Ad Pulvere escrita por themuggleriddle


Capítulo 2
Capti Lamia




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Fazia muito tempo desde a última vez que Hermione estivera em Londres e, na sua opinião, a cidade só havia ficado mais tumultuada e suja com o passar dos anos... Ou talvez fosse apenas ela quem tivera se acostumado com a vida no campo, sempre tão calma e com o cheiro de terra e mato sempre à sua volta. De qualquer maneira, a garota não pode deixar de fazer uma careta ao sair da carruagem na qual viajara por inúmeras horas e se ver parada em uma rua tumultuada e barulhenta. Ela não sabia mais como conviver com a bagunça e apenas esperava que, seja lá onde Riddle a levasse, tal lugar fosse um pouco mais calmo.

O rapaz despediu-se rapidamente do cocheiro, antes de guiá-la por entre as pessoas, sem perder tempo para lhe explicar onde estavam indo exatamente. Hermione agarrou-se ao braço do outro, temendo perdê-lo de vista, ao passarem por um grupo de pessoas que discutiam no meio da rua.

“Pelo amor de Deus, pare de agir como se fosse algum tipo de selvagem que nunca viu uma cidade,” ele sussurrou e a bruxa revirou os olhos.

“Aonde estamos indo?”

“Estamos quase chegando, acalme-se.”

Riddle continuou andando, praticamente arrastando a garota que segurava em seu braço, até chegarem à uma casa que, em comparação com as outras ao seu redor, parecia ser a mais limpa do local. Não era muito grande, pelo que Hermione pôde perceber, e Tom não foi em direção à porta, como ela esperava que ele o fizesse, mas deu a volta na construção, entrando pelo que parecia ser a porta dos fundos.

“Thomas Marvolo Riddle, será que pode me dizer aonde você estava?” Hermione sobressaltou-se ao ouvir uma voz alta e rígida gritar assim que os dois colocaram seus pés dentro da casa. Esticando o pescoço para ver quem era a dona desta, a garota pôde ver uma mulher alta e magra parada a frente deles. Seu vestido cinzento quando combinado com seus cabelos castanhos já cheios de fios brancos e grisalhos a tornavam uma figura apagada, fazendo com que o único brilho em sua pessoa fosse aquele que iluminava seus olhos escuros e sérios.

“Mestre Cole me enviou para ir buscar uma nova modelo para ele,” disse o rapaz com um tom de voz completamente submisso e muito diferente do que a moça havia se acostumado à ouvir vindo dele. Ela sentiu a mão do outro puxando-a para frente para que a mulher pudesse olhá-la.

“Eu sei muito bem que meu marido lhe deu tal tarefa, Tom, assim como sei que uma viagem até Lochwood não demora quase dois dias.” Os olhos da senhora se estreitaram enquanto observavam a garota. “Quantos anos você tem, menina?”

“Dezoito, senhora.”

“Bom.” A mulher sacudiu a cabeça, antes de lhes dar as costas e dirigir-se para outro cômodo. “Comam alguma coisa e vão até o meu marido, ele deve estar os esperando.”

***

O artelier do Mestre Henry Cole era um lugar bem arrumado que cheirava a tinta e tinha telas – completas ou não – por todos os lados. O homem era parecido com a sua mulher em diversas maneiras, percebeu Hermione, como no fato de que ele também tinha a mesma altura dela e os mesmos cabelos castanhos salpicados por fios brancos. Ele devia estar na faixa dos seus quarenta anos, mas as rugas em seu rosto – assim como acontecia com a esposa – lhes dava uma aparência mais velha e cansada.

“Você tem sorte de ter um olho bom, Riddle,” disse o homem enquanto parava em frente à garota, encarando-a por um longo tempo, antes de erguer a mão para segurar-lhe o queixo. “Sua amiga aqui realmente ficará melhor do que a Srta. Spinnet.”

“Tive certeza disso assim que a olhei pela primeira vez, senhor.” Novamente, Hermione estranhou como a voz de Tom soava incrivelmente dócil quando este estava falando com um dos donos da casa.

