The Ruler And The Killer escrita por Marbells


Capítulo 16
Don´t let the the flames tear us apart


Notas iniciais do capítulo

Os comentários têm sido muito motivadores e agradeço a todos os que comentaram. Ah, mais uma coisinha, esse poema (ou tentativa de poema) que está no início do capítulo foi escrito por mim há uns meses. Achei que ele seria útil para o capítulo e resolvi colocá-lo, pois acho que está relacionado com o que acontece.
Boa leitura!



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Não deixe que as chamas nos separem

Não deixe que as chamas nos separem, porque somos feitos de gelo

Um gelo que faz o meu coração ficar veloz e quente

E que me faz chorar, como estou agora.

Não me deixe se você me ama,

Mesmo que nunca tenha dito que sim

Eu sei que você sente o mesmo,

Porque somos feitos de gelo

E eu gosto disso,

Gosto da forma como você me congela com o seu toque

Fazendo-me derreter ao mesmo tempo

E a forma como o meu sangue fica frio

Quando as suas mãos dançam sobre a minha pele.

Então, você pode ficar?

Abra os olhos e não se deixe ir

Não deixe as chamas quebrarem o nosso castelo de gelo,

Não deixe as chamas encontrarem o seu corpo,

Queimando-o de fora para dentro.

Mas, por favor,

Não deixe que as chamas nos separem,

Porque o nosso amor é feito de gelo.

-Isto está muito calmo, - Jean avisou enquanto rondávamos pela floresta – os Idealizadores devem estar a preparar alguma coisa.

-Temos de ter o dobro do cuidado, então.

-O Marvel e a Jean têm razão, algo deve estar quase a acontecer e, pelo que vimos até agora, não deve ser coisa boa.

-De certeza que não é, Cato. De certeza absoluta. – Glimmer chegou-se mais perto de Cato, fazendo com que os braços dos dois se tocam-se. Cato deu um meio sorriso e continuou a andar, ignorando as tentativas, aparentemente falhadas, de sedução da Glimmer. Bom mesmo que ele a ignorou, pois, caso contrário, não restaria nada da loira do Distrito 1 até ao final do dia.

-Acham que eles vão tentar matar-nos?

-A nós? – pensei um pouco – Hum, dúvido, quero dizer, nós somos os carreiristas, aqueles com mais probabilidades de ganhar, certo?

-Certo.

-Então, é provável que o público queire um bom show e, penso eu, ver um grupo de carreiristas a lutar contra a morte e mostrar aquilo que sabe deve ser bem divertido para as pessoas da Capital. Mas não nos devem quere matar, pois somos nós que damos mais diversão ao público.

-Acho que você tem razão, Clove. – com isso, Jean fez sinal para que eu me juntasse a ela, alguns metros atrás de onde Cato e Glimmer estavam, guiando-nos pela floresta.

-O que você quer? – Jean sorriu cumplicemente e apontou para o cabelo loiro a uns metros de nós.

-Sei o quanto é bom a vingança de ciúmes. – abriu os olhos o máximo possível, fazendo Jean soltar uma discreta gargalhada – É, sim, Clove, eu já reparei nessa “coisa” entre você e Cato.

-Não há nada além de uma aliança e vários anos de treinos juntos. – afirmei, tentando parecer firme da minha resposta o máximo possível. Jean, por sua vez, tentou acalmar-me:

-Descanse, não vou contar a ninguém. Além de que eu gosto imenso de ver os foras que o seu garoto dá na Glimmer.

-“Seu garoto”?

-É, ou vai dizer que ele não é seu mesmo? – suspirei e rolei os olhos – Vê? Eu tenho razão!

-Shiu! – Jean pareceu ofendida por eu a ter mandado calar, mas algo estava errado, muito errado mesmo.

-Hey! Eu aqui tentando te ajudar e você…

-Parem todos! – gritei quando, mais uma vez, ouvi o mesmo som discreto e suspeito.

