é uma coisa que sempre existiu, e você escolhe o que deve ser feito com ela. No entanto, deve saber que ela cobra o seu preço, sempre.

– Não há um modo de te ensinar como usa-la. Alguns proferem palavras de ordem, outros só precisam pensar na ação. Você precisa descobrir que tipo de portadora é sozinha. Há também subtipos de portadores, os manipuladores, transformadores, ilusionistas, e como nós, criadores de portais.

Deus!

Antes você tem que dar algo em troca de se tornar uma portadora. Quanto mais importante for, mais forte será.

–Aqui – ela entregou a caneca que continha uma pétala de flor dentro – segure com as duas mãos. Agora pense em qualquer coisa que possa fazer com ela.

Olhou para a pétala que se mexeu levemente quando passou para as suas mãos. Havia tantas coisas que podia pensar, mas tentar fazer era diferente.

Estava com medo que não desse certo. E se pudesse pedir qualquer coisa para Deus seria mais coragem.

Fechou os olhos esperando sentir alguma coisa nascer dentro dela, só o que conseguia era sentir os olhos das bruxas fixados em expectativa na caneca.

Suspirou e olhou de novo para baixo. A pétala era amarelada com estrias vermelhas, rasgadas na borda. Nunca havia visto uma flor que se parecesse remotamente com isso, virou o rosto, mas nada. Realmente nunca tinha visto. Então desejou que pudesse vê-la completa, mas ela só ficou ali parada.

Colocou a caneca na mesa, frustrada. Não tinha poder, só tinha que ser isso. Depois de toda a explicação que deram a ela... Só havia feito às bruxas perderem tempo.

O que tinha feito errado?

– Vamos te mostrar uma coisa – Laurene levantou e calou Missandra antes que essa abrisse a boca – é por uma boa causa.

Caminharam até uma das portas e Laurene abriu para um espaço escuro com uma única fonte de luz.

–É aqui onde guardamos a maior parte de nosso poder. Não aguentaríamos toda a magia em corpos fracos como o nosso. O tanto que temos já nos faz mal, por isso precisamos armazenar pelo menos uma vez por mês.

Resistiu à tentação de sair correndo e roubar um pouquinho daquele poder. Só o suficiente para poder passar mais um dia viva. Mas logo a porta foi fechada e voltaram para a biblioteca.

–A primeira vez que descobri que era uma portadora foi aos quatorze anos. Isso há mil anos – sorriu com os dentes podres – a última coisa que me lembro foi de dormir antes de ir parar no chão da sala de estar. Era uma coisa que já deveria esperar sendo de um clã de bruxas, mas não foi mais fácil para mim, foi desesperador.

Johana acenou sem saber por que estava lhe contando tudo aquilo. Estava cansada, irritada e com sono.

–Olha eu sei que você está sobre pressão e que tem medo, mas você tem que se esforçar. Todos passamos por isso.

Ela acha que eu não estou me esforçando? Apertou os punhos voltando para a mesa. Lá estava a caneca e a pétala a encarando. E tudo o que ela podia pensar era em joga-la do outro lado da sala.

Soprou várias vezes antes de pegar novamente.

–Alakasan, abracadabra, ypatoshi , transforme-se – tentou todas as palavras que vinham em sua mente até a voz estar rouca e beirar a raiva – não pode acusar de não tentar.

–Você que sabe se está pronta para desistir. É a sua vida.

–Não se esqueça do que tem que dar em troca.

Missandra deu de ombros e Laurene a olhava com pena antes de saírem da sala. Ao que parece ela ia passar o fim da noite sozinha em uma biblioteca. Recostou-se na cadeira olhando a caneca. Deus como odiava aquela flor.

Caminhou pela sala olhando as lombadas do livro, a maioria com letras que não conhecia encapadas em peles de animais. Depois de verificar todos os encadernados foi até a janela para ver qual seria a chance de conseguir fugir.

Ela estava muito, muito alto. O que acabava com seu plano, a menos que fosse um pássaro. Ela distinguia movimento de soldados na varanda abaixo, um deles discutia com uma das bruxas. Demorou um momento para ter certeza de quem era e assim que o nome passou pela sua cabeça afastou-se da janela. Não queria saber nada que o envolvesse, era um mentiroso. As marcas no seu braço deviam ter feito parte da brincadeira que havia feito com ela. Como era idiota.

Cruzou os braços e voltou-se para a cadeira. Tinha que tentar até o ultimo minuto. Gostaria que se materializasse em sua frente um manual de instruções e pudesse acabar logo com isso.


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Notas finais do capítulo

Os capítulos estão longos, mas não havia como cortar palavras desse. >< Por favor leiam e deixem seus comentários sobre os personagens, a narração, a história, o que quiserem... Essa pequena ação incentiva nós escritores amadores a continuar.
Bjão o/