“Como eu disse: você tem sorte de ter um olho bom, pois, caso chegasse aqui com uma garota que não se encaixasse no trabalho...” Cole sentou-se perto de uma das mesas do cômodo, puxando um pedaço de pergaminho e rabiscando algo nele. “Começamos amanhã pela manhã, Srta. Granger. Riddle já teve ter lhe explicado sobre o trabalho e sobre as suas acomodações, portanto não irei cansá-la com tais informações novamente. Caso queira, pode ir para os seus aposentos, já está quase anoitecendo mesmo e você deve estar cansada.”

“Sim, senhor,” sussurrou Hermione, abaixando a cabeça como que em algum tipo de reverência, antes de virar-se e andar até a porta, parando apenas para ver se Tom a seguia.

“Fique aqui, Riddle, preciso que me ajude com algumas coisas ainda hoje.” O rapaz olhou-a rapidamente, acenando para que ela saísse, e, suspirando, ela o fez.

Hermione não sabia como passar o tempo ali. Normalmente, em sua casa, ela praticaria feitiços, leria algum livro, experimentaria novas receitas de poções... Mas ali ela não era nada mais do que a menina que serviria de modelo para o Sr. Cole e não havia nada para ocupar o seu tempo. Seguiu para os seus aposentos, que, na realidade, eram apenas um quarto apertado que também era ocupado pelo próprio Tom. O cheiro de tinta também estava presente ali e a garota não pôde deixar de ficar torcendo o nariz a cada cinco minutos por conta do odor forte.

A bruxa já estava em um estado sonolento quando ouviu a porta de seu quarto se abrir. Em um pulo, Hermione ergueu-se da cama, alarmada, com a varinha em punho, apontando-a para o recém chegado.

“Se eu fosse você, tomaria mais cuidado com essa coisa.” Um Riddle aparentemente exausto estava parado a sua frente, encarando-a com os olhos azuis entediados, antes de desviar a varinha com a mão e seguir para a sua cama. “Consegue fazer com que não nos ouçam?”

A garota concordou com a cabeça e acenou a varinha, murmurando um encantamento.

“Ninguém sabe o que você é, então não precisa ficar querendo apontar isso para todo mundo,” disse o rapaz, deitando-se.

“Riddle?” Hermione voltou a se sentar em sua cama, ouvindo-a ranger sob o seu peso e fazendo uma careta. “Podemos treinar, sabe. Magia, digo... Estão todos dormindo e...”

“Eu estou cansado, Granger.” A garota observou o outro dar-lhe as costas e se encolher na cama. “Amanhã.”

A bruxa torceu o nariz, antes de, mais uma vez, movimentar a varinha, fazendo com que o corpo do rapaz fosse jogado para fora da cama. Tom deu um leve grito, surpreso, antes de erguer-se novamente, encarando-a com uma expressão irritada no rosto.

“Você me trouxe aqui para treiná-lo.” Ela cruzou as pernas e apoiou o cotovelo sobre o joelho, sorrindo. “Então nós vamos treinar.”

“Eu estou...”

“Cansado. Isso é bom, quem sabe a magia não o relaxa? Sente.” Ele o fez e Hermione sorriu. “Antes de tudo, você precisa entender que magia não é algo exterior. Não é como alguns dizem... Um poder que o demônio nos dá ou algo parecido. A magia é nossa e, se você prestar atenção, vai conseguir senti-la dentro de si. Mas, apesar de ser nossa, essa magia interage com o ambiente e com a magia dos outros a nossa volta, então é comum nós, bruxos, conseguirmos sentir outras fontes de magia, sejam elas animais, objetos, feitiços ou pessoas.”

“Como...?”

“Me dê a sua mão.” A garota puxou o braço do outro e segurou-lhe a mão com força. “Se concentre no meu toque.”

Hermione olhou para a própria mão e fechou os olhos, respirando fundo enquanto tentava direcionar a maior parte da sua magia para a palma de sua mão a fim de fazer com que o rapaz sentisse-a. Não demorou muito para que uma exclamação escapasse da boca de Tom, o que fez a bruxa sorrir.