Todos pararam quando ouviram a minha ordem. Cato olhou para mim, buscando alguma resposta na expressão do meu rosto; Glimmer foi a que mais ignorou o que eu disse, mexendo ligeiramente o pé direito de um lado para o outro, mas o som que ela fazia era tão baixo que quase que não chegava até mim; Peeta era o mais sério de todos eles e parecia ter ouvido o mesmo som que chamara a minha atenção; Marvel, por sua vez, parou numa posição um tanto que lamentável: com a boca entreaberta e o rosto cheio de cicatrizes feitas por Cato e alguns galhos que se metiam nos nossos caminhos, as suas pernas estavam um pouco fletidas e a lança dele quase que o fazia perder o equilíbrio e cair no chão coberto de folhas amareladas, pedras e galhos. Além disso, Jean já não parecia ofendida, tendo agora percebido o motivo da minha exaltação.

-Vocês ouviram isso? – murmurei, esperando que o som se repetisse.

-Não ouvi nada. – Marvel respondeu e Glimmer concordou.

-Eu também não ou…

Voltei a ouvir o som, agora, um pouco mais alto. Não, o som não estava mais alto. Ele parecia estar mais perto.

-O que é isso? – Peeta parecia assustado e aposto que a sua dúvida era a mesma igual á de todos nós.

-Não sei, mas parece… não sei.

-Não… - Cato murmurou e fez uma careta, inalando o aroma que o parecia ter perturbado e, quando percebeu o que aquilo significava, a sua expressão mudou repentina e drasticamente de confusa e desconfiada para surpreendido e chocado – Não pode ser!

-O que é, Cato? – sussurrei e olhou para mim com medo e sussurrou de volta:

-É um incêndio! – nesse preciso momento, uma enorme bola fumegante e ardente passou mesmo á minha frente.

Pude sentir o calor vindo da bola de fogo quando a mesma passou a menos de um metro do meu rosto. Desiquilibrei-me um pouco com a velocidade da bola de fogo e, desorientada, quase caí no chão devido á confusão e aos gritos de Glimmer, Jean e outras vozes que não reconheci.

Levantei-me imediatamente, ignorando a barreira de fogo que se formava a poucos metros de mim e corri até onde Cato e Glimmer estavam. Peeta, Marvel e Jean não estavam em nenhum lugar onde eu os pudesse ver, o fumo dificultava, não só a respiração, mas também a minha visão.

-Cato! – uma outra bola de fogo passou á minha frente,  aterrando entre Glimmer e Cato. Cato foi lançado ao chão e uma árvore caiu no sítio onde ele estava – Não! Cato! – o medo e o desespero me corroeram naquela momento e, evitando as bolas de fogo que eram disparadas repetidamente, fui até onde ele estava, debaixo do tronco de uma árvore. Vi pelo canto do olho uma figura a correr rápido e para longe de nós, onde o fogo não a podia alcançar. Glimmer.

http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&NR=1&v=sgRb_lfIZ6A(N/A: Aconselho a ouvirem isso enquanto lêem o capítulo)

-Clove… - ele murmurou com um sorriso fraco.

A situação era complicada, Cato estava estendido no chão, com algumas queimaduras no rosto e um corte feio no queixo; em cima dele, uma árvore prendia a sua perna e o braço direitos. A árvore – ou o que restara dela - estava em chamas – ainda pequenas -, eu tinha de o tirar dali antes que o fogo chegasse ao corpo de Cato.

– Vá embora. Eu fico bem. – neguei e aproximei-me mais, caí de joelhos ao seu lado e acariciei o rosto machucado de Cato. Doía-me imenso vê-lo assim, ele não podia morrer agora. Não agora. Merda, logo agora que tudo estava a ir tão bem! Eu podia estar naquela situação, era eu quem devia estar naquela situação, não ele. Não o garoto da espada, o único garoto que me fazia sorrir e sentir tão livre e presa ao mesmo tempo. Porque eu estava presa a ele e era incapaz de abandonar o garoto que, estupida e irreversivelmente, eu amava.

