Peeta e eu voltamos a conviver. Ainda há momentos em que ele agarra as costas de uma cadeira e se segura até que os flashbacks tenham passado. Acordo de pesadelos com bestantes e crianças perdidas. Mas seus braços estão lá para me consolar. E por fim, sua boca. Na noite em que sinto aquela coisa novamente, a ânsia que tomou conta de mim na praia, sei que isso teria acontecido de um jeito ou de outro. Que aquilo de que necessito para sobreviver não é o fogo de Gale, aceso com raiva e ódio. Eu mesma tenho fogo suficiente. Necessito é do dente-de-leão na primavera. Do amarelo vívido que significa renascimento em vez de destruição. Da promessa de que a vida pode prosseguir, independentemente do quão insuportáveis foram as nossas perdas. Que ela pode voltar a ser boa. E somente Peeta pode me dar isso.

Então, depois, quando ele me sussurra:

- Você me ama. Verdadeiro ou falso?

Eu digo a ele:

- Verdadeiro.

Nos beijamos, como nunca havíamos nos beijado antes, deixo que a ânsia tome conta de mim novamente. Meu desejo por Peeta é maior do que minha sensatez. Em questão de segundos estou em outro lugar, onde só existe Peeta, eu e mais nada. A falta de oxigênio me traz de volta para o mundo real. Relutantemente afasto nossos lábios e ofegante, fecho meus olhos. Ele começa a acariciar meu rosto e permanecemos assim, deitados um ao lado do outro até que eu adormeço. Pela primeira vez, em meses, durmo tranquilamente sem nenhum pesadelo sequer. Quando acordo na manhã seguinte, sinto a falta de Peeta ao meu lado na cama e o cheiro de pão fresco logo chega até mim.

Desde a sua volta, Peeta nunca ficou na casa dele. No dia seguinte ao seu retorno, fomos até lá, pegamos todas as coisas que ele havia deixado pra trás e trouxemos para minha casa. Decidimos que deveríamos ficar juntos, para que assim pudéssemos cuidar e ajudar um ao outro, essa foi a ideia dada por Haymitch. Às vezes penso que essa foi a maneira que Haymitch achou para cuidar de nós, como se ainda estivéssemos na arena e ele ainda fosse nosso mentor.