- Por que não vamos ao shopping? Soube que abriram uma loja nova linda semana passada! - Sugeri.

- Shopping?! Sem chance! - Exclamou Katie. - Da última vez que eu fui ao shopping com a minha mãe eu tive que andar o shopping inteiro duas vezes para ela comprar só uma blusa e uma sandália! Por que não vamos então na loja de doces que tem do outro lado da rua?

O que estava acontecendo? Simples: discussão sobre onde iríamos depois da aula. Por que? Bom... Eu e Katie ficamos na mesma turma de estudos sociais esse ano e o professor passou um trabalho em dupla (o qual eu fiz com a Katie) em que nós teríamos, primeiro, que conhecer uma a outra muito bem! Então tivemos a idéia de sair depois da aula para fazer um lanche ou só passear e conversar. 

Acho isso um bom começo, pois toda vez que começamos a conversar, algo nos atrapalha, como o final do intervalo ou o início de uma aula. O mais intrigante é que, toda vez que o assunto da conversa chega em "família", a Katie acha um jeito de mudar o rumo da conversa ou então diz que está atrasada para a aula e some! O que será que essa garota tem a esconder?...

- Loja de doces? A loja de doces Sweet Dreams? Você só pode estar querendo me matar! - Eu disse rindo. - Eu ainda tenho que caber no vestido de Cinderela em duas semanas, o que eu não vou poder fazer se engordar cinco quilos com os doces de lá!

- Sério? Os doces de lá são tão gostosos assim? - Perguntou Katie ainda descrente.

- Gostosos?! São maravilhos! Parece que eles foram feitos por anjos! - Respondi encantada, me lembrando da primeira vez em que fui lá. Ok, acho que só com esse pensamento eu já engordei pelo menos um quilo!

- Feitos por anjos? - Ela levantou uma sobrancelha.

- Tudo bem, acho que exagerei um pouco... - Dei o braço a torcer.

- Um pouco? - Ela continuou com a sobrancelha erguida.

- É! Quer saber... Vamos na doceria! - Decidi.

- Isso! Mas, espera aí... E o vestido da Cinderela? - Perguntou Katie, entre risos.

- Academia serve pra que? - Perguntei irônica. Nós rimos e nos dirigimos à doceria do outro lado da rua.

Como a loja já era bem conhecida pelos alunos do colégio, em um dia normal ela estaria lotada! Mas hoje não era um dia normal... Bom... Pelo menos não para eles, mas para mim era.

Entenda... Eu não sou muito fã de baseball. Sempre preferí o basquete, mas acho que isso não vem muito ao caso... Voltando... Meu pai me disse hoje de manhã, antes dele ir trabalhar, que hoje era uma final muito importante de dois times (Angels x Dodgers) que estavam empatados em primeiro lugar, sendo que essa era a última rodada do campeonato. Ou seja: o jogo de hoje decidiria o campeão. Resultado: doceria quase deserta (tirando um casal de velhinhos em uma mesa no canto).

Katie olhava maravilhada para tudo. Não era para menos... A loja era realmente incrível! E enorme!

A loja era dividida em três partes.

A primeira era como uma doceria mesmo: um balcão do lado esquerdo, onde, depois de pegar os doces que você queria (que ficavam em potes de vidro do lado direito), colocá-los em um saquinho plástico e pesá-los, você pagava pelo doce e ainda ganhava (dependendo da quantidade de doces) um chocolate quente grátis!

A segunda parte: era como uma cafeteria (com mesinhas para se sentar e tudo!), só que a Sweet Dreams não vendia café, mas sim chocolate quente.

E, finalmente, a terceira parte: a loja em si. A terceira parte era como um supermercado somente de doces! De um lado tinha estantes e mais estantes trasbordando de doces e do outro tinha uns cinco caixas, exatamente como os de supermercado, só que mais coloridos.

- Uau! Se isso for um sonho, por favor não me acorde! - Foi só o que Katie conseguiu dizer. Ela estava parada na porta do estabelecimento, com um sorriso bobo no rosto, como se ela tivesse alcançado o paraíso! 

- É... Eu sei. É incrível, não? - Perguntei, ainda olhando em volta. Fazia muito tempo que eu não entrava alí. 

"Como consegui ficar afastada desse lugar por tanto tempo?" pensei. "Ah! É mesmo... Meu corte de mesada... Pais às vezes são tão cruéis! Deixar a filha sem dinheiro por dois meses é a pior tortura que poderia existir!"

- Então, por que não nos sentamos? - Perguntei à Katie.

- C-claro. - Ela respondeu piscando, saindo do seu transe pessoal. 

Eu só ri e a levei até a segunda parte da loja, onde poderíamos sentar e conversar. Fomos até o balcão e fizemos os nossos pedidos: dois chocolates quentes e dois cupcakes de chocolate. Nos sentamos em uma mesinha.

- Você teve muita sorte hoje. - Eu disse, entre mordidas no meu cupcake.

- Por que? - Katie perguntou, um pouco suja de chocolate quente. Parecíamos duas crianças sujas de chocolate!

- Hoje é uma final muito importante de baseball, ou seja... - Comecei a explicar.

- Todos estão em casa vendo o jogo. Por isso a a loja está fazia. - Ela terminou.

- Exato. - Confirmei. - Em um dia comum, isso aqui estaria cheio de adolescentes! A maior parte lá do colégio!

- Então quer dizer que esse aqui é o "point" - ela fez as aspas com os dedos - dos alunos lá do colégio? - Ela levantou uma sobrancelha.

- Eu sei que é difícil de acreditar, por que aqui é uma loja de doces e não uma balada... Mas a maior parte dos adolescentes lá do colégio se encontram aqui, depois da saída, para, sei lá, conversar, rir... - Olhei para a grande janela que dava para o outro lado da rua e comecei a observar o nosso colégio. - Eu venho aqui desde pequena... A primeira pessoa que me trouxe aqui foi... - Parei por um instante, hesitante. "Será que eu devo confiar meus problemas à ela?" pensei.

- Se você não quiser contar, não precisa. - Me virei novamente para Katie e ela estava com uma expressão solidária no rosto.

Me senti como nas vezes em que eu ia para a casa da Alison e lhe contava todos os meus problemas. Depois ela me convidava para uma tarde de compras para eu esquecer meus problemas e afogar as mágoas em sorvete e chocolate!

Só que agora era diferente. Não era a Alison que me olhava com sua expressão de pena, mas sim a Katie que me olhava com uma expressão indecifrável, um misto de solidáriedade, tristeza e conforto.

- Não, eu... Acho que posso confiar em você. - Então contei tudo à ela, desde como conheci a Alison (no meu primeiro dia de aula) até o fim da nossa amizade. - E é isso. - Eu disse, quando terminei.

Katie ficou em silêncio por alguns minutos, somente olhando para seu copo de chocolate quente vazio. Quando ela finalmente ergueu os olhos de seu copo, eu achei que ela fosse dizer algo do tipo: "Sinto muito!" ou "Ah, meu Deus! Você deve estar sofrendo tanto!", o que realmente não ajudaria em nada, só pioraria a situação. Mas, ao invés disso, ela disse:

- Você e o Derek estão namorando?