Kazabiakis - Antes Da Maldição escrita por Renata


Capítulo 2
Capítulo 1 - Como tudo começou


Notas iniciais do capítulo

Espero que divirtam-se bastante.



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A sirene macabra toca. Hoje será o anúncio do tema da feira de ciência e os alunos estão empolgados com esse evento. Todo ano mais de 5.000 pessoas vão à escola para prestigiar os trabalhos dos alunos. Para os alunos é um dia de trabalho duro, para as pessoas da sociedade é quase uma festa.

A professora de Biologia, a senhora Ticaetá, entra na sala com sua mochila laranja. Ela aparenta ter uns 40 anos, é alta e risonha. Seu astral é tão positivo que todos se alegram diante dela. Ela joga a mochila e acorda os seus estudantes, que dormem babando às 7:15 da manhã nas carteiras:

- Bom dia, meus amados pimpolhos! Hoje terei o maior prazer de anunciar o tema da feira esse ano! Estão acordados? – ela bateu as mãos.

- Bom dia, maestra! – coro geral.

- Primeiramente, cada grupo deverá ter 6 pessoas obrigatoriamente. Bom, pode ter mais pessoas, se quiserem; porém, se o grupo de vocês vencerem terão que sortear as 6 pessoas para uma viagem, afinal o governo nos deu 6 passagens de ida e volta.

- Passagem? Vamos viajar, professora? – disse Teresa, a menina mais tagarela da turma.

- Não todo mundo, querida Teresa. Os vencedores da Feira de Ciência desse ano irão conhecer a nossa maior hidrelétrica, a Usina Hidrelétrica de Itaipu. – Ticaetá disse arregalando os olhos.

- Waul! Que manero! Pela primeira vez, a escola vai finalmente dá um verdadeiro incentivo aos alunos. – Jorge quase berrou na sala, levantando da sua cadeira e comemorando com os braços no alto da cabeça juntamente com um pulinho básico.

- Com certeza, Jorge. Agora, sente-se, por favor, pois ficará mais admirado com o resto que tenho para falar. Como todos sabem, há alguns dias aconteceu a Rio +20, muitos ficaram perguntando por que, nós, professores ficamos falando tanto dessa reunião para vocês, lembram?

- Uhum! – alguns balançaram positivamente a cabeça.

- Porque o tema desse ano será “Água”, no sentido bem amplo. O diretor Vicente anunciou que todas as ideias estarão válidas para concorrer ao prêmio, desde que sejam aprovadas pelos respectivos professores representantes da sala. Então, como represento vocês, os alunos do 3º ano A, quero o projeto dos grupos daqui 2 semanas. Combinado? – ela terminou e sentou na sua cadeira para começar a aula.

Alvoroço na turma. Sempre é assim ao término de uma “excelente notícia”. O tempo passa, os comentários continuam rolando e a ansiedade para a famosa feira aumenta. A manhã foi tão agitada que os alunos só se deram conta do término das aulas quando começou a sirena final, a música de despedida era Planeta Água, do cantor Guilherme Arantes:

Água que nasce na fonte serena do mundo e que abre um profundo grotão.
Água que faz inocente riacho e deságua na corrente do ribeirão.
Águas escuras dos rios que levam a fertilidade ao sertão.
Águas que banham aldeias e matam a sede da população.
Águas que caem das pedras no véu das cascatas, ronco de trovão.
E depois dormem tranquilas no leito dos lagos, no leito dos lagos.

Água dos igarapés, onde Iara, a mãe d'água é misteriosa canção.
Água que o sol evapora, pro céu vai embora, virar nuvem de algodão.
Gotas de água da chuva, alegre arco-íris sobre a plantação.
Gotas de água da chuva, tão tristes, são lágrimas na inundação.
Águas que movem moinhos são as mesmas águas que encharcam o chão.
E sempre voltam humildes pro fundo da terra, pro fundo da terra.

Terra, planeta água, Terra, planeta água, Terra, planeta água.”