“Está sentindo um tipo de formigamento?” Ela abriu os olhos a tempo de vê-lo concordar com a cabeça. Os olhos azuis do outro estavam fixos em suas mãos e, neles, ela podia ver um brilho interessado e, se arriscasse, até assustado. “É a minha magia. É isso que me permite fazer feitiços.”

“Como você fez isso?”

“Me concentrei e mandei toda ela para a palma da minha mão. Veja bem, as mãos são uma das maiores porta de saída da magia... É por isso que seguramos as varinhas nas mãos.”

“E... Se você pode fazer magia sem a sua... varinha... por que a usa?” perguntou o rapaz, olhando discretamente para a varinha que descansava ao lado dela na cama.

“Quando somos pequenos, nossa magia consegue sair de nós sem usarmos uma varinha com muita facilidade, mas a varinha ajuda a conduzir e controlar a magia. Depois de um tempo, acredito que os bruxos acabem se tornando dependentes delas, devido ao uso intenso... Mas ainda assim é possível fazer alguns feitiços sem usá-las.”

“Eu não tenho uma varinha.”

“Verdade, mas você também nunca usou uma, ou seja, sua magia ainda não se tornou dependente de um meio de condução.” Hermione sorriu, finalmente soltando a mão do outro. “Aliás, magia é natural. Ela não irá fazer nada que não seja natural.”

“Da última vez que eu vi, Granger.” O rapaz riu. “Criar coisas do nada não é a melhor definição de natural.”

“Mesmo? Pegue aquele espelho.” Ela apontou para um pequeno espelho que estava pendurado na parede atrás da cama dele. Tom não hesitou em obedecê-la. “Agora assopre nele.”

“O que?” O garoto ergueu uma sobrancelha.

“Assopre nele, como se quisesse aquecê-lo.” Riddle a encarou por um tempo, antes de fazer como ela havia pedido, aproximando o rosto do pedaço de vidro e assoprando-o. Logo, a superfície do espelho ficara embaçada devido à sua respiração quente. “Passe a mão por ele. Está molhado, não?” Ela sorriu, antes de posicionar a mão esquerda em um tipo de conchinha e apontar a varinha para esta. “Aguamenti.”

Um fino fio de água pareceu sair de sua varinha, caindo em sua mão. Hermione cessou o feitiço e mostrou a pequena quantidade de água acumulada em sua palma.

“O ar que saiu da sua boca criou água no vidro e esse ar é o mesmo que nos cerca,” ela explicou, finalmente abrindo os dedos e deixando a água escorrer por entre os dedos. “E com esse ar eu consigo criar água a partir de um feitiço.”

“Como é o nome desse que você usou?”

“Aguamenti.”

Aguamenti...” ele sussurrou.

“Mas, se acalme.” Hermione riu. “Isso já é conjuração! Nós temos que começar por algo mais simples, algo que não envolva criar, mas sim... Deixe-me pensar em alguma coisa acessível... Movimentar! Isso!” A garota olhou em volta até encontrar o que queria: um maço de pergaminhos amassados. Apanhou a sua varinha e apontou-a para eles. “Olhe bem. Alguns feitiços exigem, além da fórmula, um movimento específico, esse é um exemplo... Você tem que girar e sacudir.” Ela fez o movimento. “E dizer ‘Wingardium Leviosa’.”

Um leve sorriso apareceu nos lábios de Riddle ao ver os pergaminhos, lentamente, começarem a flutuar. Hermione não pôde deixar de imitar tal expressão ao ver o quão fascinado ele parecia.

“Tente.” Assim que abaixou a varinha, os pergaminhos caíram em seu lugar original.

“Sem varinha?”

“Sim, como eu já disse, sua magia é boa para ser usada sem auxílio de condução, mas você tem que fazer o movimento com a mão.” Mais uma vez, ela movimentou a mão da maneira correta. “Gira e sacode.”

Tom estendeu o braço, apontando-o para a pilha de pergaminhos, e girou o pulso, antes de sacudi-lo de leve. Hermione sorriu. Normalmente bruxos inexperientes faziam esse movimento com todo o braço, o que não ajudava muito no feitiço, mas Riddle conseguira, sem que ela precisasse lhe explicar, executar as ações mexendo apenas o pulso e mantendo o resto do braço imóvel.