-Não, - a minha voz saiu fraca e não tão firma como pretendia, mas continuei – não vou deixar você aqui. Se você morrer, eu vou logo atrás, Cato.

-Não! – a expressão no rosto de Cato era quase insana, misturada com dor e desespero – Saia daqui! Você não pode morrer, Clove, não pode! Vá embora! – ele griatava, debatendo sob o tronco da árvore, fazendo com que alguns cortes começassem a sangrar.

-Hey, eu não vou te deixar, garoto, meta isso na cabeça. – afirmei com seriedade e ele choramingou de olhos fechados – Eu… Cato, eu vou te ajudar a sair daqui, está bem? Nós vamos ficar bem. – os seus olhos azuis se abriram e, para minha surpresa, algumas lágrimas escorreram pela sua pele, contornando as curvas do rosto de Cato. Não sabia se a causa das lágrimas de Cato eram de dor ou de frustração por eu não ir embora, mas eu sabia que elas me faziam sentir fraca e com dor.

-Como, Clove? – ele murmurou com a voz fraca – Olhe, - a sua mão livre rodopiou no ar, apontando o lugar á nossa volta, que, cada vez mais, ia sendo consumido pelas chamas. Nós tinhamos de sair dali rapidamente – como espera conseguir tirar-me daqui, hein?

-Não sei, - admiti – mas vou tentar e vou conseguir, nem que eu morra a tentar.

-Não diga isso!

-Oh, Cato, cale-se, está bem? – o garoto bufou e fechou os olhos, abanei a cabeça em desespero – Não faça isso! – gritei exaltada.

-O quê? – os olhos azuis de Cato se abriram e ele me fitou com confusão, segurei o rosto dele entre a sminhas mãos e aproximei-o do meu.

-Não feche os olhos, Cato. Eu já volto, ok? – ele riu e assentiu.

-Está bem, mas, se é para me fazer sair daqui, seja rá pida, esta merda dói para caramba! – ri sem vontade e beijei-o rapidamente.

-Eu já volto, Cato. Não se atreva a morrer, porque se fizer isso eu juro que te pressigo até no Inferno. – Cato dá uma gargalhada e pareçe arrepender-se, pois geme de dor e pragueja, mas eu já estou de costas voltadas para ele, andando entre as árvores caídas e o fogo, á procura de algo ou alguém nos ajude.

Não tinha muito tempo, o fogo apenas aumentava e eu já começava a snetir-me sufocada pelo fumo. Felizmente, aquela parecia ser a zona menos afetada, pois embora várias cortinas de fogo se erguessem vários metro acima de mim, as chamas moviam-se lentamente. A única exceção eram as bolas de fogo que, agora, eram mais peqeunas e menos frequentes, mas igualmente fatais.

-Vá lá, vá lá, Clove, pense em algo. – murmurava para mim própria. Não tinha ideia do que fazer para ajudar Cato e recusava-me a desistir. Enoboria ensinou-me que desistir era para os fracos e eu não podia dar ao luxo de ser fraca naquele momento. E foi aí que vi um pedaço grande de madeira. O pequeno e chamuscado tronco tinha quase a minha altura, mas era largo e parecia ser bem forte – Já tenho a arma. Agora tenho descobrir como levar essa coisa para lá. – aproximei-me cuidadosamente  do tronco, evitando algumas chamas que estavam ali perto, e começei a arrastá-lo para o sítio onde Cato estava, a uns vinte metros dali.

O fumo começava a tornar-se insuportável e os meus pulmões pareciam ter sidos arranhados, tal como a minha garganta. Sentia vontade de vomitar e sabia que se me demorasse muito mais ali isso iria acontecer.

