O Garoto Do Prédio Ao Lado escrita por Allyyyne


Capítulo 1
Capítulo 1




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Parte I

Que cara lindo é aquele que está me olhando pela janela?! Ele não pode estar me olhando, ele pode estar vendo qualquer coisa; as petúnias no jardim abaixo, pessoas entrando e saindo do portão, ou então, apenas passando um tempo no parapeito da janela. Ele pode estar fazendo qualquer coisa menos olhando pra mim. Nunca nenhum cara olhou pra mim. Bonito, não. Lindo, não. Perfeito, não.

Não sou feia nem bonita. Sou apenas uma entre milhares.

Quem é ele? Eu sei quem ele é. Ele não mora aqui, vem visitar alguém todos os dias. E só uma jumenta não desconfiaria quem seja esse alguém. Cintia, A namorada. A sortuda. O que ela quer mais da vida tendo Jonathan por perto?! Sempre o achei bonito. Desde a primeira vez. Desde aquela vez. No entanto, sempre soube que Jonathan e Cintia eram namorados, estavam se pegando... –Jonathan e Cintia, Fala sério. Isso não combina. Credo em Deus pai. Vai ficar muito over no convite de casamento. NÃAAAAO, CASAMENTO, NÃO!

Garotos lindos e perfeitos costumam não notar minha insignificante presença, daí, não fiquei muito delirante. Fico delirante quando garotos lindos e perfeitos me dão bola, ou seja, nunca. E nem estou dizendo que Jonathan estava me dando bola, claro que não. Talvez se descobrissem a cura do câncer, passar o feriado na lua e curtir a gravidade, o ENEM tomasse vergonha na cara e acabassem com as fraudes, quem sabe. Mas ele ficava muito na janela, muito mesmo. Qual foi?! Para alguém que está  visitando a namorada, que diga-se de passagem, mora sozinha, portanto pode ficar acariciando seus glúteos 24 horas por dia, por que fica tanto na janela?! Bom, ele pode morar em casa e ainda não se adaptou com o tamanho minúsculo do apartamento em que moramos. Eu mesma já moro aqui há quase quatro anos e às vezes quero voltar para uma casa.

Era magnético. Era como um ímã. Era como aquela aula de física, as partículas, os prótons e o nêutrons. Enquanto ele ficava ali, eu não me concentrava em nada. Não conseguia ler, nem assistir TV. Eu apenas não deixava de ver seu rosto, seus braços, sua pele caucasiana. Jezz, como ele era branco. Como ele era lindo.

Sou antissocial, não tenho amigos aqui, mas sei quem chega e quem sai. Sou os olhos e os ouvidos desse lugar. Ouço tudo. E ouvi quando eles discutiram. Foi ali que percebi que talvez eu estivesse vendo Jonathan não apenas como o namorado da vizinha; eu me senti feliz insidiosamente feliz.

“Não posso fazer isso” “ Não posso roubar o namorado dela” “Não posso fazer isso com ela” “ O que deu em mim?” “Por que ele me tem um olhar tão penetrante” Minha cabeça estava um turbilhão. Eles se reconciliaram, ainda bem. –pensei- não queria ser responsável por qualquer coisa que talvez pudesse acontecer. Não, eu não me permitiria.

Foi na manhã do dia seguinte que as coisas tomaram uma proporção maior. Não costumo tomar banho pela manhã, ainda não sei por que naquele dia decidi fazê-lo. Fui pegar a toalha, nem em Jonathan estava pensando. Quando vi que ele estava lá em cima me vendo, meu coração disparou. Ai meu Deus... Ele poderia estar só vendo alguém que estava pegando a toalha e só isso. Penso em milhares de coisas ao mesmo tempo e logo me esqueci de que ele estava me vendo, logo me esqueci de que ele dormiu com ela. Ai, Deus... O que será que eles estavam fazendo? Provavelmente sexo. Selvagem. Tomei banho e fui me sentar para ler-Suzanne Collins, sua linda-. Estou envolvida e concentrada no livro quando aletoriamente olho pra cima e vejo-o me olhando lá de cima. Dessa vez, ele não estava olhando petúnias ou lilases, não estava passando um tempo, ou marocando quem saía. Ele estava me olhando. Perdi toda a noção, se Katniss estava morta ou viva, se Peeta havia deflagrado uma flecha no coração de Catnip. Nem preciso dizer que meu coração estava feito uma escola de samba, borboletas estavam voando no meu estômago. Porque esse menino me deixa assim?! Por que estou assim? Ele é comprometido, cara, não pode me olhar assim. Jonathan estava me irritando; pois ele namora. Eu sei disso. E ele sabe que eu sei. Ele acha que eu sou o quê? Ele está me usando. Está tirando sarro da minha cara.