“Wingardium Leviosa!” Nada.

“Assim você não vai chegar a lugar nenhum.” A garota revirou os olhos e riu. “É LeviOHsa, não LeviosAH.”

“Poderia ter me explicado antes.”

“Eu falei o nome certinho, não é minha culpa que você não o pegou. Vamos: LeviOHsa.”

Riddle suspirou, antes de voltar a olhar para os pergaminhos. Passaram-se alguns segundos, antes que ele finalmente erguesse o braço novamente e executasse os movimentos necessários.

“Wingardium Leviosa.”

Hermione não sabia o que era mais interessante: ver um bruxo que havia acabado de descobrir magia conseguir executar um feitiço tão bem ou ouvir a risada satisfeita que escapou da boca de Riddle.

***

Quando Hermione fora informada que serviria como uma espécie de modelo para uma pintura de Henry Cole, a garota não tinha idéia de o quão entediante aquilo seria. Ficar parada por horas a fio com ambos Tom Riddle e Cole a desenhando estava longe de ser a coisa mais animadora do mundo e aquilo conseguia ficar pior ainda quando, volte e meia, o pintor soltava algum comentário rude devido ao fato de ela ter se mexido para coçar o nariz ou ajeitar a sua perna que começava a ficar dormente. De vez em quando, enquanto Cole estava ocupado enchendo um pergaminho com rascunhos dela, a bruxa lançava um olhar nada agradável à Tom, como se dissesse a ele que aquela fora a pior idéia que ele poderia ter tido... Não que aquilo fosse ruim para ele, afinal, Riddle estava confortável em sua cadeira, desenhando e podendo se mexer o quanto quisesse, enquanto ela tinha que ficar parada, sorrindo levemente e mantendo a pose que lhe mandavam fazer.

Os dias na casa dos Cole passaram a ser uma mistura desse tédio das sessões de pintura com as horas que passava praticando com Tom. Normalmente as últimas aconteciam tarde da noite, depois que Henry Cole liberava o aprendiz e, na maioria das vezes, eram essas poucas horas treinando magia que Riddle parecia relaxar, deixando de lado o ar sério e permitindo-se sorrir ou brincar, nem que fosse pouco. Para a surpresa de Hermione, o rapaz estava avançando rapidamente no campo de controle de feitiçaria... Em poucos dias, ele havia progredido dos mais simples feitiços como o de levitação e de convocação para coisas mais complicadas como encantamentos de transfiguração e proteção. Era quase humilhante ver alguém da idade dele dominando, em poucos dias, técnicas que ela levara anos para aprender.

As aulas com Tom eram, realmente, a parte mais interessantes de seus dias, já que não podia passar horas e horas fazendo poções ou praticando feitiços como costumava fazer quando estava na sua casa – aliás, só de pensar em sua casa a garota sentia um aperto no coração. Mas aquelas eram apenas as horas finais dos dias e o resto destes eram, para Hermione, um enorme tédio.

“Lord Black deixou isso aqui hoje.” Henry Cole entregou à Tom um pequeno embrulho de veludo. O rapaz, com cuidado, desfez o laço que mantinha o embrulho fechado e puxou, de dentro, um cordão prateado. Na ponta, havia um medalhão, também prateado, o qual o garoto passou um bom tempo analisando com o olhar. “Ele quer que ela o use no retrato. É o símbolo da casa dos Black.”

Enquanto Cole voltava para o seu posto atrás do cavalete, Riddle ergueu-se e foi até a garota. Hermione aproveitou a oportunidade para fazer uma careta de desgosto, tentando indicar o quão irritante estar ali era para ela, mas o rapaz apenas a ignorou e colocou o cordão de prata ao redor do seu pescoço. A moça olhou para baixo para poder ver como era o tal medalhão. A sua frente bem polida era preenchida por um brasão que, de acordo com o pintor, pertencia à família Black, e ela não pôde deixar de notar o quão estranho este era. No topo, havia um crânio e, logo abaixo deste, um triangulo que emoldurava o desenho de uma mão segurando o que parecia ser uma pequena espada – Hermione chegou a pensar que fosse uma varinha, mas as chances de aquilo ser verdade eram mínimas. Na metade inferior do brasão ainda havia a figura de três corvos dispostos em um tipo de flecha, logo acima de uma fita que circundava o escudo do brasão e onde pequenas letra soletravam as palavras “Tujours Pur”.