Quando cheguei perto de Cato, nem olhei para ele, não havia tempo para distrações e, sem dúvidas, o rosto de Cato, com cortes ou sem cortes e com sangue ou sem sangue, era igualmente distrativo para mim. Com os músculos a gritarem de dor, coloquei o pequeno tronco sob aquele que estava em cima do lado direito do corpo de Cato. Com força e esforço, forçei o pequeno tronco para baixo, levantando o tronco que estava em cima de Cato. No início, foi díficil, o tronco não cedia e os meus pés escorregavam, assim como as minhas mãos, que estavam cobertas de suor. O fogo também não ajudava, pois cada vez mais havia fogo há nossa volta e eu começava a ficar um pouco zonza e desorientada, mas, primeiro, eu tinha de tirar Cato dali, depois sim eu podia entrar em desespero ou, quem sabe, até desmaiar. Mas, primeiro de tudo, eu tinha de tirar Cato dali.

-Vá lá, merda de tronco! – rosnei e, num surto de adrenalina, dei um murro no tronco, forçando-o para baixo – Oh, caramba! – olhei o tronco em choque, ele tinha realmente saído de cima do corpo de Cato. Eu tinha conseguido!

Foi aí que percebi o estado de Cato, aquilo era mesmo grave. Cato tinha apenas o lado direito do corpo machucado, mas nele estavam espalhados várias queimaduras e alguns cortes, que sangravam abundantemente. Além disso, e para piorar as coisas, as chamas estvam a cercar-nos cada vez mais e nós tinhamos de sair dali imediatamente, pois, caso contrário, não haveria mais saída e morreríamos os dois. Mas, isso estava fora de questão.

-Cato, consegui! – exclamei rindo, é o calor estava a afetra-me de verdade. Limpei o suor da minha testa e coloquei-me de joelhos no chão, ainda de gatas, fui até Cato. O rosto dele estava virado para o outro lado, então, cuidosamente, abanei o seu ombro – Hey, Cato, vamos, já podemos ir. – não houve resposta e começei a ficar preocupada. Abanei-o com mais força – Cato, vamos! Cato? – virei o seu rosto e, quando vi que aqueles olhos azuis estavam fechados e a expressão dele era serena, quase entrei em choque. Admito, eu fiquei louca naquele momento. Não sabia o que fazer e Cato não acordava, por mais que eu o chamasse ou abanasse ele não acoradava e o tempo não parava – CATO! – gritei, chorando. Sim, chorar era um sinal da fraqueza, mas era isso mesmo que eu era sem Cato, fraca e frágil. Completamente o contrário do que era suposto eu ser, forte e inatingível. As lágrimas eram quentes e molhavam o meu rosto, os soluços inrompiam do meu peito e Cato continuava sem acordar. O canhão ainda não fora disparado, isso queria dizer que ainda tínhamos hipóteses – Eu vou tirar você daqui, eu prometo. – disse com firmeza, limpando as lágrimas e arrastando o corpo pesado e forte de Cato pelas árvores em chamas.

Eu já tinha uma pequena ideia do peso de Cato, ele era alto e treinava desde pequeno, por isso, não podia pesar o mesmo que aqueles garotinhos que são carne e osso. Mas, caramba, ele tinha de fazer dieta! As minhas costas doíam e eu tinha de ranger os dentes com bastante força para não gritar de dor, á medida que arrastava o corpo de Cato para um lugar seguro, não muito longe dali. Alguns minutos depois, chegámos a uma área da arena onde a relva já era claramente vísivel e não havia fogo nem bolas em chamas a perguirem-nos. Estávamos a salvo. Pelo menos era isso que eu desejava.

