Admirador

Amanda.

Ela é estranha. Tem olhos hipnóticos. E a gente sente que ela não espera nada de nada, nem de ninguém. Que está absolutamente sozinha e numa altura que ninguém jamais conseguira alcançá-la. Muita gente deve acha-la antipaticíssima, mas eu a achei linda, profunda, estranha, perigosa – e de fato ela é. É impossível sentir-se a vontade perto dela, não porque sua presença seja desagradável, talvez para os outros, mas porque a gente pressente que ela está sempre sabendo exatamente o que se passa ao seu redor.

Ontem ela matou uma de nossas colegas enquanto estávamos no almoço. Penso que ela não teve culpa, pelo menos não dessa vez. Ela tinha se exaltado ao assistir uma reportagem que falava sobre ela. E, é claro, os olhares do refeitório se voltaram a ela. No momento da raiva ela levantou a mesa e jogou longe acertando a cabeça de uma garota que estava de costas com uma bandeja indo para sua mesa.

Morreu sem perceber.

As guardas, aos gritos, mandaram a gente irmos para as nossas cela. Enquanto isso as mesmas carregavam Amanda a força.

Ela se debatia dizendo que não tivera culpa.

Eu queria ajuda-la, mas sou apenas um admirador de distância.

Depois que todos foram dormir fui até sua cela. – a minha tinha sido esquecida aberta por causa do acontecido. 

Fiquei observando seu sono. E assim, aos poucos, ela ia se esquecendo dos socos e pontapés que aquelas policiais lhe deram. 

Eu a observo todos os dias. Em qualquer lugar –desse reformatório – que ela esteja. Eu não sei mais o que fazer, ela é tão sozinha e sombria.

O cabelo dela é cheiroso.

Pude sentir um dia quando ela passou rapidamente por mim. Estava indo a biblioteca.

Cheirava doce.

Soube que ela teve dois amores, apenas. Um homem e uma mulher.

Minha primeira reação foi de espanto. Pensei: ela é bi?

Mas depois de passar a vigiar todo o santo dia pude perceber que ela não se importa com o sexo, nem a carne em questão. O que ela leva em conta é o sentimento.

Mas porque ela matou seus amores?

Queria criar coragem para me aproximar dela, mas tenho medo de sua reação.

— Medo que ela me mate só de perceber que a olho insanamente.

~.

Amanda

“Pessoas caladas me assustam”

Irônico não é? – Uma assassina com medo de pessoas que nem se quer podem revidar com o que você diz para ela.

Em geral, sou apreciadora do silêncio. Contudo, pessoas que nada expressam acerca de si mesmas costumam, realmente, me assustar...

Se me perguntarem o meu maior desejo agora, seria esse: A morte lenta e dolorosa desse mudo. Eu não quero ter o poder de mandar torturar, eu quero torturar. Sujar as mãos. Acho necessário.

Odeio que me olhem, ainda mais daquele jeito. Parece querer me comer com os olhos. Louco! Insano!

A pior sensação é a de estar sendo observada. Sabe cada passo seu? Ele está sendo observado.

Você! Até você esta sendo observado (a).

Eu estou lhe observando;

Aposto que uma das suas mãos está mais fria que a outra.

Ele pensa que eu não vejo, mas enquanto ele esta no feijão eu já estou na feijoada.

O dia que alguém me passar para trás... não, ninguém jamais ira.

Sei que se o matar a família virá atrás de mim e meus 18 meses viraram dezenas de anos, mas minha sede esta chegando ao máximo suportável.

Eu o quero ver sangrar.

Enquanto seria um alívio pegar uma faca e esfaquear o peito dele repetidas vezes com seu sangue respingando em minha face ou esmagar sua cara com um extintor de incêndio e escutar o barulho de seus ossos quebrando – prazerosamente–, tenho de aguentar seus olhares, mas não sei até quanto tempo irei suportar.

Depois de ter sido violentada por aquelas policias filhas de uma puta, tentei dormir.

Veja bem; eu tentei dormir, mas a morte de Isadora ainda se fazia presente em meus pensamentos e sonhos.

Acho que nunca ninguém preenchera esse vazio que ela deixou.

Ela mereceu morrer, eu sei disso, mas eu a amava.

Enquanto mergulhava sob meus devaneios, pude ouvir a respiração de uma segunda pessoa do outro lado da minha cela estofada.

Era ele.

Maluco – pensei.

Pensei, também, em ir até as grades e pega-lo de supetão, mas não fiz.

Se fizesse sem duvida cortaria seu pescoço como fiz com a policial, mas guardo uma morte mais criativa para ele...