Unbroken escrita por Minds


Capítulo 3
Chapter two




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(...)

Renesmee


Chegamos à tão maravilhosa França. Eu preciso dizer que dormi a viagem toda, ou, ao menos, fingi. Às vezes, me perguntava o por quê de eu estar fazendo aquilo. Aquela fuga. Pra quê? O que eu iria ganhar com isso? Talvez Katie cumprisse a promessa a princípio. Talvez ela viesse me buscar, e então eu estaria tremendamente encrencada. Porque Katie é muito cabeça, então primeiro ela ia me dar a maior bronca, me arrastar para Forks, e eu ainda iria levar sermão dos outros Cullen e dos Quileutes. Some isso com o maior castigo de todos os tempos — eternidade, baby — e mais uma possível surra.

Okay, a última parte é mentira, mas ainda cogito as possibilidades.

Abri os olhos lentamente, não por preguiça, nem por sono. Apenas para completar minha mentira.

— Me evitou o tempo todo. — declarou sem tirar os olhos da estrada.

— Não, eu não estava te evitando. Estava refletindo. — falei, com uma convicção que nem mesmo eu entendi.

— Se você diz. — ele tentou não acreditar. Mas é evidente que o havia feito. Não é mentira o que eu contei. Mas também não é toda a verdade.

— Sei que você acreditou.

— Eu não disse que era mentira.

— Mas você pensou nisso. Então não pense que eu estava te evitando. Eu estava pensando em possibilidades.

— Não precisa se explicar sempre.

— Eu não me explico sempre, ok? Eu apenas... — ele me olhou com cara de “viu?”. Suspirei, vencida.

Ainda era bem cedo. A prova disso era a neblina densa , congelada pela neve do inverno. Fechei a janela do carro, o que não adiantou muito. Cada vez que eu abria a boca saía um vento frio. Alec dirigia calmamente, mas deu uma freada tão brusca que quase me arremessou pelo vidro da frente — o que me salvou foi o cinto de segurança.

— Avise da próxima vez, que eu me preparo. — ele não respondeu.

— Fique dentro do carro. — falou, abrindo a porta e fechando-a violentamente. Trancou o carro. Comigo lá dentro.

Não muito longe, logo pude sentir. Ouvir os passos leves e fatais dos corpos recém-refeitos. O cheiro do sangue que ainda corria em suas veias. Então, eu vi. Três pares de olhos vermelhos me encarando furiosamente.

Recém-criados. Entendi o por quê de Alec me trancar dentro do carro. Mas não faria diferença alguma, mesmo que tivesse trinta litros de perfume francês — do mais enjoativo possível — jogado no ar, eles sentiriam o cheiro do meu sangue. Eu já ouvi essa história antes. Seus sentidos são melhores nos primeiros meses da nova vida.

Encolhi-me no bando, puxando minhas pernas e colocando a cabeça entre os joelhos. Eu estava com medo.

Alec olhava para mim como se estivesse sofrendo algum tipo de dor — física ou emocional, eu não saberia dizer ao certo.

Mas ele não iria fazer nada por mim.

Subi a tranca do banco de passageiro, e abri a porta do carro. Disposta a morrer, se fosse necessário. Mas não o deixaria fazer isso por mim. Posso até lidar com a situação. Eu não nasci para ter medo. Eu nasci quebrando regras. E isso me faz forte. Pelo menos, nessa situação.

Os três vampiros não tinham cara de serem experientes, pareciam os vampiros transformados por Riley. Então, eu poderia lidar com isso. Facilmente.

— Volte. Para. Dentro. Do. Carro. — Alec falou pausadamente, ordenando.

— Vou te mostrar o que acontece quando alguém me contraria. — murmurei sem olhar para ele.

Corri até os três vampiros que me cercavam, e, com uma agilidade invejável, avancei sobre eles, arrancando seus membros. Alec já havia desmembrado um. E um sobrara. Foi tão rápido que nem me dei conta.

Era o mais forte.

Ele correu, se jogando sobre mim e me derrubando no chão. Tentou desferir socos em mim, mas desviei deles. Puxei seus ombros com ferocidade, e arranquei seus braços. Ele não parecia querer desistir, pois avançava em meus pescoço como se meu sangue fosse a única cura existente no mundo.

E ele me mordeu.

Nada que pudesse me matar. Mas foi forte. Suas presas tocaram minha jugular, e o sangramento foi inevitável.

Alec rosnou tão alto que achei que ele iria explodir ali. Ele tremia, e seus dentes estavam cerrados com força. Correu até onde eu estava — e a essa altura do campeonato eu já havia sido jogada para dentro da floresta, parando numa clareira escura e fria. Ele arrancou o vampiro de cima de mim, e o desmembrou, logo em seguida decapitando-o de modo brutal. Foi o timing perfeito para jogar o isqueiro aceso em cima dele.

Ele ofegava e olhava o corpo transformado em cinzas com desprezo.

