Ordinary Girl escrita por MissLerman


Capítulo 16
Capítulo 16 De volta para casa


Notas iniciais do capítulo

Eis me aqui novamente. Bom, capítulo de hoje inspirado na música "Runaways" do The Killers. Quem quiser escutar, sinta-se a vontade, acho que fica legal.



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Saimos de casa lá pelas duas da manhã. Eu mal havia me despedido de Claire, ela fora dormir cedo. Mas eu estava disposta à ajudar Charlie, e Peter também. Nosso voo sairia as quatro, mas era preciso chegar antes para resolver tudo o que fosse preciso no aeroporto. Eu levava comigo uma pequena mochila com apenas uma troca de roupa. Peter nem sequer se preocupou em levar mala. Ele até apresentou a possibilidade de Charlie contar aos pais o que havia acontecido por telefone, mas isso não parecia certo. Se fosse eu, com certeza não gostaria de saber que meu filho está indo para a Suiça por telefone.

Depois de horas esperando, tediosos minutos ao lado de meu irmão que parecia não estar nem um pouco a fim de conversa, chegamos. A pior parte foi ficar trancada dentro daquele avião. Charlie dormiu, eu havia esquecido meus fones, e Peter não queria conversar comigo. Passei a viagem toda entediada. Tentei me distrair, pensando em Frank, e em como iríamos nos divertir na premiere, mas isso não parecia ser suficiente.

Fiquei um tanto assustada, afinal Charlie foi o único que conseguiu dormir. E estávamos indo visitar os pais dele. Como alguém consegue dormir nessa situação?

Assim que descemos do avião, um onda de nostalgia atingiu meu corpo. Pousamos em Dallas, já que Centerville não tem aeroporto. Duas horas depois, chegamos em casa. E não tem nada melhor do que descer de um táxi fedido onde você vai esmagada entre seu irmão e seu amigo. Tive que ir no meio por ser a menor. E isso rendeu muitas piadas para Peter. Coisas como "Se fosse um pouco menor, dava para guardar no bolso" entre outras ainda mais sem graças.

Notei que, desde que chegamos em Dallas, Charlie estava quieto. Ele não havia dito uma palavra sequer desde que pousamos. Mas claro, ele estava preocupado. Não podia culpá-lo. Pensei em dizer algo, mas sabia claramente que, qualquer palavra errada, poderia fazer com que ele se sentisse ainda pior. Deidici então ficar quieta.

Pegamos um táxi e fomos direto para a casa dos pais de Charlie. Peter e eu concordamos em não contar nada para nossos pais. Seria melhor assim, não teria toda aquela coisa melosa. E eu não me sentiria tão culpada ao voltar para casa. Além de que, preferiria não encontrar com Lucas. E ele era meu visinho. 

O caminho foi ainda mais silencioso. Pelo que consegui observar, as coisas não haviam mudado nada desde que saí dali. Mas, para Peter, estava tudo completamente mudado. Ele comentava absolutamente tudo. A cor das casas, os carros, bicicletas, pessoas, tudo. Não pude deixar de notar que havia um certo brilho em seus olhos. Charlie, pelo contrário, parecia cada vez pior. Me perguntei se ele se arrependera de sua escolha.

O táxi parou na pequena casa verde de telhado escuro que eu conhecia bem, para ser sincera. As vezes ia para lá com Peter. Ficava um tanto isolada, em meio à várias árvores. As duas janelas brancas e retangulares e o jardim lhe davam um charme especial. Descemos do táxi e peguei minha mochila. Charlie também havia levado uma pequena mala. E esta parecia estar pesada. 

Olhei para e seu olhar encontrou com o meu. A preocupação era visível em seus olhos. Tentei lhe dar um sorriso reconfortante, ele apenas sorriu de volta. Mas logo seu sorriso se desfez. Peter seguiu na frente, ao lado de Charlie. Eu ia logo atrás, com um pouco de pesar. 

Observei Charlie recuar um pouco, assim que chegaram até a porta. Mas, apesar de estar visivelmente nervoso, ele deu três batidas e esperou. Meu coração se acelerou um pouco, afinal também estava nervosa por ele. Peter era o único que parecia não estar dando bola.

Não demorou muito, logo uma mulher loira que usava um velho avental branco veio nos atender. Assim que ela viu Charlie, lágrimas brotaram de seus olhos verdes. Ela não hesitou e o abraçou. 

- Meu filho... Que saudades eu sentia de você! - ela dizia.

A senhora Anderson era muito simpática. Criou Charlie praticamente sozinha, já que seu pai trabalhava muito. Sempre que eu vinha fazer uma visita, ela fazia biscoitos. Não consigo me lembrar seu primeiro nome, afinal sempre a chamei de senhora Anderson.

- É... Eu também, mãe. - Charlie disse. Mas não havia alegria nenhuma em sua voz. Não sei ao certo se sua mãe notou e achou melhor deixar pra lá, ou se nem sequer percebeu.

- Meu Deus, o que vocês três estão fazendo aqui? Olhe você, Peter, está ainda mais bonito. Já arranjou alguma namorada? Espero que sim, porque rapazes como você não podem ser desperdiçados - senhora Anderson disse, o que fez Peter ficar vermelho - E você, Nina, olhe só como cresceu. Antes, quando vinha aqui, era só uma menininha, agora já é uma mulher quase feita. Sortudo será o homem que se casar com você!

Dei risada apenas e encarei o chão por alguns segundos, esperando a vermelhidão de meu rosto passar. 

A mãe de Charlie nos convidou para entrar e assim o fizemos. Sentamos todos no pequeno sofá rosa com estampas que não consegui identificar. De frente para nós, havia uma estante com a TV no meio e várias fotos em volta. Todas elas de Charlie. Avistei até Peter com 12 anos. Só então me lembrei de como meu irmão era terrivelmente feio nessa idade. 

