- Mas Katie... Eu achei que... - Minha tentativa de falar era ridícula. Eu não sabia o que dizer!

- É, Cindy... A minha mãe morreu há um ano. Ela não conseguiu resistir ao tratamento e... Bom, você sabe. - Ela suspirou. - Desde então eu moro com o meu pai... Tirando, é claro, os nossos empregados... Os quais práticamente me criaram, já que meus pais sempre tinham que ir à reuniões importantes e tal... - Ela sorriu, provavelmente se lembrando de uma das poucas lembranças felizes de sua infância. - O nosso mordomo... Eu queria que você conhece. Ele é como um avô para mim, já que eu nunca conheci o meu verdadeiro avô, pois ele morreu quando eu era muito pequena... E... Esse nosso mordomo... - Ela riu. - Ele parece mesmo aqueles avôs que nós vemos na televisão, sabe? Velhinho, cabelo branquinho... Quando eu era pequena, pedi ao meu pai, uma vez, para deixá-lo usar suas roupas normais ao invés do uniforme e meu pai deixou! Até hoje, ele só usa suas roupas normais lá em casa e nunca esquece de fazer o leite quente para eu tomar antes de dormir!

- Eu iria adorar conhecê-lo! - Respondi com um sorriso. Era bom ver a Katie com um sorriso no rosto ao invés de lágrimas!

- Por que não vamos à minha casa agora? - Ela perguntou, já mais animada, e se levantou da cadeira.

- Agora? Mas acho que já está ficando tarde! - Olhei no relógio. - Já são seis horas! Minha mãe vai ficar maluca se eu não chegar à tempo para o jantar!

- Você pode dormir na minha casa!

- Mas assim, em cima da hora? Seu pai não vai ligar?

- Meu pai? Ligar para quem eu levo lá para casa? - Ela riu debochada. - Você só pode estar brincando! Ele quase não para em casa e, quando para, só fica enfurnado dentro do escritório dele! Eu só o vejo no café da manhã e no jantar! E, mesmo assim, não trocamos uma palavra se quer! Com a mamãe... - Ela se sentou novamente na cadeira, ficando um pouco triste. - Com a mamãe era diferente... Ela práticamente nos obrigava a fazer todas as refeições juntos e sempre tinha algum assunto, para que não ficássemos sem nos falar nas refeições.

- Seu pai é bem distante de você, né? - Perguntei e ela só assentiu, tristemente, com a cabeça. Suspirei, derrotada. - Ok, ok... Vou ligar para a minha mãe e vejo o que posso fazer!

- Obrigada! - Ela sorriu e me abraçou. - Acho que eu não tenho alguém em que, realmente, confiar há muito tempo! E eu preciso te mostrar a minha casa! - Um sorriso malicioso brotou em seus lábios. - Aí você pode falar mais sobre um certo garoto... Que está na peça... Que fará o seu par romântico... Tem olhos verdes...

- Tudo bem, já entendi! - Eu a cortei. - Vou falar sobre o Derek! Feliz?

- Muito! - Ela riu e não tinha como não acompanhá-la!

Eu só ri mais uma vez e peguei o meu celular. Disquei o número de casa e fiquei esperando alguém atender. 

- Alô? - Perguntou minha mãe, do outro lado da linha.

- Oi, mãe, é a Cindy! - Respondi com a voz mais doce que pude. Percebendo a "doçura" na minha voz, o que não era muito comum, minha mãe logo disconfiou...

- O que você quer? - Ela perguntou com o seu típico tom de "Abre o bico, porque você sabe que eu vou acabar descobrindo, mais cedo ou mais tarde!".

- Nossa, mãe! É isso que você pensa de mim? - Fiz minha melhor voz de "filha indignada". - Você acha que eu só ligo para pedir alguma coisa? Será que, pelo menos uma vez na vida, eu não poderia ligar para a minha mãe só para saber se está tudo bem?

- Terminou o discurso? - Ela perguntou com uma voz entediada e percebi que ela devia estar revirando os olhos do outro lado da linha.

- Ok, ok, você venceu! - Sorri. Minha mãe me conhecia como ninguém! - Será que eu posso dormir na casa de uma amiga?

- Que amiga? Hoje? - Ela perguntou, claramente confusa, porque, normalmente, eu dormia na casa da Alison, mas nós não eramos mais amigas...

