(One Shot) Para Ninguém escrita por Jéssica


Capítulo 1
Capítulo 1 (livro de bolso)




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Quando dei por mim, entrava pela porta larga e atraente da biblioteca. Havia alguns dias que não tocava em um bom e velho romance clássico.
Minhas mãos eram carinhosamente guiadas pelas macias do meu noivo. Seu sorriso era largo e sincero, mas seus olhos mostravam preocupação. As sedutoras orbes azuis ainda faziam meu estômago girar e minha pele se acender como brasa. Eu me perguntava se aquela paixão teria fim.
Caminhei pelos corredores interessadas nos vários títulos que ali se empilhavam.
Parei em "Guerra e paz" de Tolstói.
Estava intrigada com algumas escrituras nas primeiras páginas em branco, também era surpreendente que a capa do exemplar fosse destruída, quando suas páginas eram imaculadas. Algumas bobagens como aquelas me levaram a alugá-lo e sair dali rápido com meu noivo.
(...)
"Pertence a Edward Cullen", deitei a cabeça já desinteressada quanto a história do livro, mas intrigada com a caligrafia perfeita do antigo dono. Nada em minha mente fazia referencia àquilo e eu não me importava mais com as antigas escrituras do pequeno livro de bolso. Mas, ainda assim, quando o abria mal lia a introdução. Minha mente sempre seguia para os caminhos abstratos e desconhecidos da " possível história daquele Livro". Se as pessoas valorizassem o trabalho feminino, eu escreveria um romance do livro.
"Pertence a Edward Cullen" comecei, pelos meios fáceis, a pesquisar o nome. Loucura, mas... Meu noivo viajara e como dama, eu não tinha muitas obrigações.
Minhas mãos vagavam pelas páginas da lista telefônica de Oxford. Eu tive apenas um nome parecido. Na sessão C, encontrei um "Cullen". Eu era maluca.
Caminhei, acompanhada de meu irmão, que já não mais se preocupava em me entender, e dirigi-me a casa.
Fui recebida por uma senhora que me dera algumas informações sobre seu neto, de apenas doze anos, que vivia nos Estados Unidos, Chicago.
Eu não fazia ideia do que se tratava e meu interesse pelo livro morreu ali.
Eu me sentia tentada a escrever para meu noivo, mas este me alertara quanto a isso, dizendo-me tratar-se se de uma viajem importante e profissional.
Passava horas escrevendo cartas a ninguém.
Foi então que uma ideia desajeitada surgiu em minha mente.
Peguei o velho livro que, despolidamente ainda estava em minhas mãos e anotei, conforme as instruções da senhora as informações na carta e a enviei para o rapaz do livro.
Apenas contara meu súbito interesse pela história do livro e o quanto estava intrigada. Não expus a real razão para escrever a um desconhecido de doze anos.
Para minha surpresa a resposta veio rápida e direta. Ele não morava mais no endereço citado, não tinha mais doze anos, mas a carta chegara em suas mãos. Ele dissera o quanto me achava estranha por escrever para um desconhecido, mas como artista vira sinceridade em minhas palavras. Ele dizia que um livro nunca se tratava do autor e que eu deveria muito escrever um romance. Encorajou-me em outras ideias atípicas e bobas.
Um entusiasmo bobo por uma nova amizade surgiu em mim. Parecia um pouco inadequado, mas o rapaz da carta não parecia se importar e eu também não.
Respondi-o com animação. Contei sobre minhas ideias, mas Confessei que não gostaria de escrever para cinco ou seis pessoas.
O Sr .Edward Cullen sempre parecia trazer uma resposta filosófica para mim. Suas ideias liberais e talvez até mesmo libertinas assustavam-me vez ou outra. Confessei-o isso e ele demonstrou completo desprezo e zombaria pelo meu "recalque" como o próprio descrevera.
De historias a contos sobre meu noivado, comecei a compartilhar diversas coisas improváveis ao ver o quão cristalino o desconhecido era para comigo.
Ele não escondia muita coisa e eu poderia estar sendo rude com minha evasão.
Eu me sentia infantil ao olhar com ansiedade o carteiro que sempre, fielmente trazia suas cartas bem humoradas e motivadoras. Às vezes, quando ele não me escrevia, eu me decepcionava.