Levantei-me, mas percebi que não estava nada bem. Na verdade, ao que parece, foi grave. Alec veio até mim, me colocou no chão, e me encarou com raiva.

— Quando eu mandar, você obedece. Você quase morreu, sabia que o veneno dele poderia anular o seu e te matar?! — ele gritava.

— Cale a boca, em primeiro lugar. — respondi no mesmo tom. — Até parece que eu ia assistir você dar o seu showzinho, depois voltar no maior orgulho. E que diabos eu faria se estivesse sozinha? Eu não treino por diversão, Alec. Eu preciso aprender a me defender.

Ele me encarou e abriu um sorriso.

— Você fica linda gritando. — Deus! Que ser irritante!

Suspirei alto, e dei-me por vencida. Ele tirou a camiseta e colocou no meu pescoço. A roupa tinha um cheiro gosto; aliás, viciante. Então vi seu peito definido brilhar. O sol já estava se revelando. Ele parecia um diamante — como qualquer vampiro —, mas, dessa vez, eu poderia ver aquela cena eternamente.

Pressionei a roupa contra o ferimento, inalando seu cheiro. Alec é irresistível.

Dessa vez mais calma, soltei outro longo suspiro. Ele percebeu, e ficou me encarando.

— Desculpe por gritar com você. — abaixou os olhos.

— Não importa mais. — resmunguei. — Vem aqui. — chamei, apontando para o meu lado. Ele veio, e me encarou com um sorriso travesso.

— Por que você não ficou quietinha dentro do carro? — perguntou, curioso, olhando para o meu ferimento.

— Porque sim. Porque eu tenho coragem. — ele sorriu de canto.

— Que bom que você tem coragem. Mas falta inteligência. Você tem que aprender os golpes certos. Fazer tudo no momento certo. — ele se recostou sobre a árvore sob a qual estávamos.

A voz dele parecia tão calma... Ele parecia ser o anjo mais inocente de todos, com olhos de rubi ou não. Mas a quem se deve enganar. A irmã dele não é a gêmea do mal. Ele é. Alec é um sociopata, ele age por detrás dos panos. Tanto que ninguém desconfia do lado dele. Jane pode ser cruel como for, mas nem passa perto do irmão.

Porque as piores cobras são aquelas que esperam a presa dentro da moita. Ele tem aquele olhar como se não tivesse culpa de nada. E depois das mortes, dorme de consciência tranquila.

Mas eu queria beijá-lo. Ele era tão atraente, tão lindo... Que um demônio perdoaria seus pecados, por piores que fossem. Que uma criança não acharia nada mais interessante que seus pensamentos. Que qualquer garota se mataria só para falar com ele.

Seus lábios eram convidativos. Eles quase gritavam “me beije”, e minha cabeça fervia só da possibilidade de ter que aguentar mais um único segundo torturante sem provar do seu sabor. Eu parecia uma criança birrenta; queria seus lábios nos meus à qualquer custo.

— Alec. — chamei baixinho, e ele se virou para mim, olhando nos meus olhos. — Me beija.

— O quê? — perguntou assustado, me olhando intensamente.

— Me beija, Alec. — pedi como se fosse um súplica, como se minha vida dependesse daquilo.

Ele não respondeu. Apenas me encarou por dois segundos, fazendo com que eu me desse conta do que acabara de dizer.

Ele explodiu numa gargalhada depois de algum tempo. Apertei os lábios e cerrei os punhos.

Já era.

Alec me encarou, perplexo. Eu havia dado um soco nele. Não que tivesse doído — no mínimo, ele sentiu cócegas — , mas minha mão sentiu o impacto.

Fiz bico, e ele riu mais ainda.

O sol já estava alto. A neve derretia devagar.

Alec voltou seu olhar para mim, e puxou um dos meus cachos, brincando com eles. Ele sorria, como uma criança com a boca cheia de doces.

— Como uma Cullen pode me fazer uma pergunta dessas? — riu um pouco.

— Não precisa zombar de mim. Um “não” seria bem mais maduro, não acha?

— Só um idiota responde uma pergunta com outra. — ficou sério de repente.

“Jura?”, perguntei mentalmente. Ainda bem que isso ficou só na minha cabeça, porque se não ele soltaria aos quatro ventos o quanto sou lesada.

— Obrigado. — foi minha única resposta, mas o tom foi sutilmente irônico.

Eu quis sumir. Estava tão certa de que ele iria me beijar, que meti os pés pelas mãos; agi sem pensar.

— Sim. — ele falou de repente, e girei meu corpo sentado em sua direção.

Meu sangue já havia coagulado. Soltei a camiseta dele e coloquei em meu colo.

— Sim o quê? — me fiz de desentendida.

Ele não respondeu outra vez.

— Quer parar? — perguntei, impaciente. Aqueles joguinhos de sedução estavam me deixando maluca.