Quando foi embora, eu fui vê-lo sair, mas a namorada atrapalhou meus planos. –Ela está nas minhas velas pretas- ela também saiu e me olhou. Ela me olhou com uma cara de nada. Absolutamente nada. Porque ela me olhou? Pensei. O que será que ela pensou? A última coisa que eu quero é alguém querendo comercializar meus órgãos no amazon. Depois de Diego, jurei que nunca moveria um dedo por causa de garotos. Um cílio talvez. Ela pode achar que estou dando em cima do namorado dela e nem de longe estou. Tenho certeza que ele está me trollando.

{...}

Ouço um grito desesperado e tentativas incessantes de controlar a água que vinha da torneira, a pia parecia o rio Tietê. Entupiu. Tentei colocar uma sacola para impedir a água da torneira enquanto dava um jeito na pia. Eu estava encharcada com a mão presa no ralo da pia.

Os bombeiros comprimiram um sorriso com a minha situação deplorável. Eu estava bem nervosa, mas fiquei mais com a cacofonia reunida em frente minha casa. Só a minha mão estava machucada, mas me engessaram numa maca como se eu estivesse saído de um acidente grave.

O hospital estava vazio, milagre. Não vi quando entrei lá, me anestesiaram. Quando acordei alguém estava colocando um remédio para dar a doente, era alguém bonito e bem bonito. Alguém que eu já tinha visto. Jonathan. Ele era enfermeiro?

“Você está melhor?” ele pergunta.

“E..eu...acho que estou” gaguejei. Droga gaguejei

“Você é mecânica?” ele quis saber.

Eu já tinha esquecido por que estava ali, mas, mesmo assim respondi: “Não”

“Então o que estava fazendo com a mão enterrada no orifício da pia”?

Pra mim é ralo, pra ele é orifício. Controlei minha vontade de dizer “Não é da sua conta” mas disse : “ Se eu não ajudar minha mãe, ninguém vai ajudar” Ele me olhou demoradamente e soltou: “Você é madura para 16 anos”

Oi? 16 anos?

“Não tenho 16 anos, tenho 19” disse secamente

O rosto dele se iluminou

“Qual o seu nome?” ele pergunta

“Meu nome é Alicia” respondo.

“Bonito nome, assim como a dona”

Agradeci o elogio e corei, no entanto pensei: que crocodilagem! Ele namora e está elogiando outra! Bom, ele está sendo gentil. Isso não demonstra nenhuma inclinação amorosa da parte dele.

Ele não parava de me olhar. Era só isso o que ele sabia fazer desde que nos conhecemos. Não que eu quisesse que ele fizesse outra coisa, obvio que não. Todas as suas ações eram vigilantes; mas ele encontrava qualquer jeito de me ver. Por cima da sobrancelha, de soslaio, pelo reflexo do espelho. Não saber quem era Jonathan estava me dilacerando. –Alguém me tira daqui! Alguém me tira daqui! Eu rangia os dentes. Ele pegou minha mão com muita delicadeza, como se fosse um pequeno cristal se perdendo no labirinto no que era a dele.

“Sua mão é pequena, parece uma meleca. É bonita” ele falou corajosamente.

Reprimi uma vontade de agradecer o “elogio” em contrapartida sabia que soaria irônica. Ele me elogiou duas vezes aquele dia. Minha mão e meu nome. Jonathan media cada centímetro do meu corpo. Confesso que estar em uma sala sozinha com ele ás portas fechadas me deu medo; ele poderia ser um contraventor de virgenzinhas inocentes. Após envolver minha mão numa gaze, me deu um sorriso safado e se virou.

Eu não ia ficar mais ali; fui embora com trabalho feito pela metade mesmo,minha mãe paga a hora da morte pelo meu plano de saúde, mas quem se importa? Eu só precisava sair correndo dali.

Peguei minha bolsa e disse entre os dentes “Foda-se Jonathan”. Não falei isso com intenção de que ele ouvisse, mas acredito que ouviu. Eu não xingo. Costumo pensar. Mas falar não. Ele deveria ter perguntado como eu sabia de seu nome; pois, ele não tinha se apresentado. Mas ele apenas disse “espere... ainda não term..”

Sei que não terminou idiota. Vá pro inferno você e esse seu perfume penetrante e essa barba por fazer e esses olhos que ainda não descobri que cor é, e esse rosto tão bem lapidado.

Esqueça-me. Dias passaram e Jonathan sumiu da casa da namorada. Será que eles terminaram? Será que andam se encontrando longe daqui, onde ele não pode me ver? Eu não sei. Talvez eu nunca mais eu o veja; Talvez ele nunca mais se lembre daquela garota que o falou mal; Talvez ele faça piada comigo. Vamos esquecer tudo isso, daqui a algum tempo.

Não sou feita de pedra... Apenas  deixe-me paz.

Continua...

“Eu gosto tanto de você que até prefiro esconder; deixa assim ficar subentendido...”


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