Colocando a sacola no chão com os dentes ainda apertados virou-se para as pessoas que estavam dissimulando olhar para os pratos em cima da mesa e comentou:

– Por acaso eu sou um animal de estimação raro que nunca viram na vida? – sibilou aumentando a voz enquanto passava devagar entre as mesas- talvez queiram me alimentar, porque eu devo parecer mal cuidada? – pegou um pão de cima da mesa – para todos ficarem especulando e fazendo piadinhas sobre mim.

Rasgou o pão jogando um pedaço em sua boca e caminhou lentamente de volta ao saco de batatas absorvendo o silêncio e o choque no rosto das pessoas. Não podia deixar de sorrir por dentro quando uma voz quebrou o silêncio.

–Que bom que está aqui seu Miguel – levantou-se de uma mesa uma jovem loira quando o chefe operário entrou recolhendo as passagens – veja, eu estava aqui conversando com meu adorável amigo quando essa hmm -apontou fingindo uma confusão – dama? Tirou o sossego de todos acusando de estarmos mexericando sobre ela, e como se não fosse suficiente, tirou o pão do prato do pobre casal Haymitch, só porque estava com fome.

–Isso é verdade? - perguntou em um claro aborrecimento, olhando o pão que estava em posse de Johana.

–Não exatamente – murmurou constrangida sem saber o que falar.

–Sinto muito Srt. Abertadl irei resolver o assunto imediatamente – caminhou com passos pesados e cansados até Johana, segurou-a pelo braço fortemente, na outra mão pegou o saco de batatas e se dirigiu a outro vagão. Abriu a porta da cabine, extremamente cansado, jogou ambas as coisas que ocupavam sua mão dentro dela e fechando a porta,entrou.

–Escuta aqui jovem – passou instintivamente a mão pelos cabelos brancos – seja o que for que aconteceu lá dentro eu não quero que volte a se repetir. Aquelas são pessoas ricas e poderosas e não importa se te tratam como “animal” faria bem que nenhum de nós os desagradassem de maneira nenhuma. Você vai ficar aqui até chegarmos à cidade e vai ser a última a sair do trem. Fui claro? -gritou.

Johana que estava no chão em meio às batatas esparramadas se sentindo humilhada só conseguiu acenar a cabeça diante da situação, mesmo que estivesse explodindo e querendo falar tudo que estava preso na garganta, sentiu que esta se fechava, e esperou que o guarda tivesse saído para recolher aquelas manchas amarelas.

–Ele ouviu – murmurou. O homem havia ouvido o incidente e ainda sim a tratara como lixo.

Deus! Como odiava as pessoas em geral...

Ser pobre era uma droga.

E aqui estava ela tentando vender o seu último saco de batatas. Enquanto pessoas que nunca trabalharam na vida zombavam dela.