Alec não riu. Não sorriu. Não perguntou coisa alguma. Nem fez um comentário que me deixasse propositalmente irritada.

Ele puxou minha cintura, e afagou meus cabelos. Meu coração estava acelerado. Minhas bochechas, coradas. Meu mundo caiu naquele instante.

— Si perfetta, mia bella.¹ — pronunciou em italiano. E então, entrelaçou nossas mãos.

O choque foi inevitável. Sua pele era tão fria quanto o gelo. E eu, tão quente quanto o fogo. Somos água e vinho. E é isso o que nos atrai: como ímãs opostos, se encaixando perfeitamente.

Ele puxou uma de suas mãos com a minha, enquanto a outra se encaminhava para minha cintura, e me puxava urgentemente para ele.

Se aproximou, e juntou nossos lábios. Como se tudo acabasse.

Seus lábios buscaram os meus, e a sincronia era perfeita. Seu hálito gelado me causou arrepios por todo o corpo. A língua dele dançava com a minha, suavemente. Seu beijo era doce, e frio. Ele me puxou, fazendo com que eu sentasse em seu colo.

E eu não sabia mais o que era real. Seu perfume me embriagou. Nada mais existia. Era ele. O tempo todo. Um Volturi. Um sanguinário de primeira categoria. Um inimigo. Com os lábios colados aos de uma criança. Uma criança inconsequente e estúpida. Uma garota fugitiva.

Ele se afastou depois de alguns minutos, mas eu ainda podia sentir seus lábios roçando nos meus. Abaixei a cabeça, envergonhada.

— S-Sinto muito... — gaguejei covardemente. Eu havia travado uma batalha contra o meu coração. Era o medo? O anseio? A falta do que fazer?

A dúvida me matava aos poucos. Por que eu? Por que eu estava tão nervosa? Qual era a droga do meu problema?

Além de estar com um inimigo mortal, claro. Um sugador de almas. Um verdadeiro diabo.

— Me perdoa, princesinha. — falou, tristemente.

— O quê? — arqueei uma sobrancelha, confusa.

— Eu não devia ter feito isso. — respondeu, sem me olhar. Pelo jeito, eu não era a única com vergonha ali.

— Devia sim. — encarei-o, não conseguindo acreditar no que acabara de ouvir.

— Não devia. Você é boa demais, Renesmee. Você não merece um sociopata que age por detrás dos panos.

Nota mental: me matar da forma mais torturante possível.

— Desculpe, não foi por mal.

— É só a verdade. Aliás, isso me faze lembrar que você é pura, e deve permanecer assim. Inocente e intocada. Eu vou acabar com você. Não vamos continuar com isso.

— Não existe nada que possa nos impedir! — falei, apertando meus olhos para que as lágrimas não caíssem.

— Existem seus pais. Meu possível “ex-clã”. Minha irmã. Seus amigos cachorrinhos. Você merece coisa muito melhor que eu, Renesmee. Sua vida é um palco de alegrias. Não quero que se envolva comigo.

— Vai desistir agora, Alec? Você se envolveu. E vai com isso até o fim. Querendo ou não, agora não se trata só de você, ou de mim. Se trata de nós dois. Ouça o que estou dizendo: nunca mais vou largar do seu pé. — sorri.

Ainda estava sentada em seu colo. Nesse momento, eu o abracei fortemente.

— Não me deixa. Eu preciso de você. — sussurrei em seu ouvido. Implorando que não me deixasse.
 

Alec


Não. Não era possível.

Aquela garota se apegou mesmo a mim... E a culpa é minha. Para começar, eu não devia ter persuadido ela, nem mesmo sequestrado — afinal, isso pode se chamar de sequestro; eu a fiz parar o carro e entrei nele — e agora eu iria destruir sua inocência.

Eu não posso dizer que não gosto dela. Eu gosto. E amo. Ela fez eu me interessar pela ideia do amor, pela primeira vez desde... Bem, desde sempre. E eu soube disso desde que a vi crescida. Linda e destemida. Lutando pelo que queria.

Ela ainda estava sentada no meu colo. Quase dormindo. Eu queria fazer mais do que apenas beijá-la, mas é melhor fazer as coisas com calma. Porque antes de amar um anjo, eu deveria deixar de ser um demônio.

Por mais que quisesse negar, por mais que quisesse perder meu lado negro, parte dessa escuridão estaria sempre disposta a voltar novamente. Então, apenas quando a luz de Renesmee cintilasse em meu coração vago, eu seria o que ela quisesse para mim.

Linda, sexy, irresistível. Perfeita.

Beijei seu pescoço, e ela bateu os olhos vagarosamente.

— Te amo, minha linda. — ela sorriu. Mas, antes que pudesse responder, usei novamente meu poder nela. Não iria dizer agora, porque ela surtaria. Talvez depois. Adoro como ela aperta os lábios com força quando está com raiva.

(...)

¹És perfeita, minha bela.



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