Patrícia e Marieta eram amigas desde pequenas. Patrícia é alta, pele branca como uma margarida e seus cabelos pretos azulados a deixavam mais pálida ainda, seus olhos eram azuis. Muitos a chamavam de Paty Fox, porque diziam que ela parecia a atriz Megan Fox. Ela jogava vôlei na escola e era uma das alunas destaques, não devido às melhores notas e sim, ao seu projeto voluntário de ensinar vôlei aos adolescentes envolvidos com drogas e bebidas alcóolicas. Já a Marieta é esbelta, com a pele amarelada e cabelos longos castanhos com as pontas vermelhas, seus olhos são castanhos com pontinhos amarelados perto da pupila. Ela representa a escola nas Olimpíadas de Matemática e Química, mas adora um anime japonês e os mangás, ela consegue passar horas lendo se deixarem.

O grupo estava formado: Marieta, Patrícia, Atasha, Higor, Diego... estava faltando alguém. Será que pode ser apenas cinco pessoas? Patrícia mandou um e-mail a professora para sanar essa dúvida. A resposta:

- “Querida Patrícia, o grupo pode sim ser formado por 5 pessoas, mas 1 pessoa da turma será sorteada para preencher a vaga que falta. Vocês aceitam essa proposta? Bom, se não quiserem isso, sugiro que preencham a vaga. Atenciosamente, Ticaetá.”

Pelo facebook, ela conversou com o resto do grupo e respondeu o e-mail da professora:

- Combinado, professora. Deixaremos a vaga aberta então para o sorteio, caso ganhemos a feira.

Os dias passaram. O grupo correu atrás de patrocinadores do projeto, pois queria algo inovador, mas o cachê financeiro era baixo. Tudo saiu conforme o planejado e eles tinham uma enorme convicção que seriam os vencedores.

O projeto do grupo foi bem diferente. Eles dividiram a sala quadrada em cinco ambientes: no primeiro ambiente, Patrícia falou sobre as algas do mar; no segundo, Higor (ele é um brutamontes forte, afinal ele é lutador de boxe, jiu-jitsu e judô, mas tem um sorriso muito simpático. Vive em dieta controlada porque as lutas são importantes. É ruivo, queimado de sol e de estatura média.) falava sobre os animais marinhos em extinção ou em possível extinção; no terceiro, Diego (um protótipo de cientista mirim, esperto e estressadinho, um amigo muito presente nos bons e maus momentos. Era branquelo, um pouco acima do peso, tinha os olhos como duas jabuticabas bem pretas. Ele cuidava do laboratório da escola e das edições dos panfletos científicos semanais.) mostrava uma prática de uma explosão de um navio com escorrimento de óleo no oceano e, juntamente, falava sobre os prejuízos que essa poluição causa; no quarto, Marieta apresentava soluções para não poluir o meio ambiente marinho e quais as decisões para melhorar essa fauna e flora do mar.

Antes de entrar para o último ambiente, os visitantes comiam alguma coisa na “copinha criada”. Afinal o quinto ambiente era o fator surpresa de toda apresentação. As luzes foram apagadas, as lanternas foram acesas, o som com o barulho do mar foi ligado e iniciou-se a passagem pelo quinto ambiente. Atasha (jovem de corpo ossudo e esguio, com uma pele morena natural e olhos verdes que nem 2 esmeraldas. Por ser magrinha, ela era uma excelente nadadora, tão leve.) vestiu-se de elfa (folcloricamente é considerada um ser da natureza) e, enquanto andava no meio dos visitantes, recitava uma poesia, Água Passageira, para a reflexão dos visitantes:

Um líquido incolor e inodoro

Que mata a sede

Inunda a Terra

Lubrifica os olhos.

Um segredo é guardado

A cada gota que cai

Cresce uma nova ideia

A cada lágrima ou

A cada gota

Que se põe na boca.

Há tempos abundante!

Atualmente em extinção

Dificilmente limpa

Má distribuída em nossa habitação.

Quem de nós não sentirá sede?