Numa dessas cartas ele me prometia uma visita que sempre era adiada. Um sorriso que nunca chegava. Numa dessas cartas eu sempre notava um teor de despedida. Numa dessas cartas, que se tornavam mais esporádicas, ante minhas cobranças de visitas ele parou de me escrever.

Quando meu noivo voltara eu havia esquecido o desconhecido e nunca visto o Sr. Edward Cullen.
O louro delicado e de feições encantadoras adiou a data do nosso casamento, com minha permissão, marcando uma viajem em família para os Estados Unidos.
Sei que deve pensar que eu fiquei ansiosa e entusiasmada e que seria muito óbvio que eu o encontrasse, mas nós não fomos para Chicago e eu não mais me lembrava do desconhecido. Ele era como uma mancha já esquecida numa roupa barata.

Estávamos na Cidade de Nova York. Ali tudo era lindo e moderno, os Estados Unidos me encantava... Surpreendia. Eu amava aquele país. Com suas ideias e artistas. Com sua Hollywood.
Meu noivo caminhava pelos cruzamentos mega movimentados na time's Square. Eu vi coisas que nunca imaginei ali. Muitas marcas famosas e estúdios muito conhecidos.

Eu não conhecia muito, mas reconhecia alguns monumentos épicos. Tais como o Empire State Building, o qual eu e meu noivo subimos até o observatório e nos divertimos romanticamente com a vista mais maravilhosamente alta e divina da minha vida. Não visitamos muitos bairros e eu passava a maior parte do tempo mantida em cárcere privado num hotel enquanto meu noivo saía em negócios que eu não me dispunha a entender ou referenciar.
Minha mente vagava por territórios inadequados, ideias liberais e poemas. Comportamentos tais que eu já não mais lembrava onde havia aprendido. Comportamentos tais que não mais me assustavam.

Aquele era mais um dia entediada no maldito hotel, me sentindo como uma prisioneira quando comecei a escrever mais uma carta. Eu escrevia minha insatisfação ao meu noivo. Carta essa que foi enviada, entretanto eu já não mais esperava pela resposta resposta.
Quando o remetente chegou, eu me surpreendi, pulei da cama e fui consolada por palavras amorosas e apaixonantes. Palavras essas que infelizmente não provinham do meu noivo, mas do desconhecido que se desculpava por não escrever-me mais, embora não explicasse o porquê, eu me sentia satisfeita com sua caligrafia impecável e suas palavras desvairadas. Também me satisfazia pensar que eu teria uma distração naquele martírio de viajem.

(...)

Foi depois de um maravilhoso dia com meu noivo, com sua beleza magnífica e sorriso contagiante, depois de ter me sentido culpada por minhas palavras de zelo endereçadas a um ninguém, que eu recebi a proposta de conhecê-lo.

Ele simplesmente me convidara para um passeio no Central Park, alegando seu medo de ver-me como desculpa para não tê-lo feito antes. Sem hesitar aceitei, sem nenhuma ideia do que se tratava o Central Park tive algumas indicações de como chegar e perturbada, esperei-o em frente a um lago onde ele descrevera. Sua capacidade de descrição era muito boa, pois minha mente associou o local facilmente. Nós nunca havíamos trocado fotos e eu, para que ele pudesse me reconhecer, peguei o livro de bolso, de capa de couro e o segurei, tentando parecer natural.