Ajoelhei-me ao lado de Cato e toquei no seu rosto, desenhando linhas invisíveis sobre a mandíbula dele. Deus, ele não podia morrer. Não agora nem nunca. Quero dizer, haveria um dia em que Cato ia morrer, mas seria senhor idoso e resmungão que gritava com as crianças e as assustava com as histórias do tempo em que esteve na arena. Esse era o futuro de Cato, porque ele tinha um futuro. Cato ia sair daquela arena, ia ser coroado vencedor e ia morar na Vila dos Vencedores. Depois, Cato ia conhecer alguém e eles iam casar-se, ter filhos e morrer. Mas era só aí que Cato tinha a minha permissão para morrer. Não agora que estávamos na arena. Não agora quando eu ainda não lhe tinha dito que o amava e que, mesmo sendo sádica e louca, ele era a minha pessoa*, aquela que sabia tudo sobre mim, aquela pessoa que não precisava de me perguntar “Está tudo bem?” porque olhava nos meus olhos e já tinha a resposta. Cato era tudo isso para mim e, por essa mesma razão, ele não ia morrer, eu não ia deixar.

-Cato, por favor… - a minha voz era fraca e alguns soluços escapavam da minha boca. Todas as partes do meu corpo doíam e os meus pulmões gritavam de alívio pelo ar puro, mas eu teria tempo para me preocupar comigo depois – Você não pode morrer, não pode! – o meu coração estúpido e egoísta se apertava á medida que eu afagava o rosto de Cato, esperando que os olhos dele se abrissem – Por favor, abra os olhos, Cato. Por favor! – e foi aí que o choro de tornou descontrolado. Eu parecia uma garotinha de cinco anos a chorar. Sem forças, o meu corpo caiu ao lado do de Cato. Sabia que aquele era um ato estúpido e que estaria desprotegia e vulnerável se algum tributo aparecesse, mas não me importei e, lentamente, levei os joelhos ao peito e encostei-me ao peito de Cato, abraçando-o com força.

-Auch… - os meus olhos abriram-se em espanto e uma exclamação saiu da minha boca – Clove?

-Cato, oh meu Deus! – levatei-me num pulo e fiequei de joelhos – Você acordou!

-Clove, você está a chorar? – Cato falava bem baixo e a voz dele estava rouca. Ele analisava o meu rosto, com uma expressão confusa, enquanto eu o abraçava com cuidado.

-Sim. Não. Sim, mas… Esqueça! – num impulso, levei os meus lábios aos dele. Aquele foi um beijo completamente diferente daqueles que já tinhamos dado. Cato, mesmo fraco, apertava com força e possessividade a minha cintura e gemi quanto eu mordia o seu lábio ou puxava os seus cabelos com um pouquinho mais de força. Eu, por minha vez, estava eufórica e aliviada. Nenhum contato físico parecia ser suficiente naquele momento, mas tínhaos de respirar. Merda de oxigénio!

-Hey, pequena, não chore. – ele pediu quando nos separámos, ofegantes, mas abraçados.

-Você, você me assustou, seu desgraçado! – exclamei com raiva, ao esmo tempo que um soluço escapava dos meus lábios. Cato riu e gemeu de dor – Seu estúpido, pensei que você ia morrer! Nunca mais faça isso!

-Ok, ok, mas, Clove, o seu rosto está cheio de machucados. – encolhi os ombros e afastei-me dele – Temos de limpar isso. – olhei para ele, incrédula e Cato riu da minha expressão, zombando de mim.

-Sinceramente, eu não sei o que vi em você. – murmurei, abanando a cabeça, mas voltei a aproximar-me dele e afaguei carinhosamente o rosto cheio de queimaduras e cortes de Cato.

-Eu também não sei o que viu em mim. – inclinei a cebeça para trás e soltei uma gargalhada desprovida de humor, aquilo era sério, Cato era o mais importante naquele momento. Se não limpasse as feridas de Cato, elas iriam infetar e tudo o que eu fizesse para o proteger seria em vão, Cato morreria - Mas, admita, você me ama! – não sei como, mas eu corei. E corei muito! – Você está corando!

-Hum… - baixei a cabeça e pus-me de pé. Continuei a olhar para os meus sapatos, enquanto as gargalhadas de Cato, seguidas por gemidos e grunhidos de dor, se faziam ouvir naquela pequena campina – Esqueça isso, Cato. Agora, você é a prioridade, tenho de limpar esses macucados e as suas queimaduras, não podemos deixar isso infetar.