Sede de amor, de alma,

De amizade, de paz, enfim...

De água!

O calor dos raios solares cairá

Com mais intensidade

Mas esse componente vitalício

Não poderá aliviar a seca

Que tomará conta do mundo

E então...

“Clamaremos por piedade”.

Pediremos um pouco mais

Daquilo que desperdiçamos

E jogamos fora

O que passou por nossas mãos

E foi, simplesmente, embora.

“Tenho sede” – disse Jesus

Não façamos como aquele

Que ao pedir-lhe água

Ofereceu um pouco de vinagre.

Será essa a água que queremos?

Pense nisso!

Faça a diferença!

Marieta conduzia os visitantes à saída, alguns saíram chorando, emocionados. As crianças saiam com medo de Atasha, pois as orelhas pontiagudas de massinha de modelar, as unhas estendidas e a aparência reluzente causavam medo nos menores. Cada vez que a porta da sala abria, a fila de espera era maior. No começo eram 50 visitantes por ambiente, mas o número subiu e Marieta teve que controlar a entrada. Assim, cada ambiente estava recebendo por volta de 100 a 200 pessoas por vez, deixando sempre um dos alunos livres, para fazer as organizações técnicas, como reabastecer o lanchinho, apagar as luzes, ligar o som, controlar a porta, etc. Assim, no quinto ambiente, os 500 visitantes (aproximadamente) entrariam juntos para a reflexão, sem ficar apertado e desconfortável.

 Quando tudo terminou, Higor checou o número de assinaturas do caderno presencial; eles tinham tido quase 7 mil visitantes naquele dia. Era um recorde! Até o diretor Vicente visitou a sala e saiu bem sério e calado. A professora Ticaetá deixou a sala aos prantos de emoção. Bom, foi um trabalho muito bem feito.

No dia seguinte, quem será o vencedor da Feira de Ciências de 2012?

Foi um grupo do 1º ano. Eles falaram sobre água no Egito, nos tempos antigos. O grupo de Patrícia e Marieta ficou em 2º lugar. Que triste isso!

As semanas passaram. As férias de Julho finalmente chegaram. Por fim, as aulas voltaram. A viagem estava programada para outubro. Certo dia, o jornal anuncia:

Por motivo desconhecido, os peritos policiais ainda estão averiguando os fatos ocorridos, 6 adolescentes apareceram mortos no estacionamento do Jaikes Sanduíches. Todos eles tinham a letra K marcada na testa e cada um estava sem um órgão. O nome dos adolescentes não serão divulgados por serem menores de idades, mas as famílias já foram avisadas para realizar o reconhecimento dos corpos. O Jaikes está fechado no momento por ser um local do crime. Ainda não se tem suspeitos.”.

Essa reportagem deixou todos na comunidade alertados, pois Itapuã não era uma cidade cumprida. Era considerado mais um bairro pelos moradores, pois todo mundo conhecia um ao outro.

Outubro chega. O diretor convoca Patrícia para aparecer em sua sala:

- Bom dia, Senhorita Patrícia! Seu grupo ficou em segundo lugar na feira, estou certo? – ele disse firme, mexendo em alguns papéis.

- Ficou sim, Sr. Vicente.

- Como o nosso primeiro grupo foi, infelizmente, levado de nós, pessoas vivas, o seu grupo assumirá o primeiro lugar e receberá a viagem.

- Não, Sr. Vicente. Apesar de ter passado alguns meses desse desastroso incidente, ainda não estamos no clima de viajar, ainda mais no lugar deles.

- É a regra que nos foi imposta, Senhorita Patrícia. Vocês terão que viajar, pois o governo já deu conta desse dinheiro, e se vocês não viajarem nossa escola ficará como uma instituição corrupta por desviar dinheiro público. Nunca fomos corruptos em 50 anos de escola. Converse com seu grupo, se vocês não quiserem, passarei a viagem para o terceiro lugar.

- Sim, senhor. – Ela levantou e saiu.


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Notas finais do capítulo

É só o começo.



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