Foi encantador o leve puxão na barra do vestido.
–Isso não é muito sutil, moça. -A voz aveludada era ainda mais sedutora que a doce canção de
Ninar do meu noivo. Virei me emocionada e tentei controlar a decepção no meu rosto ao vê-lo.
Ele me encarou entristecido.
–Desculpe moça. - sorriu amargurado, com o rosto retorcido. -Precisava desiludi-la. -Olhando o com todas as feições retorcidas por eternas queimaduras, que pareciam formar cicatrizes estranhas e repulsivas. Era um rosto levemente brigante. Seu olhar era amargurado e trazia rugas quase invisíveis por trás de todas as manchas vermelhas e cheias de relevo. Parecia muito anormal.
Desculpe-me Senhorita, mas quando nos conhecemos eu ainda era um ser humano. -Fui tomada por uma pena e certo compadecimento. Minhas ideias românticas em nada se assemelhavam a um rosto destruído, mas poderíamos ser muito amigos, afinal eu tinha um noivo.
–Não diga isso! Não sei que ideia faz de mim, mas o que eu sei sobre você não mudou. -Falei tentando convencer a mim mesma. Ele revirou os olhos.
–Ainda quer tomar um sorvete? - Pensei imediatamente em recusar, mas sabia que ele notaria minha decepção e eu não queria magoá-lo. Meu interesse por suas ideias e caligrafia perfeita continuavam intactos.

Conversamos sobre algumas coisas, mas meus olhares para seu rosto sempre o esmoreciam e eu não sabia como evitar não me embaraçar, pois parecia que ele sempre tomaria todas as minhas ações por atos de piedade.
Eu ficava curiosa para saber o que houve, pois por trás das distorções da carne viva, seus olhos repuxados e as orbes verdes ainda estavam ali. Fosse antes ou agora, ele tivera um belo rosto.

A tarde divertida com o poeta me levara a muitos pensamentos. Eu não era como as mocinhas dos meus livros. Eu era fútil. Meu interesse abrandara ao notar o rosto feio.
Meu egocentrismo me fizera chorar.
Insisti para que voltássemos para Inglaterra, usara aquilo como desculpa para não vê-lo novamente. Meu noivo lindo não entendeu minha teimosia em voltar para Oxford, mas me ouviu. Eu queria me casar, ter filhos e ser muito feliz. Eu seria uma boa esposa, amorosa e cuidadosa, não iria me ensoberbecer, nem seria orgulhosa.

No dia marcado para o casamento eu estava muito feliz. Eu me envaidecia no vestido branco e nas maquiagens e todas as coisas maravilhosas do noivado.
Eu recebi mais duas cartas e numa delas ele desejara que eu fosse feliz. Eu o respondi uma vez. Fui evasiva e não sentia mais a emoção de trocar cartas com o desconhecido.

Caminhei pelo tapete vinho. Todos sorriam.
–Sim. -Ele disse me olhando nos olhos. Borboletas voavam em meu estômago.
–Isabella Marie Swan, você o aceita como seu legítimo esposo, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença... Até que a morte os separe? - Conforme ele dizia, imagens do belo rosto destruído pela doença me fizera questionar a importância daqueles votos, mas eu disse sim, apesar de não saber se aquilo era verdade. Eu não estava numa novela para desistir de tudo.

~*~

Anos depois, ainda me questiono da minha decisão. Eu descobri que eu amei o desconhecido até quando vi seu rosto.
Anos depois eu percebi que o teria amado de qualquer jeito, pois o amei sem jamais tê-lo visto.
O meu amor não foi pela sua imagem ou pelo que ele me fazia sentir, mas simplesmente por amor.
Por que o amor não é egoísta. Quando se ama o outro,
Se ama o outro.
Na minha última carta, endereçada a ninguém, eu lhe contei o quanto o amava. Que Todos os dias eu orava para que ele fosse feliz.
Anos depois, Meu poeta ficou conhecido como o poeta do amor. Eu me orgulharia dele todas as vezes que lesse seus livros. Todos os dias da minha vida.




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