-Vou atrasar você, Clove. – ele disse, num tom mais sério – Seria melhor se me deixasse aqui e continuasse e, talvez, você até podia voltar a juntar-se ao grupo, eles devem estar por aí.

-Não diga disparates, Cato. – ele estava a ser parvo e ingrato. Quero dizer, quase morri para o salvar de uma floresta em chamas e, agora, ele me pedia para o deixar morrer no mato? Nunca, só mesmo por cima do meu cadáver – Consegue levantar-se?

-Hum… - Cato apoiou os dois cotovelos no chão e deu impulso, mas, quando estava a conseguir pôr-se em pé, caiu de costas no chão – Merda! – corri até ele e segurei a mão de Cato, que , agora, esperneva e grunhia de dor.

-Onde dói mais? – perguntei, tentando transmitir na minha voz uma calma que eu não sentia, porque, na verdade, eu estava assustada por ver Cato tão vulnerável.

-A minha perna. – ele sussurrou, apontando para a perna direita, a mesma que tinha sido esmagada pelo tronco – Porra, como isso dói!

-Tenha calma, Cato, isso vai passar. – murmurei, mas nem eu acreditava nas minhas próprias palavras, porque dava para ver o quanto aquilo estava grave – Agora, eu vou ver a sua perna, está bem? – Cato abanou a cabeça.

-Vá embora, Clove, não vale a pena ficar aqui. Ganhe por nós os dois. – as lágrimas estavam prontas para voltar com toda a força, mas fui mais forte e reprimi-as. Cato precisava de mim, eu tinha de ser forte.

-Não, Cato, não vou fazer isso. Ganhar sem ter você ao meu lado nunca ia valer a pena. – murmurei contra o seu ouvido, o que fez com que a respiração de Cato se acalmasse e os seu solhos se abrissem, fixando-se nos meus. Cato lançava-me um olhar repreendedor.

-Pequena… - pus a minha mão sobre os seus lábios, impedindo-o de continuar.

-Não diga nada, Cato, apenas esteja quieto e diga quando doer muio, pode ser? – Cato pareceu hesitante em concordar, mas fê-lo passados alguns segundos:

-Pode ser, - sorri para ele – mas você tem de aprender a ser menos teimosa e a respeitar a vontade dos outros.

-Oh, como se você estevesse em estado de me repreender! – disse secamente, enquanto me aproximava da perna de Cato e, com uma faca, fazia um corte no tecido das calças.

-Hey, isso era mesmo necessário?

-Não, mas se não fosse isso teria de ser algum ser vivo. – Cato rolou os olhos.

-Haha, Clove, sempre tão bem humorada.

-Posso não ter um grande bom humor, é verdade, mas não sou eu quem nem consegue levantar-se. – Cato bufou e eu ri da sua reação. Eu podia amá-lo, mas, independentemente disso, nunca iria parar de zombar dele sempre que tivesse oportunidade.

-Cale-se, Clove!

Voltei a colocar a faca dentro do meu casaco, junto às outras que eu tinha colecionado, e resguei o tecido das calças de Cato, fazendo-o praguejar algo incompreensível. Ignorei o meu parceiro de Distrito e, totalmente concentrada, analisei o estado da perna dele.

-E então, vou ficar sem perna? – Cato perguntou, impaciente com o meu silêncio.

-Pareçe que não, mas também não acho que vá conseguir andar durante os próximos dias. – murmurei num tom inespressivo.

