Shadow Touch escrita por Lady TMS


Capítulo 11
Desnorteada




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 Ela lutou para encontrar a voz parecendo tão pequena nesse lugar em que não pertencia. Mas o que ela sabia sobre pertencer a algo?

 - Imagino que você, quer dizer... o senhor – engasgou com sua voz ainda rouca na garganta. Deus como eu preciso de água – que esteja curioso sobre mim ?

- Sim – ele continuou a encarando agora mais serio instigando-a a continuar.

-Er.. – ela tentou prosseguir então olhou aflita para os seus pés. O que contar? Já menti sobre tanto. Conto o resto?  Minto. Eu preciso ter medo? – Veja bem – ela tentou novamente dando uma confiança a sua voz que inteiramente não existia dentro dela - eu ainda me sinto desnorteada. Não lembro exatamente de nada. Quanto tempo fiquei desacordada?

- Duas semanas. Achamos que não sobreviveria. Nem você nem um dos homens que estavam lá embaixo com você – Johana quase se engasgou ao ouvir isso – Na verdade, não sabemos se ele sobrevivera ainda. Ele arde em febre tanto tempo que se acordar pode ser que não seja o mesmo.

Começando a sentir os efeitos de levantar cedo demais da cama Johana começou a soar frio. E se o desacordado a reconhecesse? Ele contaria pra todo mundo que ela era uma fugitiva? Ele a mataria antes que ela pudesse argumentar?

 Parecendo tão medrosa agora ela não sabia de onde tinha tirado coragem pra ir em um desses lugares falar de rebelião. Não que ela exatamente tivesse falado algo. Mas quem ia se importar com isso? Quem iria ouvir um ratinho assustado querendo salvar sua própria via?

 Saindo da neblina confusa que era sua mente ela lutou para manter a compostura e ter um pouquinho mais de coragem para saber exatamente o que estava acontecendo. Tirou o cabelo que cobria o seus olhos castanho que agora tendiam para o azul mais frio da sua vida – tentou não pensar nisso- e tirou uma montanha de livros que ocupavam uma das cadeiras. Olhando de frente para o interrogador ela finalmente perguntou seu nome.

 -Morgan – ele disse finalmente apertando a fina linha da boca. Embora tivesse uma aparência desagradável e zombadora ela percebeu rapidamente que ele era respeitado, severo e obviamente inteligente.

 Suspirou cansada de tentar jogar joguinhos com todo mundo. Uma vez na vida queria tanto não ter que mentir e desconfiar. Tanto quanto queria não ser mais fria e dura como uma pedra. Era assim que era chamada na escola, a fria, a esnobe, a mal educada. Já havia aprendido desde pequena a imagem que deveria passar para que conseguisse sobreviver. Para que não tivessem pena, nem conseguissem se aproveitar dela. No entanto tudo isso não fazia mais fácil passar os dias sozinhos. Aparentar indiferença quando só queria alguém que pudesse ouvi-la. Não tinha auto piedade em si. Mas as vezes ficava difícil ignora-la quando se abatia sobre ela sentimentos negros.  

- Eu preciso que você me ajude de fato a entender o que aconteceu – tentou colocar a cabeça pra pensar para ter respostas assim como ele – Você deve saber que, bom às pessoas não entram em uma floresta. Principalmente essa floresta. Há histórias que mantém as pessoas afastadas daqui. No entanto eu fui obrigada a entrar – limpou a garganta decidindo se contava toda a verdade ou meia verdade – havia homens que estavam... hmm... Perseguindo-me... Por coisas que eu não fiz. Na verdade, um deles me perseguia por motivos pessoais – ela tentou não chorar ao pensar que quase havia sido estuprada naquele beco, que embora seu corpo todo doesse ela distinguia a dor nas costelas antes de todas as outras dores a sucederem – depois de correr pela floresta eu não me lembro de mais nada até acordar aqui – exceto olhos azuis que ainda gelavam e que agora todos começavam a ver em meu rosto – eu esperava que soubesse me informar o que aconteceu.

- Você foi atacada. As cicatrizes em seu braço.. – ele começou a negar com a cabeça - quase ninguém sobreviveu para tê-las. Isso é uma marca... Para ser encontrada por elas – Johana estremeceu sem entender – Não sabemos muito a respeito. Há muito tempo atrás... - ele lhe mostrou um livro em uma caligrafia que ela não entendia, mas gelou ao ver a imagem desenhada nas páginas amareladas.

Ela tombou da cadeira e vomitou no chão de madeira aos seus pés. Sentiu-se zonza. Morgan chamou alguém para limpar o chão. Ela não estava tão certa de que não fosse suja-lo de novo. É assim que me sentirei toda vez que pensar nelas? Afastou a imagem da sua cabeça não querendo lembrar.

- Continue, por favor... – Ela disse torpemente segurando-se nos braços da cadeira.

- Como eu disse, não temos muitos registros. As poucas que temos são... Inconclusivas. Diz que as os marcados não podem pisar em solo. Elas esperam que você volte. E. Você vai voltar. Aqueles que sobreviveram não conseguiram manter-se por muito tempo. Eles ficaram... Estranhos... Há casos de suicídio, outros de mortes de pessoas próximas. Não são muito claros os relatos, mas todos tem o mesmo final...

 Ele não terminou. Não precisava.

- O que são aquelas...? – não conseguiu terminar

- Não tem um nome, e não sabemos nada a respeito. Ninguém averiguou. Há histórias passadas de geração em geração e todas as criancinhas sabem. Mas nada que possa ajuda-la.  Encontraram você ensopada de sangue e não sabiam se poderia sobreviver depois de tanta perda. Você estava sem vida quando chegou. Todos acharam que tinha sido um lobo que a atacou, mas o acharam a alguns passos de você morto. Sem sangue por perto. E quando a despiram viram as marcas... 

 Ele observou sua reação. Antes de continuar:

- Se tivéssemos nos inteirado antes do que tinha acontecido não teríamos acolhido você. É perigoso. Sei que alguns dos que estavam nas mesmas condições que você matava outras pessoas e depois não se lembravam de nada. Por isso acho que uma parte delas fica com vocês. E no final vocês ficam loucos. Não conseguem seguir – ele negou a cabeça estreitando mais os lábios – você não deve ficar aqui. 

 - Eu? E o outro que vocês acharam? Que encontram comigo – ela começou a notar pânico em sua voz

- Ele não tem marcas. Estamos esperando ele acordar para contar sua história. Precisamos ter certeza... Ele foi encontrado no meio de homens igual ao lobo. Pálidos, sem sangue, a cara deles... - ele não terminou deixando ela imaginar o pior.

  Johana absorveu tudo se sentindo mais perdida a cada instante.

- E o que vão fazer comigo?

  Quando entrou na sala saber de tudo isso era o que menos esperava. E agora ela sentia que seu lábio inferior começava a tremer como um bebe. Deu longas respiradas tentando segurar que o seu interior derramasse e ficasse a mostra. 

- Vamos esperar até que o outro acorde para então manda-los para outro lugar. Você o conhece?

- Não sei – ela começou  a negar – Não o vi direito. Mesmo se o conhecesse não poderia ficar perto dele. Se for. Se for... - não conseguiu terminar pensando nas rotas que teria que tomar para ficar longe dele.

-Tomaremos uma decisão depois então.

-Você vai nos deixar na floresta de novo?

-Não. Anne você não está em Newake On – ele suspirou como se estivesse cansado de provocar a queda uma e outra vez na bagunça do que ela acreditava existir – Você acredita em magia?

 Não. Não estou certa no que mais acreditar...  


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