“Olhe para mim novamente, Srta. Granger.”

A moça logo ergueu o rosto, não querendo receber mais uma bronca do pintor, e estampou o sorriso sem humor em seus lábios outra vez. Tom logo se pôs a desenhá-la – não que ela o visse fazendo isso, mas podia ouvir o barulho da sua pena arranhando o pergaminho – ao passo que Henry apenas a ficou observando.

“Riddle.” O rapaz ergueu os olhos dos seus desenhos e encarou o mestre. “O que está errado ai?”

“Nada, senhor.”

“Imagine isso como um quadro terminado, lembre-se do que Lord Black nos pediu para colocarmos no fundo.”

“As constelações?”

“Sim. Está muito cheio, bagunçado,” o homem sussurrou, levantando-se e indo até a garota, parando atrás dela. Hermione deu um pulo ao sentir os dedos dele encontrarem os botões de seu vestido e começarem a abri-los. “Por Deus, fique quieta.”

“O que você está fazendo?!” A moça tentou alcançar os botões, mas apenas teve suas mãos retiradas de lá pelo pintor.

“Como eu disse, a composição está muito cheia e bagunçada, o vestido está atrapalhando.”

“Então você quer que eu fique sem...?”

“É uma pintura, Srta. Granger. Homens e mulheres ficam nus para posarem o tempo inteiro.”

‘Eu nunca vi.”

“Porque nunca saiu da sua aldeiazinha, garota. Agora, fique quieta.”

Hermione olhou para o rapaz, sentindo o rosto esquentar, que ainda estava sentado no seu devido lugar, como que querendo alguma ajuda por parte deste. Riddle apenas encolheu os ombros e movimentou os lábios como se estivesse dizendo para ela deixar que Cole continuasse a despi-la.

“Pronto.” O pintor voltou para a sua frente, abaixando a parte de cima do seu vestido até a sua cintura e arrumando o seu cabelo para a frente dos ombros. “Vamos pegar apenas daqui para cima.”

Se a bruxa achava que ficar o dia parada para que aqueles dois pudessem desenhá-la, aquilo era muito pior. Hermione tinha o impulso de abaixar a cabeça o tempo inteiro, para evitar os olhos de Cole ou de Tom, mas sabia que, caso o fizesse, estes a repreenderiam. Ela tinha que manter a compostura mesmo querendo mais do que nada cavar um buraco para se esconder.

“Agora, Srta. Granger, a mesma pose de antes. Braços cruzados, cabeça erguida e sorria.”

***

“Você não me disse que isso incluía ficar sem roupas na frente de vocês!”

“Pelo amor de Deus, se acalme,” sussurrou Riddle, deixando de lado o prato de comida e olhando de relance para a porta da cozinha, tentando ver se os donos da casa estavam por perto. “Isso é normal.”

“Não é normal para mim.”

“Fazer coisas flutuarem também não era normal para mim até alguns dias atrás,” o rapaz murmurou, inclinando-se para que apenas a bruxa o ouvisse. “E, ainda assim, me acostumei com isso.”

“É diferente,” ela resmungou. “Você não tem que ficar sem roupa na frente dele.”

O rapaz deixou-se encará-la por um longo tempo, antes de sacudir a cabeça e soltar uma risada sem emoção alguma. Hermione sentiu o rosto esquentar e se odiou por deixar-se mostrar estar nervosa.

“Não há do que ter vergonha, Granger. Você é uma garota relativamente bonita, então...”

“Você ficou me...!”

“É claro que eu a olhei.” O jovem suspirou. “Eu a estava desenhando, seria meio difícil não olhar para você e para o seu corpo.”

“Merlin dai-me forças,” disse baixinho a bruxa, abaixando a cabeça e escondendo o rosto atrás das mãos. “Será que pode me explicar por que esses Blacks iriam querer o retrato de uma mulher nua na sala deles?”

