Quando saiu pela porta da mansão e caminhava sem rumo não sabia exatamente o que queria fazer. Queria algo que o tirasse daquele estado, algo que simplesmente o fizesse esquecer. A primeira idéia que teve era absurda, porém teria algum alivio imediato, mas como tirar uma gloriosa mordida do mundo. Tinha de ser algo que o mundo se lamentaria quando ele a arrancasse dele, Hermione Granger, ele a levaria embora para um lugar onde jamais pudesse feri-lo novamente ou ainda fugir dele. A levaria além daquela vida, estava certo de que a mataria.

Enquanto andava perdeu a coragem, foi apenas um devaneio de sua insanidade. Na verdade ele abriu os olhos, a mente, não era Hermione que o fazia sofrer, era o Draco que ela o fez se tornar, o Draco que ela deixou nele. Era ele que se auto-flagelava com tantas lembranças, sentimentos, solidão. O verdadeiro Draco jamais se deixaria levar por ela, jamais se permitiria sofrer por quem quer que seja. Voltou pra casa, entrou no quarto e lá estava à maldita caixinha que fazia questão de lembrá-lo o quão doloroso era sentir a sua falta. Sentir falta do perfume dela, do sorriso, do som de sua risada, simplesmente sentir saudades dela.

Aquela vida sem graça e miserável era tudo o que ele tinha no momento. Por que ainda vivê-la?

Eu me lembro que eu perdi minha mente

Eu deixei minha vida e amores ao vento

Eu afinei meus ouvidos nas almas

Primeiro, uma vida como aquela não poderia ser mais vivida, colocaria um ponto final, mesmo que isso custasse sua própria vida, precisava apagar dele tudo o que ela havia deixado para trás.

Eu não sabia onde eu estava indo na vida

Mas eu sabia que na luz do sol

Descobriria por que eu nasci

E achamos o que estávamos procurando

Segundo, ele era jovem, ele era orgulhoso demais para continuar trancado com aquelas lembranças, mudaria de vida radicalmente, afinal de contas ele era Draco Malfoy. Esse novo desejo, essa nova vontade, o fez quebrar em pedaços espalhando-se pelo chão. Era como ter dois Dracos dentro dele. Um era o mesmo de sempre, forte, orgulhoso e belo, o outro, era fraco, sozinho e um imbecil de primeira. Ele não podia ser dois, não havia mais espaço em sua vida. A única coisa que o tornava bom, havia ido embora, não possuía mais nenhum motivo para mante-lo ali com ele.

Tudo o que você me deu são todos esses pedaços no chão
Você pode levá-los de volta para você

A única recordação que ele não teve coragem de destruir, a caixinha. Tão irritado, furioso, e querendo se ver livre de toda aquela dor, pegou a caixinha e jogou com toda sua força contra a parede. A pequena caixinha se chocou com brutalidade e assim como o coração de Draco, ela se fez em pedaços caindo por todo o chão do quarto.

Leve-os de volta, os pedaços no chão
Leve-os de volta, eu só quero que você vá
Eu não quero mais um motivo
Eu não prometi meu amor para você


Gritou como se sua voz fosse infinita, sentiu a furia como se ela fosse tudo o que queria. Socou, chutou, chorou e gritou. Seu quarto ficou destruido, mas era preciso colocar pra fora tudo o que lhe fazia mal, era preciso manda-la embora.

– Quero que vá Hermione! E leve com você todos os pedaços. – Falou sozinho encarando os pedaços no chão.

Abriu o armário colocou uma mala em cima da cama e com um aceno de varinha as roupas voavam em ordem para dentro dela. Escreveu um bilhete para sua mãe, pegou a mala e saiu. Fazia frio, a lua escondia-se por trás de grossas e pesadas nuvens. O ar frio da noite batia cotra seu rosto, seus cabelos bagunçavam-se conforme as lufadas de ar. Aquela era a velha Londres e suas noites frias.

Eu amei você mais do que você pode imaginar
Eu não preciso de muito para falar
Nós podemos ser o melhor juntos
E você pode desenhar seu caminho


Como ainda era a época das férias, sabia onde provavelmente ela estaria. Aparatou em frente a casa dos Weasley’s, ela estaria lá. Antes de partir para sempre precisava se desfazer de TODAS as lembranças. Bateu na porta apressadamente até que abriram:

– Sr. Malfoy o que quer aqui? – Perguntou Arthur Weasley surpreso em vê-lo em sua casa e não muito feliz coma ideia de ter o jovem Malfoy em sua porta.

– Senhor, preciso falar com a senhorita Granger, é urgente. – Ele dizia encarando o velho homem.

– Entre por favor, vou chama-la, espere um instante. – Arthur era educado e cordial demias para manda-lo embora. O velho Weasley não viu opção a não ser chama-la, subiu as escadas deixando Draco para trás, esperando. Enquanto esperava a senhora Weasley apareceu, surpresa pela presença de Draco ali em sua casa, ela apenas acenou com a cabeça e sumiu para dentro de um dos comodos da casa da familia. O tempo parecia se demorar demais nos segundos, até que ela apareceu.

Era estranho vê-la depois de tudo. Ainda parecia ser a mesma, com seus cabelos, rosto, corpo, tinha apenas um brilho diferente nos olhos.

– Draco, o que quer?! – Ela perguntou sem delongas, ouvi-la de verdade o fez tremer, e ele nada respondeu. – Olha já vou avisando que não tenho tempo pra desperdiçar, se tem algo a falar, diga!

– Eu direi. Você e essa sua falta de confiança. Do que tem medo Hermione? De descobrir que não escolheu o que queria.

– Draco, pare com isso. Achei que já tivessemos resolvido isso...

– Resolvido como? Você apenas me deixou um bilhete, não teve sequer coragem de me encarar nos olhos e dizer que lamentava tudo.

– Não era pra ter sido assim, mas você não me deixou opção.

– Eu amei você mais do que você pode imaginar. Eu dei o máximo de mim por você. E tudo o que você fez foi dizer que lamentava.

– Está vendo por que não deu certo! Você pensa apenas em si mesmo é um egoista, não parou sequer um segundo para ver como eu me sentia. Você chegou e virou meu mundo de ponta cabeça, destruiu meu namoro com Rony e esperava que eu o amasse?

– Não fui eu quem destruiu seu namoro, foi você quando disse não sabia o que sentia por ele. Se eu virei seu mundo de ponta cabeça foi porque você permitiu, afinal você me mudou. Me tornei alguém melhor. – Hermione fez menção de argumentar, mas ele pediu que ela se silenciasse com um aceno de mão, para que ele pudesse continuar. – Hermione não vim aqui discutir, por que, como, onde ou quem. Vim apenas colocar o meu ponto final nessa história.

Ele pegou a varinha do bolso. Hermione por um instante achou que ele fosse fazer uma loucura, mas ele colocou a ponta da varinha em sua tempora e retirou um fino e longo fio prateado, o depositou em um pequeno frasco e pôs em cima da mesinha de centro da sala.

– O que é isso? – Ela perguntou sem entender. Ele apenas guardou a varinha, sorriu e saiu andando, foi embora.

Draco foi viajar. Dizem por aí que ele é feliz com uma tal de Astória. Hermione jamais teve coragem de ver a memória que ele tinha deixado. Mas em um certo dia quando Rony acidentalmente a encontrou não resistiu em saber o que era. Não passavam de lembranças de Draco que um dia existiu, junto com a Hermione que um dia ele amou.