- Acabei de assar alguns biscoitos, espero que estejam com fome. E estou preparando o almoço, se quiserem...

- Mãe - Charlie a interrompeu - A verdade é que... Eu tenho uma notícia para dar à senhora. Não sei se vai gostar, mas achei que seria melhor assim.

A senhora com algumas rugas nas proximidades dos olhos o olhou confusa. 

- É algum problema com a faculdade, Charlie? - ela perguntou se sentando em uma poltrona ali perto.

Charlie engoliu seco. Olhei apreensiva para Peter, e notei que também parecia estar no mesmo estado que eu.

- Na verdade, não estou mais na faculdade. - Charlie despejou - Vou trancar minha matrícula amanhã. Vou para a Suiça no final do ano, mãe. Nunca disse nada para a senhora, mas pratico snowboard desde que cheguei em Nova Iorque, e acredite, eu amo isso. Com o tempo, fui pegando jeito e até tenho um treinador. Um mes atrás, ele me deu a notícia de que eu poderia ir para a Suiça para treinar melhor e me aprimorar. Mas eu deveria abandonar tudo por aqui, e isso incluia a faculdade. Eu não estava muito certo, mas alguém me disse que eu tinha que correr atrás dos meus sonhos. - ele então olhou para mim e sorriu. Senti meu rosto esquentar, mas não liguei, estava feliz por ele.

As lágrimas voltaram para os olhos da senhora Anderson. Ela não parecia entender o que estava acontecendo.

- Mas filho, medicina era o seu sonho!

- Não, mãe, era o seu sonho. Ninguém nunca me perguntou o que eu queria. Na verdade, acho que só entrei nessa faculdade por você. Não é exatamente o que eu quero. Nunca foi. Dona Elizabeth, a senhora é incrível, mas acho que já está na hora de me deixar escolher as coisas, não acha? - Charlie disse se levantando. Ele também tinha algumas lágrimas nos olhos.

Elizabeth, este era seu nome. Ela não conseguia acreditar nas palavras do filhos. Agora as lágrimas já rolavam aos montes. Senti uma pontada no coração, não sei se aguentaria ver minha mãe chorar daquele jeito. Senti uma enorme vontade de ir lá vê-la, mas nosso horário era curto. 

- Não pode fazer isso com você, Charlie! Que certeza você tem indo para a Suiça? Se fosse médico...

- Não diga... Não diga que seria melhor se eu fosse médico porque não seria! - Charlie se exaltou. Ele estava à beira de um ataque de nervos, e sua mãe também.

Dona Elizabeth se levantou, respirou fundo e limpou suas lágrimas no avental. Ela já não parecia estar tão triste. Parecia estar magoada, ferida. indefesa.

Naquele momento, me perguntei se fora realmente uma boa ideia ter vindo com Charlie. Talvez tivesse sido melhor ele ter vindo sozinho. Assim como eu, Peter não parecia estar à vontade com aquela situação. Minha infância toda, passei convivendo com aquela doce mulher. Vê-la naquele estado também mexeu comigo.

- Pois bem, faça como quiser. Mas saiba. se fracassar, nem pense em vim até aqui. Eu amo o filho que tenho, mas não quer dizer que tenha que concordar com suas atitudes. Acho que é melhor vocês irem agora, seu pai já chega para almoçar e é melhor ele não saber dessa história enquanto você estiver por perto. - Elizabeth Anderson nos disse apontando para a porta.

Charlie saiu sem olhar para trás. Peter e eu nos despedimos dela e saímos logo atrás. Mas, apesar de toda aquela raiva em seus olhos, eu sabia que ela também estava triste. Brigar com o único filho deve ser a coisa mais horrível do mundo. 

Caminhamos pelas ruas calados, ninguém ousou dizer nada. Me sentia péssima por Charlie. Vez ou outra, ele limpava os olhos quando alguma lágrima teimava em cair. Ele também estava muito triste. E eu não podia fazer nada para fazer com que ele se sentisse melhor. 

Almoçamos em um pequeno restaurante que parecia ter sido aberto à pouco tempo e nos encaminhamos até Dallas, já que o voo de volta estava marcado para as quatro. Não troquei uma palavra sequer com Charlie. Peter de vez em quando até tentava, mas via que seu amigo não estava afim de nada naquele momento.

Assim que entramos no avião, me perguntei qual fora o real motivo pelo qual fui para Nova Iorque. Sim, eu sempre quis ser Arquiteta, mas e meus outros sonhos? Eu queria viajar, queria conhecer Londres, Grécia, França, Itália... Queria ir em um parque de diversões e passar o dia todo rindo. Queria pular de para-quedas mesmo morrendo de medo de altura. Queria fazer algo de importante, para que todos se lembrassem de mim. Na verdade, eu queria poder estar em vários lugares ao mesmo tempo. Meu peito apertou assim que me dei conta de que não sabia ao certo o que queria. Iria continuar a faculdade, claro, mas não sabia se era aquilo mesmo que eu queria para minha vida toda.

Me acomodei na cadeira e pensei em tudo o que queria fazer. Mas, em tudo o que pensei, nada faria sentido se eu fosse sozinha. Queria ter alguém comigo. E esse alguém seria especial. Alguém que eu amaria de verdade. Pensei em Frank, será que ele aceitaria viajar comigo? Talvez sim, talvez não. Ele já tinha a própria vida feita. Me pus então a pensar no que faria, caso aqueles pensamentos viessem a se realizar.

Depois de tanto pensar, dormi e não sonhei com absolutamente nada.


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Notas finais do capítulo

Então, qual é o sonho de vocês? O meu é ver neve, muita muita neve. E ainda realizo ele. Até mais sweeties NHAC ;3