- É, mãe, hoje. Mais precisamente agora. Eu vou dormir na casa da Katie! Ela é uma nova amiga minha! - Olhei para Katie, mas ela já tinha se levantado para pagar a nossa conta.

- Onde ela mora? - Minha mãe perguntou. "Agora ela me pegou..." pensei.

- Onde... Ela... Mora..? - Perguntei lentamente, para dar tempo da Katie se sentar novamente em sua cadeira e pegar o telefone.

- Olá, Sra. Parks! - Ela disse alegremente. - Eu sou a Katie! Eu convidei a Cindy para dormir hoje na minha casa, porque, além de nós termos um trabalho importante de estudos sociais para fazer, eu contei à ela que sou nova aqui e ela aceitou me mostrar a cidade amanhã! Então eu tive a idéia dela dormir lá em casa para sairmos cedinho amanhã de manhã! E, se a senhora preferir, pode anotar aí o meu endereço...

Como a Katie fez aquilo? Era o que, mágica? Logo que ela me devolveu o telefone, depois de dar o seu endereço, minha mãe deixou eu durmir lá, mas antes eu teria que passar em casa para pegar algumas roupas.

- Uau! - Foi só o que eu consegui dizer.

Estávamos Katie e eu, na frente do portão de uma mansão ENORME, que, por acaso, ficava no mesmo enderço que a casa da Katie... Espera... Essa era casa da Katie.

Depois de passarmos na minha casa para pegar uma mochila com roupas e coisas do tipo, fomos andando até a casa da Katie, já que não era tão longe da minha, mas quando entramos em um condomínio onde só haviam mansões, eu me assustei.

E você deve estar pensando: "Mas com assim? Você mora em Los Angeles, terra das estrelas de cinema! Com alguns passos você já está em Hollywood! Com ficou espantada com algumas mansões?" ou talvez "A garota do seu lado é bilionária! Esperava o que? Que ela morasse em um apartamento de dois quartos com o pai?".

Eu sei, eu sei... Foi idiotice minha ter ficado espantada com aquilo! Eu já passei milhões de vezes por mansões como aquelas... Mas entrar em uma seria muito diferente!

- Julius, você pode abrir o portão? Sou eu, Katie, e trouxe uma amiga. - Ela falou ao interfone.

- Qual é a palavrinha mágica? - Disse a voz do outro lado, mas o estranho era que a voz era mais... Jovial do que eu imaginava.

- Peter! Abre logo o portão! - Disse Katie, ficando muito irritada de uma hora para a outra. 

Quem era "Peter"? Ela não tinha falado "Julius"? Resolvi não comentar nada, só assistir àquela cena que parecia ficar cada vez melhor!

- Só quando você disser a palavrinha mágica! - A voz do outro lado, Peter, rebateu. - Vamos lá! São só duas palavrinhas! - Ele incentivou.

- Não vou fazer isso! Anda logo, Peter, chama logo o Julius! - Ela já estava começando a perder a cabeça. Fiquei imaginando o que aconteceria com o tal de Peter quando a Katie conseguisse entrar em casa... Nada bom ,com certeza!

- Ah, Kay! Qual é? Duas palavras! - Dava para ver, só pela voz dele, que Peter se divertia com aquilo.

- Ah, é mesmo? E não me chame de Kay! Já disse que odeio quando você me chama assim! E eu tenho duas palavras para você: PORTÃO, AGORA! - Ela gritou as duas últimas palavras e eu acho que do outro lado da linha o Peter deve ter ficado surdo!

- Katie? - Uma voz diferente veio do outro lado da linha, uma voz que parecia mais velha do que a anterior, como a de um homem de meia-idade.

- Ah! Julius, graças a Deus! - Disse Katie aliviada e levantando as mãos para o céu. - Por favor, Julius, será que você poderia abrir o portão para nós?

- Aaaaah! Quer dizer que para ele você pede por favor, e para mim não? - Perguntou Peter, que parecia ter aproveitado a saída do tal Julius para voltar ao interfone!

- Cala essa boca, Peter! - Katie gritou e se virou para mim, com um sorriso sarcástico. - Bem-vinda à Mansão Campbell!

Eu só ri e a segui até a porta principal da mansão.