Não grite por mim dessa vez, porque já não há mais nada que eu possa fazer por você...
Minha boca está seca, minha mente bloqueada... Tudo o que eu posso sentir agora é o frio pulsante e latente...
Porque já não há mais nada para sentir, nada pelo que chorar, nada pelo que lutar...
E você continua sentado aí, zombando da fraqueza das pessoas, sem se dar conta de que a maior fraqueza do mundo está dentro de você... Não há glória nenhuma em ser forte, isso é apenas a casca que permeia a desgraça da humanidade... Só o que existe é a dor, a miséria e o choro da criança faminta.
Por isso, se você me perguntar mais uma vez, tentando encontrar uma resposta absoluta para todas as coisas do mundo, eu te direi que o filósofo não estava tão errado assim... O Homem é a construção e a destruição do próprio Homem.
Então não me venha de novo com suas teorias que nada explicam, a não ser uma forma de vida que só existe em você mesmo.
E eu ainda estou aqui, presa dentro de casa, esperando pela chuva que não passa nunca... Não há pra onde fugir, as goteiras já invadiram os quartos e não tardará em alcançar a sala... Não há para o que correr, todo esforço é inútil agora porque eu já estou fraca... eu sempre fui fraca demais, porque estive perdida em um oceano de lágrimas e idéias desconexas. Sangrando em um mundo onde ninguém pode me enxergar...
Eu estou vazia por dentro... Vazia como um balão que alegra a festa, mas que não suporta a falta de emoções e explode em confetes melancólicos.
Você foi embora... E não importa o quanto eu procure, eu jamais tornarei a encontrar a minha casa com o anjo triste... Porque ele nunca mais poderá existir, talvez nem sequer tenha chegado a existir algum dia... Tudo isso foi uma grande loucura, ilusões de uma primavera extinta.
E eu continuo sozinha com meus monstros interiores a me atormentar... Lá fora a chuva continua a cair... Lá dentro ainda posso ouvir o choro da criança...
Onde está o anjo triste agora?
Ele não virá...