Os olhos de Tavius se arregalam de surpresa ao ver a pessoa que bloqueara com outra espada seu golpe. Por uma pequena fração de segundo acha que está sonhando, que a pessoa projetada a sua frente é uma ilusão, um truque feito por aquelas malditas bruxas e por Fabian, mas os olhos o fizeram perceber a verdade.

Olhos castanhos, exatamente iguais aos seus e aos de Tabita, olhos por demais sinceros para serem de uma ilusão. Olhos que o encaram com cumplicidade... Com um carinho enorme e também com alívio. Ao olhar bem no fundo dos olhos desta pessoa, percebe que ela é bem real e imediatamente ele solta a espada, que cai no chão.

– Thales! – exclama Tavius com uma surpresa visível.

Thales também deixa sua espada cair no chão, e, os dois homens se abraçam de forma fraternal. Samira e Valery relaxam e abaixam a guarda, saindo da postura ofensiva.

– Pensei que estivesse morto. – diz Tavius.

– Muitos pensaram. – responde Thales. – E eu realmente fiquei a beira da morte. Foi preciso muito tempo para que eu pudesse me recuperar. E há uma coisa que você não sabe, Tavius, mas foram Mabel, Soraya, Servia e Fabian que tentaram me matar.

Ao ouvir as palavras de Thales, Samira resolve se intrometer no meio da conversa dos dois homens.

– Espera um minuto, Thales. – diz a arqueira – Está me dizendo que aquelas malditas tentaram te matar é isso?

Thales confirma com um sinal afirmativo, o que não deixa Tavius, Samira e Valery nem um pouco surpresos. Desde que aqueles três demônios em forma de mulher sequestraram Tabita, não duvidam de mais nada.

A maga olha ao redor deles e vê que as estranhas paredes não param de crescer e se multiplicar, e sente que estão entrando em uma grande enrascada.

Tavius não consegue deixar de sorrir. Apesar de sua querida Tabita ainda estar nas garras horrendas daqueles quatro, ver que Thales está vivo é um grande alívio e uma grande alegria. Agora, eles tem um novo e poderoso aliado de peso a seu lado.

– Estou realmente muito feliz em ver que você está vivo, meu irmão. – diz Tavius com um sorriso no rosto.

***

Tabita aos poucos vai recobrando a consciência após mais uma dolorosa sessão de tortura. Olha para a escuridão a que está confinada e não consegue segurar algumas lágrimas que teimam em cair por seu rosto.

Quanto tempo...?

Quanto tempo mais terá que aguentar tanto tormento...? Quanto tempo mais será obrigada a ver seu amado irmão Tavius e suas queridas amigas Samira e Valery se sacrificando para tentar salvá-la...? Quanto tempo mais terá que ser obrigada a ver as pessoas que ama serem machucadas por suas torturadoras e agora também por Fabian...?

Pensar em Fabian faz seu coração doer... Descobrir que durante muito tempo fora enganada por ele doeu muito mais do que as torturas as quais é submetida... Nutria sentimentos por ele... O amava com toda sua alma... Com todo seu coração... Sonhava com o dia em que se casariam... Que subiriam juntos ao altar e se tornariam marido e mulher... Sonhava com uma vida perfeita ao lado daquele homem...

E para ele tudo não passou de uma mentira...! Ele havia brincado com seus sentimentos o tempo todo... Apenas a enganara da forma mais cruel para facilitar as coisas para Mabel, Soraya e Servia...

No grande silencio daquela penumbra escuta as risadas tétricas de Mabel, Soraya, Servia e Fabian e sabe, ou melhor, tem certeza que os quatro estão tramando alguma coisa contra Tavius, Samira e Valery.

Seu coração se enche de angústia.

– Tavius...

***

Mabel, Soraya, Servia e Fabian continuam envolvidos por aquela luz que brilha intensamente em cor vermelho sangue. Os rostos dos quatro estão estampados com sorrisos vitoriosos, pois tem certeza de que desta vez, os três idiotas não terão como escapar e morrerão tentando em vão resgatar a mimadinha.

Já haviam usado estre truque uma vez, com aquele que ousara se interpor em seus caminhos e havia funcionado. Com os três patetas o resultado não será diferente.