“Eles querem algo que represente a família deles,” explicou Riddle. “E Mestre Cole sabe o que está fazendo. Realmente, o vestido estava deixando tudo muito pesado e, além disso, a nudez pode indicar pureza.”

“Pureza? E o que isso tem a ver com o resto da pintura?”

Tujours Pur, o lema dos Black, significa ‘sempre puro’. Então, a pintura é basicamente a família Black inteira representada ali: o medalhão com o brasão, a nudez mostrando a pureza e as constelações ao fundo.”

“Por que eles colocariam constelações?”

“Já ouviu falar dos Black?” A garota sacudiu a cabeça. “A grande maioria deles tem nomes de estrelas ou constelações. Quem comissionou a pintura foi Lord Cygnus Black.”

“Constelação de Cygnus.”

“Sim. Ele tem três filhas: Bellatrix, Andrômeda e Narcissa.”

“Uma estrela, uma constelação e...”

“Um mito grego.” Riddle deu de ombros. “Saíram um pouco do padrão com ela, mas dizem que o nome serve como uma luva para ela.”

“Eu gostei do brasão deles,” disse Hermione, fazendo o mesmo que Tom e olhando pela porta da cozinha. “Se eu não soubesse que a maioria de nós está escondida, poderia dizer que eles eram, bom... Como nós.”

“E qual a razão de tal suposição?”

“O brasão. Você deve ter percebido a segunda imagem.”

“A mão com a espada?” Tom ergueu uma sobrancelha, encarando-a.

“Parece outra coisa, não?”

O rapaz ficou em silêncio por um tempo, olhando-a com os olhos semicerrados, como se estivesse analisando a hipótese que ela acabara de lhe propor. Hermione estava quase convencida de que ele também notara tal detalhe, antes de o jovem sorrir e desviar os olhos.

“Quando vamos continuar?”

“O que? Ah, hoje a noite, se você não se importar,” disse a garota. “Aliás, quando é que você vão começar a pintar mesmo? Digo, quando vão parar de me rascunhar?”

“Logo, amanhã, talvez. O que será hoje?”

“Não acha meio arriscado...?”

“O que será hoje?” ele insistiu e Hermione olhou para a porta da cozinha, vendo, parada perto dela, a cozinheira – ela não se lembrava o nome certo da mulher, mas sabia que era alguma coisa parecida com Susan ou Susannah – se ocupava com o que parecia contar algumas moedas que carregava nas mãos.

“Riddle.”

“Me responda.” A bruxa sentiu um arrepio atravessar o seu corpo ao ver, depois de um bom tempo, o brilho quase perigoso nos olhos do rapaz. Tal brilho ela só vira ainda antes de chegarem a Londres, quando ele ainda a ameaçava de expô-la.

“Ataque, desarmamento e algumas... Azarações.” Olhou para a cozinheira novamente e finalmente percebeu que ela parecia não ter ouvido nada do que ela havia falado. “Espere um pouco, você...?”

Um sorriso presunçoso espalhou-se pelos lábios de Riddle enquanto ele dava uma rápida olhada na direção da mulher parada na porta.

“Está bom?” ele perguntou.

“Você é um idiota que poderia estar se expondo...!”

“Está bom ou não, Granger?”

“Ela não está nos ouvindo, então, sim, está bom,” a garota resmungou, revirando os olhos. “Mas isso não significa que é aceitável!”

“Aceitável ou não, está nos sendo útil.” Tom riu. “E quanto a sua pergunta sobre o brasão dos Black: eu acho que você está vendo coisa, bruxa,” ele sussurrou a última palavra. “Você está tentando achar outros como nós, pois não se conforma de estar em uma cidade onde não existem mais... Mas, aceite isso: a possibilidade de nós sermos os únicos em Londres é grande demais. Todos os outros fugiram ou foram mortos. Somos só eu e você, Hermione Granger.”


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Notas finais do capítulo

Adicionei "nudez" aos avisos da história, apesar de que, bah, eu não sei, eu não considero iso grande coisa :/ Como eu não sei o que vem pela frente, se tiver alguma outra coisa, eu vou adicionando os avisos conforme coloco mais capítulos, okay?
Muito, muito obrigada pelos reviews.