O meu peito estava apertado e apetecia-me começar a chorar outra vez. Era verdade, a perna de Cato não estava assim tão mal, mas também não estava nada bem. Havia um corte fino, mas profundo que devia ter uns 10 centímetros de comprimento e, mesmo ao redor desse corte, estavam várias queimaduras e bolhas. Ainda inexpressiva, tirei a minha mochila das costas. Já me tinha esquecido desse pequeno e útil objeto e finalmente percebi porque é que os meus ombros se queixavam tanto de um peso que eu não me lembrava carregar. A preocupação e a determinação tinham-me feito esquecer da mochila e das facas que carregava comigo. Abanei ligeiramente a cabeça e abri a mochila, retirando do seu interior a minha garrafa de água. Abri a garrafa e borrifei um pouco de água na ferida na perna de Cato. A dor devia ser terrível, mas ele esforçava-se para não a deixar transparecer. Como sempre, Ctao Ruthless não queria expor as suas fraquezas. Essa atituade era típica de um carreirista.

-Hey, você está bem? – ele perguntou, quando eu já tinha colocado a garrafa dentro da mochila (que agora estava estendida no chão).

-Sim. – menti e, sem me aperceber, já estava a chorar de novo – Merda! – limpei as lágrimas e virei o rosto, não permitindo que Cato me visse a chorar.

-Clove, venha cá! – ele pediu, com preocupação e dor evidentes na voz.

-Não, eu já vou ficar bem. – funguei e o choro pareceu aumentar ainda mais – Tente… Tente descansar, Cato, eu já vou tratar da sua perna. – mas era mentira, porque eu não tinha nada para curar as queimadiras e os machucados de Cato. A água podia aliviar a dor, mas não havia mais nada que eu pudesse fazer. Ele ia morrer e a culpa era minha, porque eu era inútil e não sabia como curar a porra de uma ferida! Com esse pensamento, o choro intensifcou-se de tal forma que eu quase nem conseguia respirar direito, o que já não era fácil devido ao fumo que inalara durante o incêndio.

-Clove, venha cá! – ele repetiu e eu me afastei mais – Clove! – agora Cato já gritava, enquanto tentava levantar-se e chegar até mim, provavelmente, para me confortar. E saber que, cheio de dores, Cato estava preocupado comigo, fazia-me sentir ainda pior.

-A… A culpa é minha! – soluçei quando, num impulso, fui até Cato e o abraçei, enterrando o meu rosto no seu pescoço – Desculpe-me, Cato. A culpa é minha.

-A culpa não é de ninguém a não ser da Capital, Clove. – ele murmurou e bejou o topo da minha cabeça – Não chore, pequena, eu não gosto de ver você chorar. – a voz de Cato estava triste e quase que me implorava para parar de chorar, mas tal tarefa parecia ser impossível naquele momento.

-Você não pode morrer, Cato. – soluçei, agarrando o rosto dele entre as minhas mãos e olhando diretamente naqueles olhos que, agora, estavam quase sem brilho – Todos menos você.

-Eu não vou morrer agora, Clove. – ele garantiu, afagando as minhas costas – Nós vamos matar muitos tributos ainda.

-A “Garota em Chamas”.

-E o loverboy, ele é muito irritante. – Cato fez uma careta ao pronunciar a alcunha de Peeta e, fracamente, eu ri, ainda fungando, mas o choro já começava a cessar.

-Então, promete que não vai morrer? – Cato beijou a minha testa e deu um meio sorriso.

-Isso é impossível, pequena, um dia vou ter de morrer. – fechei a cara e bufei.

-Prometa!

-Está bem, - Cato tossiu e sorriu – eu prometo que vou tentar não morrer. Está bom assim?

-Quase. – sorri e, rapidamente, beijei-o. Cato apertou a minha cintura e gemeu contra os meus lábios, não sabia se era de dor ou de prazer, mas continuei.

-E agora? – os seus olhos já estavam mais vivos e o brilho era mais intenso.

-Agora sim, está perfeito.


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Notas finais do capítulo

Não gostei muito do capítulo, mas levei montes de tempo a tentar melhorá-lo e esse é o resultado final. Além de que nunca estive nem vi um incêndio e não faço ideia de como é estar numa situação como essa. Então, peço compreensão e, é claro, as vossas opiniões. O próximo capítulo vem amanhã. Comentem! Até lá!