– Está na hora. – diz Mabel com um sorriso confiante estampado em seus lábios.

– Ótimo. – diz Soraya – Quero ver este maravilhoso espetáculo que será a morte dos três patetas.

– E é claro que quando tudo estiver pronto, vamos mostrar para a mimadinha a morte do mongo do Tavius e das idiotas da Samira e da Valery. – completa Servia com um sorriso sádico em seus lábios.

– Tabita irá chorar lágrimas de sangue ao ver a morte dos três. – afirma Fabian, de forma confiante – Afinal estas criaturas não podem morrer.

As três bruxas riem de satisfação ao ouvirem as palavras de Fabia.

– Está na hora. – diz Mabel.

Os quatro estendem seus braços direitos em direção à sinistra luz vermelho sangue e novamente começam a murmurar palavras em um idioma desconhecido, e, no momento em que as palavras são proferidas o brilho da luz aumenta ainda mais.

Na mão esquerda dos quatro surgem pequenas facas que eles usam para, ao mesmo tempo, fazerem cortes em seus braços direitos, que começam a respingar imediatamente enquanto a luz que antes brilhava em vermelho sangue começa a mudar de cor, passando a brilhar de forma negra como as trevas enquanto o sangue dos quatro somem em meio a essas trevas ao som das risadas diabólicas dos quatro.

***

Tavius, Samira, Valery e Thales percebem que estão presos em algum tipo de labirinto, cujas enormes paredes parecem não ter fim.

– O que será que aquelas três estão aprontando? – questiona Samira.

– Não faço a mínima ideia. – responde Valery – Mas pode apostar que boa coisa não é. Aposto que estamos no meio de alguma armadilha preparada por elas.

– Também acho. – concorda Tavius – Mas, de qualquer forma, é melhor ficarmos juntos. Está mais do que na cara que nós estamos em algum tipo de labirinto.

Thales está pensativo. Tem certeza de que boa coisa não vem por aí, e isto é ruim. Não tivera tempo de contar a Tavius que descobrira o possível cativeiro de Tabita e a cada segundo que passa seu pressentimento de que algo muito ruim está para acontecer só aumenta.

Olha para o céu e vê este escurecer de forma abrupta, ficando negro como as trevas. Já vira isso antes! Elas pretendem usar o mesmo truque que usaram para tentar matá-lo alguns meses atrás!

– Fiquem perto de mim! – ordena Thales desembainhando a sua espada.

Os quatro juntam-se com os olhos bem abertos a espera do pior, e, assim como Thales, Tavius está com sua espada pronta para o ataque. Samira mais do que depressa tira uma flecha venenosa de sua aljava e a posiciona em seu arco enquanto os olhos de Valery começam a brilhar em um tom azulado.

E é então que tudo acontece. Do chão começam a brotar criaturas horrendas, aterrorizantes...

Possuem a pele acobreada, quase morena e muito lisa, veias que não tem uma única gota de sangue aparecem por suas peles. Seus olhos não tem reflexos e são de vermelho sangue, parecendo não estar neste mundo. Alguns não tem cabelos, outros tem alguns fios que caem por suas cabeças lisas. As bocas não possuem dentes e sim presas bastante afiadas que escorrem sangue. Não possuem nariz. Não tem musculatura e são muito magros, praticamente pele e osso e andam apenas com alguns farrapos que cobrem suas partes íntimas.

Tavius, Samira e Valery ficam petrificados com que eles veem em sua frente, uma centena dessas criaturas aterrorizantes. Mas Thales parece não se impressionar.

– Eu sabia! – diz o irmão mais velho de Tavius.

Sem querer perder tempo, Samira mira sua flecha bem no peito da criatura, a fim de atingir seu coração e em um rápido movimento a arqueira atira sua flecha, que atinge seu objetivo, o coração da criatura. A fecha está cravada bem fundo, mas, para seu espanto e surpresa, a criatura continua avançando junto com as outras em direção a eles.

– Mas... O que...? Não é... Não é possível! – a surpresa de Samira é tanta que ela mau consegue formular a frase.

– Isso não vai adiantar, Samira! – diz Thales – Essas criaturas estão mortas! Nenhum golpe funciona contra elas!

– O que?!