"Londres, 25 de Agosto.

Olá Diário,

Pessoalmente, acho que isso é uma grande perda de tempo. Escrever em um caderno que ninguém mais vai ler. Mas, vamos lá.

Sou Draco Malfoy. Descendente de uma linha de bruxos puros-sangues. Na verdade, sempre me orgulhei disso, mesmo subconscientemente. Mas estou cansado das mesmas coisas. Das mesmas pessoas. E é por isso que estou aqui, com as chaves do meu apartamento na minha mão, em um bar trouxa na linda Londres noturna. Devo admitir que esses trouxas são mais estranhos do que imaginei.

Fugi de casa ontem à noite. Me parte o coração ter deixado minha mãe lá, desprotegida, sozinha e sem ninguém, porque meu pai não se importa de verdade com ela. Saber que a deixei lá, sem notícias minhas, preocupada com o que pode me acontecer, me deixa angustiado. Mas era algo que eu tinha de fazer. Entenda, todas as maldições que suportei machucaram a minha mãe, mais do que a mim. E, além do mais, era aceitar as regras ou morrer. Não queria me tornar um comensal. Não queria matar ninguém. Essa história já havia ido longe demais. Então fugi.

Lembro-me de minha infância. Eu, com cinco anos, sem saber nada, sem entender coisa nenhuma. Lembro-me de minha única amiga, a garota que depois de alguns anos sem me dirigir a ela, esqueci seu nome. A garota trouxa, que costumava brincar comigo em um parque, nessa mesma cidade onde me encontro. Meu pai, ao descobrir que eu me relacionava com uma sangue-sujo, brigou tanto comigo, que me chego a me lembrar de suas palavras. Passei o resto da minha infância trancafiado em casa, temendo que meu pai nunca chegasse a me deixar sair. Meu pai, um tolo, me colocou na cabeça que trouxas são pessoas ruins, que não merecem a nossa atenção. Seres insignificantes, basicamente. E minha mãe queria me proteger daquilo tudo. Dizia, sem nenhuma palavra, que meu pai estava errado. Quando ele não estava em casa, minha mãe me levava sempre ao mesmo parque que eu ia, mas a menina nunca estava lá. A menina de cabelos castanhos, que andava sempre com aquela expressão de saber sempre mais do que você.

Estou aqui, escrevendo, sem entender nada sobre o que está passando lá fora. E talvez eu também não entenda o que está passando dentro de mim mesmo. Saudade de tempos que não voltam, talvez.

Agora vou sair para respirar um pouco. A bebida trouxa é muito ruim. Tem um sabor azedo, e desce queimando a garganta. Andar um pouco por essa Londres que não conheço. Afinal, um pouco de ar não faz mal a ninguém.

Draco Malfoy."