Primeiro dia de aula na escola nova. Joey sempre abominava esse dia. Era como se a lei de Murphy se juntasse a todas as sextas-feiras treze do ano e fossem contra ele. Pisando no colégio, ele já se sentia um estranho, algumas pessoas olhavam para ele de uma maneira estranha, como se não fosse bem-vindo.

Naquele momento, ele deixou as coisas no armário e começou a procurar as únicas pessoas que conhecia na cidade: os Addams.

Mesmo após procura-los pelo colégio inteiro, não encontrou Wandinha nem Feioso em nenhum canto.

“Devem ter faltado hoje.”, ele pensava. Ele havia pesquisado, e Cemetery Lane era uma cidade minúscula, com poucas escolas. A chance de os Addams estudarem na mesma escola de Joey era enorme.

Ao chegar em casa, Joey almoçou o mais rápido que pôde, subindo correndo as escadas para seu quarto e rapidamente indo direto para seu telescópio, para ver se Feioso estava lá. Quando ele achou o quarto, parecia vazio.

Esperou alguns instantes, e quando estava prestes a desistir, viu algo se mexendo. Algo não, alguém. Wandinha.

“Dã! Esse é o quarto dela, seu burro!”, disse Joey para si mesmo.

Ela tinha uma visão precisa. Sem o telescópio, ela pôde ver que Joey a estava olhando, e o encarou por alguns instantes. Joey sentiu suas bochechas corando.

“Idiota! Ela não sabe do outro dia! Agora ela acha que você estava espiando ela!”, ele parou e pensou por um instante no que acabara de raciocinar, o que o fez corar mais ainda.

– Eu não estava... Hã... Fazendo o que você estava pensando! – ele gritou desesperado pela janela, na esperança de que ela ouvisse.

Wandinha fez um sinal, dizendo que não escutava e então se abaixou. Quando ela se levantou, Joey pôde ver pelo telescópio algo em sua mão.

“Um... Um... Um... Arco? Isso. É um arco e uma flecha que... AI MEU DEUS, ELA ESTÁ APONTANDO PARA CÁ!”, ele pensou e rapidamente, com todos os seus reflexos, conseguiu se abaixar, a flecha raspando em seus cabelos escuros. “Nossa, será que ela ficou tão ofendida assim?”, ele pensou.

Lenta e cautelosamente, ele se levantou. Foi de imediato examinar a flecha, que parecia ter um papel amarrado. Uma mensagem!

Caro garoto dos biscoitos – cujo nome eu realmente esqueci – por favor, nunca mais bisbilhote meu quarto, se você tem amor pela vida. Grata, Wandinha.

Aquilo estava escrito em uma tinta vermelha um tanto estranha, que ele nem ouso pensar que era sangue.

“Droga! Agora ela acha que eu sou um tarado!”, ele pensou, “Mas como eu respondo para ela? Arco e flecha eu não tenho...”. Ele olhou em volta. “Há! O estilingue!”.

Perdão. Eu realmente não quero que você pense coisas... Estranhas... É que eu não vi você nem seu irmão na escola hoje. E queria saber se está tudo bem.

Ele amarrou numa pedra e, com o estilingue, tentou fazê-la atravessar a rua. Não chegou nem até a calçada. Droga. Precisava de algo mais forte. Olhou para cima da mesa e teve uma ideia um tanto estranha.

– Um foguete! – disse para si mesmo

Escreveu o bilhete novamente e o amarrou em um de seus fogos de artifícios. Mirou bem e o acendeu. Por sorte, o foguete entrou direitinho na janela de Wandinha, sem quebrar janelas ou acertar a cabeça dela. Ele observou sua reação.

“Acho que aquilo foi um sorriso...”, pensou. Outra flecha veio.

Você me fez rir. Nós não vamos à escola. Mamãe diz que não há nada que se possa aprender na escola que seja útil. É, garoto, parece que você está sozinho.

P.S.: Obrigada, agora minha parede tem um buraco.

– Ótimo, Joey. Você é um idiota. E solitário. Ela nunca mais vai querer falar com você! – E foi quando outra flecha quase acertou sua cabeça.

Você é mesmo amador. O máximo que foguetes comprados podem fazer é um buraco na parede. Se você quer um resultado de verdade, deveria faze-los em casa. Venha, eu ensino. Se tiver coragem. Feioso também está a fim de “brincar” com você. Wandinha

– Isso é um encontro? – ele perguntou para si mesmo. Então veio mais uma flecha.

Não é um encontro. Venha.

Confuso, Joey vestiu o casaco e desceu as escadas.

– Onde você vai? – perguntou a mãe

– Na casa dos Addams.

– Se tornaram amigos? – ele balança a cabeça negativamente – Então como sabe que foi convidado?

Ele não responde nada. Só lhe entrega a flecha e o último bilhete, saindo em seguida, deixando a mãe confusa sozinha na cozinha.

Já na porta da casa deles, Wandinha abre a porta.

– Demorou. Você tem certeza de que quer entrar? É corajoso o bastante? – ele balança a cabeça positivamente – Ótimo. Está vacinado?

– Hã... Sim.

– Então entre. Venha, eu te mostro a casa. Ah, e nunca – nunca mesmo – baixe a guarda, Joseph Anderson. Não aqui. Não comigo. – e lhe lançou um sorriso, no mínimo, assustador.

Ela mostrou a sala, cheia de armas de tortura medieval, a cozinha, cheia de membros decepados, os quartos, com camas de espinhos, as bibliotecas, com milhares de livros sobre morte, e cada cômodo era mais tenebroso que o outro.

– E este, é o meu quarto.

Bonecas decaptadas, guilhotinas, bombas, arco e flechas, e... O Feioso amarrado e pendurado no teto.

– Pô, Wandinha, você demorou demais! Já estava até achando que ia ter que brincar sozinho!

Brincar. Aquela palavra o fez recuar. Wandinha havia dito que Feioso queria brincar – entre aspas – com ele. Engolindo em seco, Joey começou a sentir um pouco de arrependimento de ter vindo.

Wandinha atirava e torturava seu irmão das mais diferentes maneiras que se podiam imaginar. E ele parecia se divertir com isso. Entre gritos e gritos, Wandinha se virou para Joey e o encarou com um estranho brilho nos olhos e uma arma na mão.

– Agora, Joseph, é a sua vez – já estava mirando para o garoto, que estava contra a parede.

– Crianças, o que vocês estão fazendo? – perguntou uma mulher no corredor.

– Brincando, mãe! – disseram os irmãos em coro.

– Tudo bem – a mulher abre a porta – Parem um pouco e vamos jantar! Vovó fez o sopão secreto dela hoje. Joey, que bom que está conosco hoje! Venha, jante conosco. Vovó pôs cotovelos extras na sopa hoje!

– Não, senhora Addams, obrigado mesmo, mas eu já estava de saída. – disse ele enojado – Tchau gente! Nos vemos... Um dia! – Joey não conseguiu evitar fugir correndo.